Celeste, dona Celeste Maria Ferro, falecida há aproximadamente um mês e que não resistiu a uma queda grave que deu nas fatídicas escadas das "Moreirinhas" que tantas vezes subiu e desceu nas suas iniciativas de pendor empresarial que a levavam a locais centrais da nossa cidade aonde amiúde a víamos de sorriso simples e afável mercadejando; em bom tempo, em plena Praça da Sé, vendendo tremoços e um ou outro aperitivo e, em tempo mais careta e de castanhas, ousando também preparar e vender estas iguarias de Outono, instalando-se às vezes, também, na pequena eira frente aos correios.
Empresária de fracos recursos que começou por apresentar
a sua mercadoria num carrinho quase de brincar adaptado a partir de coisas
triviais e que aparentemente resultavam do seu próprio engenho, evoluiu,
possivelmente auxiliada, para carrinhos mais elaborados ou transformados e
formais de chapa e até de inox até que, por fim, a entidade camarária, vendo o
seu engenho e agradabilidade para se relacionar e vender lhe arranjou um pequeno
quiosque de madeira com assador e tudo frente aos correios. E era vê-la assim,
porém, mais atarefada e concentrada preparando o saboroso produto para o
público. Pessoalmente parecia-me, nessa condição e compromisso, menos à
vontade, menos espontânea e sorridente, talvez porque mais sobrecarregada.
Cheguei a pensar que os simples tempos iniciais em que aparecia com os seus carrinhos eram também mais um pretexto para sair de casa e falar e cumprimentar as pessoas do que propriamente fazer dinheiro. De uma maneira, ou de outra, iluminava um pouco e diversificava humanamente as praças aonde a víamos. Gostava de conversar com ela e, com simpatia, anuiu, em tempos ainda de pandemia, a que eu lhe tirasse uma fotografia que aqui está.
_______________________________///////____________________________
Aqui temos mais uma fotografia de Jorge Morais onde o lado humano é bem patente. Como fotógrafo humanista que também é, soube captar a sensibilidade, a simpatia e a leveza de uma alma simples e genuína que, ao mesmo tempo, serve como singela homenagem pela sua partida.
Maria Cepeda
Sem comentários:
Enviar um comentário