É desta última que nos fala
Teresa Martins Marques no seu recente livro “Não Matarás – romance de um
crime”! Mas não só. O relato minucioso, documentado, criteriosamente detalhado
dos cinquenta e cinco dias que abalaram Itália e o Mundo no ano de 1978, vai
mais longe mergulhando o leitor numa profundidade notável. Revela a Itália
escondida, quase invisível, miserável, ao nível económico, mas também cívico e
moral, disseca sentimentos nobres e canalhas, expõe verdades e mentiras, aponta
pistas e questiona dúvidas.
Sendo um romance de um crime
não é, tal como vulgarmente se apreende, um romance policial. Aqui não há
dúvidas de quem são os autores materiais nem qual a vítima concreta de tão
horrenda conspiração. A forma como a autora prende o leitor não passa pela
curiosidade do desfecho, amplamente conhecido, mas pelo enredo em si, pelo entretecer
das linhas com que foi sendo cerzido o maior crime político da história moderna
italiana. Depois de escalpelizar as motivações mesquinhas e altamente egoístas
de grande parte dos atores, Teresa Martins Marques brinda o leitor com um final
onde traz para o conhecimento público vários personagens, indubitavelmente bons
e generosos, decalcados de pessoas reais e contemporâneas. É a forma de, justa
e generosamente, os homenagear.
Não Matarás, é um livro
fundamental e imperdível para tutti
quanti se interessarem por conhecer a forma como é possível, quando há boa
fé e genuíno espírito generoso de ser- viço público, unir esforços para
melhorar a vida de uma comunidade, mesmo que, ideologicamente haja um mar de
diferenças entre os protagonistas. Mas é também um alerta para as enormes ciladas
e dificuldades, tantas vezes inultrapassáveis, para atingir tais fins porque,
paradoxalmente, o bem de todos não rima com o bem de alguns, se poderosos,
egoístas e de mau carácter.
É, para finalizar, um livro
para ler devagar.
E, principalmente, fazer uma
pausa longa e reflexiva, na página 180 onde a Teresa transcreve o melhor dos
pensamentos do antigo primeiro-ministro Aldo Moro: “Datemi da una parte milioni di voti e togliete-mi dall’altra parte un
attomo di Verita, ed io saro communque perdente” (Dai-me por um lado milhões
de votos e tirai-me, por outro lado, um átomo de verdade e eu ficarei perdendo)
e que deveria fazer reflectir todos os eleitos desta nossa terra. Não duvido
que a autora partilha deste superlativo valor da verdade.
Escrito
por José Mário Leite
Retirado
de www.jornalnordeste.com
Sem comentários:
Enviar um comentário