quarta-feira, 21 de março de 2018

A SEARA DO JOIO TRIUNFANTE (Editorial do Jornal Nordeste - 20-03-2018)

Quando já não parece possível que o descaramento triunfe numa sociedade que se pretende informada, atenta, vigilante e mesmo vigorosa na erradicação das ameaças à justiça, à equidade e à dignidade que o sistema democrático exige, há notícias que nos atingem como raios de uma trovoada final, arrasadora de todas as esperanças no futuro do país e da humanidade.
Estranhamos Trump e outros títeres, espantamo-nos com Maduro mas, afinal, basta abrirmos a porta de casa para percebermos que, também aqui, na seara da nossa política o bom grão está a ser asfixiado pela cizânia, o joio que inspirou antiga parábola, que não logrou aproveitamento da lição para que florescesse o lado melhor da condição humana.
A tendência para a mesquinhez, o videirismo e a vigarice despudorada parece campear neste país onde, no entanto, se proclamam, sem cessar, as virtudes da cidadania, da solidariedade e da honra.
Não se encontra explicação para esta contradição manifesta senão que a sociedade está infestada de indivíduos que se vão aproveitando da boa fé dos outros para lograr vantagens e estatutos que não merecem. Por vezes beneficiam mesmo de alguma tolerância com a ousadia, que fascina a venalidade estrutural dos cobardes.
Uma das expressões mais habituais do oportunismo destes tempos democráticos é o aldrabar das habilitações literárias, o que constitui um novo paradoxo numa sociedade que tem vindo, aparentemente, a desvalorizar o percurso académico e a fazer chacota com os títulos que as universidades conferiram ao longo de séculos.
Na verdade, quanto mais afoitos a diminuir os doutores, mais propensos a ostentar diplomas, anéis de curso e outros aviamentos de superfície, talvez porque, afinal, o povão até gostaria de ter respeito por quem estuda, investiga e sabe alguma coisa para além do senso comum, apesar de os negócios e o enriquecimento não passarem propriamente por gastar os fundilhos nos bancos das universidades.
Pior ainda. Para chegar a tais diplomas e anéis de predrarias coloridas, quando não se garantiram níveis mínimos de conhecimento, foram surgindo universidades de esquina, que distribuíram diplomas “à rebanhica”, com o que se legitimou todo o tipo de torpezas. É interessante verificar que desses estancos irromperam licenciados e doutores de que a história registará a desvergonha, mas que contribuíram, pela sua ignorância e falta de escrúpulos, para encher de lama o país.
O último, por agora, é o caso do tipo que chegou a secretário-geral do PSD, licenciado com 11 por uma universidade privada, onde depois fez mestrado com 18, concedido por um júri de curiosa constituição, que falsificou o currículo e foi secretário de Estado de um tal Miguel Relvas, que viu anulada uma licenciatura, conseguida também numa universidade privada. Por caminhos semelhantes andou a licenciatura abstrusa de José Sócrates e as de outros que virão ao de cima, se não tomarem consciência de que é tempo de a dignidade voltar a orientar a condução das vidas dos cidadãos de um país que não merece as humilhações a que o têm sujeitado.

Escrito por Teófilo Vaz, Diretor do Jornal Nordeste
Retirado de www.jornalnordeste.com

terça-feira, 20 de março de 2018

PRIMAVERA



Devagar, devagarinho,
Vai chegando a primavera.
Vem muito de mansinho
Quem há muito se espera
Mas vem para ficar
Pois é tempo de semear.
Ventosa e arisca, mas não breve,
como quem marca posição,
trouxe com ela granizo e neve
chuva também, nunca verão.

Sabemo-la benfazeja e florida.
Que abrilhante a nossa natureza
 E que tudo resplandeça de vida.
O verde primaveril estende a sua beleza
Cobrindo, com leve manto, duendes e fadas
Que laboriosamente, colhem flores em braçadas
Para entregar aos meninos e meninas,
Com olhos de sonho, onde se reflete o sol.
Com o seu leve toque de sedas finas
Envolve os mais pequeninos, num enorme lençol.

É primavera! Vem esbaforida e gaiteira
Como tela colorida numa qualquer prateleira
De um quarto de menina ou em qualquer museu.
Parece que o inverno, não quer ir embora não.
Que fazer? Vamos lá! Chegou a hora, pois então?
Agora a casa é dela. Nada se pode fazer.
Faz a mala, vai andando. Agasalha-te que está frio.
O calor tarda a chegar. Fecha o quarto que foi teu.
Deixa a primavera entrar, não vá o campo ficar vazio.
Também o outono se foi quando o inverno chegou
De luvas e cachecol, de sobretudo e galochas.
E logo fez frio e vento e chuva e levemente nevou
E toda a bicharada: formigas, abelhas, lesmas, carochas…
Foi dormir aconchegada na sua fofa caminha
Que isso de andar ao relento, não tem piada nenhuma.
E ela vem fria, agora. Amanhã… amanhã é um novo dia!


MARIA CEPEDA (poema e fotos)

domingo, 18 de março de 2018

Edifícios Municipais de Alfândega da Fé às escuras para salvar o planeta


O Município de Alfândega da Fé vai voltar a associar-se à iniciativa Hora do Planeta como protesto contra as alterações climáticas. 

No dia 24 de março, entre as 20.30h e as 21.30h o edifício dos Paços do Concelho, o edifício “Câmara Antiga”, a Casa da Cultura Mestre José Rodrigues e a Biblioteca Municipal vão ficar às escuras durante uma hora. Um gesto simbólico que é o reflexo da preocupação da autarquia com a sustentabilidade de recursos e com a proteção ambiental e que ao mesmo tempo pretende alertar consciências, incentivando os munícipes a juntarem-se a esta iniciativa.
A Hora do Planeta começou em 2007 em Sidney, na Austrália, quando 2,2 milhões de pessoas e mais de 2.000 empresas apagaram as luzes por uma hora numa tomada de posição contra as mudanças climáticas.
Nesta iniciativa da organização não-governamental WWF -World Wide Fund for Nature participaram, em 2017, 180 países e mais de 9000 cidades e vilas. Em Portugal, 145 municípios aderiram e centenas de monumentos emblemáticos nacionais ficaram às escuras, como a Ponte 25 de Abril, o Mosteiro dos Jerónimos e o Cristo Rei.
Chamar a atenção para questões relacionadas com o aquecimento global, mas também para a necessidade adotar comportamentos sustentáveis, em prol do planeta e da qualidade de vida das gerações futuras é um dos principais objetivos de movimento global. Ao nível local a autarquia de Alfândega da Fé tem demonstrado a sua preocupação com as alterações climáticas tendo em marcha uma estratégia para a mitigação dos seus efeitos, como os projetos Life Adpatate e NetEfficity e a implementação do Plano Estratégico de Adaptação às Alterações Climáticas. 


