A aldeia de Salsas vai receber um assentamento Celta chamado
Brigantia ainda em 2024. O projeto está a ser desenvolvido pela atriz Ana Telmo
Rocha, natural de Salsas, e inclui parceiros do Reino Unido, como o ator
irlandês Patrick McEvoy, que participou na série Vikings e que vai ser “o rei
de Brigantia”.
“Temos um projeto de criar um campo céltico em Bragança onde
vamos explorar as nossas raízes celtas e vamos dizer ao mundo, ao resto das
nações celtas, que Trás-os-Montes também é celta. Vai ser um trabalho muito
interessante, com a criação de um campo em tempos modernos onde as pessoas
podem viver como os celtas viviam. É um campo experimental”, explicou a atriz
ao Mensageiro.
Será “um museu vivo, onde as pessoas podem comer comida
celta, que é muito transmontana, podem vivenciar a natureza, pois os celtas têm
muitos deuses ligados às árvores, ao solo, à água”, disse ainda.
“Vamos mostrar aos povos do Norte as semelhanças que tivemos,
em época pré-cristã”, frisou Ana Telmo Rocha, que tem alternado entre Bragança
e o Reino Unido, onde mantém trabalhos no teatro.
A ideia surgiu de uma conversa com uma professora numa
universidade irlandesa.
“Aconteceu estar a falar com uma professora de uma
universidade irlandesa e ela disse-me que, se sou de Bragança, devo ser de uma
tribo chamada Brigantes. Começou aí uma história, juntou-se imensa gente para
fazer um projeto e, por acaso, temos um sítio que se chama Bragança, uma cidade
que é capaz de ser Celta”, explicou Ana Telmo Rocha.
O primeiro espetáculo está previsto para 01 de maio. “Será o
primeiro Beltain, o solstício de verão em Trás-os-Montes. Todos os anos
queremos realizar um solstício de verão em Trás-os-Montes”, precisou.
Para além do ator Patrick McEvoy, integram o projeto um
druida cantor e um violinista da London Orchestra Philarmonica. “Vieram cá uma
vez e ficaram apaixonados por Trás-os-Montes”, conta Ana Telmo Rocha.
Esta ideia foi dada a conhecer ao Mensageiro durante o
desfile de caretos e celebração das tradições do dia de Reis na aldeia de
Salsas, no passado sábado.
Este ano, participaram 17 grupos de caretos de vários pontos
do país e do estrangeiro, como Espanha e Irlanda, com um total de 156
mascarados.
“Criámos uma estrutura que representa as festas de inverno e
do solstício. Foi um na omais animado, mais participação, com mais grupos (17).
Foi um ano em que houve muita alegria e muitos chocalhos”, frisou Filipe
Caldas, presidente da Associação dos Caretos de Salsas e percursor desta
tradição. Este ano até veio um grupo irlandês. Tivemos um grupo de teatro a
fazer um ritual, grupos de Trás-os-Montes, de Góis, de Espanha e um grupo da
Irlanda”, frisou.
Ao contrário de anos anteriores, desta vez a figura que foi
queimada era um símbolo celta e não um mascareto.
“Este símbolo é referente às festas de solstício de inverno,
ligado aos rituais celtas”, explicou, e o desenho foi do ator irlandês Patrick
McEvoy.
“É um ‘trisky’. Mudou ao longo dos anos. Aparentemente, os
druidas utilizavam-na como uma jóia para alcançar a quinta dimensão. À medida
que os anos foram passando, foram dizendo que era para simbolizar o poder das
árvores e a união entre homem e natureza. O três é um número muito poderoso.
Três árvores fazem uma pequena floresta”, explicou McEvoy.
O ator irlandês encontra “muitas semelhanças” entre os povos
da Irlanda e de Portugal. “Acho que as duas culturas são muito parecidas.
Gostamos de beber, de festejar, de comer. Os irlandeses não se apressam e os
portugueses também não, têm o seu próprio ritmo”, frisou.
Filipe Caldas considera que esta tradição, que já tem decorre
há 16 anos, tem contribuído para tornar a aldeia mais conhecida.
“Tivemos fotógrafos de vários pontos do país e do estrangeiro
e isso é gratificante. Vieram americanos, ingleses, espanhóis, franceses, um
casal de italianos que fazem parte da Unesco e isso é sinal de reconhecimento
além fronteiras. Há pessoas que vêm a outras festas e dizem que queriam ver uma
tradição mas só veem tascos, conjuntos e não chegam a ver o que queriam ver”,
aponta.
Já o presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias,
considera que esta festa “é um símbolo e ainda bem que tem havido a preocupação
destas entidades em continuarem a valorizar esta iniciativa e esta componente
identitária daquilo que é o nosso território”. Estas manifestações culturais no
meio rural ajudam não só a preservar a tradição mas a valorizar o próprio
território e a dinamizá-lo de uma forma diferente. Não é que seja um evento de
massas mas trazem sempre outras pessoas de vários pontos do país, que apreciam
este tipo de iniciativas e que, depois, acabam por transmitir e divulgar elas
próprias aquilo que aqui se passa.
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