terça-feira, 27 de junho de 2023

"DOURO: ÚNICO E IRREPETÍVEL", por Marcolino Cepeda

 (Texto publicado na coletânea "DOURO, Um Território de Palavras", publicada por Academia de Letras de Trás-os-Montes, 2023)            

            

            Nós somos um hiato no tempo. Neste micromundo a que pertencemos, criamos a nossa história e somos fruto da envolvência da época em que vivemos, do que a antecedeu e do que virá depois.

A história de Portugal é rica em acontecimentos e personagens. Demos novos mundos ao mundo e espalhámos a nossa cultura, as nossas tradições e a nossa “saudade” por todo o planeta. Este país já passou por muito, as suas gentes também.

Não sou historiador, nem disso aqui se trata. Sou, antes, um observador atento dos acontecimentos que presenciamos e sobre os quais reflectimos e tiramos conclusões. As nossas conclusões. Neste caso, as minhas.

Por tudo que tenho presenciado e vivido ao longo dos meus 67 anos, defendo a existência dos Governos Civis, não conforme legislado desde a sua implementação, mas revestidos de um forte teor regionalista. Porquê? Porque potenciam uma maior proximidade com a nossa terra, a nossa cultura, os nossos usos e costumes, a nossa gastronomia.

Cada vez mais se sente a influência do poder central que nos desenraíza, que nos atrai para os grandes centros urbanos, sejam eles em Portugal ou noutro país qualquer. Todos querem viver numa grande cidade, porque ali “a vida acontece”. É esta a ideia que, ao longo do tempo, tem vindo a impregnar-se na cultura dos nossos jovens. Mantemos a capacidade inata de ser cidadãos do mundo.

Somos governados por pessoas que não conhecem ou não querem conhecer, a realidade do país na sua interioridade, na sua singularidade, na sua riqueza patrimonial, urbanística, natural. Esse é o busílis da questão.

Nós, os que cá vivemos, somos únicos. Somos Douro. Somos Trás-os-Montes. Somos Nordeste. Somos Alto-Douro. Somos Norte. Temos vinhos e socalcos. Temos produtos de eleição.

Temos Quintas debruçadas sobre o rio porque é necessário vê-lo todos os dias, a toda a hora. Hotéis, modernos, conservadores, inovadores, todos de beleza ímpar, com maravilhosas piscinas e esplendorosas paisagens, são exemplo de qualidade e conforto.

Montes e montanhas. Desfiladeiros por onde correm alguns dos nossos rios, com as suas pequenas cascatas que nos transportam para a música que a natureza tão generosamente nos proporciona.

O rio Douro, que a intervenção do Homem tornou navegável, proporciona aos naturais e aos turistas que nos visitam, cruzeiros, passeios de barco cercados pelas arribas, desportos náuticos, paisagens soberbas onde as vinhas são o ex-libris desta riquíssima região.

É preciso “ensinar”, quem nos quer conhecer, a descobrir todos os segredos que as montanhas escondem, todos os recantos onde podemos ser felizes, todas as sombras dos rios, todos os raios de sol… sentir na boca a doçura das uvas e o veludo único do vinho. Ouvir o crocitar da Águia Imperial, tão ameaçada. E as nossas gentes, sempre disponíveis, sempre simpáticas.     

A província de Trás-os-Montes e Alto-Douro é, sem sombra de dúvida, o meu paraíso. O paraíso que gostaria de mostrar ao mundo inteiro.

Desgraçadamente, o país insiste, apenas, no desenvolvimento da faixa litorânea, qual “jangada de pedra” saramaguiana, que já se teria libertado se fosse geologicamente possível fazê-lo.

O foco dos nossos governantes anda perdido. Eles não conseguem abarcar o interior em todas as suas especificidades. A região norte-nordeste de Portugal é uma das mais ricas do país e, principalmente o nordeste, uma das mais esquecidas e abandonadas. É difícil lutar contra todas as adversidades entre as quais se inclui a desertificação.  

Temos, no entanto, entre outras potencialidades, a bacia hidrográfica do Douro, grande produtora de energia para o país. Contribuímos também, com o terceiro maior reservatório de água de Portugal, a Albufeira do Baixo Sabor.

A acrescentar ao acima exposto, o Alto-Douro Vinhateiro, faz-nos, há já vários anos, conhecidos por todo o mundo. Produz vinho há mais de dois mil anos e ali nasceu o famosíssimo Vinho do Porto. É a região vitivinícola demarcada mais antiga do mundo.

A paisagem que resultou dessa longa tradição é absolutamente assombrosa e reflecte, sem dúvida, a cultura destas gentes e a sua evolução tecnológica, social e económica. Esta resiliência é uma das características das gentes originárias desta região, que abarca os distritos de Bragança, Vila Real, Viseu, Guarda, Porto…

Este território foi reconhecido em 2001 pela UNESCO, como Património da Humanidade, na categoria de paisagem cultural, com tudo o que isso acarreta.

A interacção entre o ambiente natural e as actividades humanas, com as suas tradições, folclore, artesanato, etc., conduziu a uma paisagem natural, alterada pelo ser humano que, ao longo do tempo, com todos os contratempos com que se deparou, deu origem a este território tão rico, com características únicas e irrepetíveis.

A gastronomia portuguesa é, sem dúvida, uma das melhores do mundo. Essa qualidade deve-se à sua diversidade e aos produtos de grande qualidade existentes em Portugal. Cada região sabe aproveitar os seus melhores produtos para cozinhar. Nós não somos excepção. O turismo gastronómico é, hoje, um hábito enraizado. Está na moda.   

Os turistas já não querem apenas praia, sol e mar… Anseiam por outras experiências que esta região pode oferecer. Temos montanhas, paisagens lindas, trilhos a calcorrear, património arquitectónico… temos rios que nos fazem sonhar.

E o que dizer dos parques naturais?

O Parque Natural do Douro Internacional; o Parque Natural do Alvão; o Parque Natural de Montesinho; a Paisagem Protegida da Albufeira do Azibo e o Parque Natural Regional do Vale do Tua…  

O Parque Arqueológico do Vale do Côa, distinguido pela UNESCO como Património Mundial, é mais uma acha para a fogueira (passe a informalidade da linguagem) desta riquíssima região. Desde 2018 Passou a integrar o Itinerário Cultural do Conselho da Europa.  

Este parque apresenta mais de 1.200 rochas distribuídas por 20 mil hectares de terreno, com manifestações rupestres. Foram precisos vários anos de trabalhos de campo, para colocar a descoberto, o achado do maior complexo de arte rupestre paleolítico ao ar livre até aos dias de hoje. Onde se encontra este património? No rio Côa, afluente do Douro.