IPB entrega as primeiras IPBikes

Na passada sexta-feira, 16 de março, o Instituto Politécnico de Bragança (IPB) entregou as primeiras as bicicletas elétricas no âmbito do projeto IPBike. 

Este projeto está inserido num programa de âmbito nacional de promoção da mobilidade ciclável em meio académico, que visa incentivar a adoção de hábitos mais sustentáveis em termos de mobilidade. São 15 as instituições de ensino superior em Portugal envolvidas e o IPB foi a primeira instituição a lançar o projeto.
A ideia é que a comunidade académica troque o automóvel pela IPBike, contribuindo assim para a melhoria da condição física, promoção do bem-estar e da saúde do ambiente.
A utilização de uma IPBike requer um registo inicial de adesão, via internet, podendo ser realizado durante todo o ano, por qualquer elemento da comunidade académica do IPB. Com vista à boa conservação das IPBikes e garantia de segurança na sua utilização, o IPB assegura a contratualização de seguro de responsabilidade civil e prestação dos serviços de manutenção para todas as bicicletas.
O IPBike faz parte do programa nacional U-Bike Portugal, coordenado pelo Instituto da Mobilidade e dos Transporte, com o objetivo de melhorar o ambiente urbano e a qualidade de vida, associada à utilização das bicicletas em substituição de veículos motorizados.
O IPB disponibiliza 100 bicicletas elétricas, que poderão ser utilizadas pelos seus alunos, funcionários e investigadores por períodos de 6 a 12 meses.
A cerimónia de entrega das primeiras IPBikes decorreu sexta-feira, 16 de março, a partir das 11H, na Biblioteca da Escola Superior Agrária (ESA). 

Retirado de www.noticiasdonordeste.pt

Alcançado acordo para comboio regressar à linha do Tua

 Já existe acordo para comboio voltar à linha do Tua. Quem o afirma é o presidente da Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua (ADRVT), Fernando Barros, que anunciou que foi alcançado o acordo que acaba com o impasse do regresso do comboio à desactivada ferrovia. 

Segundo noticia a Agência Lusa, o acordo vai ser formalizado até ao final do mês e resultou de uma reunião que Fernando Barros teve na Secretaria de Estado das Infraestruturas. Segundo o responsável actual pela ADRVT o Plano de Mobilidade Turística e Quotidiana, vai ser mesmo implantado dentro de um curto espaço de tempo.
A ADRVT vai ser a concessionária e gestora do plano e o Governo assegurará o financiamento da manutenção da Infraestrutura física da linha, através da empresa Infraestruturas de Portugal (IP), que é a verdadeira proprietária deste equipamento e assumirá no futuro as responsabilidades técnicas pela funcionalidade da mesma.
Não foram revelados os valores que vão ser disponibilizados do erário público. Segundo a Lusa, “Fernando Barros escusou-se a adiantar os valores que o Estado irá disponibilizar para a manutenção, remetendo pormenores para a data da formalização do acordo, que aponta para o ‘final do mês de Março’”.
Agora só falta concluir os testes de segurança em curso ao novo material circulante para o empresário Mário Ferreira explorar em comboios turísticos os cerca de 30 quilómetros que restaram da linha do Tua, entre Mirandela e a Brunheda.
O complemento ao comboio será feito com passeios de barco na nova albufeira da barragem. A Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua assegura cada vez mais as responsabilidades inerentes à concretização plano de mobilidade, e por todos os projectos de desenvolvimento implementados no território afectado pela construção da barragem, estando nesta entidade representadas a EDP e os cinco municípios da área da albufeira, nomeadamente Vila Flor, Mirandela, Carrazeda de Ansiães, Alijó e Murça.

Retirado de www.noticiasdonordeste.pt

Estudo internacional indica caminhos para mitigar os efeitos das alterações climáticas na agricultura


Os eventos climáticos extremos «vão ser cada vez mais frequentes e de maior duração e os agricultores vão ter de se adaptar, encontrando novas formas de gestão agrícola e agroflorestal por forma a tornar este setor mais resiliente às alterações climáticas», afirma o cientista José Paulo Sousa, do Centro de Ecologia Funcional da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), coordenador de uma equipa de investigadores portugueses que participa no estudo internacional ECOSERVE, que está a avaliar os efeitos das alterações climáticas nos processos biológicos do solo. 

Uma medida para mitigar os efeitos de eventos climáticos extremos, nomeadamente períodos prolongados de seca, revelam os primeiros resultados do estudo, passa pela utilização de variedades de plantas cultiváveis com as caraterísticas mais adequadas para promover o sequestro de carbono no solo, de modo a aumentar o uso eficiente da água e dos nutrientes. Um maior teor de carbono no solo implica uma maior capacidade de o solo reter água e disponibilizá-la para as plantas, logo menor é a necessidade de rega. 
O trabalho científico, publicado na revista “Journal of Applied Ecology”, comprovou, também, que o tipo de agriculta praticada influencia o sequestro de carbono no solo. Segundo os investigadores, os sistemas de cultivo orgânicos, sistemas em que a utilização de químicos é muito reduzida e onde os resíduos de uma cultura são utilizados como fonte de matéria orgânica para a cultura seguinte, originam maiores stocks de carbono no solo do que sistemas de cultivo convencionais.
Este facto, explica José Paulo Sousa «está intimamente relacionado com as caraterísticas das espécies cultivadas, especialmente com a facilidade com que os resíduos destas espécies se decompõem e são posteriormente incorporados no solo», ou seja, «temos espécies ou variedades que influenciam de forma positiva a quantidade e qualidade dos stocks de carbono no solo.»
Através de uma meta-análise global, complementada com medições em campo, a equipa relacionou as «caraterísticas de diferentes espécies cultivadas com as respostas dos stocks de carbono nos dois tipos de cultivo, tendo encontrado relações significativas entre a presença de espécies que originam resíduos da cultura mais recalcitrantes, normalmente utilizadas em cultivos orgânicos, e maiores stocks de carbono», observa o também docente da FCTUC.
Estas conclusões são relevantes porque «fornecem pistas para possíveis medidas de mitigação dos efeitos de alterações climáticas na agricultura. Ao utilizar variedades de espécies cultiváveis com as caraterísticas apropriadas, os agricultores podem mitigar estes efeitos, aumentando o stock de carbono no solo, logo aumentando o uso eficiente da água e dos nutrientes», conclui José Paulo Sousa.
O estudo ECOSERVE envolve, além da equipa da Universidade de Coimbra, investigadores de Espanha, França, Holanda, Suécia e Suíça.


