terça-feira, 5 de abril de 2016

Não o fez

Mais um dia dos que são para viver um de cada vez, se possível devagar.
Não vale a pena correr porque urge chegar inteiro e capaz.
Tinha pressa como pressa tem quem quer que tudo aconteça num milionésimo infinitesimal de um fugaz segundo.
Atrasou-se. Pesava-lhe a consciência de não ter chegado, de não ter acabado o que se propusera fazer.
Pensou deixar as lágrimas fluírem livres.
Não. Não deveria fazê-lo. Não o fez.
Engoliu-as como quem engole algo muito amargo, com a certeza de que queimará mas não apagará a dor que grassa na garganta e não pode explodir em gritos.
Os olhos continuam secos e ardem.
Tenta que ninguém saiba que não é feliz.
A ilusão é magia neste mundo torto.
De nada vale tentar se houver lágrimas nos belos olhos de quem chora.
Não pode.
Não quer.
Por isso, vive.
Não um viver pleno, radiante de felicidade e conquistas. Apenas vive de forma correta, pensa.
É o modelo que tem de seguir porque é assim e pronto.
Ser, fazer, seguir sem voltar a cabeça...

Não. Chega. Não quero mais. Sou. Existo. Sinto.
Não posso viver assim, como nada ou ninguém.
O dia passa rápido demais, depressa demais...
Preciso agarrá-lo, caminhar com ele, ao seu ritmo.
O mundo não para para esperar por mim.
Fiz, faço, farei o que nem sequer imagino fazer.
Sou totalmente, completamente, como um dia que acontece com a naturalidade que nele consente, apenas porque sim.

Maria Cepeda

  

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