Como se o que referi acima fosse pouco, sinto-me, enquanto cidadão nascido e criado na província de Trás-os-Montes e Alto-Douro, muito orgulhoso mas, ao mesmo tempo, desiludido pelo desapego a que somos votados pelo poder central.

Tudo leva a crer que, mais uma vez, ficaremos sem comboio. Sabe-se lá quando teremos uma ferrovia onde possam circular comboios que nos levem, rápida e confortavelmente, onde quisermos ir, a nós e aos nossos produtos. E nós tão perto da Europa e a Europa aqui tão perto. Lisboa quase ao virar da esquina… Estamos cansados de sermos, sempre, os últimos a ser chamados para a equipa.

O desenvolvimento de qualquer país deve ser global. Todos os cidadãos devem poder ter as mesmas oportunidades. Para quando a regionalização?

Os governos civis podem ser uma boa opção pela maior proximidade. Entendo que a regionalização deve ser instituída conforme consta na Constituição Portuguesa desde 1976, com os ajustes necessários.

Defendo a divisão do país em seis grandes regiões. A região do Douro constituída pelos distritos de Bragança, onde se instalaria o Governo Civil, Vila Real, Viseu e Guarda. A região da Ribeira-Porto, constituída por Braga, Viana do Castelo, Porto, Aveiro. A região da Serra da Estrela com os distritos de Castelo Branco, (concelho)Covilhã, Coimbra, Leiria. A região de Belém com os distritos de Santarém, Lisboa, Setúbal. A região do Alentejo com os distritos de Portalegre, Évora, Beja. E a última Região, o Algarve como não poderia deixar de ser. Estas regiões, obviamente, em Portugal continental. Os respectivos Governos Civis ficarão instalados onde cada uma das regiões entender. O puzzle fica completo com as regiões autónomas da Madeira e dos Açores.

Devemos aproveitar os fundos europeus, entre outras coisas, para tornar a regionalização uma realidade. A nossa constituição é bem clara no que ao tema diz respeito. É altura de o Senhor Primeiro Ministro cumprir a promessa eleitoral de fazer um referendo em 2024 sobre a regionalização.

 A 15 de Junho de 2022, em Bruxelas, na Bélgica, o Douro foi distinguido como “A Cidade Europeia do Vinho 2023”, apesar de não ser uma cidade e sim uma região com dezanove municípios. Devemos aproveitar, carinhosamente, esta distinção e usufruir dos benefícios que daí advirão.   

Se queremos maior reconhecimento nacional e internacional? Claro que sim. Se desejamos mais população? É óbvio. Precisamos de gente que aprenda a amar toda a riqueza que nos cerca, com todas as suas particularidades. Tem de começar por nós. Proteger e defender este território é uma obrigação. É um desiderato.

Foi, também, o desejo de Guerra Junqueiro, na sua muito amada Quinta da Batoca em Barca D’Alva. Comemora-se este ano, no princípio de Julho, o centenário da sua morte.  


 P. S. O texto não segue a grafia do novo acordo ortográfico.      


domingo, 28 de maio de 2023

ALGUMAS FOTOS DO FESTIVAL LITERÁRIO DE BRAGANÇA, de 24 a 27 de maio

 Foto de conjunto: Eng. Jorge Nunes, Presidente da Câmara Dr. Hernani Dias, Dra. Assunção Anes Morais, Dra. Odete Costa Ferreira, Vereadora da Cultura Dra. Fernanda Silva, Dra. Avelina Ferraz, responsável pela Editorial Novembro e alguns membros da Academia de Letras de Trás-os-Montes, entre os quais destaco o meu marido, Marcolino Cepeda. 




“INCLUSÃO: REFLEXÕES DE ONTEM E DE HOJE” • À CONVERSA COM… Cláudia Lucas Chéu, Balbina Mendes, Teresa Martins Marques com a participação da vencedora do Concurso de Fotografia “Racismo e Não Discriminação” (Que decorreu nos Agrupamentos de Escolas).







Três amigos de longuíssima data: Prof. Doutor Ernesto Rodrigues, Marcolino Cepeda e Dr. Neto Jacob 

Professor Doutor Ernesto Rodrigues e Doutora Teresa Martins Marques que fazem o favor de ser nossos amigos.

Fotos: Maria Cepeda

Bragança celebra a leitura, a escrita e a inclusão em festival literário ((23 mai, 2023) Retirado de www.rr.sapo.pt)

Escrito por: Olímpia Mairos


Iniciativa tem como objetivo promover a leitura, elevando o nível de literacia do concelho e a preservação da cultura e do território, através da inclusão de diferentes gerações e diferentes públicos.

“Leitura, Escrita e Inclusão” é o mote para o Festival Literário de Bragança que decorre um pouco por todo o concelho - na cidade, no meio rural, nas escolas, nos estabelecimentos prisionais e junto da comunidade, entre 24 e 27 de maio.

O FLB realiza-se desde 2015 e, segundo a organização, pretende ser um evento literário, que liga diferentes locais e instituições do concelho, do meio urbano e rural. Tem como objetivo promover a leitura, elevando o nível de literacia do concelho e a preservação da cultura e do território, através da inclusão de diferentes gerações e diferentes públicos.

O evento cultural que celebra, este ano, a sétima edição oferece, assim, um programa diversificado com apresentação de obras, debates e entrevistas, conferências e vários momentos musicais.


Com destaque para a literatura enquanto meio de inclusão, a iniciativa conta com a participação de autores nacionais e locais, tais como Pedro Chagas Freitas, Raúl Minh’Alma, Miguel Gouveia, Mário Augusto, Hélder Reis, Cláudia Lucas Chéu, Rui Ramos, Ernesto Rodrigues, Fernando Calado, Teresa Martins Marques, entre outros.

Promovido pelo Município de Bragança e pela Academia de Letras de Trás-os-Montes e produzido pela Editorial Novembro, o Festival Literário de Bragança propõe-se chegar aos mais diversos públicos.

Neste contexto estão programadas várias ações pensadas para a comunidade escolar dos diferentes níveis de ensino, incluindo ações personalizadas para o ensino profissional, ações nos estabelecimentos prisionais e também no meio rural, como forma de envolver diferentes gerações nas atividades.

 Na comunidade e para a comunidade

O Festival arranca na quarta-feira, dia 24 de maio, junto da comunidade escolar com a iniciativa “O Escritor vai à Escola”, com a participação de Rui Ramos, Miguel Gouveia e Raúl Minh’Alma.

Ao final da tarde, às 18h00, a Biblioteca Municipal recebe o jornalista, autor e apresentador, Mário Augusto, que apresenta o livro “Mandem Saudades”.