CIM-Terras de Trás-os-Montes preocupada com a deterioração dos serviços de distribuição Postal no Território


A Comunidade Intermunicipal das Terras de Trás-os-Montes está preocupada com a deterioração dos serviços de distribuição Postal dos CTT no território. 

A reorganização de serviços, levada a cabo pela empresa, tem conduzido a vários constrangimentos num processo de decisão unilateral que põe em causa os princípios do serviço público a que esta está obrigada.
O último caso prende-se com o encerramento do Centro de Distribuição Postal de Vimioso, fechado desde 26 de fevereiro, passando a distribuição a fazer-se a partir de Miranda do Douro. Facto que levou a autarquia de Vimioso a apresentar na última reunião do Conselho Intermunicipal uma Moção, aprovada, por unanimidade, em Reunião de Câmara, onde questiona e condena este encerramento.
No documento demonstra também o descontentamento por não ter sido ouvida no processo, manifesta a sua preocupação pela diminuição do serviço prestado e expõe a sua apreensão relativamente ao futuro da Loja dos CTT de Vimioso. A Câmara exige ainda “a imediata reabertura do Centro de Distribuição Postal de Vimioso, o reforço de carteiros e a melhoria da generalidade dos serviços.”
Esta posição foi subscrita por todos os membros do Conselho Intermunicipal, que na altura demonstraram também o seu descontentamento com a outras questões relacionadas com os serviços de distribuição postal dos CTT no território. Consideram que este tem vindo a piorar, colocando em causa um serviço público considerado essencial para a população. Às queixas dos munícipes, somam-se os atrasos recorrentes na distribuição e a não entrega de correspondência caso a morada esteja incompleta, mesmo que, em muitos dos casos, os distribuidores conheçam os destinatários.
Os autarcas temem que se esteja perante um processo que conduza ao esvaziamento de serviços, com claro prejuízo para as populações. Requerem a reposição do serviço encerrado e a intervenção das entidades competentes tendo em vista a melhoria dos serviços prestados. A Comunidade Intermunicipal vai fazer chegar esta posição à administração dos CTT, à entidade reguladora e Assembleia da República. 


“Cantos da Quaresma” em Macedo de Cavaleiros


igreja de São Pedro, em Macedo de Cavaleiros, recebe no próximo dia 28 de março, às 21:30 horas, "Cantos da Quaresma", uma produção daSons Vadios”  , que invocam neste recital musicas essencialmente vocais.
"A Quaresma representa na tradição musical portuguesa um período de sublimação. Saídos da folia do Entrudo, seguem-se quarenta dias de abstinência e reflexão. Ausentes os bailes, calados os instrumentos musicais e até o toque dos sinos, a música tradicional portuguesa incorporou a religiosidade profunda da época quaresmal, geradora de formatos musicais essencialmente vocais, pungentes e profundamente belos: encomendações das almas, martírios, loas, alvíssaras. Cantos da Quaresma faz de tal repertório motivo de espectáculo e junta no palco César Prata e Sara Vidal".
César Prata, voz, sanfona, adufe, guitarra, hangdrum, kalimba, ponteiro e saltério
Sara Louraço Vidal, voz, harpa celta e adufe

Retirado de www.noticiasdonordeste.pt


terça-feira, 13 de março de 2018

MUNICÍPIO DE BRAGANÇA ESPERA CANDIDATAR TRÊS BARRAGENS AINDA EM 2018


Autarca lamenta que projectos do concelho não tenham sido contemplados por apoio ao regadio anunciado pelo ministro da Agricultura.
Os projectos das barragens de Parada, Rebordãos e Macedo do Mato, no concelho de Bragança, estão no processo de estudo para poderem ser realizadas as respectivas candidaturas. Deverá ser constituída uma junta de regantes, para que a candidatura possa ser apresentada, sendo um trabalho de parceria realizado em colaboração com as Juntas de Freguesias e os agricultores. “Relativamente às barragens estamos neste momento a fazer o trabalho prévio, para depois podermos efectuar as candidaturas. Em princípio haverá candidaturas até ao final do ano corrente e estamos a preparar toda a parte administrativa, com a constituição das juntas de agricultores, para que depois possamos formalizar o processo”, esclareceu Hernâni Dias na última Assembleia Municipal.
O autarca lamentou que estas barragens não estejam incluídas no plano de investimento de mais de 50 milhões de euros para o distrito de Bragança que o Ministro da Agricultura, Capoulas Santos, anunciou recentemente, já que o município tinha identificado junto da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN) estes projectos como prioritários. No caso da barragem de Parada falta constituir a junta de regantes, mas esta “é a que reúne melhores condições para ser aprovada no imediato” e no caso do projecto de Rebordãos, o estudo prévio foi já realizado pelo município.

Zona industrial
Também na Assembleia Municipal de Bragança, o presidente do município foi questionado acerca do atraso na alienação dos lotes da nova zona industrial. Segundo Hernâni Dias, devido a alteração “nas regras por parte do governo”, vai ser necessário reformular a candidatura, para depois ser possível proceder à alienação dos lotes.
“Houve a necessidade de formalizar novamente a candidatura e houve alterações nas regras relativamente à questão do financiamento, que nos obrigam também a alterar o que estava inicialmente pensado no que toca à alienação dos lotes. Estamos a trabalhar neste processo para responder de forma rápida. Na parte da infra-estruturação não existe nenhum problema e está tudo praticamente resolvido”, destacou o presidente da Câmara, que assegura que as obras estão a decorrer a bom ritmo.

