sábado, 31 de maio de 2025
Agradecimento
quarta-feira, 14 de maio de 2025
Meu 70º aniversário o "Discurso"
José Rufino Cepeda e
Emília Raquel Teixeira nasceram em plena 1ª Guerra Mundial. Tiveram oito
filhos, três dos quais faleceram enquanto bebés. Os restantes sobreviveram e
floresceram.
O mais velho é o
Amílcar. Seguiu-se o José Emílio, o António José, mais conhecido como “Tojé”, a
Maria Jacinta e, finalmente, eu, corria a década de 50 do século XX, com todas
as voltas e contravoltas que lhe estavam destinadas.
Os meus pais depois de
muitas noites mal dormidas a pensar no futuro dos filhos, decidiram que não
podiam condená-los a uma vida de muito trabalho e de pouco dinheiro. A questão
era como iria um agricultor, dos melhores, transformar-se num vendedor de
peixe?
A resposta a esta
pergunta, não a tinham. Estava nas mãos de Deus. Sabiam apenas que queriam um
futuro melhor para os quatro filhos, que em breve seriam cinco.
O mês de fevereiro de
1955 trouxe a minha família para um mundo completamente novo. Os meus pais tomaram
posse de uma banca de peixe na Praça do Mercado, que pertencera até então, aos
tios Emídio e Constança, irmã da minha mãe, que estavam prestes a embarcar para
o Brasil, mais precisamente, São Paulo.
O meu pai sempre fora agricultor.
Quem o conhecia, enaltecia as suas qualidades de trabalhador incansável e
dedicado. Para além dessas qualidades, reconheciam-lhe um sentido de humor
inigualável.
Conta-se que certo dia,
o meu pai e o seu sobrinho Gil decidiram fazer duas belas carradas de lenha
para acautelar os frios do inverno. Cada um com o seu carro de bois tinha de passar
numa rua onde mal cabiam em fila indiana. Azar dos azares, por mais cuidado que
tivessem, o carrego era tão alto que levou uma fiada de telhas de uma das casas
da rua.
Em alvoroço, lá veio a
dona da casa a gritar e a queixar-se de que lhe tinham partido as telhas e que
alguém teria de as pagar e correu a perguntar, primeiro ao meu pai e em seguida
ao Gil, quem é que tinha feito aquilo:
- Ò que desgraça! Estes
malandros, já é a segunda vez que me fazem isto! Quem foi tio Zezinho, que me
partiu as telhas?
- Ò ti Maria, eu não
sei de nada! Pergunte ao meu sobrinho.
- Ò menino Gil, foi o
seu tio não foi?
- Ò ti Maria, eu não vi
nada! Estava a olhar para a lenha para que não caísse. Pergunte ao meu tio.
E assim, a culpa morreu
solteira. Segundo ouvi dizer, foram poucas as telhas que caíram, três ou
quatro.
Contava a minha mãe que,
certo dia, preparou a merenda para o meu pai que pretendia demorar-se no campo
o dia inteiro e como sempre, contava com a companhia do Piloto, o cão da
família. O trabalho era muito e era necessário fazê-lo. Chegada a hora do
almoço o meu pai lembrou-se que tinha deixado o farnel na primeira terra onde tinha
andado e voltou para o ir buscar, sempre acompanhado pelo fiel amigo.
Lá chegado, olhou para
todo o lado e não conseguia encontrar o saco da comida. Ouviu um latido do cão
e viu-o sentado junto de alguma terra revolvida. Pareceu-lhe ver o cordão do saco
de linho. Para lá se dirigiu, ao mesmo tempo que ouviu um novo latido do
Piloto. Sentou-se, puxou pelo baraço e lá veio o saco com a merenda. O cão
começou a ladrar e a saltitar à volta do dono que não conseguia acreditar no
que tinha visto. O primeiro bocado foi para o Piloto que bem o mereceu. Comeram
os dois. Ao chegar a casa, o meu pai contou à minha mãe o que se tinha passado.
Parece impossível…
A minha mãe cuidava de
nós. Convém dizer que ela e o meu pai se davam muito bem. Segundo me contaram,
o meu pai, fosse no inverno ou no verão, na primavera ou no outono, nunca saía
para o campo sem deixar o lume aceso e as batatas descascadas para a minha mãe.
Dividiam tarefas. Foi
ela que tratou da compra da banca de peixe com os meus tios. Venderam o que
tinham na aldeia e certo dia, meteu-se na carreira para Bragança a fim de
acertar as contas, alugar uma casa e combinar o tempo necessário para aprender
o ofício. De peixe, nada sabiam.