Pelas 21h00, tem lugar a conversa subordinada ao tema “Entre o Real e a Ficção”, com Raúl Minh’Alma, e moderação de Mário Augusto. O primeiro dia encerra com o “Concerto de Leitura” de Miguel Gouveia.

No dia 25 de maio, quinta-feira, prosseguem as visitas de autores às escolas (com Bru-Junça, Miguel Gouveia, Luís Ochoa e Teresa Martins Marques) e o “Encontro com o Escritor” que leva Pedro Chagas Freitas aos estabelecimentos prisionais de Izeda e de Bragança.

Neste dia, será organizado um debate sobre o tema “O Editor e o Processo Criativo na Literatura”, com Miguel Gouveia, assim como o curso “Livro é um Lugar” com Bru-Junça e uma Oficina de Escrita Criativa com Pedro Chagas Freitas.

À noite, a partir das 21h00, a Biblioteca Municipal será palco de uma conversa sob o mote “A Escrita Como Espelho”, conduzida pelo jornalista Pedro Mesquita da Renascença e com a participação de Pedro Chagas Freitas, Fernando Calado, Ernesto Rodrigues e Luís Ochoa. O momento musical e literário “Rimas Perdidas”, apresentado por Leonor Afonso e Cristiano Ramos, encerra o segundo dia de Festival.

No dia 26 de maio, o Festival Literário de Bragança desloca-se até às aldeias de Parada e Faílde, para um encontro com a comunidade e com os escritores Miguel Gouveia, Balbina Mendes, Ernesto Rodrigues e Fernando Calado.

Já às 15h00 a Biblioteca Municipal recebe a escritora Cláudia Lucas Chéu e às 16h00 o escritor/ apresentador Hélder Reis apresenta “Sabíamos Tão Pouco Sobre o Amor”.

Os autores transmontanos têm encontro marcado para o último dia do FLB, dia 27, no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais

No período da manhã, “Palavras Contadas e Ilustradas” dá voz aos autores Ana Pereira, Roberto Afonso, Elza Mesquita e Miguel Gouveia.

À tarde realiza-se a “Sessão de Poesia e Prosa”, com os autores associados da Academia de Letras de Trás-os-Montes - Manuel Catumba, José Maldonado, Virgílio Gomes e Ana Freitas, com moderação de Odete Costa Ferreira.

A encerrar a programação da iniciativa, Assunção Anes Morais apresenta a Coletânea da Academia de Letras de Trás-os-Montes “Douro – Um Território de Palavras”. Momento que culminará com um apontamento musical, com o coro do Conservatório de Bragança “Brichoir-T”.


Roteiro Museológico do distrito de Bragança (Retirado de www.jornalnordeste.com) 23 de maio de 2023

                                           

No mês em que se assinala o Dia Internacional dos Museus, celebrado anualmente a 18 de maio, o Jornal Nordeste agrupou alguns dos espaços museológicos presentes nos 12 concelhos do distrito de Bragança, de forma a criar um breve roteiro que congrega informação essencial sobre um conjunto de espaços que têm em comum a missão de abrigar a memória do seu povo, do seu território, do seu quotidiano e cultura ancestrais

Casa da Cultura Mestre José Rodrigues – Alfândega da Fé

A Casa da Cultura Mestre José Rodrigues é uma estrutura polifuncional indispensável à concretização da actividade cultural do concelho. A infraestrutura está localizada no centro urbano da vila, que em conjunto com outros espaços colectivos se assume como um polo de atividades cívico e cultural.

Museu Nacional Ferroviário – Bragança

O Museu contempla o impacto das ligações ferroviárias para o desenvolvimento da região, da sua ligação ao país e ao mundo através do comboio. Locomotivas, carruagens, vagões, equipamentos oficinais e múltiplos objetos contam a história da construção e exploração da Linha do Tua, homenageando, muito em particular, a identidade e memória da comunidade, cuja vivência ficaria para sempre ligada ao caminho- -de-ferro. Museu do Abade de Baçal – Bragança

A exposição permanente do Museu do Abade de Baçal distribui-se por 14 salas que permitem uma leitura da história do nordeste transmontano a partir das colecções que se encontram à sua guarda. As principais colecções que integram o acervo do Museu são Arqueologia, Epigrafia, Arte Sacra, Pintura, Ourivesaria, Numismática, Mobiliário e Etnografia. O espólio do Museu tem sido gradualmente enriquecido através de doações, legados e aquisições.

Museu Ibérico da Máscara e do Traje – Bragança

Fruto da cooperação transfronteiriça entre o Município de Bragança e a Diputación de Zamora, o museu encontra-se localizado no interior da cidadela do Castelo de Bragança, num edifício requalificado. Para além do contacto com as personagens recriadas pelos 47 caretos expostos, o museu permite, ao som da música tradicional, levar o visitante a vivenciar, por fotografias e objetos expostos, as festividades representadas nas diferentes localidades, durante o período do Inverno.

Museu Militar – Bragança

Inserido dentro do Castelo, o seu acervo é de grande valor histórico e inclui peças de armamento ligeiro, do Séc. XII até à Primeira Guerra Mundial. Este museu impõe-se como espaço memória das vivências militares da cidade, uma vez que a maioria das peças originais foram doadas pelos habitantes, participantes nas Campanhas de África e na I Guerra Mundial. É o Museu militar mais visitado do país.

Museu da Memória Rural – Carrazeda de Ansiães

O Museu da Memória Rural é uma unidade museológica destinada a trabalhar temáticas relativas à Cultura Rural e ao Património Imaterial da região duriense e transmontana. Este é um espaço constituído pelo edifício sede localizado em Vilarinho da Castanheira, pelo núcleo museológico do azeite, situado na aldeia da Lavandeira, pelo moinho de Vento de Carrazeda de Ansiães e pelos Moinhos de Água do Ribeiro do Coito (Vilarinho da Castanheira).

Museu da Seda e do Território – Freixo de Espada à Cinta

Freixo de Espada à Cinta é o único território em toda a Península Ibérica onde ainda se labora a seda de forma 100% artesanal. Dessa forma, o Museu da Seda e do Território responde com esmero a essa tradição, ao dispor de uma sala de exposição e venda de peças concebidas em processo artesanal pelas artesãs que aí trabalham.

Museu Regional Casa Junqueiro – Freixo de Espada à Cinta

O espaço museológico ocupa o rés-do-chão daquela que foi a casa de José António Junqueiro, pai do Poeta Guerra Junqueiro e popularmente conhecido como “Junqueiro Velho”. De cariz etnográfico, as salas refletem uma vivência social e económica própria de uma casa abastada da segunda metade do séc. XIX e alguns anos do séc. XX, onde pontifica uma reprodução fiel do sóto, antigo comércio tradicional e local.