AM contra recondução do Plano de Ordenamento do Parque Natural de Montesinho
A Assembleia Municipal de Bragança aprovou, por maioria, uma moção que pede que seja anulada a recondução do actual plano de ordenamento do Parque Natural de Montesinho (POPNM). As restrições às actividades agrícolas, cinegéticas, desportivas e recreativas impostas pelo plano, que entrou em vigor em 2008, são muito contestadas pela população abrangida pela área protegida.
O deputado municipal do PSD, Paulo Preto, foi um dos proponentes da moção e explica que se pretende criar pressão para que haja uma revisão efectiva do plano de ordenamento. “É uma tomada de posição relativamente à recondução do POPNM. Não estamos de acordo, porque tem lesado, nos últimos 10 anos, as populações e o desenvolvimento económico local. A recondução do plano, tal como se encontra, não é viável”, defende Paulo Preto.
Também o presidente do município reiterou a importância de se impedir que o plano seja reconduzido. Para Hernâni Dias não pode ficar tudo na mesma na gestão do parque natural, que abrange os concelhos Bragança e Vinhais.
“É algo que nós temos vindo a contestar há muito tempo. E hoje, e bem, em Assembleia Municipal foi aprovada uma moção, no sentido de tentar que o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) reverta essa intenção de recondução, obrigando a uma revisão do POPNM, dando efectividade às preocupações dos cidadãos”, disse Hernâni Dias.
A moção, aprovada com um voto contra e uma abstenção, vai agora ser enviada ao Ministério do Ambiente, ICNF e à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte.

Escrito por Jornalista: Olga Telo Cordeiro
Retirado de www.jornalnordeste.com

O SERMÃO DA TIA MANUELA AOS PATEGOS (Editorial do Jornal Nordeste, Bragança)

Com púlpito cativo numa das televisões, esta senhora integra uma espécie de senado imaginário, uma câmara dos lordes informal, já que os pares do reino perderam o assento quando Manuel II embarcou na Ericeira para o exílio britânico.
Manuela Ferreira Leite é figura do regime, que continua a andar por aí. Há quem lhe aprecie a secura, o sentido prático de guarda-livros a lidar com o deve e haver, as palavras duras para a democracia e, especialmente, para alguns correligionários, que não se livram das suas proclamações e sentenças a raiar a acrimónia rabugenta da patroa para a criadagem.
É verdade que já houve jovens que lhe mostraram acintosamente o traseiro e, por isso, foram considerados de uma geração rasca. Alguns anos depois talvez tenham aplaudido propostas da tia, para que o mundo, seguro e tranquilo, não fosse posto em causa por radicalismos ainda mais estonteantes.
Entretanto, a respeitável senhora já não gasta tempo nem rancores com rabos alçados contra o pagamento de propinas, aliás paulatinamente instaladas, tornadas consensuais, mesmo virtuosas para o funcionamento do ensino superior público. Vale a pena lembrar que tudo aconteceu no tempo em que proliferaram universidades privadas nas grandes urbes, empresas efémeras, mas que garantiram chorudos lucros para grupos de “empreendedores” que se mudaram para outros ares, depois de embolsar milhões, pagos por todos nós. De facto, em nome da igualdade no acesso ao ensino superior, os alunos que frequentavam as universidades privadas tiveram direito a subsídios ao longo dos cursos, apesar de graves dúvidas sobre a qualidade da formação ali ministrada.
Podia ter-se feito de outra maneira para proveito do país, criando uma rede de ensino superior que ajudasse a inverter os desequilíbrios territoriais, mas águas passadas não movem moinhos.
Quando, recentemente, o ministro Manuel Heitor anunciou uma pequena redução de vagas nas universidades de Lisboa e Porto, a redistribuir pelo interior, Manuela Ferreira Leite não resistiu e ironizou, declarando que se tratava de medida ingénua e ineficaz. Alegou que tal decisão só prejudicaria os menos favorecidos do litoral, porque os que tivessem meios rumariam a Londres ou inscrever-se-iam numa qualquer universidade privada.
Isto demonstra o distanciamento da senhora relativamente ao país. Compreende-se que menina fidalga, que estudou em casa, com preceptor, até ao fim do primeiro ciclo dos liceus, habituada ao séquito de serviçais, não vislumbre senão Londres para atingir graus académicos e prestígio entre seus pares, por entre gritinhos e suspiros à hora do chá, no Restelo, é claro.
Mas, quando nos lembramos que foi ministra da educação e das finanças e liderou o partido que ainda é o mais votado deste país, deixamo-nos de cerimónias e dizemos à dama que o país é muito mais que a marginal do Tejo e o aeroporto da Portela seria um bom lugar para se despedir, a caminho das neblinas da velha Albion, onde poderá integrar uma qualquer brigada do reumático, em vez de continuar por cá a tratar-nos como um bando de pategos.

Escrito por Teófilo Vaz, Diretor do Jornal Nordeste
Retirado de www.jornalnordeste.com

segunda-feira, 12 de março de 2018

A ULS NORDESTE VAI RECEBER 21 MÉDICOS ESPECIALISTAS


Os hospitais de Mirandela, Macedo de Cavaleiros e Bragança vão receber 21 médicos de especialidade. Mas nem todas as áreas necessitadas vão ter soluções, nomeadamente a fisiatria.
A Unidade Local de Saúde do Nordeste (ULSN) vai receber 21 médicos de especialidade em 16 áreas diferentes. No entanto, nem todas as necessidades diagnosticadas pela ULSN foram contempladas, como é o caso da especialidade de fisiatria. O anúncio foi realizado por despacho do Ministério da Saúde, no passado dia 28 de Fevereiro, nas áreas hospitalar e de saúde pública. 
As solicitações foram atendidas em mais de 60% relativamente às necessidades, dado apontado por Eugénia Parreira, directora clínica dos cuidados hospitalares da ULSN, e foi uma “boa resposta”, apesar de serem necessários mais médicos especialistas.
Existem áreas críticas na ULSN, referiu a directora clínica, como a medicina interna, que foi contemplada com três elementos profissionais sendo uma área “fundamental” e “nuclear” num hospital. A nefrologia vai receber um médico, assim como a ortopedia e a oftalmologia, especialidades também consideradas críticas pela directora. 
A fisiatria não foi contemplada e existe um tempo de espera bastante longo. Na área de Ginecologia/Obstetrícia também existe uma carência de médicos.
 O “quadro médico está a ficar muito envelhecido” e era necessário também existir investimento em equipamento, apesar de os concursos já se encontrarem em processo”, desabafou Eugénia Parreira. 
As especialidades médicas que foram contempladas e o respectivo número de médicos que a ULSN vai receber são: Anestesiologia (2), Cirurgia Geral (2), Ginecologia/Obstetrícia (1), Medicina Interna (3), Nefrologia (1), Neurologia (1), Oftalmologia (1), Ortopedia (2), Otorrinolaringologia (1), Patologia Clínica (1), Pediatria (1), Pneumologia (1), Psiquiatria (1), Radiologia (1), Urologia (1) e Saúde Pública (1). Relativamente à medida que o ministro Adjunto, Pedro Siza Vieira, referiu na sexta-feira passada, em Mirandela, dando conta que uma das medidas de apoio ao interior já permitiu a fixação de 150 médicos, Eugénia Parreira, disse que não possuía essa informação. 
No entanto, Eugénia Parreira gostaria de receber muitos mais médicos na ULNS com vontade de desenvolver um projecto de vida nesta área profissional na região. 

