quarta-feira, 9 de março de 2016

Que sei eu!

Quando a tristeza nos invade sem motivo aparente é porque estamos realmente tristes e sós.
Esta ideia tão simplista incomodou-me durante todo o dia e continua a fazê-lo noite dentro, talvez madrugada dentro. Que sei eu!
Não costumo dedicar-me a sentir pena de mim. Vivo. Não tenho uma vida espetacular, cheia de emoções fortes e adrenalina. A minha é muito básica e corriqueira sem ser monótona ou monocromática.  
Gosto de viver e, mesmo não sendo feliz, tenho pequenos e fugazes apontamentos de felicidade que cada vez mais me custa apreciar.
Perdi pelo caminho a minha pureza e candura. Amadureci. (Ou deverei dizer: envelheci.) Não sei. Custa-me mais ser feliz e sentir a alegria tão fácil que me era peculiar.
Sinto-me triste. Simplesmente.
Olho para o lado e incomodo-me, importo-me, felizmente, ainda, com o que me rodeia.
Sonho possibilidades várias de mudar. Revolto-me por não insistir em mim, o que quero ser.
Pode parecer confuso e incoerente, infantil, adolescente... mas não passa de uma reles pena de mim.
Desisto. De mim desistem. Não vale a pena insistir em algo que não quer existir, ser, fazer...
E esta inquietação que me atormenta não deixa de ser certeza de quem sou.
Caminho por veredas que não sei percorrer quando a melancolia me invade, lentamente, pela calada. Se fosse compreensível como a vida de uma borboleta de asas azuis, não seria eu mas a sombra de mim.
Tristemente finjo alegria e comunicabilidade bem falante e erudita. Se ao menos fosse Dom Quixote, amaria Dulcineia e por ela lutaria batalhas sem fim.
Não sou Sancho Pança. Falta-me o seu pragmatismo sem subterfúgios, sem rodeios. Uma flor é uma flor, um moinho de vento é, simplesmente, aquilo que é.
Talvez fosse levemente feliz se apenas visse a praticidade das coisas e a simplicidade das pessoas que cruzam caminhos comigo, sem se preocuparem com o mar que enrola na areia, interessados apenas na quantidade de peixe que dali sairá.
Gostaria de me afastar para lugar incerto e deliciar-me com a suave brisa que emana do mar, sentindo na face o vento cortante, que na serra da Nogueira insiste em ficar.

Maria Cepeda

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