quinta-feira, 6 de julho de 2023

CRIAÇÃO DE MANUAIS PARA APRENDER MIRANDÊS PODE ESTAR PARA BREVE

         Já há protótipos para a criação dos livros escolares, mas aguarda abertura de candidatura para avançar com projecto

Jornalista Ângela Pais

Estão criadas as maquetes para a elaboração de dois manuais escolares para aprender mirandês.

Este é o resultado de um estudo feito pelo agrupamento de escolas de Miranda do Douro em parceria com a Associação da Língua e Cultura Mirandesa, no âmbito do Plano Integrado e Inovador de Combate ao Insucesso Escolar da Comunidade Intermunicipal das Terras de Trás-os-Montes (CIM-TTM).

De acordo com a técnica da CIM-TTM, Elisabete Afonso, vai ser criado um manual para o primeiro e segundo ano de escolaridade e outro para os terceiro e quatro anos. Os manuais vão designar-se “Cachapim”. “O nome foi inspirado numa ave que se encontra nas Terras de Miranda e que se caracteriza por ser curiosa e irrequieta tal como as crianças”, explicou.

O mirandês foi considerado a segunda língua oficial portuguesa em 1999, mas não tem manuais escolares. Um problema que há muito tempo era apontado pela associação e pelo agrupamento de escolas, onde 70% dos alunos matriculados estão a aprender a língua, leccionada apenas por dois professores.

“Claro que o ideal seria aumentar este número de professores, seria criar um grupo docente da língua mirandesa, que não temos. O ideal seria equipará-la ao ensino das outras línguas e especificar o ensino por ciclos, que é algo que não temos”, realçou o director do agrupamento de escolas de Miranda do Douro. António Santos acrescentou ainda que aguardam a oficialização de uma formação da língua mirandesa para professores, num protocolo que foi criado entre o Ministério da Educação, a Universidade de Coimbra, o município de Miranda e o agrupamento de escolas.

O Plano Integrado e Inovador de Combate ao Insucesso Escolar da CIM-TTM acabou a 20 de Junho. Agora a Comunidade Intermunicipal das Terras de Trás-os-Montes aguarda a abertura de candidaturas da Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional do Norte para avançar com a realização dos manuais.

O Mirandês aguarda ainda a ratificação da Carta das Línguas Minoritárias, uma convenção que visa promover e proteger línguas regionais ou minoritárias da Europa. Para o presidente da Associação da Língua e Cultura Mirandesa, Alfredo Cameirão, a validação da carta pode pôr em prática muitas das medidas que estão definidas, nomeadamente no que toca à educação.

“Nalguns anos pode passar a ser uma disciplina curricular, poderia não só aprender-se mirandês, com matemática em mirandês, e por exemplo num curso profissional o mirandês funcionar como uma das línguas a serem ministradas, um curso profissional na área do turismo, que seja dado em Miranda do Douro, faz todo o sentido que uma das línguas dadas seja o mirandês”, explicou.

Alfredo Cameirão compreende que há um longo caminho a percorrer, mas a ratificação pode mudar a imagem que se tem do Mirandês, “de uma visão pouco séria, para uma língua séria e que possa estar ao lado de qualquer outra língua que se estuda na escola”.

Recentemente um estudo da Universidade de Vigo concluiu que se nada for feito a língua mirandesa pode desaparecer dentro de 20 anos. 

Retirado de www.jornalnordeste.com


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