Museu de Arte Sacra – Macedo de Cavaleiros

Encontra-se instalado na Casa Falcão, um solar do século XVIII no centro da cidade, onde se encontra também o Posto de Turismo. A sua exposição não é estanque, estando em permanente renovação, seja com espólio religioso das Unidades Pastorais e Paróquias do concelho, seja com outras exposições, de âmbito mais alargado, mas sempre dentro da temática da Arte Sacra.

Casa do Careto – Caretos de Podence – Macedo de Cavaleiros

Ali encontra-se o registo da tradição carnavalesca da aldeia de Podence, associada aos Caretos, representada nas telas das pintoras Graça Morais e Balbina Mendes e nas fotografias de António Pinto e Francisco Salgueiro. Estão expostos os fatos, os chocalhos, as máscaras e toda a indumentária destas figuras sedutoras e enigmáticas.

Museu Rural de Salselas – Macedo de Cavaleiros

A exposição permanente é uma considerável coleção de objetos, testemunhos da forte relação entre o homem e a terra, estando distribuída por secções temáticas, agrupadas em dois universos: o Universo do Homem e o Universo da Sociedade Rural.

Museu da Terra de Miranda – Miranda do Douro

O Museu da Terra de Miranda está instalado na antiga Domus Municipalis da cidade, edifício do século XVII. Fundado em 1982, o museu evoca o tempo longo do planalto mirandês. A visita permite descobrir traços característicos da vida social e cultural de uma região cuja forte identidade, manifesta na presença da língua mirandesa e ancorada na agricultura, na pecuária e no comércio de fronteira, passa hoje por evoluções profundas e rápidas.

Casa da Música Mirandesa – Miranda do Douro

É um centro cultural que visa divulgar a cultura musical tradicional da Terra de Miranda. O edifício está inserido na Zona de Proteção Especial do Castelo de Miranda de Douro. A Casa da Música Mirandesa tem como objectivo reavivar e manter a música tradicional mirandesa, que tem as suas peculiaridades, principalmente devido aos instrumentos utilizados e à letra das canções, na língua mirandesa.

Museu da Oliveira e do Azeite – Mirandela

O Museu conduz os visitantes a uma viagem no tempo, exalta as memórias longínquas e declama um enunciado de emoções que se enaltece e atinge o expoente nas provas e degustação de azeite ao completar o percurso expositivo.

Museu Armindo Teixeira Lopes - Mirandela

Espaço museológico de artes plásticas contemporâneas, expondo obras de 286 artistas plásticos, nacionais e estrangeiros, representados em 460 de obras de arte. Para além de obras de Armindo Teixeira Lopes, encontram-se aqui obras de Vieira da Silva, Almada Negreiros, João Cutileiro, Artur Bual, Graça Morais, Abel Manta, Júlio Pomar, Nadir Afonso, entre outros.

Sala Museu de Arqueologia - Mogadouro

Este museu é composto por peças arqueológicas encontradas no concelho, resultado de escavações arqueológicas e do espólio de superfície, sendo que, algumas delas, são raras quer a nível nacional quer a nível peninsular.

Museu do Ferro e da Região de Moncorvo – Torre de Moncorvo

O Museu do Ferro destina-se a promover o conhecimento e a divulgação do património arqueológico e industrial do território, dos povoados e das comunidades que se formaram nas cercanias da serra do Reboredo e do Vale da Vilariça, com particular destaque para as atividades relacionadas com a exploração do ferro.

Museu de Arte Sacra – Torre de Moncorvo

O Museu de Arte Sacra está instalado num edifício contíguo à Igreja da Misericórdia. Nas salas que constituem o museu estão expostos vários objectos litúrgicos, imagens de santos e paramentaria. Alberga um espólio que remonta ao séc. XIII.

Museu do Castelo – Torre de Moncorvo

O Museu do Castelo de Torre de Moncorvo resulta da necessidade de proteger, valorizar e expor ao público as estruturas, materiais e informações recolhidas no âmbito dos trabalhos arqueológicos entre 1988 e 2018 que escavaram o que resta do castelo medieval da vila de Torre de Moncorvo.

Museu Etnográfico (Casa da Cultura) – Vimioso

O Museu Etnográfico é um espaço cultural, onde estão vincadas as características agrícolas do povo do concelho, a partilha de antigos saberes, provocando aos visitantes, uma saudade, um reavivar de emoções. Nas galerias da Casa da Cultura é, também, possível oferecer ao visitante artesanato representativo de Vimioso, tais como a latoaria, cesta[1]ria e tecelagem. Museu Judaico de Carção – Vimioso O Museu Judaico de Carção é um pequeno espaço sobre a memória e a vida marrana (termo de origem espanhola, referente a judeus forçados a converterem-se ao cristianismo, mas que professavam a fé judaica em segredo) e a cultura dos criptojudeus que, afastados por imposição de um judaísmo ortodoxo, foram criando as suas próprias formas de religiosidade. Um longo memorial elenca os nomes dos habitantes de Carção que a Inquisição prendeu e penitenciou.

Museu Municipal Dra. Berta Cabral – Vila Flor

O espólio do museu é constituído por colecções de pintura, arqueologia, etnografia, artesanato africano, arte sacra, numismática e medalhística. Possui cerca de 3000 peças, ofertas de filhos e amigos desta terra, oriundas na sua esmagadora maioria do concelho de Vila Flor.

Museu de Arte Sacra da Ordem Terceira – Vinhais

A sua colecção compõe- -se por cerca de meio milhar de objectos de pintura, escultura, ourivesaria, paramentaria gravura, documentação e mobiliário, com datação entre os séculos XVI e XX, pertencentes à Ordem Terceira de São Francisco de Vinhais, Santa Casa da Misericórdia e Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção.

Museu do Contrabando – Vinhais

O acervo do Museu do Contrabando apresenta elementos imateriais de[1]correntes da recolha da tradição oral de histórias gravadas em audiovisual e, aliado a este testemunho, a exposição de alguns objectos ligados ao contrabando.

Escrito por: Jornalista Daniela Parente

quinta-feira, 23 de março de 2023

INCONSEQUÊNCIA (Maria Cepeda)



23 de março de 2023. Cá chegados, com afazeres vários, vivemos um dia de cada vez. Um... dois... três... 

Nada de estranho se passa no Reino da Dinamarca! 

Nada? Tens a certeza? Vê bem, não vá o diabo tecê-las... olha que as vidas podem ser belas... ou não.

