quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Desabafo

Neste dia que chove inclemente,
sinto a minha alma tão triste
como se chuva fosse
e chorasse todas as dores e mágoas.
Não desaparecem as dores e mágoas
mesmo vertidas em pranto
que tudo molha,
que tudo enregela e amofina
como se de trevas se tratasse.
E o dia,
tão triste
como a minha alma insegura e ténue,
não pretende tornar-se luz.
Vejo a melancolia latente
de um dia assim,
que mais do que triste,
é ruim.
Se transporto para o tempo
a minha tristeza travestida em olhar pungente?
Não sei.
E nada, ninguém,
consegue presumir de mim,
o ninguém que sou,
o nada que sinto.
Se, agora, um arco-íris rompesse,
glorioso e divinal,
talvez lampejos de aliança,
refletidos no olhar,
fizessem um quase nada,
nesta incapacidade imensa de ser feliz.
O alegre e descomprometido riso de uma criança,
perde-se neste senceno pouco romântico
que tão pouco atrai amores trágicos.
Nem mesmo a esperança
de um dia alcançar os sonhos
que sonho sem realizar,
cumpre o momento de te encontrar.
Chora o tempo
neste outono tão frio
que nada espero deste espaço vazio.
Serei talvez,
a manhã que passa,
não submersa,
na tristeza que grassa,
tão densa,
tão pura como a chuva que cai,
inclemente e fria.

Maria Cepeda

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