sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

VINHAIS PERDE DUAS AGÊNCIAS BANCÁRIAS


A população ficou descontente com o encerramento das delegações dos bancos BIC e Novo Banco, no final do ano passado.
Em Vinhais, o final de 2016 trouxe o encerramento de duas das cinco agências bancárias. As dependências do BIC e do Novo Banco e os respectivos terminais multibanco deixaram de funcionar na última semana do ano passado.
Na vila, a situação é motivo de comentários e conversas e apanhou muitos de surpresa.
Carla Vaz, que mora em Vinhais, ficou surpreendida quando, na última quarta-feira tentou levantar dinheiro no ATM do Novo Banco, como de costume. “Por acaso, hoje vim aqui e reparei que já não havia caixa de multibanco. Ainda não sabia que tinha fechado, só sabia que o BIC tinha encerrado e acho que é uma perda porque os comerciantes que estão naquela zona perdem. Os clientes levantavam ali o dinheiro e iam às compras, agora as pessoas perdem a vontade de ir às compras porque têm de vir ao centro para levantar dinheiro”, frisa a jovem.
No caso da agência do Banco BIC, era a única na chamada zona dos Frades. “No centro ainda há alternativa, mas nos Frades não”, refere. A distância de cerca de um quilómetro entre o largo dos Combatentes da Grande Guerra e a zona do seminário onde existia a dependência bancária do BIC, que se fundiu com o antigo BPN, é uma preocupação para a maioria da população. Mas para os clientes destes bancos, a transferência das contas para os respectivos balcões de Bragança, não é uma boa alternativa.
Júlia Santos, cliente do Banco BIC, encerrou a conta de imediato. “Recebi uma carta, que não invocava as razões, mas dizia que encerraria em Dezembro. Nós como solução cancelámos a conta, não vamos trabalhar com uma instituição que sai da vila, eles terão as razões deles, nós temos as nossas. Prefiro trabalhar com uma instituição que tenha aí à porta”, refere esta habitante de Vinhais, para quem não faz sentido ter de se deslocar mais de 30 quilómetros para tratar de questões relacionadas com a conta. “Quando tivesse qualquer problema, causava-me transtorno deslocar-me daqui a Bragança”, explica Júlia Santos. Proprietária de um restaurante vizinho da agência bancária agora fechada, antevê dificuldades com os clientes visto que não tem disponível um terminal multibanco. “Traz bastantes problemas, porque havia um multibanco aqui a 50 metros e quem não vinha prevenido deslocava-se ali a levantar dinheiro, actualmente o multibanco mais próximo fica longe”, considera. Ainda não sabia que a dependência do Novo Banco tinha fechado, mas entende que “é mais uma perda para a vila”. “Já há tão poucos empregos e assim fica tudo vazio”, vaticina.
A população lamenta a saída destes serviços de Vinhais e vê o encerramento como mais uma forma de abandono do interior.
“Quantas menos coisas tivermos na terra pior é, porque pelo que estamos a ver vai tudo embora. A gente já é pouca e se as coisas ainda se vão daqui as pessoas ainda se vão com elas”, lamentou António dos Santos.
Ricardo Afonso que é mediador de uma agência de seguros que trabalha no mesmo local onde nos últimos quatro anos funcionou o BES, depois Novo Banco, e dia 4 de Janeiro assistiu à retirada do multibanco, do cofre e tudo o que é relativo ao banco e considera que estes serviços “fazem falta”, “não só para as pessoas que tinham ali conta como para o concelho”. “No mesmo dia, fecharam dois bancos, o tribunal não sabemos como está e o centro de saúde às 22 horas fecha, é o interior”, destaca.
O autarca de Vinhais também condena o encerramento destas agências. Américo Pereira considera que os bancos “não estão a atender ao papel de serviço público” e condena o facto de a câmara não tenha sida ouvida neste processo. “Os bancos são instituições privadas e sei que nada podemos fazer para contrariar essas decisões. Mas o que lamento e condeno é que não houve uma palavra para com a câmara municipal no sentido de encontrarmos uma solução uma vez que os bancos também têm uma função social e não podem, quando lhes apetece, pura e simplesmente fechar as portas”, frisa o presidente do município. “Acho que é uma prepotência e uma nova visão que as instituições bancárias têm sobre a economia e o mundo completamente errada e é isso que condenamos”, acrescenta ainda Américo Pereira.

Bancos justificam encerramento com reestruturação da rede nacional

Em carta enviada aos clientes pelo Novo Banco, pode ler-se que a instituição bancária “tem vindo a adequar a rede de agências à evolução e exigência do mercado”, “com o objectivo de prestar melhor atendimento aos seus clientes”, justificando assim o encerramento da agência de Vinhais.
O Banco BIC explica que no âmbito da redefinição da presença física no mercado do sistema bancário nacional, este Banco “procura também encontrar a estratégia adequada para que a relação bancária materialize uma utilidade social em condições de equilíbrio e equidade”.
Em resposta ao Jornal Nordeste, a instituição afiança que aos clientes de Vinhais “está assegurado um serviço bancário completo e de grande qualidade nas nossas agências de Bragança e Mirandela, além de uma disponibilidade permanente nos canais alternativos, como sejam a internet, o telefone e a rede de caixas automáticas”.
Este não é caso único no distrito. Também em Bragança têm nos últimos anos encerrado vários balcões. O último foi o do Banco Popular, no final do ano passado, que explicou ao Nordeste que o “encerramento da agência de Bragança se enquadra no âmbito do plano de reestruturação do Banco Popular em Portugal”.
Em termos de alternativa, os clientes brigantinos deste banco viram as contas transferidas para Vila Real.
Relativamente aos funcionários que se encontravam a trabalhar nesta agência, numa resposta enviada por e-mail, o Banco Popular esclarece apenas que “uma vez que este processo está em curso”, não é possível “adiantar nesta altura dados específicos sobre os colaboradores”.
Nos últimos anos, fecharam em Bragança outras agências bancárias, nomeadamente do BBVA, Caja Duero, Finibanco e Banif, tendo ainda uma das agências existentes da Caixa Geral de Depósitos, da caixa de Crédito Agrícola e do Montepio.

Jornalista: Olga Telo Cordeiro

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