Jorge da Costa é o novo director do Museu do Abade de Baçal e da Domus Municipalis
Tornar o Museu do Abade de Baçal acessível a toda a gente,
mas proporcionar uma
“experiência fantástica” a quem o visite, onde a qualidade
seja o cartão de visita, é a grande
missão de Jorge da Costa, que neste primeiro dia de Novembro
se estreia no papel de director
do emblemático espaço brigantino. Com 53 anos, esteve, nos
últimos 15, à frente do Centro de
Arte Contemporânea Graça Morais, também ele em Bragança. O papel
de director também o
assumiu no Centro de Fotografia Georges Dussaud, que fica,
igualmente, nesta cidade. Jorge
da Costa vai ser também agora o director da Domus
Municipalis e, em entrevista ao Jornal
Nordeste, revela que quer dinamizar este espaço, dando a
conhecer a história que carrega a
todos quantos o visitem. Jorge da Costa ganhou, com mais de
19 valores, o concurso público
que o coloca à frente de dois espaços que, segundo promete,
muito nos vai apetecer visitar.
Porque é que decidiu que queria partir para esta aventura?
Que homem é este que agora
chega à direcção do Museu do Abade de Baçal?
O que me fez aventurar neste concurso? Há várias razões!
Estava à frente do centro de arte
desde o início, 2007, ainda estava ele em obras. Eu tinha um
projecto e senti que, 15 anos
passados, o tinha cumprido. Estou muito feliz e muito
satisfeito com as exposições que realizei,
quer da pintora Graças Morais, quer dos artistas que
convidei, quer das grandes colecções,
quer, sobretudo, de colecções de instituições como a
Gulbenkian, Serralves, Culturgest, que ali
passaram. Também no Centro de Fotografia Georges Dussaud
foram realizadas inúmeras
exposições. Para além das exposições, ficam também duas
fantásticas colecções, uma de arte
contemporânea, no centro de arte, e outra grande colecção,
no centro de fotografia,
sobretudo das obras de Georges Dussaud. Foram publicados
inúmeros livros e catálogos.
Portanto, produziu-se muito conhecimento e isso é uma grande
satisfação. Por outro lado,
senti que era interessante agarrar num novo desafio: dar
também o meu contributo ao Museu
do Abade de Baçal, aproveitando a minha experiência. Gostava
de levar agora um novo
projecto ao museu da minha cidade e da minha região.
Antes de falarmos desse contributo... o centro de arte
deu-lhe muita visibilidade, pelo
menos, a nível nacional. É triste deixá-lo?
Não. Não é nada triste. Saio plenamente satisfeito. Foi um
percurso difícil, de muita luta e
trabalho e, felizmente, o centro de arte é hoje uma referência,
pelo menos, a nível nacional.
Não é por acaso que instituições de referência querem
trabalhar com ele. Assim como muitos
artistas nacionais e estrangeiros querem também ali expôr.
As pessoas acham que o meio
artístico não está atento a Bragança, mas está e isso tem
sido muito satisfatório. Há também
algo que para mim é interessante. Para além de dizer que
sinto que o meu projecto está
concluído, a verdade é que defendo que os lugares não devem
ser eternos. É necessário que
venha gente nova, sangue novo. A pergunta que agora toda a
gente me faz é quem vai dirigir o
Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, mas não estou
preocupado com isso porque sou
muito positivo e acredito que vem aí alguém com outras
ideias, que pode levar o centro ainda
mais além. O mais difícil já foi construído. Agora é só
melhorar.
As pessoas começam a ter mais interesse em conhecer o que
têm no território ou passa-nos
muito ao lado? Que sentiu nestes 15 anos?
Creio que ainda há muito a fazer. O centro de arte investiu
muito nessa questão e tentou dar
resposta a essa diversidade de pessoas que podem visitar um
centro de arte ou um museu. Os
brigantinos têm respondido positivamente. A grande questão
que se colocava, quando o
centro abriu, era: como é que os brigantinos iriam reagir à
arte contemporânea? E a verdade é
que foi muito fácil. O centro teve esse sucesso imediato
junto do público e fidelizou-o
rapidamente. Há hoje em Bragança um público consumidor de
arte. Acredito que, com as
propostas que os museus podem apresentar, possam ser cada
vez mais atractivos. Dou o
exemplo do Museu do Abade de Baçal. Se calhar há muitos
brigantinos que nunca o visitaram,
mas também há muitos que nunca foram ao teatro ou ao centro
de arte... mas há muita gente
que conhece bem as colecções fantásticas que o Museu do
Abade de Baçal tem. É, sobretudo,
um museu com uma colecção permanente, mas é preciso tentar
dar a volta a essa colecção,
enriquece-la, trazer coisas novas.
