sábado, 13 de fevereiro de 2016

Fazer arte do lixo



Bordalo II é o autor de algumas peças de arte urbana que estão a nascer em Bragança, um nome que leva Portugal e o que de melhor se faz por cá pelo mundo fora.
O jornal Nordeste foi conhecer o artista, que mais uma vez deixa o seu nome estampado na Capital de Distrito.



Bordalo, como é que este trabalho é aceite pelas pessoas?

É engraçado. Há uma diferença entre os primeiros dias e os últimos. As pessoas devem pensar que nós somos loucos, estamos a juntar e a cortar lixo e não acham piada, depois começamos a pintar e quando se começa a perceber as formas, as pessoas acham mais interessante.

A tua obra é reconhecida em Portugal e no estrangeiro. Como é pegar em lixo e fazer disso uma obra de arte?

Lixo é uma expressão muito vaga, se fosse lixo não haveria possibilidade de estar a reaproveitar, tento ser o mais original possível.

O que usaste para esta instalação?

Fomos ao aterro municipal e usámos ferros, plásticos, contentores, partes de carros, pára-choques estragados, muita coisa.

É sempre uma aventura, um trabalho de freestyle, de experimentação. É um processo de construção desconstrução, até conseguir criar a imagem.

Em Bragança, já tens uma escultura. Agora vais criar outras duas, o que simbolizam?
Para além de serem duas peças que fazem parte de um série de trabalhos que eu chamei de “Big Trush animals”, onde a ideia acaba por ser construir a imagem dos animais que são a representação das vítimas das nossas ações como humanos, neste caso, a ideia é utilizar a poluição o lixo, toda esta vida não sustentável que a humanidade tem usado, para construir imagens das vítimas disso mesmo, neste caso os animais.

Podias pegar noutro material qualquer para ficar ali a vida toda, mas pegas em lixo, que terá um prazo de vida.

Sim podia utilizar qualquer tipo de material, há muitas coisas que podem ser exploradas, o que significa que não o venha a fazer, daqui a uns anos ou uns meses, mas para esta série específica, eu acho que faz sentido construir os animais com aquilo que os destrói, foi a ideia que achei interessante.

Podemos atribuir um prazo de vida a estas esculturas?

Pode depender de fatores naturais ou humanos. Acho que tudo o que seja efémero acaba por ser interessante. Nós nunca sabemos. Por vezes a destruição pode ser outro nível de construção, há coisas que se podem alterar com o tempo, se a parede ganhar fungos, se começarem a crescer plantas no meio da peça, como já aconteceu, a peça fica mais rica a partir do momento em que começa a ser destruída do que no momento em que foi finalizada pelo artista.  

Por Rui Mouta

1 comentário:

  1. Felicitações pelo trabalho!...Um exemplo clarividente, de que é possível fazer "muito" com pouco, especialmente usando como recurso material, lixo que todos produzimos (em grande quantidade)!...
    Bem haja pelo seu trabalho, que bem merece reconhecimento público!...
    ARS LONGA VITA BREVIS
    Cumprimentos

    Hélder Caseiro

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