sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

PRESIDÊNCIA ABERTA DE MÁRIO SOARES EM BRAGANÇA HÁ 30 ANOS


Em breve se completarão trinta anos sobre a presidência aberta de Mário Soares no nordeste transmontano. Em pleno inverno (Fevereiro de 1987), o recém-eleito Presidente da República instalou a presidência, durante uma semana, no edifício da antiga câmara municipal, pouco antes transformado em Centro Cultural Paulo Quintela.
Dali acompanhou a vida política do país e partiu ao encontro das realidades do distrito de Bragança, visitando municípios, agentes económicos e culturais, em contacto com as populações, que terão visto na iniciativa uma oportunidade de apelar à inversão de dinâmicas de litoralização e centralização que ameaçavam tornar-se irreversíveis.
O ambiente foi muitas vezes de festa. Soares participou em debates e seminários, foi à caça, visitou infraestruturas e viajou de comboio na linha do Tua, deixando a convicção de que o transporte ferroviário poderia permanecer e modernizar-se.
Não foi assim. O consulado de Cavaco Silva, como primeiro-ministro, desactivou a linha do Tua, depois do que já acontecera, num governo de Soares, com a linha do Sabor.
A conclusão do IP4 só se consumou mais de onze anos depois da visita do presidente e constituiu, aliás, uma fonte de tragédias até que, passados mais quinze anos, a A4 chegou finalmente ao distrito que era, então, o único do país sem nenhum quilómetro de auto-estrada.
Quando os portugueses se confrontam com o fim da vida do ex primeiro-ministro e ex Presidente da República, o jornal Nordeste regista a memória que os bragançanos comuns e alguns então responsáveis políticos regionais guardam dessa iniciativa.
Mário Abreu Lima, ex. Presidente da Câmara de Carrazeda de Ansiães, lembra “com saudade a presidência aberta em Bragança, a primeira visita de forma tão longa ao distrito de Bragança, um dos distritos mais periféricos do país”. Soares “esteve junto das populações, dos autarcas e das forças regionais. Foi extraordinariamente importante, porque foi foco da atenção do país inteiro, uma chamada de atenção fundamental para as necessidades, as urgências que se queriam combater na diferença de desenvolvimento do país. Atrás dele trouxe toda a comunicação social que transmite para o país inteiro toda a realidade e essa foi a grande atitude política que saiu da visita do presidente”.
Também Marcelo Lago, então presidente da câmara municipal de Mirandela, considera que “na altura era muito importante uma visita do Presidente da República, porque apesar de não ter decisão legislativa, chama sempre a atenção dos governos para os problemas e alguma coisa acaba sempre por ser feita”.
José Miranda, então presidente da câmara municipal de Vimioso, recorda que acompanhou “a visita integral do Dr. Mário Soares. Foi a todos os concelhos do distrito, visitou e conversou com as populações. Foi uma jornada interessantíssima, o país ficou a falar de Bragança. Em Vimioso teve fundamentalmente contacto com as populações, visitou a ponte do rio Sabor e o castelo de Algozo. Foi uma visita muito importante para o distrito de Bragança até porque ele teve um contacto muito directo com todos os presidentes de câmara e naturalmente havia um caderno reivindicativo das câmaras municipais, dos bombeiros e da polícia. Ao fim de um ano da sua visita ligou para saber os resultados da presidência aberta. Convidou os presidentes de câmara para um almoço nos jardins do palácio de Belém, muito agradável. Depois da visita de Mário Soares o governo passou a olhar-nos de outra forma, tínhamos o presidente do nosso lado”.
Também Júlio de Carvalho, que veio a ser governador civil do distrito no ano seguinte considera que “o impacto foi grande e foi importante para que Trás-os-Montes fosse olhado com mais seriedade do que até então. Esta visita deu um grande impulso para a construção de troços do IP4 e IP2, de forma a tornar Bragança mais acessível”.

Jornalista: Teófilo Vaz / Olga Telo Cordeiro

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