sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Vai uma cerveja, amigo?

Meu velho,

Conheço-te há mais de 40 anos. Foi em 1973 que começámos a “enfrentar-nos” nas páginas do Mensageiro de Bragança, onde ambos colaborávamos. A certa altura, fui obrigado a utilizar o pseudónimo José Valverde por sugestão do Padre Sampaio, já que tinha sido proscrito pelo Bispo de então e proibido de voltar a escrever para o jornal.
Durante dois meses contendemos no Mensageiro, tu contra um texto que eu havia publicado sobre o presidente da Academia do Liceu; eu em resposta à tua crítica. Foram dias intensos.
Como te recordarás, criei o Grupo de Teatro Sequência e a nossa primeira atuação, realizada na Escola Comercial e Industrial, foi bem trabalhada e exigiu um grande esforço de toda a malta. A abertura consistia na leitura de alguns poemas de poetas transmontanos, seguindo-se a representação da peça que havíamos escolhido.
A tua crítica, publicada no jornal Ènié, foi arrasadora. Na tua opinião apenas se salvava a atriz principal. Tudo o resto foi tempo que o vento levou. Convém dizer que tu também tinhas uma companhia de Teatro, A Máscara, que dirigias. Vislumbro aqui, uma ligeira dor de cotovelo…  
Estávamos em 1977. Haviam passado quatro anos desde a nossa primeira batalha.
O Teófilo, cansado de nos aturar, e sendo amigos de ambos, decidiu agir e juntou-nos no Café Girassol, no Largo do Tombeirinho. Conversámos… desde então, alimentamos uma amizade segura e cúmplice.
Envolvemo-nos em muitas atividades de cariz cultural, entre as quais destaco a publicação do boletim Amigos de Bragança, juntamente com o Teófilo e cujo diretor era o Dr. Eduardo de Carvalho. Posteriormente juntaram-se ao grupo o Jacob e o Jorge Morais, responsável pela fotografia e design.
Sendo eu Presidente do Clube de Bragança, celebrei com a autarquia diversos protocolos, com o então Presidente da Câmara, o Eng. Luís Pinheiro, um dos quais nos permitiu publicar doze números do boletim.
Em 1981 foste para Budapeste onde te mantiveste até 1986. A partir de 1983, trocámos intensa correspondência, o mesmo acontecendo quando regressaste e te instalaste em Oeiras.
Viveste muita coisa. Escreveste muitos livros. Muitos mais escreverás. Fizeste muita investigação, muitos ensaios. Progrediste muito na tua vida académica. Viajaste pelo mundo em trabalho e algum lazer. Foste condecorado, premiado, reconhecido, acarinhado…
Não esqueceste a tua terra, as tuas origens e por ela tens feito mais, muito mais que o poder político ou a maior parte dos que aqui vivem, que se acomodaram ao rame rame das suas vidinhas.
Nesse caminhar incessante encontraste a mulher da tua vida, tua igual, com quem podes ser tu, em todas as tuas nuances.  
Aguardo, ansioso, poema novo que juntarei ao da Rua do Loreto, desta vez sem ironias, que os sonhos são para serem sonhados e eu continuo um sonhador.  
A vida dá muitas voltas e reviravoltas e quando precisei de ti, meu amigo, tu estiveste lá. São poucos, aqueles a quem posso chamar grandes amigos…
Vai uma cerveja, amigo?  

Bragança, 13 de dezembro de 2014


Marcolino Cepeda

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