Que devemos fazer então? 

Viver, resposta óbvia. Ou morrer... assim como quem não quer a coisa, como quem... 

Que disparate de texto é este? Estás tola ou o que?

Nem uma coisa nem outra. Apenas estou. Enquanto viver, saberei quem sou.

Gosto disto. Anseio por poder fazer este jogo de palavras.

Pode parecer inconsequente, infantil, incoerente...

Pode parecer um pouco "EU" quando estou relaxada, quando não estou em quase nada.

Como se nada fosse neste alvorecer, neste acordar mecânico de hora marcada.

Ainda não sou. Espero por ser. 

Neste meio tempo de horas perdidas, vivo vidas que não são minhas...

É hora de crescer. É o momento que se esvazia, que teima em querer, como se cada dia me fosse perder por montes e vales, por socalcos e rios, por nada fazer...

Então, porquê não fazes? Porquê esta entrega "À PENA DE MIM?"

Neste diálogo surdo, tão meu que dói, sei que me encontro na dor que corrói a minha certeza de fazer o que posso, mesmo estando tão triste.

Tão triste? Sempre de sorriso aberto nos lábios bonitos?

Essa tristeza só a mim pertence. Só a mim cabe. As vidas que tenho só Deus é que sabe.

Todos os dias à hora marcada, desperto inquieta por não fazer nada. 

 

segunda-feira, 20 de março de 2023

Bailarina


rodopia de braços no ar
bailarina que quer dançar
na ponta do pé, cristal a estalar
em braços erguida 
não vai mais chorar

gira menina
pequenina flor 
nos braços do amor
nas ondas serenas do mar
que tão cedo te vai acordar

aquela gaivota
que teima em grasnar
na tua janela baixa o olhar
e voa sem medo 
como as ondas do mar

a onda galopa, cavalo a voar
corre, corre bailarina
não é tarde para amar
o tempo parou
nos teus olhos fechados 

dorme bailarina
a gaivota voou
nos braços da mãe
ela se encostou


Maria Cepeda

segunda-feira, 6 de março de 2023

Entrevista realizada ao Professor Doutor Luís Manuel Santos Pais


Professor Doutor Luís Manuel Santos Pais nasceu em Aveiro a 3 de Dezembro de 1966. Ingressou no Instituto Politécnico de Bragança em 1992, onde é professor coordenador da Escola Superior de Tecnologia e de Gestão.

          Foi presidente do conselho científico desta escola, de 2000 a 2004 e é, presentemente, vice-presidente do Instituto Politécnico de Bragança.

É doutorado em Engenharia Química pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. A tese de doutoramento, intitulada “Separação de Enantiómeros por Cromatografia Líquida em Leito Móvel Simulado” recebeu, em Fevereiro de 2003, o 1º Prémio CUF (Companhia União Fabril) para a melhor tese de doutoramento concluída por doutorados de nacionalidade portuguesa na área da Engenharia Química no triénio 1999-2001.

À procura do futuro de todos nós…

Boa tarde. Nasceu em Aveiro. Que recordações guarda da sua infância?

Prof. Doutor Luís Pais: Guardo as recordações normais e agradáveis já que é uma cidade bastante agradável, assim como Bragança, bastante diferente, mas penso que… estou a viver em Bragança e já guardo muito boas recordações de Bragança e, evidentemente de Aveiro, como já referi. Só vou lá de vez em quando mas as saudades são maiores.

Como foi a sua vida de estudante?

Prof. Doutor Luís Pais: A minha vida de estudante… até aos dezoito anos foi integralmente em Aveiro onde nasci e vivi. Depois tive algumas dúvidas sobre qual seria o futuro em termos de ensino superior. Só me decidi a um ano de entrar para a faculdade, achei que engenharia química seria uma área interessante e, como em Aveiro não havia essa área, fui estudar para o Porto. Aí fiz a licenciatura. Acabando a licenciatura, ingressei logo depois no Instituto Politécnico de Bragança, apesar da minha ligação ao Porto ter continuado até ao Doutoramento iniciado em 1999, com a ligação ao litoral, fixando-me em Bragança a partir daí.        

Sendo natural de Aveiro, seria lógico que quisesse regressar à sua terra. Que razões o fazem estar longe dela, principalmente quando assistimos a uma fuga desenfreada para o litoral?

Prof. Doutor Luís Pais: É uma pena essa fuga. Acho que estou em Bragança, um pouco pelo acaso e pelas oportunidades que surgiram. Quando vim, penso que até é uma história, se me permite contar, interessante. Conclui a minha licenciatura em Setembro de 1991 e ao ver uma das últimas notas que faltavam sair, eu e um colega meu daqui da região que também é colega do IPB, vimos um anúncio a procurar assistentes para a escola superior de tecnologia e gestão. E dissemos um para o outro, porque não? Ele era de Macedo, eu sou de Aveiro mas já tinha vindo cá uma vez a Bragança porque um amigo de infância é daqui, e, porque não? Vamos concorrer à procura de um emprego pós licenciatura e fazer essa aposta. Passados três meses fomos chamados a entrar na instituição e fomos construindo, naturalmente, o nosso futuro. Penso que o IPB constitui uma muito boa oportunidade para os docentes que ingressam nele e é pena que na região não haja outras instituições que potenciem essas tão boas oportunidades.

O que eu acho é que se o interior tivesse mais instituições que dessem condições de permanência aos seus trabalhadores, as coisas seriam um pouco diferentes. Quanto às saudades de Aveiro, acho que é bom sentir saudades. Acho que é bom voltar à terra onde se passou bastante tempo, mas eu acho que não sinto nenhuma preocupação de viver uma vida inteira no mesmo sítio.   

Ainda se sente totalmente aveirense ou já é um bocadinho transmontano?

Prof. Doutor Luís Pais: (Risos) Eu acho que sou de todo o lado. Sou do sítio onde me sinto bem. Bragança, acho que tem condições, digamos, ambientais fabulosas. E para se viver, acho que a qualidade de vida, nesse aspecto, não tem par. Acho que ganhava aí, se quiser. Infelizmente, o que falta a Bragança são estruturas de apoio que também faz pesar na escolha das pessoas. 

A sua vida profissional está, desde 1992, ligada ao Instituto Politécnico de Bragança. Fale-nos brevemente desse percurso.

