segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Radicalismos e refluxos (Editorial do Jornal Nordeste de 14/02/2017)




Entre as aplicações do materialismo dialéctico, com resultados úteis na observação da realidade, encontramos o modelo de análise do processo de interacção entre a superestrutura político-ideológica e a realidade profunda, resistente à mudança, mas sempre em transformação imperceptível, que designamos por infra-estrutural.
Uma observação cuidada permite-nos concluir que os voluntarismos radicais agitam a realidade à superfície, podem até gerar sobressaltos pontuais, mas tendem a ser absorvidos, mais cedo ou mais tarde, pelo esmagador peso da inércia do que não é racionalizável em termos individuais, mas condiciona e determina cada vida concreta, no tempo curto da sua passagem pelo mundo.
Naturalmente, as intervenções na realidade superestrutural não são inócuas e os seus efeitos também podem estar relacionados com aquilo a que chamamos as conquistas civilizacionais, com reflexos evidentes nos modos de relação social e nos modelos políticos que fomos conhecendo.
Mas, também sabemos que as dinâmicas de mudança enfrentaram prolongados tempos de diluição e, nalguns casos, vários milénios depois ainda não demonstram estar definitivamente consolidadas. Não que isto tenha que nos conduzir à demissão resignada, como se nada houvesse a fazer perante um determinismo inexorável. A humanidade é mesmo o resultado de miríades de actos inspirados nas mais diversas utopias, mas que não devem perder as referências fundamentais da racionalidade e do pragmatismo.
Nos tempos que vivemos temos assistido à consagração, em múltiplos países, de normativos legais, resultantes da acção denodada de grupos de pressão, tornados paladinos de novas moralidades, que tendem a tornar-se outras formas de totalitarismo, reclamando-se como os únicos politicamente correctos e condenando tudo o resto à condição de broncos infames.
De facto, a partir de capacidades inauditas de intervenção na superestrutura político-jurídica, vão-se impondo autênticas redes de novos inquisidores, puritanos q.b. de determinados dogmas, que diabolizam todos os que se questionam sobre caminhos abertos por entre os matagais de dúvidas que nos enchem a vida.
A construção de novos tempos gratificantes não parece poder-se atingir com rupturas espaventosas, resultantes da acção de egos caprichosos, sem nenhum sentido pragmático, convencidos que o mundo se virará do avesso no minuto seguinte.
O resultado tem sido espantosos fenómenos de refluxo, expressos em fundamentalismos religiosos e populismos enraivecidos, que ameaçam arrasar os feminismos obtusos ou serenos, as proclamações de quase divinização de determinadas opções de orientação sexual, a erecção de alguns animais em novos ídolos, com todos os efeitos trágicos que se adivinham em consequência de reacções que podem ser mais violentas do que a arrogância de quem demonstra não se orientar pela sensatez poderia imaginar.
O fenómeno Trump pode ter sido só o primeiro sinal.

Escrito por: Teófilo Vaz, Diretor do Jornal Nordeste

Manobrismo e ineficácia política (Editorial do Jornal Nordeste, de 07/02/2017)




