O PARQUE NATURAL DE MONTESINHO FOI CRIADO HÁ 43 ANOS
A ausência das freguesias no órgão de decisão gerou hoje
críticas na apresentação da proposta para o novo modelo de gestão do Parque
Natural de Montesinho, a área protegida que se estende pelos concelhos de
Bragança e Vinhais.
O Parque Natural de Montesinho foi criado há
43 anos e vai, pela primeira vez, ter um modelo de cogestão, em que além do
Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) estão representadas
outras entidades, nomeadamente os municípios.
A comissão de cogestão, que será o órgão decisório, não
tem representantes das 28 freguesias dos dois concelhos, que abrangem as 88
aldeias e oito mil habitantes desta área protegida, que ao longo dos últimos
anos se têm queixado de ser esquecidos pela direção do Parque.
No momento em que se discute o novo modelo de gestão, “os
presidentes de junta foram, maltratados, porque ninguém falou deles”, segundo o
reparo feito por Telmo Afonso, presidente da União de Freguesias da Sé, Santa
Maria e Meixedo, na cidade de Bragança.
O autarca, que é natural de uma das aldeias e já foi
presidente de junta no Parque, acha “estranho não estar nenhum representante na
gestão” e expressou esta posição durante a sessão que teve lugar hoje, em
Bragança, com os diversos responsáveis pelo processo.
Telmo Afonso lembrou que “os constrangimentos têm sido
muitos em relação às pessoas” e salientou que “tudo aquilo que está preservado
foram os bisavôs, os avôs, os pais” que o fizeram.
“Houve uma altura em que o parque foi às pessoas e que se
preocupou com as pessoas, agora é mais de «chicote»”, afirmou, referindo-se à
ideia prevalecente da repressão, nomeadamente as coimas por práticas como
cortes de árvores.
“A principal espécie que não é protegida no Parque
Natural de Montesinho é a humana e os nossos jovens não se radicam nas aldeias
porque têm restrições”, insistiu.
Às críticas, a diretora regional do INCF, Sandra
Figueiredo, respondeu que as câmaras municipais, que presidem à Comissão de
Cogestão “são órgãos eleitos que representam as pessoas e o território”.
Admitiu, contudo, que não conseguiram colocar toda a
gente que gostariam na Comissão de Cogestão, todavia indicou que será possível
criar grupos de trabalho sobre determinados setores, entre eles os do turismo
de natureza.
A proposta para o novo modelo de gestão contempla três
órgãos, um Conselho Estratégico de natureza consultiva com 20 instituições,
entre eles um representante das juntas de freguesia, a Comissão de Gestão, que
será quem toma as decisões, e uma estrutura de apoio, com técnicos para
operacionalizar as decisões, como explicou a técnica coordenadora, Márcia
Moreno.
A Comissão de Cogestão será o principal órgão
presidido pelo presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, e pelo
presidente da Câmara de Vinhais, Luís Fernandes, em substituição.
Da comissão fazem também parte o ICNF, a Direção Regional
de Agricultura e Pescas, O Instituto Politécnico de Bragança, a associação
florestal Arbórea, a associação ligada ao burro de Miranda, para o Estudo e
Proteção do Gado Asinino (AEPGA), em representação das associações
ambientalistas, e a Azimute, uma associação de Bragança ligada aos desportos de
aventura, juventude e ambiente.
A proposta para o novo modelo de gestão será apresentada
até agosto em sessões para ouvir contributos nas várias localidades do Parque,
em outubro e novembro estará em discussão pública e em dezembro será apresentada a
proposta final para começar em vigorar em 2023, segundo a técnica Márcia
Moreno.
O presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, realçou
que o que se pretende é “a articulação da preservação dos valores ambientais com
as pessoas, sem nunca castrar o processo de desenvolvimento do território”.
Para o efeito, considerou que “a batalha daqui para a
frente” será também “a revisão do Plano de Ordenamento do Parque Natural de
Montesinho, que é restritivo em algumas matérias”.
Retirado
de www.diariodetrasosmontes.com
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