Iniciamos, hoje, a publicação da entrevista que realizámos ao Senhor Comendador Engenheiro Jorge Nunes.
Para não demorarmos muito tempo a fazer pública esta "conversa", vamos postar aos poucos pequenas partes da mesma.
Maria e Marcolino Cepeda
Entrevistadora: Maria Cepeda (MC)
Entrevistado: Comendador Eng. Jorge Nunes (Eng. JN)
MC: Boa tarde Senhor Comendador. Estamos aqui hoje
para levar a cabo uma entrevista há muito esperada. Começaremos, como é
natural, pelo princípio. Nasceu na pequena aldeia de Refóios, freguesia do
Zoio, concelho de Bragança. É, portanto, um transmontano de gema. O que
representou e representa para si, esta circunstância?
Eng. JN: Ter nascido numa pequena aldeia do concelho
de Bragança, obriga naturalmente a manter memórias de ruralidade e de
identidade que me parecem ser significativas que corresponderam a um traço
característico na minha vida e na minha personalidade.
A primeira vez que eu saí dessa aldeia que não tinha
estrada sequer, não tinha iluminação pública. (Só viria a ter depois do 25 de
Abril, já eu frequentava a Faculdade de Engenharia do Porto.). Saí dessa aldeia
quando vim para o liceu. Foi a viagem mais longa que fiz durante esses anos.
Para mim, sair da aldeia, chegar aqui à cidade, foi descobrir um mundo novo. Foi
uma perdição para mim nos primeiros tempos da minha presença na cidade. Conhecer
tanta coisa diferente… nascer nessa aldeia nas circunstâncias em que a vida se
fazia na altura, correspondeu, inequivocamente, a uma marca que se mantém ao
longo da minha vida.
Tive o reconhecimento das dificuldades com que muita gente ainda vive e que eu e toda a gente vivia. Na aldeia todas as famílias, à exceção de uma que imigrou para França, vivam com muitas dificuldades. O povo vivia com muita dificuldade, muito poucos recursos. E portanto, são marcas que ficam para a vida toda.
Essa circunstância tem marcado a minha vida no sentido de tentar usar os recursos com cuidado, com parcimónia, perceber que a vida se faz em comunidade, em parceria, em cooperação, com interajuda… essas são características que vêm da infância, numa altura em que se partilhava o pouco que se tinha. Havia famílias que não tinham nada verdadeiramente. Eram famílias grandes, com muitos filhos, não tinham terras, não tinham animais e tinham de criar os filhos. Essa presença e esse contacto marca-nos de forma inquestionável para a vida. Eu diria que essa circunstância é a circunstância primeira da minha vida até ao momento.
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