No calendário. Lá fora, na rua, uma primavera quase verão. O calor suporta-se como a preguiça de fazer qualquer coisa sem vontade.
Nos jardins, profusão de flores, marias, rosas, coroas de rei, cravos de S. José, malmequeres, amores-perfeitos, petúnias...
Nos corações, nem primavera, nem verão, antes outono quase inverno.
Porquê razão assim acontece?
A vontade desvanece, encolhe-se, espalha-se pelo chão onde é pisoteada pela pressa das pessoas que, mesmo sem pressa, não param para muda contemplação do azul/cinzento do céu, dos muitos matizes do verde que cobre a paisagem dos campos incultos, salpicados, aqui e ali, de flores silvestres ou giestas amarelas.
Sempre a hora que tarda em acontecer... Sempre a vontade adiada de ser... que ser dá muito trabalho e pouco dinheiro...
Agradece-se que o verão aconteça simplesmente como simplesmente se nasce (Será?).
Se simplesmente se nascesse e tudo acontecesse porque sim, decretaria sempre primavera amena e soalheira, mar calmo e benfazejo, praias de areia branca e quente sob os pés calejados das muitas caminhadas. Poderíamos banhar-nos nas quentes lágrimas deste povo português que muitas salgou este oceano de penas e mágoas.
E o meu olhar comprazer-se-ia nos verdes novos de todas as primaveras que sendo sempre as mesmas, são únicas e irrepetíveis.
Se esta saudável leveza das coisas pudesse voar nas frágeis asas de uma borboleta azul...
Mara Cepeda
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