segunda-feira, 4 de abril de 2016

Momentos

Recordo-me da minha infância com alegria.
Fui feliz, tão feliz como pode ser uma menina que tem a liberdade dos campos para correr e saltar.
Cedo deixei aquela liberdade para me mudar para uma das maiores metrópoles do mundo, onde aprendi um modus vivendi nunca imaginado pela minha fértil imaginação. Depressa me adaptei à loucura daquela vida e esqueci a simplicidade e descontração da minha vivência anterior.
Esta mudança foi, verdadeiramente, ir aos antípodas da minha existência terrena.
Também fui feliz. Tenho o dom de tentar ser feliz, mesmo que por breves momentos.
Cresci. Estudei, vivi num ambiente protegido, repleto de amor e compreensão. Repleto de valores e respeito, por mim e pelos outros.
Fui, aos poucos, aprendendo o significado da palavra saudade que ouvia todos os dias da boca dos meus pais.
Quando entendi regressar às minhas origens, fi-lo.
Consumia-me uma saudade de antecipação, de perfumes, de cor,  de mudanças de estação visíveis, de liberdade a que já não conseguia resistir.
Só, como nunca estivera, sofri. Foram tempos difíceis. Escrevi cartas intermináveis aos meus pais, irmãos, primos, tios, amigos, enfim...
Passei frio por não sentir calor. Saquei o meu dom, dele abusei e fui despertando do inverno que abrigara no meu coração. Aos poucos, foi brotando a primavera em mim e apesar de continuar só, contentava-me com a beleza que ansiosamente aspirava com um simples olhar.
Fui tenuemente feliz. Um quase nada.
Sou feliz quando vou à minha aldeia e vejo a beleza de que é feita...
   



Continuo a acarinhar o dom de tentar ser feliz, mesmo nestes tempos de incertezas e flagelos que tão fundo nos tocam na alma.
Espero não perder a inocência do brilho no olhar, que reflete o primeiro raio de sol de cada manhã, ao acordar.

Maria Cepeda

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