MC: Estudou
em Bragança. Fez engenharia na Universidade do Porto. Porque engenharia?
Fale-nos um pouco do seu percurso estudantil.
ENG. JN: Desde
pequeno fui uma pessoa que sempre gostou de fazer coisas na agricultura… o
nosso desafio era trabalhar nas várias tarefas que era necessário desenvolver e, quem cresce no trabalho desde muito jovem, apercebe-se das dificuldades
inerentes a alguns trabalhos… isso despertou-me um bocadinho para alguma
modernidade, algum engenho que beneficiasse as actividades que era preciso
desenvolver. Essa perspetiva incentivou-me a seguir um caminho na área das
engenharias. Claro que o meu pai não poderia orientar-me para que seguisse por
essa via. Fui o único irmão que estudou. Éramos quatro. Não havia recursos para
todos o poderem fazer.
MC: É o mais novo?
ENG. JN: Não. Tenho um irmão mais novo.
MC: Antigamente, nas aldeias, estudava o irmão mais
novo… Para o livrar da vida difícil.
ENG. JN: Quando nasceu o irmão mais velho, a vida já
era difícil. Os meus pais colocaram-no no seminário em Vinhais, o que faziam
muitas famílias que, com as dificuldades para criar os filhos, iam pela
perspectiva da igreja para encontrar um novo caminho, uma mão estendida para
poder aliviar o encargo da família, mas ele, passados dois ou três meses fugiu
a pé de Vinhais para a aldeia e não se perdeu no caminho. (Risos)
Eu tive sempre essa perspetiva de seguir engenharia.
Fui sempre por mim, não foi a família, pois não tinha condições de me recomendar
o que quer que fosse, Ao longo dos estudos no Liceu, fui percebendo
que era uma área que pretendia desenvolver. Como as dificuldades da família
para que pudéssemos estudar eram grandes, dirigi-me à Academia Militar.
Viajei sozinho para Lisboa, onde nunca tinha ido. Nunca
tinha saído daqui. Fui de comboio. Foi uma viagem de muitas horas. Cheguei a Lisboa
e, na estação de Santa Apolónia, perguntei onde ficava a Academia Militar. E…
bom… não conhecia absolutamente nada. Lá fui perguntando e fui andando a pé,
pensando que era uma coisa de poucos metros, como ir da minha casa até ao fundo
da aldeia ou até à igreja. Lá fui andando, andando, pensava que era perto, até
que cheguei. Quem me atendeu foi o sentinela ou o guarda de dia (não sei como é
que se chama). Perguntou-me o que pretendia e eu respondi-lhe que queria
inscrever-me na Academia para tirar o curso de engenharia. Ele perguntou-me se
tinha algum familiar no exército que me recomendasse. Disse-lhe que não tinha
ninguém. “Então está despachado!” (Risos) E assim foi. Restou-me a alternativa de
me inscrever na Faculdade de Engenharia do Porto.
Tirei o curso nos cinco anos regulamentares e sempre
trabalhei. Fiz um pouco de tudo. Vender livros do Círculo de Leitores, na
cidade do Porto. Trabalhei em gabinetes de arquitetura e engenharia na altura
em que estavam a desenvolver projetos de reabilitação dos bairros degradados.
As ilhas, era assim que se chamavam. Fiz levantamentos gráficos numa área da
cidade. Eu já tinha conhecimentos nessa área da formação do Liceu e dos
primeiros anos da faculdade de engenharia. Já dominava a tipografia e tinha já
outra informação que me permitia fazer esses trabalhos básicos que eram pagos
por esse gabinete. Trabalhei num bairro que era o Bairro Parceria Antunes, onde
hoje está o Centro Materno-Infantil do Norte. A vida não foi fácil mas eu tinha
essa vontade de tirar engenharia e foi de facto o curso que consegui concluir.
Continua na próxima publicação.
Maria e Marcolino Cepeda
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