Prof. Doutor Luís Pais: Decidi concorrer para o lugar de assistente em 1991. Naturalmente demorou algum tempo. Fui chamado no segundo semestre de 1991-1992, em março de 1992. Entrei como assistente, dei aulas durante esse semestre e depois fui cumprir o serviço militar obrigatório, em Mafra. Foi uma experiência bastante diferente mas muito interessante. Finda essa contribuição, voltei, naturalmente ao Instituto, do qual não sai mais. Tive, a partir de Abril de 1993, findo o serviço militar, iniciar os estudos do doutoramento, na área da engenharia química, a ganhar em formação. Conclui em 1999. Depois tem sido a vida de Professor, digamos assim, que envolve a docência e fazer investigação e da forma que melhor sei e que os colegas achem que eu posso contribuir dessa forma, ajudar na gestão da Casa.  

Ganhou o 1º Prémio CUF (Companhia União Fabril) para a melhor tese de doutoramento em Engenharia Química no triénio de 1999/2001. Fale-nos disso.

Prof. Doutor Luís Pais: Então, vamos começar por explicar o nome da tese que é um bocado comprido e um bocado esquisita. A tese, dito em português, “Separação de Enantiómeros por Cromatografia Líquida em Leito Móvel Simulado”. Vamos lá ver: enantiómeros são complexos químicos que são quase iguais, mas não são definitivamente iguais. Ou seja, são compostos, se pensarmos numa estrutura a três dimensões, são imagens um do outro do espelho, tal qual as nossas mãos. Se nós olharmos para a nossa mão direita ou esquerda, elas são diferentes mas, se colocarmos a nossa mão direita ao espelho, estamos a ver a nossa mão esquerda. Obviamente, esses compostos têm propriedades muito semelhantes, mas não iguais. E terão propriedades e acções muito semelhantes se estiverem num meio que não os consegue distinguir, mas vão ter propriedades e acções muito diferentes se estiverem num meio que o consiga distinguir. Nós, tecnicamente, chamamos um meio tiral, porque os nossos compostos também podem ser chamados tirais. O exemplo claro da presença e da utilidade desses compostos é na indústria farmacêutica para fazer medicamentos. Na esmagadora maioria dos medicamentos, o princípio activo é composto por esse tipo de compostos.

Ora, tendo em conta isso, que esses compostos podem ter acções diferentes é, de todo, benéfico e posso dar dois ou três exemplos daqui a pouco, separá-los. A técnica de separação, digamos que é uma área nobre da grande área da engenharia química. Existem vários processos de separação. O que eu estudei é um em particular que nós chamamos processo de absorção. Mais propriamente em termos da tecnologia, o que eu estudei foi uma tecnologia particular para potenciar essa separação que é o chamado leito móvel simulado. Não vale a pena estar em pormenor a explicar a tecnologia mas, digamos que é um conjunto de elementos de separação, interligando uns com os outros, que potencia obter resultados bastante melhores do que eles em separado. O meu objectivo foi, do ponto de vista tecnológico e matemático, tentar compreender esse processo para de forma a optimizá-lo.

Já agora, se me permite voltar à questão dos exemplos, só para terem uma percepção da importância de separar este tipo de composto, posso dar-lhe alguns exemplos com consequências completamente diferentes. Por exemplo, temos um composto que se chama aspartame. Na realidade, é um composto tiral com dois compostos. Um adoça e o outro é amargo. Obviamente, se nós queremos ter um produto como adoçante é melhor conseguir separá-los e utilizarmos o produto só com o que tem de facto, essa função. Um outro exemplo bastante descrito na indústria farmacêutica é o ibuprofeno que é um princípio activo que é utilizado como analgésico. Na realidade, um desses compostos tem esse efeito, o outro não tem efeito nenhum. É um inerte. Podíamos dizer: “Deixá-lo lá que não está a fazer mal nenhum.”

De facto, não está mas, estudos científicos já provaram que quando tomamos ibuprofeno com os dois compostos juntos, ou seja 50% de cada um, o tempo de acção é de cerca de quase quarenta minutos. Se tomarmos só aquele que tem a acção analgésica, a dor de cabeça, ao fim de doze minutos, passa. É um problema de eficiência que é óbvio. Um terceiro exemplo, se me permite, que é mais trágico e que muitas vezes costuma ser também descrito para explicar a importância de os separar, é a talidomida que nos anos 50, 60 era administrado como medicamento para os enjoos matinais das grávidas.

Ora, infelizmente, e penso que, talvez, quem seja dessa altura, ainda se recorde, de facto isso era o efeito de um deles, mas o outro tinha efeitos perversos que provocavam danos em fetos. Portanto, temos aqui o exemplo mais dramático. Felizmente não são todos assim, temos aqui o exemplo de que é de facto necessário separar esse tipo de para que os medicamentos sejam mais seguros e mais eficazes.               

O que é um leito móvel simulado (SMB) e como é que essa tecnologia que começou com aplicações na indústria petroquímica se aplica agora na indústria farmacêutica?

Prof. Doutor Luís Pais: A tecnologia de leito móvel simulado não é nova. Já vem dos anos 70. Foi inventada por uma empresa americana que se dedicava à indústria petroquímica. A sua aplicação standard era separar compostos à base de chilenos. Isso, obviamente, no mundo industrial existem as patentes que protegem a ideia que uma determinada empresa teve e levou a cabo, era uma patente que durava trinta anos. Ou seja, durante trinta anos, ninguém mais no mundo industrial poderia utilizar aquela tecnologia. Isso durou até aos finais dos anos 80 e início dos anos 90, findo o qual ficou a ideia aberta a quem quisesse usar e foi nessa altura que algumas empresas entenderam que aquilo era um óptimo processo para aplicar em outras áreas, nomeadamente, a indústria farmacêutica. Isto porque a tecnologia de leito móvel simulado, da forma mais simples se adapta muito bem a separar misturas binárias, ou seja, a separar misturas que têm dois compostos que é precisamente o problema dos compostos tirais.

Essa ideia surgiu no início dos anos 90 por uma empresa que já se dedicava a este tipo de separações mas em outros processos, decidiu na altura submeter um projecto europeu em que era essa empresa com uma série de parceiros académicos que iriam ajudar a resolver, quer em termos técnicos da instalação, quer em termos de previsão do processo em si e da sua autonomização. Nós tivemos a felicidade de ter sido convidados para ingressar nessa equipa nessa segunda tarefa e tivemos a felicidade de todo o processo correr bastante bem. Hoje em dia, a empresa mudou de nome e cresceu bastante e é hoje líder mundial na venda deste tipo de instalações para a indústria farmacêutica.    

A sua tese foi integrada num projecto europeu para a criação de uma empresa que é hoje líder mundial na comercialização das unidades de leito móvel simulado (SMB). Fale-nos brevemente sobre esse tema. 