Escrito por Jornalista: Maria João Canadas
Retirado de www.jornalnordeste.com

JÁ NÃO HÁ GADO BOVINO EM MUITAS ALDEIAS DO NORDESTE TRANSMONTANO



O Jornal Nordeste visitou as aldeias de Aveleda, Vale de Lamas e São Julião. Procurámos criadores de gado bovino. Não encontramos.
Está um dia quente para a altura do ano em que nos encontramos. Os termómetros marcam a temperatura de 15º C, o que parece impossível. Um anúncio da Primavera antecipada. Estamos em pleno Parque Natural do Montesinho, numa aldeia que se chama Aveleda, no concelho de Bragança. Estacionamos o carro e encontramos o pequeno Gabriel, de 12 anos e perguntamos se ele se lembra de na aldeia existirem vacas e bois. Ele responde que sim. Questionámos há quanto tempo e ele não sabe precisar. Mas o facto é que neste momento já não há perspectivas de se voltarem a ver. A aldeia de encantadora tem tudo, mas quase não tem habitantes. Ao encontrarmos o Gabriel ficamos com um guia que nos vai mostrando todos os recantos da aldeia. Encontramos as senhoras da aldeia que foram à novena e estão de regresso a casa. A primeira que encontramos é a Virgínia Gregório de 84 anos. Vem “carregada” de preto, com o xaile para se proteger do frio (que não se nota, o frio). Abre-se um sorriso e dizemos ao que viemos. Conta, na sua simplicidade, que em tempos teve cerca de seis vacas turinas, “daquelas que dão leite”, mas também tive vitelos “no Cachão diziam que os meus vitelos eram os melhores da região”. Continuamos o nosso caminho e mesmo ao pé da ponte, é Ana Rodrigues que nos recebe de braços abertos. É habitante da aldeia e a sua casa situa-se mesmo ao lado da ponte. Conta que em tempos, aliada à actividade de comerciante, pois teve uma pequena mercearia na aldeia, tinha duas juntas de vacas turinas. Conta que teve de se desfazer delas porque já não tem capacidade para as tratar. A aldeia, de momento, conta com cerca de 50 habitantes, disse Ana Rodrigues. Na mesma aldeia encontramos José Correia, que teve um vaca tourina que teve que deixar porque “a lida do dia-a-dia fez-me desfazer dela, assim como do cavalo”. Agora só tenho a burra e na aldeia só há cinco.
Dirigimo-nos para Vale de Lamas, neste domingo soalheiro. Mesmo ao chegar ao “cimo do povo”, em cima do tractor encontramos Rui Balesteiro, com 73 anos feitos. Em tempos teve uma vacaria, com cerca de 40 vacas produtoras e 20 vitelos para recria, conta. No entanto, teve que se desfazer deste negócio familiar, que laborou durante cerca de 10 anos, porque o leite foi desvalorizado e os custos de produção eram maiores, e com o avançar da idade optou por se desfazer da produção. “Eu até estava com boas médias, cerca de 1000 contos por mês.” “Era a empresa do Cachão que nos levava o leite”, contou. Mas associado ao facto de os pagamentos não estarem a correr certinhos, levou a que Rui deixasse aquela profissão, mas não abandonou a agricultura. Referiu que a agricultura para ele tem estado sempre esquecida e que só quem tem muita força de vontade é que consegue “viver disto”. Antigamente nesta aldeia, nos anos 60, na casa dos meus pais havia uma junta de bois e outra de vacas, que era com estes animais que fazíamos o todo trabalho agrícola. 
Mais abaixo na aldeia, no Centro de Convívio, estão sentados à conversa, na esplanada, dois amigos de longa data, Sebastião Pereira e Jorge Balesteiro. Só um ano de idade os separa. Um tem 78 anos e o outro 79. Toda a vida foram amigos. Falamos com o Sebastião, que conta que teve vacas: duas turinas, duas mirandesas e muitos vitelos. Conta-nos a sua história de vida com as lágrimas nos olhos. Deixou a actividade há cerca de 5 anos, mas continua a ser agricultor, com a mulher. Teve três filhos, mas nenhum se quis dedicar à agricultura. Contou que tratava muito bem do seu gado e “nunca passaram fome”. Relembrou que naquela aldeia, houve, em tempos, cerca de 50 juntas entre vacas e bois e que agora nem um burro existe na aldeia. O amigo Jorge, teve 4 vacas e dois porcos, mas teve que abandonar a criação há 30 anos, porque já não tinha mais forças para continuar a trabalhar na agricultura. Teve 2 vacas mirandesas e 2 turinas. Agora está sozinho em casa, viúvo e já faz as refeições no lar e passa as tardes no Centro de Convívio para se entreter. Tínhamos de lavrar tudo com as vacas, íamos à lenha com elas e não havia tractores”. Ficávamos ali uma tarde inteira, com tantas histórias de vida para contar. 
Mas ainda fomos a outra aldeia: São Julião. Entrámos na aldeia pela rua que nos parece ainda ter gente, porque as casas têm todas as persianas para baixo e apesar de serem cerca de 4h00 da tarde, dá a sensação que estamos numa aldeia fantasma porque não avistámos vivalma. Dentro de um baixo de uma casa está o Américo Cortinhas que saudamos. Perguntamos se podemos falar com ele e responde na maior simplicidade “se eu souber posso dizer”. Um homem de lavoura “com quase 74 anos”, conta que há bastante tempo que já não existe nem uma vaca, mas que em tempos na aldeia chegaram até às 200 crias. “Raro era o vizinho” que não tinha vacas. Na rua onde estamos relata que quase todas as casas estão vazias. No fundo da rua, vem Antónia Vara, esposa de Américo que vem rodeada do seu rebanho de ovelhas. Foi pastora toda a vida, tem 79 anos, quase a fazer 80. Contou que teve que se desfazer das suas “vaquinhas” por causa da doença do marido. Tiveram dois filhos. Um foi para Lisboa estudar para ser professor de inglês, mas acabou por ser PSP. O outro filho vive em Bragança, vai ajudando os pais mas não foi para a agricultura que se voltou. Indicaram-nos a última habitante da aldeia que teve vacas. Fomos ao alcance da Joaquina Lopes. Perto da sua casa, está uma senhora muda que mesmo assim nos consegue indicar a casa. Joaquina abre-nos a porta de casa, senta-se à lareira e oferece-nos figos. Conta-nos a sua história de vida, 67 anos de vida, cheia de altos e baixos e diz ela que dá um livro. Dos seus irmãos, foi a única que fez da agricultura a sua profissão, mas uma doença obrigou-a a desfazer-se das vacas. 

