terça-feira, 14 de setembro de 2021

Portugal assina Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias

A língua mirandesa esteve na base da assinatura do documento

Jornalista Carina Alves

Portugal assinou a Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias. A Língua Mirandesa esteve na base da assinatura, concretizada na quarta-feira da semana passada, dia em que o Ministério dos Negócios Estrangeiros anunciou que a Câmara Municipal de Miranda do Douro e a Associaçon de la Lhéngua i Cultura Mirandesa (ACLM) haviam desenvolvido a lista de compromissos a cumprir para que a adesão fosse possível.

A assinatura do documento, que visa, desde 1992, proteger e promover as línguas regionais e minoritárias da Europa, já estava a ser trabalhada há vários anos, sendo que, em Janeiro de 2019, o município de Miranda do Douro já avançara com a assinatura de um protocolo com a ACLM, para cumprir os princípios com que o país teria que se comprometer, tendo disponibilizado, 25 mil euros.

Estes princípios que ditaram que Portugal estivesse pronto para a assinatura foram transcritos por José Pedro Ferreira, vice-presidente da ACLM. O também linguista, um dos mentores da assinatura, esclareceu que estes compromissos, sendo que no mínimo é preciso assumir

35, são “adequados à realidade de cada país”. Neste caso, segundo esclareceu, os compromissos, em diferentes sectores, nomeadamente justiça, educação, comunicação social, cultura, administração central e local, “protegem a língua ameaçada”. “Até aqui, não era possível que uma pessoa fosse ouvida em mirandês num tribunal, mas agora é”, deu como exemplo. Também na Câmara Municipal as pessoas podem agora ser escutadas nesta língua. Além de as ouvir em mirandês, a entidade também é obrigada a responder-lhes na mesma língua. “Era uma medida simples de implementar, mas nunca tinha sido”, salientou.

Também ao nível do ensino, por exemplo, todos os anos, o mirandês, que é ensinado como disciplina opcional, dependia de uma autorização anual, dada pelo titular da pasta da Educação. Agora não haverá mais essa necessidade.

José Pedro Ferreira, que recebeu a notícia “com grande felicidade”, nomeando o dia como “glorioso”, afirma que as medidas “vão facilitar a vi[1]da aos falantes e às entidades locais”, caso se pretenda que a língua tenha uma maior presença na vida pública dos habitantes da Terra de Miranda, que, além de Miranda do Douro, é integrada por Mogadouro e Vimioso. “Para nós é uma grande vitória. Desde 2002, altura em que a ALCM foi criada, que reclamávamos a assinatura da carta. É um sinal de que o Estado central, de facto, está atento às nossas preocupações”, rematou ainda.

A continuidade da língua, que, por agora, ainda se assume que está ameaçada, não será assegurada, de todo, pela assinatura desta carta. O documento permite que o mirandês esteja mais protegido e que haja outra facilidade em algumas questões, sobretudo para os seus falantes, mas quem determina que esta não morra é o próprio povo. “Esperemos que as pessoas perpetuem a língua através da transmissão entre gerações. Se olharmos para outros casos, línguas que estiveram à beira da extinção, e olharmos para o que lhes aconteceu, percebemos que, muitas vezes, tudo depende de medidas institucionais, tanto centrais como locais. Veja-se o finlandês, que era secundarizado, pelo sueco, quando a Finlândia não era independente. Há cem anos o país tornou-se independente e hoje em dia não passa pela cabeça de ninguém pôr em causa a viabilidade futura da língua”, esclareceu o linguista.

Artur Nunes, presidente do município, que admite que “a carta vem dar força, sobre[1]tudo à educação, que é um dos pilares para que a língua continue”, reportou-se à assinatura do documento como “uma oportunidade para o mirandês”, uma verdadeira forma para que a língua “surja e ressurja.”

 

Retirado de www.jornalnordeste.com

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