sexta-feira, 1 de abril de 2016

Para recordar...

A aldeia onde comecei a trabalhar chama-se Negreda. Pertence ao concelho de Vinhais e à freguesia de Celas, em Trás-os-Montes, mais especificamente, no Nordeste transmontano.
Na altura não fiquei muito satisfeito. Com apenas dezanove anos não conseguia sentir-me atraído por aquele "fim de mundo" para onde me tinham enviado como um desterrado.
Não tinha carro e embora estivesse a cerca de vinte quilómetros de Bragança, tinha de ficar na Negreda a semana toda o que para mim era um enorme sacrifício, habituado que estava à noite de Bragança onde nasci e sempre tinha vivido.
O mais caricato é que ninguém queria acolher o Senhor Professor e foi muito a custo que consegui um "alojamento" que ainda hoje me faz rir com gosto. Tratava-se da casa de um casal já com alguma idade que fez o grande favor de me acolher. Naquela noite o jantar foi melhorado por ser para mim e confesso ter gostado das batatas fritas em azeite e dos ovos estrelados, mas habituado ao belo peixe da minha mãe...
No entanto, o quarto foi o melhor. Por volta das nove horas da noite, os donos da casa convidaram-me a deitar, "que no dia seguinte tinham de se levantar muito cedo" e foram mostrar-me o quarto...
Uma única cama preenchia uma das paredes, ladeada por uma pequena janela e, ainda, uma desconchavada cadeira que parecia em equilíbrio precário, mas o que me fez rir, interiormente, a bandeiras despregadas, foi o enorme monte de batatas que ocupava metade do quarto, no canto oposto à cama.
Como não havia remédio, deitei-me e adormeci, não sem antes apagar a vela que me tinham dado com o pedido de a apagar sem demora.
Acordei pela uma da manhã com as horas de sono cumpridas e com as necessidades fisiológicas normais de um qualquer cidadão. Sem local adequado na pequena casa, fui à rua, claro está, numa noite estrelada e fria.
Voltei para o meu quarto e esperei que o sol raiasse enquanto ouvia os sons da noite.

No fim-de-semana da Páscoa voltei aquela pequena aldeia e verifiquei que houve algumas mudanças e que a estrada está alcatroada. A "Quinta dos Castanheiros", instalação de turismo rural, veio colocar este local único no mapa...
O que mais gostei de ver foram os castanheiros de que me recordo e que, felizmente, povoam esta pequena terra fria, cheia de personalidade, onde o sol não entra no rigor do inverno.





Marcolino Cepeda 

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