Escrito por Jornalista: Maria João Canadas

MINISTRO-ADJUNTO GARANTE QUE VALORIZAÇÃO DO INTERIOR “NÃO É UMA QUESTÃO DE MODA”


Responsáveis da Unidade de Missão para o Interior referem que cerca de 60% das medidas já estão no terreno.
1500 milhões de euros de investimento empresarial e 8000 postos de trabalho criados são alguns dos números que resultam das medidas de apoio ao interior.
O balanço foi feito pelo Ministro Adjunto, Pedro Siza Vieira, dia 2, em Mirandela, numa reunião do conselho consultivo da Unidade de Missão para a Valorização do Interior (UMVI). O governante acredita que a atenção e políticas de apoio ao interior não são apenas uma moda. “A valorização do interior e coesão territorial estão no programa de governo como pilares da governação. No final de 2017, os sistemas de incentivos empresariais com discriminação positiva a favor dos territórios de baixa densidade já tinham apoiado 1500 milhões de euros, com comparticipação de 844 milhões de euros, no interior, com a criação 8 mil postos de trabalho, desde grandes projectos até uma miríade de projectos ao abrigo do sistema de incentivos ao empreendedorismo e emprego. Temos que ver qual é o impacto que a prazo estas medidas vão começar a ter, mas seguramente não é uma questão de moda nem começou há seis meses”, frisou.
O Ministro Adjunto referiu ainda que através do incentivo à contratação de médicos já se fixaram de 150 clínicos em territórios carenciados.
O coordenador da UMVI, João Paulo Catarino, adiantou ainda que 60% das 164 medidas do Programa Nacional de Coesão Territorial foram já concretizadas e estão no terreno. “A prova de que as nossas medidas foram pensadas de forma sensata e exequível é que no fim deste ano e pouco temos 60% do plano concretizado, de medidas que estão hoje em vigor ou concretizadas”, destacou.

Falta de representação

O presidente da Câmara de Vila Flor, Fernando Barros, que esteve presente na reunião como convidado, alertou para a falta de representação de Trás-os-Montes na UMVI. Apesar de não considerar que tal seja “um mau sinal”, Fernando Barros deixa o alerta porque entende que a região devia “estar mais bem representada”. “O interior norte deveria ter uma grande representação porque é importante que problemas que existem sejam resolvidos, como a ligação do IC5 a Espanha”, sustentou.
Ainda assim, o presidente da câmara de Vila Flor, considera positivo que com a Unidade de Missão se esteja a “falar muito do Interior”.Perante o reparo, o ministro Adjunto explicou que “o conselho consultivo da Unidade Missão, quando foi criado em Dezembro de 2015, incluiu representantes dos parceiros sociais e dos territórios, da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) e das freguesias, a ANAFRE”.
Por sua vez, o coordenador da UMVI, João Paulo Catarino admite que “faria sentido, o poder local ter uma representação mais significativa”, mas explicou que quando a UMVI foi criada “o legislador terá entendido que a ANMP e a ANAFRE representariam neste órgão todas as comunidades e câmaras municipais”.
E perante os pedidos do autarca de Bragança de criação de um estatuto de interioridade para a região, com condições semelhantes ao de insularidade nas regiões autónomas da Madeira e dos Açores, Pedro Siza Vieira referiu apenas que “as regiões de baixa densidade já beneficiam de um conjunto de discriminações positivas nos sistemas de incentivos, fiscalidade, apoios à fixação de médicos e outros profissionais”, adiantando que o governo está “a trabalhar noutras medidas” e concluiu dizendo que “a regionalização das regiões autónomas não existe no continente por razões históricas e não vale a pena estar a discutir o assunto”.
Escrito por Jornalista: Olga Telo Cordeiro
Retirado de www.jornalnordeste.com

domingo, 11 de março de 2018

Projecto inovador para repovoar Alfândega da Fé


Trata-se de um projecto pioneiro no País que está em perfeita simbiose com o sector público e privado. Vai ser implementado como projecto-piloto na região de Trás-os-Montes, no concelho de Alfândega da Fé, e o objectivo é ser replicado por outros concelhos do Interior. 

O grupo ALFANDEGATUR, grupo privado detentor do Hotel&SPA , em parceria com a Câmara Municipal de Alfândega da Fé delineou uma estratégia para, por um lado, devolver o território à diáspora e por outro atrair investimento, fixando empresas e criando postos de trabalho.
Em causa está a requalificação do Hotel&SPA e a implementação do aldeamento turístico de 5 estrelas, Varandas de Trás-os-Montes, um investimento de 10 milhões de euros, com 17 moradias numa primeira fase.
Estas moradias serão autênticos centros interpretativos da memória das famílias das primeiras gerações que emigraram para o Brasil. Ao comprarem uma das moradias adquirem também um negócio rentável porque durante o tempo que não estiverem na sua moradia, esta será alugada a turistas, permitindo aumentar a oferta hoteleira da região.
Além disso, o projecto dá oportunidade à diáspora, para internacionalizar a sua empresa fixando-a na zona industrial com benefícios municipais.
Neste momento, já estão em negociação a captação de duas empresas brasileiras, uma no sector têxtil, que diminuirá o elevado desemprego feminino existente no concelho, e outra na área agro-alimentar.
As sinergias foram criadas e a obra iniciará já no início do segundo trimestre.


quarta-feira, 7 de março de 2018

Talvez amanhã...