Prof. Doutor Luís Pais: Esse projecto envolvia a construção de instalações ou melhor dizendo, a adaptação da ideia que havia sido criada na década de 60 para a indústria farmacêutica que em termos tecnológicos não era bem a mesma solução. Não querendo ser um pouco maçador mas de uma forma muito simples, digamos que temos um conjunto de colunas onde se processa a separação, um carrossel de colunas e o truque, digamos assim, é achar a melhor forma de rodar ou de utilizar essas colunas de forma a potenciar a separação. Esse truque em termos da empresa americana dos anos 60 era feito com uma única válvula que se chegou à conclusão de que era a solução ideal para instalações de dimensões bastante grandes que eram as instalações típicas da indústria petroquímica.

Ora, acontece que muitas vezes na indústria farmacêutica é necessário fazer instalações piloto mais pequeninas porque queremos separar apenas uma pequena quantidade, para fazer testes às possíveis drogas que vão ser utilizadas e, portanto, tecnicamente chegou-se à conclusão que é muito mais útil fazer uma instalação onde não temos uma única válvula mas uma série de válvulas.

Posto isto, digamos que uma parte do trabalho foi desenhar uma instalação melhor para uma escala mais pequena. Do outro lado, onde nós entrámos tratava-se de tentar modelar matematicamente todo o processo para o tentar prever e para o tentar optimizar. Digamos que isto é um tema, é uma metodologia cara. Ou seja, um engenheiro químico faz um modelo matemático resolve-o numericamente ou tem resultado teórico e, depois, vai para o laboratório e faz experiências. E, obviamente, o que é bom é chegar ao fim e testar e as contas darem certo. Ou seja, a teoria bater em cima da prática e, portanto, foi aí a nossa contribuição.        

Para além das aplicações de que já falámos, que outras aplicações, práticas, pode ter?

Prof. Doutor Luís Pais: Em termos da tecnologia leito móvel simulado é uma tecnologia que de facto teve muito crescimento, beneficiou de grande crescimento, como tinha dito, na indústria petroquímica, mesmo antes de terminar a patente, também desenvolvida pela mesma empresa. Foi aplicada à indústria dos açucares, em particular, para separar a frutose da glicose, e depois de ter findado a patente, em princípio, foi utilizada nos compostos de drogas na indústria farmacêutica e, agora, tem sido uma série de números de aplicações, nomeadamente na biotecnologia, separar aminoácidos, separar proteínas, ou seja, a gama de aplicação tem crescido bastante, em particular, na indústria alimentar, digamos assim.     

Sente o peso da interioridade reflectido no Instituto Politécnico?

Prof. Doutor Luís Pais: Acho que se sente em todo o lado um pouco. Agora, o IPB constitui-se como uma das maiores empresas da região pela sua capacidade de captação de vida, digamos assim, de gente para a região. Se sentimos esse peso, obviamente que sim, obviamente que é mais difícil recrutar alunos, será mais difícil recrutar docentes e etc. As condições são mais difíceis para uma instituição do interior. Quer dizer, se quiser alguns números rapidamente. O instituto vai ultrapassar, neste momento, os seis mil alunos. Esses seis mil alunos não são todos de Bragança. Ou seja, se estivéssemos à espera ou se estivéssemos confinados, ao nosso distrito de Bragança, às tantas a dimensão do Instituto Politécnico de Bragança não chegava a metade do que é agora. Manter uma instituição deste tipo, significa ter a capacidade de captar alunos ao litoral, em particular ao eixo Viana-Porto.   

A dicotomia litoral/interior é cada vez mais actual. Nós, os do interior, queixamo-nos de abandono e descaso e a região de Trás-os-Montes é uma das mais esquecidas do país. Caminhamos a passos largos para a desertificação. O que poderá ser feito para combater este estado de coisas?

Prof. Doutor Luís Pais: O que poderá ser feito… Penso que a resposta tem que ser muito simples. É ter vontade de fazer. Se houver vontade de fazê-lo, as soluções depois, serão encontradas. Infelizmente, acho que se aposta na capacidade que a região tem e que isso tem levado a que as pessoas vão sempre dirigidas para a região que tem mais potencialidades. Obviamente, se apostar apenas nisso vamos ver que as pessoas vão continuar todas a ir para o litoral até não termos ninguém no interior. A solução é apostar. É criar estruturas, às tantas, grandes estruturas que o interior devia ter e não tem, é começar a criá-las aqui.   

Somos o único distrito do país sem um único quilómetro de auto-estrada. A que se deverá esta situação?

Prof. Doutor Luís Pais: Ao que acabei de dizer, ou seja: há falta de vontade de apostar nesse desenvolvimento. Mas eu penso que valia a pena. É óbvio que as pessoas têm melhores condições de vida em termos ambientais, em termos de ordenamento aqui do que, obviamente, em Lisboa. As pessoas continuam a ir para Lisboa. Porquê? Porque lá estão as grandes oportunidades de trabalho, porque lá é que estão as grandes condições de saúde, etc. Inverter isso significa melhores oportunidades em Bragança.

Que responsabilidade cabe ao governo e em que áreas devemos actuar, nós transmontanos, para fomentar o desenvolvimento da região? 

Prof. Doutor Luís Pais: Cabe a todos. O governo tem uma grande responsabilidade porque tem meios bastante melhores do que as pessoas que residem cá. São meios de dimensões diferentes. Haja a vontade desse desenvolvimento que eu penso que as soluções se encontrarão. Quer instituições como o IPB, quer instituições privadas, empresários, etc.

É neste momento, Vice-Presidente do IPB. Acha que o IPB pode fazer mais ainda para transformar esta região?

Prof. Doutor Luís Pais: Eu penso que sim. O IPB tem uma contribuição decisiva na captação de pessoas para a região. Isso é notório e ninguém pode negar. Como disse há bocado, o instituto vive para além das pessoas que seria normal, se as instituições se restringissem à área onde estão colocadas. Penso que isso será um erro, pois se o interior precisa de instituições para captar pessoas, uma instituição de ensino superior, é um exemplo típico de sucesso, que pode ter essas iniciativas. O instituto politécnico neste momento tem o dobro dos alunos que poderia ter se ficasse restringido à região de Bragança, Bragança-Vila Real.

