Em casa estavam a minha mãe com o meu
irmãozinho e a tia Joaquina que se afadigava a acabar de arrumar as coisas para
a mudança. Entrámos. Os meus primos começaram a mostrar-me os seus brinquedos.
Eu estava deslumbrada. Nunca tinha visto nada assim. Os meus brinquedos
resumiam-se a uma boneca de trapos
A
casa era pequena. Um quarto, uma sala, uma cozinha. Um banheiro fora de casa… A que tínhamos deixado na aldeia tinha quatro quartos, duas salas, uma
cozinha enorme e uma casa de banho com banheira. Estranhei.
O
meu tio Alfredo e família mudaram-se nesse dia para uma nova residência, deixando-nos
a que ficava nas traseiras da lanchonete. O tio Joel viveu, durante algum
tempo, connosco. Mudou-se depois de comprar o seu primeiro negócio. Pouco
depois casou e foi construindo a sua vida.
O
meu pai e o tio Alfredo continuaram sócios até à morte do meu tio.
Não
sei se estava preparada para viver noutro país, numa cidade enorme, com usos e
costumes tão diferentes dos meus, com uma língua parecida mas não igual… e as
pessoas? Felizes, alegres, comunicativas, simpáticas, empáticas, enfim…
diferentes.
O
meu pai foi matricular-me num colégio perto da lanchonete. Antes de irmos para
São Paulo eu tinha acabado o segundo ano de escolaridade. Deveria ser
matriculada no terceiro ano. Não foi o que aconteceu. A professora achou melhor que eu frequentasse o mesmo ano. Se eu fosse boa aluna, frequentaria o terceiro.
“Vai
ver senhora professora que a minha menina é inteligente. Falamos daqui a um
mês. Me vai dar razão.”
“Veremos
senhor José… sabe que foi uma mudança muito grande pra menina.”
Eu
assistia à conversa deliciada com a maneira de falar da professora, mas o que
mais me encantava era o seu aspecto. Alta, cabelo perfeitamente penteado, bem maquiada,
batom vermelho nos lábios e umas maravilhosas unhas compridas, também pintadas
de vermelho. Nunca, na minha curta vida, vira uma mulher assim. Antes de me
apaixonar pela escola, apaixonei-me pela professora.
“Então
até amanhã senhora professora.”
“Até
amanhã Sr. José. Chau Ana Clara.”
Maria Cepeda