sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Seca extrema na região esgota reservas de água




Parte do território do distrito encontra-se nesta altura em seca extrema, podendo este nível alargar-se a outras partes da região ainda este mês. Na agro-pecuária os efeitos já se fazem sentir, com a diminuição do calibre da castanha e da azeitona e também começa a faltar comida e água para os animais.
O mês de Setembro, em Portugal Continental, foi o mais seco dos últimos 87 anos. A situação mais preocupante acontece no interior, estando já uma parte do território transmontano no nível de seca extrema, o mais preocupante da escala definida pelos Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA). No mais recente relatório de monitorização da seca, divulgado este mês e que reporta a 30 de Setembro, a zona do planalto mirandês e o concelho de Macedo de Cavaleiros passaram do nível de seca severa para extrema, sendo a par de parte do Alentejo a única zona em todo o território continental nestas condições.
As previsões não são animadoras para quem vive da agro-pecuária, uma vez que o sol e as temperaturas de verão, entre os 27 e os 34 graus, vieram para ficar e vão manter-se assim, no Nordeste Transmontano, durante os próximos dias, segundo previsão do IPMA. O que significa que a situação de seca pode alastrar-se a outras zonas no distrito. “Com as temperaturas mais elevadas, a evaporação também é maior e sem ocorrência de precipitação a situação a meio do mês de Outubro tenderá a agravar-se e a área em seca extrema na região irá aumentar”, alertou Vanda Pires, meteorologista do departamento do clima do IPMA.
Apesar de a região ser propícia a situações de seca, este ano, as condições são mais graves e particularmente atípicas. “As situações de seca nesta região costumam iniciar-se no Inverno e durar até Setembro. Nesta época do ano, normalmente costuma haver já alguma precipitação e essa situação de seca diminui. Neste momento, estamos a ter uma situação um pouco atípica, começámos com uma situação de deficit de precipitação em Abril, que se tem prolongado e nesta altura do ano em que normalmente já ocorre alguma precipitação nessa zona, nomeadamente na segunda quinzena de Setembro e primeira de Outubro, isso não se tem verificado. Não houve precipitação em quase nenhum local nos últimos seis meses e a situação agravou-se substancialmente neste mês de Setembro”, afirma.
Para sair da situação de seca seria necessário chover em grande quantidade durante Outubro e Novembro. “Se considerarmos níveis de precipitação muito acima do normal, que só ocorrem em 20% dos anos em Outubro, mesmo assim a região ainda ficaria em seca fraca. É preciso ocorrer precipitação muito acima do normal e manter-se por Novembro para sair do índice de seca”, adiantou a meteorologista.

Barragens cada vez mais vazias e rios secos

A situação de seca é visível nos rios e barragens da região. Em Bragança, a barragem de Veiguinhas, uma infra-estrutura de “redundância”, ou seja, que foi construída como recurso, está já a ser utilizada depois de a de Serra Serrada estar a níveis muito baixos.
A Águas do Norte assegura que “não se prevêem problemas relativamente ao abastecimento de água às populações do distrito de Bragança, nomeadamente no que diz respeito aos níveis que actualmente se constatam nas albufeiras existentes”.
Num esclarecimento por escrito, a empresa informa que “verificando-se a existência de um reforço de água disponível para captação na Barragem de Veiguinhas, perspectiva-se que a continuidade no normal fornecimento de água em “alta” ao Município de Bragança seja, no futuro imediato, naturalmente mantida”.
Em vários municípios há já problemas de abastecimento das populações, sendo em várias aldeias os depósitos de água enchidos regularmente por autotanques.
Em Vimioso, com as reservas da Estação de Tratamento de Água do Maçãs praticamente esgotadas, é já necessário recorrer a Bragança para conseguir abastecer várias localidades. “Já há cerca de duas semanas que estamos a transportar água de Bragança diariamente pa­ra servir as localidades de Ar­gozelo, Carção, Santulhão e Matela, que é praticamente metade do concelho”, adiantou o presidente do município. Jorge Fidalgo. O autarca está preocupado com a situação e para evitar que no futuro a dificuldade se repita pretende aumentar o tamanho dos açudes dos rios Maçãs e Angueira. “Já entrei em contacto com o ICNF e a Agência Portuguesa do Ambiente para rapidamente entregarmos o projecto de alteamento dos açudes e a resposta que obtive é que não levantariam qualquer reserva, porque na visita ao local verificaram que a situação é dramática”, afirmou. O presidente do município estima que as duas infra-estruturas custem mais de um milhão de euros e espera agora que o Governo “abra avisos convite para fundos comunitários para situações específicas como esta”, porque, reitera, uma câmara como a de Vimioso “com poucos recursos e receitas tem alguma dificuldade em fazer investimentos deste tipo, quando o abastecimento de água às populações é uma condição básica”.

AGRICULTURA AFECTADA
A pecuária, as culturas permanentes mais rentáveis e a apicultura estão a ser fortemente afectados na região. Na agricultura, há vários concelhos com falta de pontos de água onde os animais possam matar a sede, desde Junho, tendo os agricultores de os deslocar ou transportar água. Segundo o Director Regional de Agricultura e Pescas do Norte, há já quebras de produção nas forragens e pastagens e também nas culturas permanentes em sequeiro assistindo-se “à diminuição de calibre dos frutos, como a castanha”, mas há também registo de morte de oliveiras, amendoeiras e castanheiros e também de espécies florestais como sobreiro e freixo. Manuel Cardoso afirma ainda que no caso das culturas em regadio com o acentuar das necessidades de rega aumentam os custos de produção, tal como acontece na apicultura. Os apicultores acumulas prejuízos já que quebras de produção com e aumentos com os custos de manutenção dos apiários visto que têm de recorrer à alimentação artificial.

Escrito por jornalistas: Débora Lopes / Olga Telo Cordeiro

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