sábado, 13 de agosto de 2016

Risco de ruína das muralhas leva a intervenção ilegal da Junta de Freguesia




Para evitar ferimentos nos turistas e degradação do património, a autarquia fez pequenas reparações nas muralhas, recebendo algumas críticas que punham em causa a forma como a recuperação foi feita.

Há pedras que têm vindo a cair das muralhas do castelo de Bragança, colocando em risco não só a manutenção da estrutura mas também a segurança de quem por lá passa. O presidente da União de Freguesias da Sé, Santa Maria e Meixedo, assegura que já há vários meses alertou para a situação, “tanto da queda de pedras, como do mau estado dos sanitários e ainda da falta de iluminação na cidadela”, junto da Direcção Regional de Cultura do Norte e do Município de Bragança, que terão sido em vão.
Farto de ver as pedras a cair, decidiu fazer pequenas reparações nas muralhas, recorrendo a trabalhadores da autarquia, mesmo não tendo técnicos especializados na manutenção do castelo (que inclui as muralhas), classificado como Monumento Nacional desde 1910. “Estamos sujeitos a que nos digam alguma coisa e cá estaremos para responder perante as acusações que nos possam fazer por termos feito essas intervenções mas, se o fizerem, a pergunta que eu farei será ‘e vocês o que é que fizeram para que não se degradasse o património?’ Essa é que é uma questão também necessária de se colocar”, frisou o autarca José Pires.
O presidente da União de Freguesias garante que as intervenções nas muralhas tiveram “a melhor das intenções”, sublinhando que “é melhor ter problemas por ter feito uma intervenção e ter preservado aquele património do que caia uma pedra na cabeça a um turista e o mate ou fira”. José Pires lamenta aquela que considera uma falta de interesse das entidades com competências na gestão deste património.”Ainda há muito trabalho a fazer e temos muita pena que o castelo seja o nosso maior tesouro e a Direcção Regional de Cultura do Norte simplesmente olhe para o outro lado e assobie. Temos o castelo com as muralhas muito degradadas, a cair e espero que não haja nenhum acidente mas a haver um acidente será algo trágico”, acrescentou.
José Pires, lembra ainda que, há cerca de oito anos, altura em que era secretário da antiga Junta de Freguesia de Santa Maria, também a Domus Municipalis foi intervencionada, graças à persistência da autarquia. “A Domus foi recuperada graças à Junta de Freguesia, que conseguiu arranjar um mecenas, neste caso o banco Caja Duero que contribuiu com 12 mil e 500 euros ”, recordou.
Ainda segundo o autarca, as pequenas intervenções nas muralhas começaram já no início deste ano. Depois de algumas críticas e partilhas de fotografias das muralhas reparadas nas redes sociais, questionando a forma como foram as intervenções foram feitas, a União de Freguesias decidiu verificar se era legítimo continuarem com as pequenas obras. “Pedimos um parecer aos nossos juristas sobre se podíamos ou não intervencionar a zona histórica do castelo e a resposta foi clara: não é um equipamento da União de Freguesias, por isso não podemos fazer qualquer obra. As obras de conservação do castelo e de todo esse património são da responsabilidade da Direcção Regional de Cultura do Norte e da Câmara Municipal de Bragança”, esclareceu, acrescentando que decidiram então terminar as reparações.
O autarca referiu ainda que há algumas intervenções que considera que estão “menos  bem” mas que não são da responsabilidade da União de Freguesias mas sim de trabalhadores do Museu Militar. No entanto, fonte do Museu referiu ao Jornal Nordeste que apenas foram feitas pequenas reparações dentro das muralhas que circundam o forte onde está situado o museu, nomeadamente, em duas portas que foram pintadas e uma pedra recolocada nas escadas de forma a “garantir condições de segurança aos turistas”.
Segundo apurámos, existe um protocolo entre o Museu Militar e o Município de Bragança, sendo que o Município é o responsável pelas intervenções que não colidam com a manutenção do património histórico. É o caso dos sanitários públicos.
Depois de vários apelos da União de Freguesias da Sé Santa Maria e Meixedo de alguns brigantinos terem partilhado nas redes sociais fotografias do mau estado de conservação destes equipamentos, o Município procedeu a obras nos sanitários, sendo que os da Rua de S. Francisco já estão a funcionar. No entanto, os sanitários mais próximos do castelo, situados na Rua da Cidadela, estão nesta altura fechados para obras, o que causa constrangimentos aos turistas. “A União de Freguesias alertou muito atempadamente para o estado de degradação das casas de banho e soa gora é que estão a ser intervencionadas”. 
O Jornal Nordeste tentou ouvir o presidente do Município de Bragança, Hernâni Dias, no âmbito desta reportagem, que não quis, no entanto pronunciar-se sobre estes assuntos.
Já a Direcção Regional de Cultura do Norte e a Direcção - Geral do Património Cultural, responsáveis pela conservação e restauro dos monumentos, remeteram esclarecimentos para mais tarde já que os respectivos responsáveis por estes assuntos se encontram em período de férias. Fotos Hélder Pereira. 

Jornalista: Sara Geraldes

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