Estes tipos de exemplos têm que aparecer, mas o politécnico pode fazer mais, poderá sempre fazer mais. Devemos estar contentes com aquilo que temos, devemos sempre progredir mais. O IPB teve uma grande aposta na qualidade da formação do seu corpo docente. Acho que é uma aposta que está ganha, tendo em conta ainda estar em movimento. É com prazer que damos sempre este número. Nós somos o instituto com maior percentagem de doutorados no seu corpo docente. Podemos falar presentemente em 30% do corpo docente doutorado quando os outros politécnicos ainda não chegaram aos 20%. Obviamente isto teve custos, mas foi uma opção que se revela agora bastante bem feita. Todo o enquadramento da reestruturação do ensino superior vem provar que sem essa aposta, o IPB teria muito menos armas para vingar no futuro. Mas isto é só um caminho a que já chegámos, portanto convém focar para onde nós vamos. E, se há bocado eu disse que temos 30% do corpo docente doutorado, nós estamos à espera de daqui a três anos, ultrapassar os 60% do corpo docente doutorado por toda a dinâmica de doutoramentos que está em curso. Por outro lado, temos sentido isso por parte do exterior, penso que o IPB também deve, daqui pra frente, contribuir mais para o relacionamento com o exterior, uma relação que não é simples de levar para a frente. Depende da capacidade da instituição IPB, depende da abertura da capacidade de empresários e outras instituições. Hoje em dia, com o corpo que já formámos, estamos em condições de abrir largamente essa contribuição. Perguntou-me o que o IPB pode fazer por Bragança e pela região, digamos que são essas duas grandes valências que tem para oferecer.         

Trará obviamente um reflexo muito positivo no futuro…

Prof. Doutor Luís Pais: É claro que sim. Só para lhe dar alguns exemplos da importância desse serviço, o IPB com a alteração da Lei de Base do Sistema de Ensino, tem a possibilidade de propor ciclos de estudos de mestrado e, obviamente, que o critério para essa concessão ainda não foi decidido. Está ainda na tutela para decidir. O grande critério é a atribuição da qualidade do corpo docente e haver investigação desenvolvida na área onde é aberto esse ciclo de formação. Obviamente, sem isso, não teríamos e seria um grande handicap ao desenvolvimento e à manutenção da actual dimensão do instituto politécnico em termos de alunos.

Se quiser um outro exemplo, vamos para o orçamento. Actualmente o orçamento de estado da instituição depende de outras coisas nomeadamente o número de alunos, o sucesso educativo mas, também, tem lá um item que depende do número de doutorados, portanto, esses dois exemplos claros da importância de ter um corpo docente muito qualificado para além do principal que é, de facto, acreditarmos que a formação do corpo docente é um garante da qualidade da formação que lhe oferecemos.

A região norte vai receber agora muito dinheiro vindo da comunidade europeia, esta última tranche que veio para as regiões menos desenvolvidas. Acha que Trás-os-Montes vai ter alguns benefícios?

Prof. Doutor Luís Pais: Pelo que tenho lido e pelo que tenho ouvido, as perspectivas não são muito animadoras porque estamos junto com a grande região Norte e pelo que tenho lido, penso que a redistribuição interna não vai ser muito democrática, digamos assim. Obviamente se colocarmos, é a tal pescadinha de rabo na boca, se damos para onde têm mais capacidade de progredir, vamos dar pra fora, mas se damos mais para fora, nunca mais desenvolvemos o que está cá dentro. Portanto, e geralmente costumo quando converso sobre isso com os meus amigos, há uma imagem que é muito clara que é notar que as verbas da comunidade europeia são verbas de coesão, ou seja são para o desenvolvimento e harmonização de toda a comunidade europeia e, obviamente, as regiões portuguesas recebem tanto mais quanto mais necessitadas.

Portanto, é um contraciclo, depois dentro de uma região Norte estar a apostar quase exclusivamente, precisamente nas áreas que estão mais desenvolvidas deixando a região de Bragança ou outra que fosse em desvantagem nesse aspecto.

Em que áreas devemos actuar, nós transmontanos, para fomentar o desenvolvimento regional?

Prof. Doutor Luís Pais: Dadas as minhas limitações em termos da minha vida profissional, vou restringir a minha opinião à minha área grande de intervenção, mas acho que há pelo menos duas grandes áreas. Uma é a área do turismo. Penso que poderia ser mais desenvolvida já que a região tem condições excepcionais para o turismo. Penso que já passou o tempo em que todas as pessoas queriam ir para o Algarve ou queriam ir para as Canárias. Obviamente que é um sítio agradável e continuarão a ir mas penso que há uma muito maior apetência para o turismo de montanha, digamos assim. Bragança tem condições extraordinárias.

Uma outra área possível é todo o desenvolvimento dos produtos florestais e agrícolas onde temos aqui condições e o historial provado nessa área e que acho podemos continuar a desenvolver e modernizar.       

Para terminar, que personalidade ou personalidades o marcaram ao longo da sua vida?

Prof. Doutor Luís Pais: Ai, isso é uma pergunta assim um bocado difícil. É a família. Se quiser posso-lhe focar um exemplo de uma pessoa que me marcou, mas como é natural nestas coisas, essas pessoas passam e hoje em dia as pessoas que nos marcam são outras que nos marcaram no passado. Lembro-me agora, assim de repente, de um professor que tive no sétimo ano de escolaridade que me marcou bastante. Era um professor de português e que me levou a fazer teatro, primeiro num grupo da escola e depois num grupo da Universidade de Aveiro e foi uma experiência bastante interessante, quer em termos de formação da personalidade, digamos assim. Estamos a falar na adolescência, quer em termos de armas para ser bom professor. Foi uma experiência bastante interessante. Assim pessoas de que goste, tipo os grandes portugueses. Se escolhemos uma pessoa próxima no tempo, corremos o risco de não termos distanciamento necessário. Se escolhemos uma pessoa muito longe no tempo, às tantas corremos o risco de não sermos muito precisos de irmos atrás da opinião geral, mas indo por esta última que eu penso que será mais correta e menos polémica, não sei… dentro daquele leque das que estão na televisão, às tantas escolhia, não sei… o Infante D. Henrique por na altura conseguir fazer o que agora queremos fazer todos, empreendedorismo e inovação. É um exemplo em como Portugal, sendo um país pequeno soube ser empreendedor e inovar naquele tempo. Portanto, escolhi esse. Escolher mais próximo do tempo, ou melhor, eu gosto mais de escolher pessoas que nos marcam mas temporariamente, são heróis mais pequenos mas mais próximos e esses são os heróis do dia-a-dia. Aquelas pessoas que na televisão e que ficamos contentes por ter sucesso. Obviamente e sem qualquer escolha clubística, um Zé Mourinho, ou os Madre Deus que nos enchem de orgulho pelo sucesso que conseguem ter, não só em Portugal mas também fora das nossas fronteiras.

Muito obrigado Professor Doutor Luís Pais.

Entrevista realizada em 2007, na Rádio RBA, por Maria e Marcolino Cepeda com locução de Rui Mouta.