(M.C.): Uma fortuna!
(F.C.): Nós ficámos com o cheque, mas ninguém acreditou que aquilo
tivesse algum valor. Só quando vimos o dinheiro na mão é que acreditámos. Portanto,
foi, de facto, a raridade. Portanto, em Trás-os-Montes não havia tantos
grupos de teatro assim, o que significava que era uma raridade. E,
portanto, foi um património importante na aldeia. Ainda hoje, os mais idosos
falam no teatro e na saudade que têm desse tempo do teatro.
Hoje, com o progresso que
temos, com as possibilidades que há, não seria possível manter um grupo de
teatro em vez de uma cadeia? Na altura era uma pequena fortuna. Mas é pena
que não haja quem pegue outra vez na ideia. Aliás, há um organismo
que capitulou e teve uma importância enorme na divulgação do teatro e
da cultura em Trás-os-Montes, que foi o FAOJ (Fundo de Apoio aos Organismos
Juvenis). E o FAOJ foi, de facto, um organismo que criou muitos grupos de
teatro, muitos grupos folclóricos, muitos grupos de leitura, mas não só. Hoje,
praticamente, a dimensão cultural, a divulgação cultural é inexistente nas
nossas aldeias.
O que é que existe? Uma casa do
povo, com um bar, com umas festanças, com umas jantaradas, com um pouco
mais do que isso.
(M.C.): Faz-se a festa dos santos que são os oragos e
mais nada.
(F.C.): O aspecto cultural, praticamente, é inexistente.
(M.C.): O que é uma pena. Era bom que alguém lhe pegasse novamente.
(F.C.): Que lhe incutisse uma dimensão cultural, uma política de
dimensão cultural… Não há. É uma pena.
(M.C.): Continuando. Enveredou
pela Filosofia, como já disse. O que o levou a seguir esse caminho, veio do Seminário?
(F.C.): Sim, sim. Aliás, o seminário tinha três secções. Quando se
entrava para o seminário, fazia-se o curso de humanidades. No sexto
ano passava-se para a secção de filosofia. Portanto, sexto, sétimo,
filosofia. Depois, oitavo, nono, décimo segundo, filosofia. Portanto,
embora a filosofia que se ensinava nos seminários, embora fosse uma
filosofia tomista, ou seja, a filosofia de São Tomás de Aquino, na tradição
aristotélica, mas era levada muito a sério. E não há dúvida nenhuma que, embora
a filosofia fosse inspirada na filosofia grega, mas dava muita
bagagem em termos de formação filosófica. E, portanto, para mim, era mais
do que natural tendo eu o sétimo ano do seminário, que a saída natural seria
ir para a Faculdade de Filosofia de Braga, onde fiz o primeiro ano. Com a
bagagem que eu levava do seminário, consegui fazer num ano, em Braga, dez
cadeiras. O que significa que no segundo ano pedi transferência para o
Porto e a grande maioria das cadeiras da Faculdade de Filosofia do Porto
já as tinha feitas, o que significa que depois passei mais quatro anos no
Porto e vim fazendo umas cadeiras ou seminários, etc.
Mas a minha formação
verdadeira foi o Seminário e a Faculdade Filosofia de Braga dos Jesuítas,
que é onde se aprende Filosofia.
(M.C.): Também os jesuítas. Ora, muito nos ensinou já. Permita-me
que passe à próxima pergunta. A sua vida profissional está profundamente
ligada ao ensino e à coordenação de órgãos diretivos relacionados com
a sua formação académica, mas não só. Fale-nos do seu riquíssimo percurso.
(F.C.): Eu terminei o curso na Faculdade de Filosofia do
Porto. Entretanto, interrompi para ir fazer o Serviço Militar e quando
saí do Serviço Militar, ainda me faltava uma cadeira ou duas para ter
a licenciatura. Já tinha o bacharelado. Portanto, fui terminar a licenciatura e
foi curioso como comecei a minha vida profissional. Estava no Porto a
terminar o curso e apareceu lá o Padre Marcelino, o Diretor do Ciclo
Preparatório que não era capaz de arranjar um professor de música.
CONTINUA
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