sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Morreu Hirondino da Paixão Fernandes autor da Bibliografia do Distrito de Bragança (Publicado por Glória Lopes; retirado de www.mdb.pt)


Morreu aos 93 anos Hirondino da Paixão Fernandes, destacado investigador e homem de letras transmontano, natural da aldeia do Parâmio, no concelho de Bragança.

Antigo deputado na Assembleia da República entre 1965 e 1969, licenciado em Filologia Românica pela Universidade de Coimbra e professor do ensino secundário, Hirondino da Paixão Fernandes destacou-se como investigador e autor da Bibliografia do Distrito de Bragança, obra com 10 volumes a que dedicou mais de 50 anos.

No seu vasto currículo como homem de letras e erudição há outras publicações como O Folclore do Parâmio.

“A Bibliografia do Distrito de Bragança é um ousado empreendimento feito de estudiosa e diligente aplicação, de erudito saber, de um imenso amor pela terra, pela gente e pela memória dos seus gestos e da sua passagem ao longo dos séculos, desde os anos mais remotos em que foi possível perscrutar notícia escrita ou simples registo documental. (...) Trata-se de uma obra extraordinária no panorama bibliográfico português (...) Nenhuma outra região possui um levantamento assim ordenado, e tão pormenorizamente indexado, da documentação arquivada, com os nomes das pessoas, dos lugares, dos factos, oferecendo um acesso esclarecido e fácil a quase toda a sua memória histórica. (...), pode ler-se no prefácio.

Hirondino da Paixão Fernandes foi ainda diretor da Escola Secundária Industrial e Comercial de Bragança (atualmente Escola Secundária Abade de Baçal) e antigo colunista do Mensageiro de Bragança.

O velório realiza-se amanhã na Igreja da Misericórdia a partir das 14h00 e a cerimónia religiosa está marcada para as 15h00. O corpo segue para o crematório de Valpaços.

A redação do Mensageiro endereça sua solidariedade e condolências à família de Hirondino da Paixão Fernandes.

RETIRADO DE: www.mdb.pt 

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Fim de Verão 2024


Quase no outono, preparamo-nos para o receber.
O Verão, ainda senhor reinante, vai-se despedindo devagar com um vento fresco hoje, um sol radiante amanhã, uma noite outonal, um casaco pelos ombros, umas bermudas substituídas pelas calças de ganga... Isso para quem continua de férias, que já são poucos.
A maioria de nós já se encontra no seu posto de trabalho que a vida assim nos obriga. É a ordem natural das coisas. 
As crianças e os adolescentes preparam os materiais para ir para as escolas. É tempo de comprar. É tempo de preparar, organizar... 
Os estudantes universitários "queimam as pestanas" (salvo seja) para fazerem os últimos exames. 
Cada um com as suas funções, uns mais alegres, outros mais tristes, todos querem aproveitar o verão até ao fim. 
Todos pedimos que o outono se demore... Mas, feliz ou infelizmente, todas as estações nasceram para viver três meses. Assim é. Temos de nos convencer que não há volta a dar... ou haverá? 
Será que o nosso planeta continuará no seu modus operandi?

Bom final de verão para todos.


Maria Cepeda  

Jorge Morais: PERSONAGENS (6) (Atualizada)

Ilha do Rei, menina com espelho

Ilha do Rei, que nome mais irónico para o bairro mais pobre e desgrenhado que existia logo abaixo do liceu, lado nascente, e nas proximidades do sítio aonde nasceria a feérica catedral de Bragança.

          Bidonvilhe em Bragança sem a maçada de ir a França ver a verdade dos nossos imigrantes desse tempo contemporâneos. Pobres e com necessidades várias seriam os habitantes desta "ilha", como comprovei exatamente numa entrevista que fiz a encargo do então padre Sampaio, director do Mensageiro de Bragança e delatando justamente essas condições e desajustamento do local, mesmo assim, face à urbe que, em 1971, já exibiam coisas como o hospital, o liceu, a escola industrial e algumas promessas próximas. 

            Passo um breve excerto dessa entrevista saída em 22-12-1972:  "Quanto pediam aquelas almas. Não vê senhor, não vê esta miséria, estas latas todas e a trampa que por aqui vai... Está a ver além aquele com o penico na mão... é na rua. Aqui. Onde passamos todos e o senhor também". 

              Efetivamente quase todos os jovens que iam do grosso da cidade para o liceu passavam ao lado num caminho, ou antes, carreiro, inclinado, torto e escorregadio. No Liceu falávamos de Descartes e víamos slides da Grécia antiga e da torre Eiffel em Paris.

Com uma máquina fotográfica mais que velha que restaurei, e com cerca de 19 anos, fotografei esta menina de etnia cigana que, um pouco afastada das barracas, fazia a sua "menáge" da manhã. Lobriguei de imediato o potencial do espelho na mão e pedi-lhe que o inclinasse um pouquinho para iluminar o seu rosto refletindo a luz do sol que irrompia naquela manhã fria. O resultado foi este. No contexto vê-se parte do ambiente em que ela e os outros viviam. A reportagem sempre saiu (o que até parece incrível) mas a fotografia jamais sairia num tempo em que muitas coisas andavam no ar mas o assunto era tabu sobretudo retratado e, de facto, também nunca anteriormente a publiquei.


Jorge Morais sugere:

        Olha, lembrei-me de tirar uma fotografia atual mais ou menos a partir do ponto de vista em que tirei a da menina na Ilha do Rei. Talvez seja interessante (e posteriormente poderei fazer mais vezes isso) adicionar uma mais que também tenho do mesmo assunto, mas com um ângulo mais aberto. E uma outra que tirei agora, para compararmos e ver as diferenças que a cidade foi evidenciando. Pode ser interessante colocar a seguir à primeira que te enviei.

Ilha do Rei, 1972.

Foto atual, Setembro de 2024, sensivelmente a partir do ponto de vista em que foram tiradas as anteriores.


(Texto e fotografias de Jorge Morais)