É tão honorável fazer política nos altos estratos como na comunidade que nos viu nascer, assim como, em ambos os casos, pode ser deplorável. Depende da integridade dos protagonistas ou da falta dela.
A função política tem sido, desde tempos remotos, objecto de tentativas de usurpação por parte de oportunistas sem escrúpulos, que a encaram como instrumento dos seus desígnios inconfessáveis, para mal da história da humanidade.
As lições foram tantas, que já deveríamos ter aprendido a reconhecer-lhes o rasto, evitando que perturbem a construção de sociedades justas, equilibradas e livres.
Ao mesmo tempo, os modelos democráticos foram criando aparelhos, onde proliferam oportunistas atentos, medíocres sem golpe de asa, sempre à espera que as coisas lhes corram de feição. Quando questionados pelos mais atentos sobre a sua ostensiva ineficácia, vangloriam-se de ter desenvolvido competências no jogo político, confundem estratégia com golpadas de chincalhão e dizem acreditar que os seus movimentos sombrios lhes trarão as migalhas de poder, dinheiro e prestígio que desejam.
Por estes caminhos se foi perdendo a qualidade democrática, se instalou o desânimo em camadas crescentes das populações, se confundiu a actividade política com compromissos espúrios, se normalizou a corrupção, conduzindo à ruína iminente alguns países.
Por gente como esta passa o manobrismo sem objectivos, a manipulação encomendada, as tentativas de limitação da informação, a propaganda balofa e o mexerico em rede. Deliciam-se num pueril jogo de escondidas, em vez de, com honestidade e frontalidade, participarem na clarificação das opções que serão tomadas mais cedo ou mais tarde.
Entretanto, foram contribuindo para desnecessários equívocos, com penosas consequências, que os tais esperam não sentir, embalados no clientelismo. Assim se criam condições para que o povo olhe para a política como um coio, ficando disponível para acreditar em autoproclamados moralizadores, que vão destruindo as democracias, suportados no voto livre de quem está farto desta estabilidade pantanosa.
A nobreza da política passa pela coragem da autenticidade e pela verdadeira dedicação à “res publica”, tanto a nível nacional, como local. Quando não se constroem alternativas sólidas aos poderes vigentes, não se pode esperar que o eleitorado se deixe envolver por passes de mágica, realizados de forma trôpega, alimentando segredos de polichinelo, que só contribuem para a generalização do descrédito a descambar facilmente na chacota.
Dos políticos espera-se o rasgo do golo, em vez do entediante “brincar na areia”, até que o povo rosne o merecido apupo. (À consideração dos políticos do distrito, esperando que nem todos se sintam capazes de ir de derrota em derrota até à vitória final da instalação num tachinho à medida.)

Escrito por: Teófilo Vaz, Diretor do Jornal Nordeste
Retirado de www.jornalnordeste.com

António Costa defendeu em Vinhais que descentralização promove desenvolvimento




Primeiro-ministro considera que o país só prospera se nenhuma parte dor deixada para trás.
O primeiro-ministro, António Costa, passou sábado pela Feira do Fumeiro de Vinhais, onde afirmou que o concelho é um bom exemplo do impacto que a descentralização pode ter no desenvolvimento regional.
O chefe de governo considera que dar mais competências às autarquias pode ajudar a valorizar a economia dos respectivos territórios. Elogiando o autarca de Vinhais, referiu que ao longo dos três mandatos Américo Pereira “muito contribuiu para o desenvolvimento da sua terra e isso é um bom sinal daquilo que é o novo papel dos autarcas, o de valorizarem os seus recursos próprios, os seus produtos naturais, dinamizarem a economia do seu território”.
O primeiro-ministro falou de “um papel novo das autarquias” e sustentou que “dar às autarquias mais meios, mais recursos e mais competências é ajudá-las a contribuírem ainda mais para o desenvolvimento regional e do país”.
António Costa agradeceu aos que sabendo das dificuldades de viver em Trás-os-Montes, “de onde é difícil chegar aos grandes mercados, não desistem de estar na sua terra”. Para o primeiro-ministro é necessário promover o que há de melhor em cada região, porque, acredita “é valorizando os seus produtos que mais se valoriza território e mais se desenvolve o país”.
“E se nós queremos todo um país mais próspero, com uma economia melhor, com a riqueza mais bem distribuída por todos, nós não podemos deixar nenhuma parcela do território nacional por desenvolver e temos de puxar pelo melhor de cada uma das regiões”, adiantou ainda.

Passos destaca vitalidade da feira
Por Vinhais passou ainda este fim-de-semana o presidente do PSD e ex-primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, que abordou também o tema da descentralização, frisando que, apesar de ter “ouvido as intenções do Governo”, “para já o PSD foi ainda o único partido que apresentou mesmo projectos na Assembleia da República”.
O líder do principal partido da oposição sublinhou o impacto económico da feira e justificou a visita com “a grande vitalidade” que o certame mantém
“É um evento que atrai pessoas de quase todo o país e, de certa maneira, é uma forma de promover produtos que são regionais, que de certo modo trazem valor acrescentado a esta região”, sublinhou.
O presidente da Câmara Municipal de Vinhais, Américo Pereira, destacou a importância deste certame que é “uma montra de produtos” e adiantou que sector que movimenta mais de 6 milhões de euros ao ano. “As empresas e pessoas que participam no certame não trabalham somente para estes quatro dias, trabalham todo o ano”, acrescentando que representam “mais de trezentos postos de trabalho directos”. O autarca destacou ainda que o impacto da Feira do Fumeiro de Vinhais está patente “nos 400 expositores instalados na feira e na hotelaria lotada, em Vinhais e em concelhos limítrofes”.