A mãe, no regresso, veio
de comboio até à estação ferroviária de Castelãos, onde o Amílcar e o Zé Emílio
estariam à sua espera com a égua. Ao chegarem à estação, o comboio apitou. A
égua assustou-se, saiu a correr e eles atrás dela e não havia maneira de a
alcançarem até que um senhor, que de tudo se tinha apercebido, lhe pôs a mão e,
depois de a acalmar, lhes entregou o animal. A nossa mãe, depois de muito
agradecer ao bom samaritano, lá foi a cavalo na égua até Gebelim.
Chegou o dia da mudança
para Bragança. Foi no dia 13 de fevereiro de 1955. Segundo o Tojé, era noite
escura e chovia que Deus a dava. Vínhamos duas famílias na carrinha do tio
Emídio. O motorista, a minha mãe grávida de mim e a tia Constança, vinham no
habitáculo. O meu pai, o tio Emídio, os três filhos dos meus tios e os meus
quatro irmãos vinham na carroçaria tapados com uma lona o que não impediu que ficassem
completamente encharcados. Para trás, deixaram toda uma vida e, também, o
Piloto que chorou a noite toda por nós.
Nasci em Bragança, na
rua Almirante Reis, no dia 8 de maio de 1955. Dizem que nasci muito pequeno e
magro e que foi um bocado difícil aguentar-me por cá nos primeiros meses da
minha existência terrena. Tanto assim foi que o meu irmão Tojé chama-me
“Escapou” duas vezes.
Fui o menino que
seguiu, completamente despido e descalço, atrás da Banda Filarmónica dos
Bombeiros Voluntários de Bragança até à Capela do São Bartolomeu.
Fui o menino que quando
teve sarampo exigiu um guarda-chuva aberto pendurado no teto do quarto.
Fui o menino que quando
ia com o Zé Emílio até à estação do comboio, lhe matava o bicho do ouvido com
todas as perguntas que fazia.
Fui o apanha-bolas nos
jogos de ténis de mesa quando a bola corria para debaixo da cama e nenhum dos
meus irmãos a conseguia tirar.
Fui o menino que o
Amílcar angariou com 25 tostões para torcer pelo Futebol Clube do Porto…
Tinha eu dez anos
quando mudamos para uma casa um bocadinho maior. Os meus irmãos foram saindo de
casa. O Amílcar para estudar e trabalhar; o Zé Emílio para cuidar da sua saúde
e mais tarde estudar; o Tojé para jogar futebol e depois para a guerra do Ultramar.
Recordo-me, como se fosse agora, que acompanhámos o Tojé à estação. Nunca tinha
visto o meu pai chorar até àquele dia. Foi realmente um dia muito triste.
Felizmente, passado o tempo regulamentar, o Tojé voltou, são e salvo. A Maria Jacinta
saiu para estudar; eu fui o último a sair.
As histórias de cada um
escreveram-se e escrevem-se nas linhas do infindável livro do universo. Algumas
gravitam ao nosso redor para não serem esquecidas. Outras são mais discretas,
mais serenas.
E é aqui que me compete
fazer alguns agradecimentos especiais. Aos meus pais que Deus tenha, agradeço a
vida. À minha mãe em particular, as lágrimas que derramou por mim.
À Adeliza, à D.
Filomena e ao Amílcar nunca poderei agradecer o suficiente pelo que fizeram por
mim e pela minha mulher. Foram, juntamente com o Luís e o Zé Manuel, o nosso
esteio, o nosso porto seguro no meio da tempestade que se abateu sobre nós.
Com o Zé Emílio aprendi
a coragem de resistir. Ao Tojé, à Piedade, ao Jorge e à Márcia, ao Pedro e à
Ana, agradeço a vontade imensa de viver e a prontidão da ajuda certa.
À Maria Jacinta e ao
Santos, agradecemos o aconchego e os miminhos; à Raquel, uma força da natureza,
uma super mãe, agradecemos a linda Inês; ao Rui agradecemos a Daniela, mãe do
Afonso e do Dinis que são os descobridores do sótão dos avós e a alegria da
casa.
Aos meus sogros, José e
Natália agradeço o maior presente que me podiam dar: a minha mulher.
Aos meus cunhados,
David e Sandra com os seus dois lindos milagres, Mariana e Catarina, agradeço a
certeza de conseguir; à Mariana agradeço a calma e a doçura; à Catarina
agradeço a força e a atitude; à Maria Antónia, mãe da Sandra, agradeço o
cuidado e o carinho com que me trata.
Aos meus cunhados Elizabete
e Galbas, agradeço o Guilherme, que está sempre disponível para nos ajudar e a
minha linda afilhada Natália, que sai ao padrinho no que à música diz respeito.
Felizmente, ainda não saiu em pelotas atrás da banda.
