Carlinhos em plena eira da Sé antes de uma corrida de bicicletas que se organizou localmente.
Esta presenciei-a eu pelos idos
anos de 71 mais ou menos e integrando um pequeno grupo de rapazes que costumava
frequentar mais com as costas do que com os livros, as paredes do comércio dos
"Coelhos" em plena Praça da Sé, junto à pancarta dos filme a exibir
no Cine Teatro Camões. O seguinte passou-se, não sei porque cargas de água, fora
dessa circunscrição, ou seja, na esquina do então Banco Nacional Ultramarino em
frente aos Correios.
- Carlinhos, canta-nos uma cantiga!
- A moeda de duas coroas relampejante e atrativa na sua mistura de prata e
alpaca, rodopiava no ar uma, duas... três vezes, lançada por um dos rapazes do
grupo que demonstrava a sua perícia impulsionando-a entre o indicador e o
polegar servindo de mola e assim lançava o apetecido isco. Carlinhos parecia
passear para a frente e para trás no passeio levemente desnivelado. Ia ficando
cada vez mais interessado embora o não demonstrasse por aí além. Pelo canto do
olho inspecionava. Os rapazes insistiam. De repente ao passar mesmo em frente
ao grupo, Carlinhos intercetou a moeda no ar e mandou-lhe esta: - "Bá
botai cá a moeda", e, de seguida, com a sua voz nasalada mas boa dicção e
erguendo o pescoço e tremelicando levemente como quem apura a voz de cantoria:
"No alto daquela serra está uma rolinha a rolar com o bico cheio de m....
para quem me mandou cantar".
Virou costas e seguiu rua Cinco de
Outubro abaixo e a malta de boca aberta. Um ainda dizia: - Eu bem vos disse, eu
bem vos disse... ficaram sem o escudo que naquela altura estava reservado para
umas partidas de matraquilhos no "Guto", uns gelados de máquina no
Almeida ou um "Seis Balas" e um "Condor" no Costa do
quiosque. Tudo gorado.
Jorge Morais
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