Capacidade hotelaria lotada
Na 37.ª edição da feira do fumeiro de Vinhais, participaram cerca de 400 expositores, a maioria a vender os melhores produtos da região, com destaque para o fumeiro, que, como é tradição, é pouco para a procura.
Isso mesmo confirmou Idalina Afonso que participa na feira há mais de 20 anos.“Já vendi muito, chouriças já não tenho, já tenho clientes certos de há muitos anos”, explicou a expositora.
Natália Vaz, de Fresulfe, diz que o segredo “é temperá-los e afumá-los bem”. Leva todos os dias um novo carregamento de fumeiro que produz em casa e diariamente esgota.
Também Maria Alice Alves não se queixa das vendas. Participa na feira desde a primeira edição, em 1981 e garante que escoa tudo. “Nunca me sobeja nada, ainda precisava de mais, temo muito bons fregueses”, referiu.
Este ano, a organização estima que cerca de 70 mil pessoas tenham visitado o certame de Vinhais, uma das feiras do fumeiro mais antigas do país.

Criação de Agrupamento de apoio a produtores de carne de raça Bísara
Organizar a produção de carne de suíno de raça Bísara com Denominação de Origem Protegida (DOP) e ajudar a colocá-la no mercado, é o objectivo do Agrupamento de Produtores de Carne de Suínos Bísaros. Esta entidade viu a sua sociedade comercial constituída dia 10, durante a feira do fumeiro de Vinhais.
Este é um agrupamento criado para colmatar as dificuldades na venda da carne e que segundo Carla Alves, da Associação Nacional de Criadores de Suínos de Raça Bísara, “é preciso de juntar a oferta dos produtores e depois comercializar tudo junto, porque até hoje não conseguimos ter um local onde pudéssemos ter a compra da carne de Bísaro DOP”, explica. Depois de ter sido constituída a sociedade comercial, o passo seguinte é pedir o reconhecimento como agrupamento de produtores. Carla Alves considera essencial que exista uma estrutura de comercialização “ para conseguir aceder a fundos comunitários, fazer candidaturas para promoção, para comercialização e até mesmo para o funcionamento do próprio agrupamento”.
Entre outras coisas, vão responsabilizar-se pela comercialização, garantia do escoamento da carne, apoio na compra de alimentação e medicamentos para os animais.
Há uma procura crescente do produto e Carla Alves garante que a produção da região tem capacidade para crescer caso o mercado assim o exija. As explorações na região são 200, a maioria de pequenos produtores.
O documento que vai dar origem ao agrupamento foi assinado por 20 produtores, pelo Instituto Politécnico de Bragança, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, o presidente do município de Vinhais, o Director Regional da Agricultura e Pescas do Norte, Manuel Cardoso, e o Director-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), Fernando Bernardo, havendo ainda várias autarquias que manifestaram interesse em fazê-lo.

Escrito por: Jornalista Olga Telo Cordeiro
Retirado de www.jornalnordeste.com

domingo, 19 de fevereiro de 2017

1.ª PARTE DA ENTREVISTA CONCEDIDA POR PEDRO GABRIEL PADRÃO CEPEDA

Encontrámo-nos no Praça 16, espaço acolhedor e intimista, que nos faz sentir em casa, ao mesmo tempo que nos apresenta um projeto aliciante e moderno, que deambula por várias áreas de atividade artística de para esta conversa, de que hoje publicamos a primeira parte. 

Oiçam a 1ª parte da entrevista clicando no link que se segue. Posteriormente, publicaremos a 2ª e a 3ª partes.

Aqui deixamos uma breve apresentação de Pedro Gabriel Padrão Cepeda, nosso sobrinho. 

