quarta-feira, 15 de junho de 2016

Promoção dos produtos regionais transmontanos ainda se faz de forma isolada



Expositores queixam-se da falta de apoios na promoção dos produtos a nível nacional. Deputada do PS, Júlia Rodrigues defende a criação de “marca-chapéu”. A Feira Nacional de Agricultura (FNA), que decorreu em Santarém entre os dias 4 e 12 de Junho, ainda é considerada por muitos, não só a maior mostra de maquinaria e soluções para a agricultura do país mas também a maior montra dos produtos alimentícios de cada região portuguesa.
É, por isso, aproveitada por muitos empresários para divulgar os seus produtos e conquistar novos consumidores.
O Jornal Nordeste foi até ao salão “Prazer de Provar”, onde estavam representados os melhores produtos agro-alimentares. Mas, se por exemplo, os Açores tinham um espaço bem identificado com a representação e degustação de vários produtos regionais, no caso de Trás-os-Montes, quem quisesse provar ou comprar os melhores produtos da região, teria um árduo trabalho para descobrir onde se encontravam e qual a região que representavam.
Neste salão, encontrámos vários expositores transmontanos, até mais do que aquilo que poderíamos imaginar. Mas, se, por exemplo, os Açores tinham um espaço bem identificado com a representação e degustação de vários produtos regionais, desde os lacticínios, ao chá, ao atum ou às bolachas, no caso de Trás-os-Montes, quem quisesse provar ou comprar os melhores produtos da região, teria um árduo trabalho para descobrir onde se encontravam e qual a região que representavam. A maioria dos empresários vestia a camisola da sua empresa, em particular, e não da região como um todo. Se, alguma homogeneidade houvesse, poderia ser no concelho de Vila Flor, que tinha um espaço devidamente identificado em que promovia, essencialmente, os azeites, os vinhos e os queijos.
Mas será esta a melhor forma de promover a região? Muito se tem falado de ganhar escala e de promoção conjunta do território, quer em termos de promoção dos produtos regionais, quer em termos do turismo, o que tem resultado na criação de diversas associações, certames ou até entidades, como é o caso das Comunidades Intermunicipais. A ideia já não é nova e até foi defendida na década de 60 pelo engenheiro Camilo de Mendonça, quando impulsionou a criação do complexo Agro-Industrial do Cachão e da marca “Nordeste”, que acabou por cair por terra. O certo é que, na prática, pelo menos na Feira Nacional de Agricultura, essa promoção conjunta não se efectivou.
Esta feira foi visitada por vários representantes do governo, incluindo o presidente da República e o primeiro-ministro, e até de instituições europeias, como foi o caso do comissário europeu Phil Hogan ou do presidente do Comité das Organizações Profissionais Agrícolas. Mas também foram muitos os transmontanos que por lá passaram, desde o Director Regional de Agricultura e Pescas do Norte, deputados, associações de agricultores ou empresários. A deputada do PS eleita pelo distrito de Bragança, Júlia Rodrigues, foi uma das visitas do Centro de Exposições de Santarém. A socialista deu conta ao Jornal Nordeste da necessidade da criação de uma “marca-chapéu” que impulsione a promoção conjunta do território.  “Eu julgo que temos que avançar para um conceito de ‘marca - chapéu’. Trás-os-Montes é uma região que tem produtos de excelência, a nível nacional, e o conceito de uma marca conjunta é realmente importante, para conseguirmos ganhar escala para promover os nossos produtos, tal como faz, por exemplo, o Alentejo”, referiu.
Júlia Rodrigues frisou ainda que “é necessário conseguir unir os produtores e os actores importantes neste conceito e neste novo paradigma para a comercialização, de forma a poder entrar na exportação de uma ‘marca - chapéu’”. A deputa acrescentou também que a região do Douro, “que já é reconhecida internacionalmente, pode ser uma alavanca para, com a união dos decisores políticos, como as câmaras municipais e as comunidades intermunicipais apostar, não só em agendas culturais, mas também em agendas económicas de promoção dos produtos locais e que poderão incentivar o investimento local e regional”. 
De facto, a região do Douro dispensa apresentações. Uma parte desta área, nomeadamente do Douro Superior, representa o sul do distrito de Bragança, e há ainda a região vitivinícola de Trás-os-Montes. No entanto, os vinhos ocupam a sua posição no mercado e têm o devido reconhecimento, sobretudo os do Douro. O Mesmo não acontece com outros produtos que, apesar de terem potencial, parecem andar um pouco à deriva em questões de promoção.
Maria Emília Talhas cria porcos bísaros em Vinhais e faz fumeiro. Marcou presença na FNA pela primeira vez, já que a empresa tem apenas um ano. Admite que não é fácil suportar sozinha as despesas que a feira implica. “Só pelo espaço paguei cerca de 900 euros, aos quais acrescem as despesas de estadia, alimentação, transporte e portagens. È muito dispendiosos mas é um trabalho que temos de fazer”, confessou. A produtora de fumeiro acrescentou ainda que o trabalho de promoção que tem feito em feiras nacionais não é só dos seus produtos. “Faço questão de divulgar, não só o meu fumeiro mas todo o fumeiro de Vinhais e até locais a visitar no concelho, como é o caso do Parque Biológico de Vinhais”, frisou a expositora.