Já raia o dia,
caminhemos pela fresca.
Somos eu e tu somente.

Talvez amanhã...

O dia fecha-se
é melhor não tentar abri-lo.
A natureza sabe o que fazer
quando a dor e a impotência
desesperam
e a gente pensa
que já não há mais nada.

Talvez amanhã...

Linear


Tudo deve ser
como sempre foi.
Linear.

Não importa que o dia
se transfigure em noite.
Lobisomens há muitos.

Vamos.
É dia e a caminhada
é longa e cansativa.

Pega na tua vontade
e veste-te.

Isto não é um deserto,
mas as almas
estão quase desertas.

Caminhemos de mãos dadas
em busca do que ainda não perdemos.
Tudo se transforma.

O tudo é nada.

E tudo começa assim.
Uma folha em branco
à espera.

Se não nos amássemos,
amar-nos-íamos à mesma
Sem lugar nem tempo.

Nasci para te amar
tu por mim nasceste
somos dois e um.

Sou luz quando falta o verbo.
Desejo-te na serenidade
que às vezes vivemos

e na tempestade
que sobre nós desaba,
furacão benigno e passageiro.

Deitemo-nos.
São horas de descansar
de mais uma caminhada.


Maria Cepeda

Mágoa alheia e pura

Ponto por ponto, linha por linha
Vou construindo, sina minha,
O que não se pode construir.

Engenheira de sonhos,
Busco no monte medronhos
Nenhum sono posso admitir.

Construi caminhos para correr
Do constante e sereno remoer
As horas passam, os dias não.

No caminho dos sonhos foge a vida
Na lenta sucessão, hora perdida
Dos tempos que agora são.

Estendi a mão para o longe
Secreta caverna, eremita e monge
Acendi a lanterna que a luz não dura.

Prendi a fera que em mim perdura
Afaguei quimeras, jurei candura
                                    Chorar, chorei. Mágoa alheia e pura.


Maria Cepeda

terça-feira, 6 de março de 2018

Crianças de Carrazeda de Ansiães foram todas ao teatro


 Hoje os miúdos das escolas de Carrazeda de Ansiães foram todos ao teatro para ver a peça infantil “A História de uma Boneca Abandonada”, de Alfonso Sastre. 

Com o intuito de proporcionar à comunidade escolar experiências culturais diversificadas, o Município proporcionou às crianças do concelho um espetáculo teatral que passou pelo palco do CITICA, numa representação da Companhia de Teatro Filandorra.
Esta história é contada por uma vendedora de balões, e fala de uma boneca que foi abandonada por uma menina rica chamada Lolita. Depois de abandonada a boneca vai parar às mãos de uma menina pobre chamada a Chiquita.
Estas duas meninas disputaram a boneca, representando uma peça de Alfonso Sastre, trata-se de um espetáculo que a Filandorra – Teatro do Nordeste  recuperou vinte anos depois da sua estreia.
Esta peça foi a primeira produção infantil da companhia e a sua reposição no palco deve-se ao facto de esta ser uma grande história para crianças e que nos ensina que as coisas devem pertencer a quem delas cuida.


PRO MEMORIA DE AMADEU FERREIRA, E DO SEU PANEGÍRICO À VIDA EM BELHEÇ/VELHICE, DE FRACISCO NIEBRO

“A velhice não afasta necessariamente os homens da vida ativa porque há uma atividade muito própria dos velhos: muitos continuam a servir
a pátria com a sua prudência e autoridade; outros entregam-se ao estudo
das letras e das ciências; alguns, ao cultivo das terras”.
(Cícero, De Senectute, sublinhado meu)