Aos meus cunhados
Eduardo e Helen agradeço a paciência de nos aturarem e a linda Carolina, a
menina mais doce do mundo.
À Irene e ao Pedro
Fernandes agradeço a delicadeza, o cuidado e o carinho com que me tratam.
À Isaura Videira agradeço
a disponibilidade, a certeza de poder contar contigo e as gargalhadas que damos
juntos com as nossas maluqueiras.
Ao Eduardo Videira,
agradeço a presença, a boa disposição e a certeza de poder contar consigo,
assim como com a Elisabete e o Pedro, pais do Gabriel, do David e da Adriana,
seus maravilhosos e inteligentes netos. Também ao Sérgio e à Rita, pais da Ana
Raquel e do José Eduardo, agradeço por poder contar convosco sempre e poder
usufruir de toda a alegria que os teus filhos demonstram.
Agradeço aos meus
queridos primos Olímpio, Nelly, Laida, Joana, Gina, Telmo, Vicente, Isabel,
Rui, Emília, Manuel, David o favor de estardes aqui para comemorar comigo os
meus 70 anos de vida. Muito obrigado. Não fazeis ideia da alegria que sinto.
Agradeço aos meus
amigos a paciência com que me aturaram ao longo destas décadas, com quem sempre
pude contar. Obrigado por estarem aqui. Tenho muita pena de não poder contar
com o Teófilo que nos deixou tão precocemente.
Há pessoas, que ao
longo da nossa vida, nos marcam indelevelmente e que eu não posso deixar de
referir. O Dr. Arnaldo Rodrigues, Dr. Horácio Correia, Dr. José Guilherme
Monteiro, Dr. Rui Fernandes, médicos.
O
Padre Sampaio, diretor do “Mensageiro de Bragança” durante a minha juventude
que, por minha causa não cumpriu uma ordem direta do Senhor Bispo: “Este garoto
não escreve nem mais uma linha para o jornal.” e me aconselhou a escrever com
pseudónimos, José Valverde e Bernardo Faria; o Dr. Eduardo Carvalho que me
ensinou a ser jornalista e escritor; o Engenheiro José Luís Pinheiro que era
uma pessoa excecional. Foi Presidente da Câmara Municipal de Bragança durante
três mandatos e foi com ele que aprendi a ser político. Vou contar um pequeno
episódio. Depois do AVC e de ter tido alta hospitalar, mal falava e mal andava.
Entrámos, eu e a minha mulher que me amparava, para o hall da câmara pela entrada principal e, ao mesmo tempo, ele entrava
por uma lateral. Colocou um pé no primeiro degrau e virou a cabeça para nós.
Reconheceu-nos, caminhou até mim, abraçou-me e começámos os dois a chorar. Não
posso esquecer que ele era um militar de carreira.
Resta-me
falar da pessoa que me acompanha há 36 anos, quase 37. Começámos a namorar numa
noite de Ópera, no teatro da Torralta, no dia 3 de Abril de 1987. Nesse dia
nevara. Os flocos que foram caindo encheram a noite de poesia. Levei-a a casa e
ficamos durante algum tempo a conversar. Namorámos um ano e três meses. Ao fim
desse tempo, casámos. Ela é o meu rochedo, o meu abraço, a minha estrela guia.
Cumpre-me dizer que a vida não foi condescendente comigo. Pregou-me muitas partidas difíceis de lidar. Conheci um mundo para o qual não estava preparado. Senti-me sempre cercado de amor incondicional. Perdi a esperança, tantas e tantas vezes, principalmente quando via escapar a luz dos meus olhos, literalmente. Lutei contra todos os percalços que tive de suplantar e nunca estive sozinho. Tive sempre uma mão a segurar a minha, uma palavra de conforto, uma ténue luz de esperança a acompanhar-me. Nunca me deixaram desistir. Sou o que sou por ter a felicidade de vos ter aqui comigo. Muito obrigado.
Marcolino Cepeda
70º aniversário do Marcolino
Maria Cepeda
quinta-feira, 8 de maio de 2025
Jorge Morais - Tempos que já lá vão...
Alicerces de edifício porticado, do período romano
Quem diria que, por debaixo de um tradicional mercado no centro de Bragança, havia os alicerces de uma construção bem lançada arquitetonicamente e de consideráveis dimensões e de eminente traça romana.
Ali junto ao muro poente do mercado e virados para a atual biblioteca municipal, antigo ciclo preparatório, alicerces que estiveram pouco tempo a descoberto aquando das intervenções Polis.
Um dia com a minha Nikon Fm2, consegui captá-las antes
de serem soterradas ou destruídas para construir o atual parque de
estacionamento.
Fotos e textos de Jorge Morais
Há, na vida de todas as pessoas...
Marcolino Cepeda