Carne Mirandesa faz sucesso na Feira Nacional de Agricultura   
Outro dos produtos regionais que parece já dispensar apresentações é a carne mirandesa, cuja qualidade já conquistou consumidores de todo o país. O Restaurante Académico, de Bragança, representa oficialmente esta carne certificada em todos os eventos a nível nacional e internacional há 14 anos, tendo marcado presença em várias feiras agrícolas como, por exemplo, em Braga, Beja ou Paris, em França.    
O gerente do restaurante, Nuno Machado, referiu ao Jornal Nordeste que “a feira tem tido sensivelmente as mesmas pessoas do que nos anos anteriores” mas a tenda de restauração dedicada à carne mirandesa tem registado um aumento significativo de clientes, de ano para ano, o que, na opinião do empresário, reflecte “o bom trabalho que tem sido feito”. Sem conseguir contabilizar o número de clientes que passaram por este espaço durante a FNA, Nuno Machado refere que teve a sala “praticamente, sempre cheia”, com clientes de todo o país e até do estrangeiro.
A presença transmontana na Feira Nacional de Agricultura fez-se ainda notar com a presença de associações e cooperativas agrícolas e com a exposição de animais das raças autóctones da região. A organização estima que tenham passado pela Feira Nacional de Agricultura cerca de 180 mil visitantes. 

Vozes
Maria Emília Talhas (Fumeiro) – Vinhais
“Nós temos que pensar em divulgar os nossos produtos a nível nacional. Estive noutras feiras como a Ovibeja e a AgroBraga e notei que o fumeiro transmontano ainda é pouco conhecido. Apenas se conhece a alheira de Mirandela que não tem nada a ver com a de Vinhais nem com a de Bragança”.

José Patrício (Fumeiro e doces tradicionais) - Bragança
“Vim pela primeira vez à FNA para divulgar a minha marca, que existe há quatro anos e angariar mais clientes. Em Trás-os-Montes temos várias feiras, nas quais temos também participado mas é essencial participar também nesta, já que abrange muito mais público e é importante mostrar o que de melhor a região tem para oferecer”.

Francisco Cangueiro (cutelaria) – Palaçoulo
“Há 33 anos que trabalho na área da cutelaria. Costumo vir a várias feiras em Santarém. Esta feira é muito boa porque estamos no centro do país e atrai muita gente, é óbvio que o volume de negócios é muito maior. Mas é de louvar o esforço que as organizações das feiras da região transmontana, pois conseguem atrair cada vez mais gente de fora”.   

Visitante - Luís Gama – Campo Maior
“Vim com amigos à feira e decidi vir comer a melhor carne do mundo, pela sua tenrura e sabor. Sempre apreciei a carne mirandesa e fui várias vezes a Trás-os-Montes para a degustar. Também gosto do queijo e do azeite transmontanos. Vem muita coisa boa de Trás-os-Montes. Acho que a carne já é conhecida mas, nos restantes produtos, falta muita promoção”.

Visitante- Carlos Bettencourt - Serpa
“Conheço bem Trás-os-Montes e, normalmente, nestes eventos procuro sempre a carne mirandesa. Sou veterinário e por vezes, fazemos jantares de colegas no concelho de Bragança. A carne mirandesa e de porco bísaro são muito boas”.  






Jornalista: Sara Geraldes

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