Manuel da Fonseca, num dos contos da obra O Fogo e as Cinzas, “O Largo”, escreveu: “o Largo era o centro do mundo”. Parece-me ser essa a intenção de Fracisco Niebro, no introito da obra, ao colocar o protagonista do relato, “um velho” - enfatizo a utilização do determinante indefinido -, sentado na ombreira da sua porta, isto é, na rua, que dá para um largo (p. 8) do qual faz o centro do “seu” mundo. O ancião assume na primeira pessoa o relato da vida, com laivos autobiográficos do autor. Embora o mundo, para ele, seja tão só a sua aldeia, “nos meus oitenta anos quase não saí daqui. O mundo é grande. (…) Por isso, o centro só pode ficar onde ponho a ponta da minha bengala” (p. 30). A mesma ideia é, de novo, reforçada na página 52, onde se lê: “passo os dias sentado no poial de pedra da rua: quem passa olha para mim”. Esta atitude reflexiva do velho, sobre as pessoas da sua aldeia, coloca o leitor, por sinédoque, perante o espetáculo do mundo e leva-o à autognose. A tarefa é árdua, mas ele não desiste de recordar/escrever para nos questionar, “desde que estou aqui sentado na rua já passaram mais de cem pessoas” (p. 98).
Qual é, então, o propósito do velho/da obra? As intenções são várias. Em primeiro lugar, reiteramos a questionação do leitor para o levar à reflexão sobre a vida e a melhor forma de a “merecer”. Por isso, o autor nos faculta uma espécie de manual, isto é, uma carta de intenções que, segundo creio, constituiu a sua filosofia/ideias de vida, fixada na página 38, sempre atual e de muita utilidade para o cidadão hodierno.
A reflexão do velho, escrita com grandes dificuldades físicas, é feita em flashback, recordando as memórias do passado para chegar à desconfortável conclusão: “há coisas, por exemplo cantigas, em que já não caibo, mundos que parecem já nada querer ter a ver comigo” (p. 8). Estas palavras trazem à memória do leitor a réplica de Beresford a Principal Sousa, da obra Felizmente Há Luar! de Luís de Sttau Monteiro: “o velho está sempre a ceder perante o novo e o novo sempre a destruir o velho.”  Parece-me que é também para isto que a personagem/narrador/velho escreve, ou seja, para ser memória futura do povo e das tradições que enformaram a sua vida e que persistem em continuar, apesar da veracidade das palavras de Beresford.
Por conseguinte, o velho, ciente do inexorável curso de Apolo, decide perpetuar a sua memória através da escrita, “depois, veio-me a vontade de escrever”, que lemos na segunda página da obra (p. 8). Esta vontade, em meu juízo, traduz-se em dois propósitos: o primeiro, em não deixar morrer as tradições e a língua de um povo, pelas quais o autor se bateu, de forma abnegada, ao logo da sua vida; o segundo cumpre-se no legítimo e almejado desejo do homem, Amadeu Ferreira, em nos legar uma obra perene que jamais possa ser ignorada. Esta postura lembra o tópico da imortalidade que se adquire pelo valor da obra literária, imortalizado na ode XXX do livro terceiro de Horácio .
O ato de escrita aparece-nos, nesta obra, associado ao nutriente que prende o escritor à vida: “escrever é como um alimento que me vai mantendo vivo, tal como a bengala me permite manter-me de pé” (p. 56). Logo, a escrita, aliada à sabedoria da palavra, que é equiparada a diamante que brilha (p. 20), remete, em minha opinião, para a possibilidade de a literatura transformar o mundo real. Pois, como assevera Vítor Aguiar e Silva, na obra Teoria da Literatura, “o escritor, ao emitir o seu texto, não só transfigura o real nomeado ou aludido, mas reinventa e instaura o próprio real, o real absoluto, com a urdidura encantatória do seu discurso.”  Nesta postura do escritor fulge a figura de Prometeu que, lato sensu, simboliza a capacidade de a comunicação literária contribuir para transformar o real, o real antropológico e o real histórico-social. As palavras do autor de Velhice corroboram estes preceitos: “gostam de sentir que as histórias têm uma vida diferente, como os sonhos. As histórias ensinam a sonhar e falam de um mundo tão diferente que fazem nascer a vontade de mudar aquele em que vivemos” (p. 108). No entanto, esta força performativa da palavra pode ser ineficaz se o leitor se recusar a aceitá-la, como se depreende das palavras do autor: “pensamos que já sabemos tanto que nunca somos capazes de encontrar um espaço para aprender” (p. 64).
Na base destas preocupações patenteia-se a ideia angustiante do esquecimento que para o escritor se assemelha à morte: “estar só não é morrer, é não nascer. Uma pessoa morre quando já ninguém olha para ela” (p. 32) . Creio não restarem dúvidas aos leitores mais assíduos da obra de Amadeu Ferreira que a sua luta, ou melhor, a sua escrita, foi sempre esta pugna hercúlea contra o esquecimento, que, não raras vezes, dói mais do que o próprio óbito. É por esta ordem de razões que se aceita que toda a vasta produção literária de Amadeu Ferreira, e esta em particular, foi animada pelo anelo de se “libertar da lei morte”.
Outro grande filão do livro cumpre-se no título desta crítica, isto é, o elogio da existência, sempre associado à ousadia e à vontade de querer vencer e antecipar o futuro, pois “apenas é nosso o que fazemos porque o queremos” (p. 50). Este encómio à vida está patente nas palavras do autor: “quando olho para trás e vejo o que ficou, sorrio. Houvesse quem fora capaz de sorrir e olhar para a frente… Nada há tão difícil como isso. Olhar para diante mete medo. E com medo ninguém sorri com vontade. E quando ninguém sorri, as coisas e a vida ficam tão pesadas que custam a suportar” (p. 44, sublinhado meu). Mas por mais espinhosa que seja a nossa missão, em vez de desistir devemos recomeçar, uma vez que “quando se perde a vontade de começar, começamos a morrer” (p. 46). E Amadeu Ferreira foi um exemplo acabado desse recomeçar, porque a energia e a força telúrica, imortalizada por Torga, que sorvia das arribas do Douro, o impelia a “nunca contentar-se de contente”.
Todavia, uma certa desilusão atormenta o escritor, porque ninguém pensa nada, “para pensar, há que parar. (…) E como ninguém pensa, nada muda” (p. 28). Registe-se que o sofrimento está associado à lucidez e à inquietação das pessoas, pois “quem mais sabe mais sofre.” (Cf. Pessoa “se estou só, quero não estar”.) O ato de cogitar aumenta o conhecimento e, por conseguinte, o sofrimento: “até os velhos, porque pensam mais, morrem mais depressa” (p. 28). O idoso acaba por sucumbir ao afirmar: “por vezes sabe muito bem uma pessoa não se lembrar de nada e ficar encandeada com coisas tão pequeninas como florzinhas de telhado” (p. 126).
Ouso, pois, afirmar, sem ambages e dissídios, que Fracisco Niebro/Amadeu Ferreira se “libertou da lei da morte” e continuará perenemente, como lembra Horácio, a viver na vastíssima e riquíssima obra que nos legou. Pois ele, mais que outrem, teve a coragem de “não morrer”, como se infere das suas palavras: “apenas há um segredo para uma pessoa não morrer: agarrar-se a uma ideia com tanta força que não mais se desprenda” (p. 34). Creio não andar longe da verdade ao afirmar que “a ideia” a que Amadeu Ferreira se agarrou foi a difusão e a ratificação da Língua Mirandesa.
Termino, apelando à leitura da obra deste ilustre Transmontano/Mirandês na qual são audíveis os ecos de uma luta contínua contra a resignação, o determinismo e o fatalismo, instigando-nos a assumir uma atitude de trabalho abnegado, norteado pelos valores e pela ética, alicerces de qualquer sociedade.
1 - O diálogo Cato Maior ou De Senectute de Cícero é, segundo Gérard Genette, Palimpsestes, o hipertexto de Belheç /Velhice de Fracisco Niebro.
2 - MONTEIRO, Luís de Sttau, 1999. Felizmente Há Luar!. Porto: Areal Editores. P. 54.
3 - O poeta latino Horácio, nesta ode, fala da importância da obra literária que resistirá, como nenhuma outra, às intempéries naturais e, consecutivamente, ao esquecimento.
4 - AGUIAR E SILVA, Vítor Manuel, 1988. Teoria da Literatura. 8.ª ed. Coimbra: Almedina. P. 334.
5 - Leia-se o poema de Fernando Pessoa, que aqui reproduzo, por me parecer que encerra a mesma filosofia de vida que Fracisco Niebro/Amadeu Ferreira defende nesta obra: “A morte é a curva da estrada, / Morrer é só não ser visto. / Se escuto, eu te oiço a passada / Existir como eu existo. // A terra é feita de céu. / A mentira não tem ninho. / Nunca ninguém se perdeu. / Tudo é verdade e caminho” (sublinhado meu). Fernando Pessoa, Poesias, 15.ª ed. Lisboa, Ática, 1995, p. 142.

Norberto Veiga
Retirado de www.jornalnordeste.com