É muito acarinhado na cidade, sobretudo, por causa deste
mundo das artes. Portanto, o que
é que pode dar de novo ao museu? Falava de sangue novo, que
acredita que quem chegue
agora ao centro de arte trará novas ideias... então também
as tem para o museu. Quais são
essas ideias?
Esta decisão foi muito pensada. Por isso, apresentei um
projecto muito detalhado daquilo que
pretendo fazer. O museu precisa, sobretudo, que a colecção
seja enriquecida. Precisa também,
por exemplo, que seja dada mais atenção à figura do Abade de
Baçal porque, para além de
alguns retratos e bustos, não temos muito o que nos mostre
quem era exactamente. A sala do
Abade de Baçal vai ser o meu primeiro contributo. Pretendo
que quem entre no museu fique
logo a perceber quem foi esta figura extraordinária.
Pretendo também criar relações com
museus, sobretudo nacionais, como o Museu Soares dos Reis,
que tem uma colecção
fantástica do naturalismo, que o Museu do Abade de Baçal
também tem. Muitas vezes, estes
museus nacionais têm obras nas reservas que, por falta de
espaço, não são mostradas. Porque
é que não podem ser mostradas em Bragança, se há uma
relacção com essa mesma colecção?
Isto é uma forma de trazer novas obras mantendo os núcleos
muito importantes que aqui
existem. O mesmo acontece com as obra do Almada Negreiros.
Porque é que não podem
existir obras novas, que sejam emprestadas por outros
museus? A minha aposta também vai
ser muito forte no que toca à divulgação do museu. Muitas
vezes, as coisas ficam fechadas
dentro dos espaços museológicos. É preciso trazê-las para
fora. Sabemos que a comunicação
social está muito atenta ao que se passa em Lisboa e no
Porto e, se calhar, menospreza um
bocadinho o que se passa no resto do país. Isto é um
trabalho de fundo mas que pode ser feito
e que pode, realmente, acontecer.
É possível atrair os jovens? Parece que se interessam mais
por espaços como o centro de
arte...
O Museu do Abade de Baçal tem um número de visitantes penso
que, quando comparado com
o Centro de Arte Contemporânea, não seja muito diferente.
Aliás, o museu tem uma estratégia
de serviço educativo e esta relação com as escolas é muito
activa. É preciso torná-la ainda
mais. Temos que nos socorrer de um conjunto de estratégias
para continuar a levar os
brigantinos ao museu. Também a Domus Municipalis será uma
grande aposta, pois precisa de
alguma dinâmica. É preciso mostrá-la. Na Primavera/Verão,
haverá uma exposição sobre ela,
dentro da própria Domus. Muitas vezes, quem chega e quem
visita o monumento desconhece
que existe uma cisterna e até a própria história da
reconstrução daquele monumento. Há
muitas coisas, nomeadamente fotografias do Abade de Baçal no
monumento, antes de este
ser reabilitado. Há muito a mostrar. Isto pode resultar
também numa estratégia canalizadora
de visitantes da Domus para o museu. A minha aposta é fazer
do museu, parafraseando uma
expressão do director do Teatro de São João, mas alterando-a
um bocadinho, “um museu de
elite para todos”. Quero que seja acessível a toda a gente.
Falarmos de elitismo é falar de
qualidade. O público procura a qualidade e não podemos
dar-lhe qualquer coisa. Isso é muito
importante. Quero que quem lá vá saiba que vai gostar da
visita. Quero que as pessoas saiam
do museu e sintam que a visita valeu a pena. Quero que quem
entre no museu tenha uma
experiência extraordinária.
Esta vontade de dar o seu contributo ao Museu do Abade de
Baçal já estava planeada há
algum tempo ou foi algo que surgiu recentemente?
Já ia sendo pensada há algum tempo. Não foi uma coisa
momentânea.
Já falou do que pretende dar àquele espaço, mas o que acha
que o museu lhe pode dar a si?
Estou muito feliz, mas sobretudo muito motivado. Aquilo que
tenho em projecto só será
possível com a colaboração da equipa do museu. Quero
partilhar estas ideias todas e motivar a
equipa. Valorizo muito as relações pessoais e quando há uma
boa relação e há empatia tudo
corre melhor. A tal ideia que, vulgarmente, chamamos de
‘vestir a camisola’... eu quero que a
equipa vista a camisola porque eu já a vesti. Acredito que a
equipa a vai vestir comigo. Isso é a
grande expectativa que tenho para o começo do meu trabalho
no Museu do Abade de Baçal.
Realizada pela jornalista Carina Alves
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