quarta-feira, 24 de junho de 2020

CAMINHOS

se a vida segue um caminho certo, 
porque razão é tão tortuosa, 
com tantos desvios,
desníveis,
declives, 
desvarios?

o destino não é uma reta.
antes vários segmentos de reta
várias linhas curvas
tempestades
trovoadas
chuvas...

talvez sol
calor
sede
fome
dor

algum amor
muitas pedras
tantas pedras
tanta dor
"tinha uma pedra no meio do caminho"

se a vida é certa
definitiva é a morte
o fim
o infinito
poeira cósmica
último grito

Maria Cepeda  

quinta-feira, 4 de junho de 2020

Lançado concurso público para Museu da Língua em Bragança


A obra tem prazo de execução de 18 meses e deve estar concluída em 2022

O projecto do Museu da Língua Portuguesa em Bragança está pronto para ir a concurso público internacional e o município espera que as obras nos antigos silos da EPAC comecem dentro de seis meses.
O concurso público para a obra, orçada em 9,5 milhões de euros mais IVA, vai agora ser lançado depois de terem sido aprovadas todas as peças do procedimento do projecto na reunião de câmara da última semana.
“Pretendemos, no mês de Novembro, poder estar a iniciar a construção e terminá-la no ano de 2022, já que a obra tem um prazo previsto de 18 meses”, avançou o autarca brigantino Hernâni Dias.
O projecto já conheceu vários avanços e recuos desde que foi anunciado. O presidente da câmara frisa que este “é um processo muito complexo”, recordando as dificuldades da aquisição do espaço à Direcção Geral do Património, onde vai ficar instalado, que demorou “cerca de ano e meio”. Foi necessário fazer vários estudos, como o de viabilidade económica e financeira, obrigatório por se tratar de um projecto de mais de 5 milhões de euros, ou o relativo ao trabalho científico para a base dos conteúdos, que foi encomendado ao Instituto Politécnico de Bragança e o concurso de ideias para a construção. Nesta etapa, gerou-se um atraso no processo, já que foi a contestado o concurso para o projecto da obra. O autarca referiu que a câmara acabou por ser ilibada em tribunal. “Uma das empresas concorrentes, não por razões técnicas mas por razões, posso dizer, políticas, tentou criar alguns problemas e introduzir alguma polémica neste processo. Apelou para os tribunais e o município de Bragança foi absolvido, já em 2018, pelo Tribunal Administrativo e Fiscal de Mirandela”, sublinhou.
O Museu da Língua Portuguesa será um equipamento único em Portugal, sendo por isso considerado pelo município como marcante não só para Bragança, mas também para a região e para o país.

Jornalista Olga Telo Cordeiro

Olhar o Nordeste a partir da auto-estrada (editorial do Jornal Nordeste, 2 de junho de 2020)

Foi do melhor que nos podia ter acontecido, a concretização, vai para sete anos, da auto-estrada transmontana, a tal estrada da justiça, como a definiu um Primeiro-ministro que tem deixado o país ruborizado pela vergonha do que terá feito e do que seria capaz de fazer, se não tivesse caído em desgraça, sem direito a um qualquer purgatório.
Vale a pena lembrar que pouco antes se concluíra o IC5 (Alijó-proximidade de Miranda do Douro), mas também o troço do IP2 entre a Vilariça e Bornes, que nos aliviou do serpentear agoniante que suportámos décadas sem fim, quando Lisboa ficava a um dia inteiro de tortura.
É certo que em 2013 ainda não se dominavam as entranhas do Marão, uma conquista que, chegada mais cedo, talvez tivesse permitido que outro galo cantasse ao sol nascente por estas terras.
Circular pela A4 é uma comodidade que há 50, 40 ou 30 anos, não cabia na cabeça da maior parte dos nordestinos, mesmo dos que já conheciam as “auto-routes” e as “autobahnen”, onde nem havia limite de velocidade, talvez uma forma de propaganda às marcas da indústria automóvel alemã, esse potentado discreto, construído com o apoio dos que tiraram o pio às proclamações histéricas dos nazis e do seu maior protagonista, essa figura diabolicamente inquietante que foi o cabo Adolfo.
Não lhes cabia na cabeça porque durante décadas se habituaram às veredas, ao pó dos caminhos, às poldras para saltar ribeiros, até bater as solas ao chegar ao macadane, antes de subir para a carroçaria de uma camioneta com bancos de pau duro, como acontecia na segunda e terceira classes dos comboios com vagar, rivais dos sinos das igrejas a marcar o ritmo dos dias, onde os havia.
Mas hoje aí está a auto-estrada. Enquanto se percorre é possível pensar, para além das certezas de chegar ao destino em tempo e em condições de segurança, enquanto se observam as mudanças na paisagem, para o bem e para o mal.
É notável o que se pode ver em plena Terra Quente, até à envolvência de Murça, já no distrito vizinho. Olivais e vinhas ordenados, adaptados à exploração mecanizada racional, surgem a cada passo, justificando o sucesso de azeites e vinhos da região por esse mundo além, com proveito para os seus proprietários, mas também para a economia regional e para essa coisa difusa que é a esperança no futuro.
Já o mesmo não se dirá da Terra Fria, onde se sente a secura do abandono, a dar lugar ao mato rasteiro, estevas e giestas a fazer o que podem para lhe dar cor e atenuar o desânimo com o seu aroma intenso.
Há ainda o que dali não se vê, mas que se vive, um pouco mais longe, no nordeste profundo, onde já desapareceram os tagalhos de ovelhas e cabras, as vacadas são memórias, nas lojas de cevados não se ouve roncar e o que sobra é o tlintar desengonçado de motores a diesel de carripanas que, por Outubro e Novembro, vão carregando sacas de castanhas à porta de gente encanecida, que dá graças a Deus por lhas tirarem de casa.
P´ró que lhe havia de dar hoje, dirão alguns. E têm razão. Podendo ir ao Porto arejar e sentir o bafo da cidade a sério, só um tolo é que se dedica a estas tontices.


Escrito por Teófilo Vaz, Diretor do Jornal Nordeste
Retirado de www.jornalnordeste.com 

segunda-feira, 1 de junho de 2020

DIA DA CRIANÇA


Criança, hoje é o teu dia,
Do nascer ao pôr-do-sol.
Dia cheio de alegria,
Como um grande girassol.

Girassol que brilha ao sol,
Com os seus raios se aquece,
Contente como o rouxinol,
Sorri ao doce calor que merece.

Tu, criança, tudo podes ser:
Uma bela flor, um barco no mar,
Veloz, feliz, as ondas a revolver,
Golfinhos às cambalhotas a nadar,

Estrelas no céu até ser dia,
Bravo alpinista a subir o Evereste,
Cientistas contra a pandemia,
Prontos a aplicar o teste.

Ser criança é dispor do mundo,
Com a sua força e o seu poder
É magia, é ir mais fundo,
Sem ter medo de perder.

Ser criança é ser como tu és.
É ser aquilo que quiseres.
É, na Lua, dar pontapés
É fazer tudo o que puderes!  

1 de Junho de 2020
Mara Cepeda