sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Festa do Avante relembrou Leandro Vale. "Quem fez o que devia devia aquilo que fez"



A memória de Leandro Vale, actor, encenador e dramaturgo, conhecido entre os habitantes das aldeias transmontanas, em especial, as crianças, pelo ‘homem do teatro’, foi objecto de um tributo na 40ª edição da Festa do Avante.

Apaixonado pelo teatro e pela promoção desta forma de arte fora dos grandes centros urbanos, fundou a Companhia de Teatro em Movimento, sediada em Trás-os-Montes, cujo carácter itinerante proporcionou aos habitantes das aldeias daquela região do país, assistirem, pela primeira vez, à representação de uma peça teatral.
Co-fundador do CITAC - Centro de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra, - do CENDREV -, Centro Dramático de Évora e pioneiro na concretização do projecto de descentralização do teatro, iniciado em meados da década de setenta do século passado, Leandro Vale, desenvolveu ainda intenso trabalho no domínio da promoção teatral no Alentejo, Açores e Cuba, país onde encenou várias peças para a Companhia de Teatro de Holguin.
A homenagem prestada por alguns dos seus camaradas de partido, decorreu no espaço consignado a Trás-os-Montes pela organização da referida festa, concitando o interesse de umas dezenas de pessoas, que ignorando os ruídos das zonas envolventes, concentraram a sua atenção no tributo que o Partido Comunista Português entendeu prestar a este “construtor de sonhos e utopias”, ou se quisemos, a este andarilho que não se limitou a andar por aí.
Segundo nos confidenciou um dos espectadores da iniciativa “ fizemos o que devíamos”, frase que recupera uma expressão de Padre António Vieira, segundo a qual ”quem fez o que devia, devia aquilo que fez”, confirmada, de algum modo, na intervenção de Modesto Navarro quando na sua alocução referiu ser “da mais elementar justiça esta homenagem da festa, a quem ao longo dos anos corporizou diversas personagens com elevada mestria e arte.”
Para o conhecido escritor transmontano, “Leandro Vale sempre se assumiu como um trabalhador das artes e das letras que esteve ao lado dos mais desfavorecidos”, razão pela qual sustentou, “apesar de ter estado em Lisboa a fazer teatro, cedo deixou que o desejo de abrir novos caminhos para o teatro falasse mais alto, impelindo-o a seguir para onde considerava ser mais necessário o seu contributo na luta contra o obscurantismo e o reaccionarismo.”
Assumindo em plenitude a sua vocação de saltimbanco que andava de aldeia em aldeia a levar a cultura ao povo, Leandro Vale, de acordo ainda com o autor de ‘A Oitava Colina’, “era um intelectual para quem a cultura não pode ser um luxo, ou algo que se coloca na lapela como mera manifestação de exibicionismo, mas que a entendia como instrumento fundamental na construção do caminho libertador dos povos”.
Essa sua capacidade de entrega às causas da justiça e aos valores da liberdade e da fraternidade, seria, de resto, realçada por Johana Tablada de La Torre, Embaixadora de Cuba em Portugal, quando afirmou: “Cuba tem e terá sempre a memória de um amigo que perdurará nos nossos corações. Um homem que teimava em levar a cabo a tarefa de concretizar os ideais de justiça, paz e desenvolvimento, mesmo que tal se afigurasse difícil.” Para a representante de Cuba no nosso país, “ a força da sua convicção instigava-o permanentemente a continuar a luta por esses valores, logo, pelo desenvolvimento humano, utilizando a cultura como ferramenta desse desígnio.”
Na mesma linha de raciocínio de expressou Pedro Estorninho, Membro da Direcção do Sector Intelectual do Porto da aludida força partidária, sustentando que “ falar de Leandro Vale é falar de teatro e do sonho que ele nos outorgou. Alguém que nunca procurou facilidades, porque intentava algo de novo, levando esse sonho às aldeias e às populações que até aí nunca tinham tido a possibilidade ver teatro ao vivo”. Antecedendo a intervenção emocionada de Adriano Reis, seu camarada de Torre de Moncorvo, que sublinhou “ o papel que o malogrado actor, - falecido em Abril de 2015-, desempenhou no quadro da dinamização cultural do concelho e da divulgação dos ideais comunistas”, Inês Leite interpretou ‘à capela’ alguns temas do cancioneiro tradicional português.

Fernando Fitas

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