Nascido a 23 de fevereiro de 1982, quase a completar 35 anos, filho de António José Cepeda (Tojé Cepeda que já tivemos o prazer de entrevistar) e de Piedade Padrão, 
Sócio – gerente do Bar Cultural Praça 16, localizado na Praça da Sé, em Bragança, prestes a completar um ano de existência.
Em 2009 concluiu a Licenciatura em Turismo. 
Em Setembro 2014 concluiu o Mestrado em Gestão de Marketing. Desde fevereiro de 2016 desempenha o cargo de Sócio-gerente e responsável pela programação artística do bar cultural Praça 16.
Foi consultor e Assistente de Projeto no “Programa Integrado de Turismo Cultural e Desenvolvimento Urbano” (Câmara Municipal de Bragança).
Consultor e Assistente de Projeto na “Organização de Eventos Culturais Paralelos no âmbito do Mundial de Futebol de Praia Espinho 2015”. Consultor e Assistente de Projeto no festival “Oito24”, os dois da Câmara Municipal de Espinho.
De Julho 2013 – Novembro 2014, desempenhou o cargo de Técnico de Helpdesk Informático dando apoio técnico na área de sistemas de informação nos idiomas português, espanhol e inglês para colaboradores do grupo EDP.
Foi formador e professor de várias disciplinas ligadas à sua área de formação/intervenção. 


 Em amena cavaqueira: Norberto Lopes (sócio do Praça 16), Pedro Cepeda e eu e o meu marido Marcolino Cepeda. 

Dois recantos do "Praça 16", em Bragança, Trás-os-Montes, Portugal.

Maria Cepeda

Vale a pena ler este artigo de Pedro Cepeda

http://www.smart-cities.pt/pt/noticia/praca-critica-cepeda1502/




domingo, 12 de fevereiro de 2017

Entrevista a Pedro Gabriel Padrão Cepeda

Amanhã vamos entrevistar Pedro Gabriel Padrão Cepeda, licenciado em Turismo e mestre em Markting, sócio gerente do Bar Cultural Praça 16, localizado na Praça da Sé, em Bragança, prestes a completar um ano de existência.

Até lá.

Maria e Marcolino Cepeda
 

VINHAIS: É AQUI A CAPITAL DO FUMEIRO


Feiras com fumeiro há muitas, mas a verdadeira feira do fumeiro, essa é em Vinhais que, há 37 anos, mantém a aposta na preservação do porco de raça bísara, que ao longo deste período foi valorizada e viu crescer o seu valor comercial.
O interesse sobre este animal e a sua importância para o concelho motivou a criação de um Centro Interpretativo do Porco e do Fumeiro, que merece uma visita de todos, mesmo daqueles que acham que já sabem tudo sobre o porco bísaro.
O fumeiro de Vinhais é conhecido em todo o país e não é por ser barato. Aqui a qualidade tem um preço e é ao quilo que se vende a chouriça ou salpicão, que deram que falar logo nos primeiros anos do certame.
Se nos primeiros anos, a feira se realizava na rua e com meia dúzia de expositores, com visitantes que eram do concelho ou de concelhos vizinhos, hoje a feira assumiu uma dimensão à escala da responsabilidade que a organização tem sabido gerir, resultando em números que estão muito para lá do que se poderia esperar de uma vila do nordeste transmontano. Para se ter uma ideia, por aqui têm passado cerca de 70 000 pessoas em cada feira nos últimos anos. A feira do fumeiro de Vinhais é responsável por dinamizar um sector que movimenta no concelho cerca de 6 milhões de euros anuais e a expectativa é de aumento na comercialização. Para isso a organização da feira apresenta todos os anos novidades, este ano a aposta recaiu no “rocher de alheira de Vinhais”, uma iguaria da alta cozinha acerca da qual ninguém deverá atirar para o ar considerações antes de o provar, pois pode ter uma deliciosa surpresa. Esta poderá ser uma forma de libertar a comercialização deste tipo de produtos ligados ao fumeiro das amarras do Inverno para outras alturas do ano.
Mas é, de facto, este frio do nordeste transmontano que confere as condições essenciais para que o fumeiro de Vinhais possa chegar ao nível que se conhece. Talvez por isso, Fevereiro foi o mês escolhido para a realização desta feira desde o princípio, em 1981, não por ser mês mais frio, mas por já terem passado os meses mais rigorosos de Inverno pelo fumeiro, chegando assim a este mês no ponto certo para consumo.
Vinhais propõe-nos assim uma viagem às origens, porque esta feira do fumeiro é a original.

Jornalista: R.