Por Susana Pinheiro
Depois da “excessiva” subida do preço dos adubos e das matérias orgânicas, os produtores de Bragança e de Valpaços veem-se agora a braços com uma quebra entre 70 a 90% da produção da castanha e consequentes prejuízos com a baixa de lucros. Muitos destes agricultores receiam, por isso, que o preço da castanha dispare com o escoamento no mercado e chegue aos consumidores a um preço mais elevado.
Numa época em que a
castanha acaba por ser um suplemento ao rendimento de muitas famílias de
Valpaços e de Bragança, e o país vive assolado com as consequências económicas
da inflação, os produtores receiam viver ainda mais dificuldades
financeiras.
Jorge Espírito
Santo, técnico responsável da Associação de Agricultores para Valorizar o
Futuro (Agrifuturo), avisa que se avizinham tempos complicados. “Prevê-se um
ano difícil para os produtores de castanhas com avultados prejuízos, com quebra
na ordem dos 70% na produção devido à seca e à falta de água”, alerta o
técnico responsável da Agrifuturo, uma associação criada para valorizar o setor
da castanha em Valpaços e apoiar os produtores em diversas matérias.
“Ainda não fechamos
a campanha deste ano, mas calcula-se uma quebra de 70% na produção, em
Valpaços, em relação à colheita habitual de 10 mil a 12 mil toneladas deste
fruto nos anos anteriores”, estima Jorge Espírito Santo.
Este é, por
isso, um ano atípico com falta de castanhas, ainda que com alguma
qualidade, segundo os produtores com os quais o ECO/Local Online falou. E é
unânime o receio de que o preço deste fruto possa disparar no mercado,
alerta Jorge Espírito Santo.
São muitos os
produtores que se queixam à associação Agrifuturo dos prejuízos, porque além da
quebra de produção, também acabam por “vender entre os 2,5 e os três euros o
quilograma deste fruto aos operadores que depois distribuem o fruto no
mercado”. Como acontece com o produtor Gualberto Alves, de Valpaços:
“Estou a vender a três euros o quilograma ao operador que depois coloca as
castanhas à venda no mercado”, desconhecendo o valor com que depois o fruto é
colocado à venda ao consumidor final.
Gualberto Alves
ainda não terminou a campanha deste ano da apanha da castanha que é manual, nos
terrenos na freguesia de Carrazedo de Montenegro e Curro, em Valpaços. “Temos
de esperar que o ouriço abra e a castanha caia”, vai contando enquanto explica
que calcula uma quebra na ordem dos 70% a 80% na produção deste fruto
refletida num prejuízo de milhares de euros. “Este ano devemos
apanhar cerca de mil quilogramas, quando em 2021 colhemos três toneladas de
castanhas”, lamenta o produtor que fez “um investimento bem superior às
receitas” que vai obter este ano.
Os agricultores
também se queixam dos preços das matérias-primas que dispararam e nalguns
casos para o triplo, como o adubo. “Com a guerra na Ucrânia subiram o
triplo os preços do adubo e das matérias orgânicas. Gastei mais no investimento
na produção do que o valor que vou receber com a venda das castanhas”, afirma
Gualberto Alves, explicando que, para isso, em muito contribuíram as
alterações climáticas e o violento incêndio que consumiu quase metade dos 696
castanheiros que tem plantados. Entre as causas para a quebra da produção
o agricultor aponta ainda “o verão muito quente, a pouca água, assim como as
pragas e algumas de difícil controlo”. Estas queixas são unânimes entre os
diversos agricultores.
“Os produtores
fazem tratamento durante todo o ano e os preços das matérias subiram bastante”,
alerta o representante da associação Agrifuturo que também presta assistência
técnica aos produtores no terreno, por exemplo ao nível de análises do solo,
certificados e candidaturas a subsídios.
Ainda assim,
Gualberto Alves diz que, “apesar de não haver quantidade de castanha no
mercado, há qualidade”. E conta que tem mais variedade Judia – a que
tem maior procura da parte dos consumidores – do que Longal. “Esta última
caracteriza-se por ser mais pequena, cor mais escura, e é mais barata. Costuma
ser mais para consumo próprio”, descreve. Já a judia tem mais brilho e é de
maior calibre.
A apanha da castanha
é ainda feita, na maior parte dos casos, à mão e requer muitos trabalhadores. E
a falta de mão-de-obra é outro dos problemas apontados pelos agricultores.
As queixas são
transversais a outros produtores com os quais o Eco/Local Online falou,
como é o caso do professor Nuno Veiga, de Bragança, que acrescenta o problema
da praga das vespas que prejudicou o crescimento da castanha nos 70 hectares de
terreno que tem, na região, lamentando ainda “o calor excessivo
prolongado” que se registou e que se refletiu na quebra de 90% na
variedade da castanha Longal. “Já na variedade Boaventura a quebra foi de 60%”,
acrescenta o produtor que, no ano anterior, colheu 20 mil quilogramas deste
fruto.
Este produtor também
se queixa do valor das matérias-primas. “Comprei adubo cujo preço duplicou com
cada saco a 18 euros. Imagine o quanto gastei. Ainda não sei quanto vou receber
pela venda das castanhas, porque ainda não terminei a campanha, mas já sei
que não vou ter lucro. Peço, pelo menos, que dê para cobrir o prejuízo”,
adianta Nuno Veiga.
“Se não tivesse
outra profissão, não sei como iria recuperar dos investimentos que fiz nos
adubos e noutras matérias-primas e nos consequentes prejuízos”, afirma o
professor de Bragança. O mesmo não podem dizer os produtores que dependem da
agricultura para subsistir.
Também o
produtor Telmo Afonso, de Bragança, receia que esta situação económica
possa afetar muitas famílias cuja subsistência tem por base a venda da
castanha nesta época do ano. Não é o seu caso, que é enfermeiro e vê a produção
deste fruto como um complemento financeiro. Mas acredita que este problema
da quebra vai afetar todo o comércio da região.
Telmo Afonso não
anda muito longe das queixas dos outros agricultores transmontanos.
Também calcula uma quebra de 70% na produção da castanha nos seus sete
hectares de terreno, em Espinhosela, Bragança, e queixa-se do “bicho na
castanha”, e das pragas das vespas das galhas do castanheiro, além da falta
de água e das más condições climatéricas. Este ano calcula colher bem
menos dos que os 15 mil quilogramas do ano passado nas diferentes
variedades. “A maior quebra que tenho é na variedade Longal”, conclui o também
enfermeiro de Bragança.
Retirado de Localonline
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