domingo, 7 de julho de 2024

JORGE MORAIS "PERSONAGENS" (3)

Carlinhos em plena eira da Sé antes de uma corrida de bicicletas que se organizou localmente.

 

Esta presenciei-a eu pelos idos anos de 71 mais ou menos e integrando um pequeno grupo de rapazes que costumava frequentar mais com as costas do que com os livros, as paredes do comércio dos "Coelhos" em plena Praça da Sé, junto à pancarta dos filme a exibir no Cine Teatro Camões. O seguinte passou-se, não sei porque cargas de água, fora dessa circunscrição, ou seja, na esquina do então Banco Nacional Ultramarino em frente aos Correios.

- Carlinhos, canta-nos uma cantiga! - A moeda de duas coroas relampejante e atrativa na sua mistura de prata e alpaca, rodopiava no ar uma, duas... três vezes, lançada por um dos rapazes do grupo que demonstrava a sua perícia impulsionando-a entre o indicador e o polegar servindo de mola e assim lançava o apetecido isco. Carlinhos parecia passear para a frente e para trás no passeio levemente desnivelado. Ia ficando cada vez mais interessado embora o não demonstrasse por aí além. Pelo canto do olho inspecionava. Os rapazes insistiam. De repente ao passar mesmo em frente ao grupo, Carlinhos intercetou a moeda no ar e mandou-lhe esta: - "Bá botai cá a moeda", e, de seguida, com a sua voz nasalada mas boa dicção e erguendo o pescoço e tremelicando levemente como quem apura a voz de cantoria: "No alto daquela serra está uma rolinha a rolar com o bico cheio de m.... para quem me mandou cantar".

Virou costas e seguiu rua Cinco de Outubro abaixo e a malta de boca aberta. Um ainda dizia: - Eu bem vos disse, eu bem vos disse... ficaram sem o escudo que naquela altura estava reservado para umas partidas de matraquilhos no "Guto", uns gelados de máquina no Almeida ou um "Seis Balas" e um "Condor" no Costa do quiosque. Tudo gorado.

 

Jorge Morais

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