sexta-feira, 24 de setembro de 2021

INTERIOR NORTE- RECONQUISTAR O PODER DA PALAVRA (Engenheiro Jorge Nunes) Publicado no Jornal Nordeste (14-09-2021)

Dar um murro no estômago do centralismo! Clarificando, lutar contra alguma indiferença, medidas pontuais e avulsas com que, nas últimas décadas, o governo central tem lidado com os problemas da interioridade. O Interior tem perdido voz, as lideranças estão enfraquecidas – tem perdido deputados e voz no Parlamento; poder reivindicativo no interior dos partidos; na liderança das instituições públicas; no movimento associativo. É preciso reconquistar o poder da palavra. Falamos de Poder. Medida aparentemente simples, mas que a cultura centralista trava, seria a de reforçar a voz do Interior na Assembleia da República, voz que vai perdendo à medida que o despovoamento se acentua, como fazê-lo? Aumentando o número de deputados dos distritos do Interior, em função da população, também da área territorial e criando círculos de eleição uninominal. A criação da NUT II Trás-os-Montes e Alto Douro, dividindo a NUT II Norte em duas, Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes e Alto Douro, regiões naturais correspondentes às antigas Províncias, a divisão administrativa que prevaleceu durante séculos em Portugal, parece-me nesta fase ser uma prioridade. A ideia é a de que as regiões mais pobres não podem continuar a ser prejudicadas pelas regiões mais ricas, que se aproveitam da pobreza destas, para receberem mais apoios da União Europeia, que os atribui ao país para dar prioridade à coesão e ao desenvolvimento das regiões mais pobres, e assim não tem sido. Estamos num momento único de ajuda excecional da União Europeia a Portugal, com a atribuição de fundos comunitários como Portugal nunca teve, a iniciar o novo Quadro Financeiro Plurianual 2021-2027, é o momento oportuno para as três Comunidades Intermunicipais, do Alto Tâmega, Douro e Terras de Trás-os-Montes promoverem uma reunião magna representativa da região, que exija ao Governo a criação da NUT II Trás-os- -Montes e Alto Douro (reivindicação de há vinte anos no III Congresso Transmontano) e uma dotação financeira global de fundos comunitários para o Interior Norte, a serem geridos no âmbito da nova NUT II, ou seja a serem geridos em Trás-os- -Montes e Alto Douro. Entregar aos transmontanos e alto durienses parte importante das decisões sobre o seu destino, em vez de serem tomadas no quadro de uma cultura centralista secular, seja em Lisboa e até no Porto, seria importante. Recuperar poder de decisão para Trás-os-Montes e Alto Douro é um passo necessário para que, no balanço 2030 de aplicação excecional de ajudas comunitárias, as assimetrias regionais não se tenham acentuado ainda mais, e o Interior Norte não esteja, em termos relativos, mais pobre, mais despovoado, mais distante do litoral. A criação da NUT II Trás-os-Montes e Alto Douro, deverá contribuir para as decisões que venham a ocorrer no âmbito da criação das regiões administrativas. Importa ter presente que, o referendo à regionalização feito em 1998, foi acompanhado do mapa de oito regiões administrativas, o conhecido mapa das províncias, que perante um novo referendo, dois cenários de mapa das regiões poderão ser discutidos. O litoral, onde se concentra o poder económico e político, tenderão a impor uma única região administrativa, tendo por base a evolução que tem sido feita com as CCDR. Trás-os-Montes e Alto Douro, representa pouco em termos de população (na década de sessenta representava mais de 20%) e da economia, mas representa 58,7% do território da Região, tem peso e argumentos para, de forma firme defender a criação da região administrativa de Trás-os- -Montes e Alto Douro. Temos ativos territoriais valiosos, a região está dotada de modernas acessibilidades, ainda que, com algumas necessidades, instituições de ensino superior e centros de investigação e de interface como nunca teve, boas infraestruturas culturais e ambientais, centros urbanos atrativos, então porquê continuar a caminhar para o abismo do despovoamento? Temos de erguer os braços e assumir que sim, que somos capazes de reforçar o poder da palavra e da ação e inverter a tendência do despovoamento e do abandono do território. O abalo demográfico que atinge o Interior Norte, obriga-nos a maior firmeza para romper com as políticas do centralismo que têm conduzido o Interior para uma catástrofe demográfica - o despovoamento, o abandono do território e tendencialmente o empobrecimento. A soberania territorial exige solidariedade em ambos os sentidos, do centro para a periferia e vice-versa. O esquecimento do Interior é uma total injustiça, as boas intenções, decisões tímidas e frágeis, não fazem a mudança necessária para inverter este ciclo vicioso. O argumento que o alimenta é o de que não se justifica investir porque há cada vez menos população, a consequência é a população continuar a abandonar a região, procurando territórios mais atrativos onde o investimento público e privado é mais intenso. Por outro lado, nas últimas décadas, o governo central tem vindo a eliminar serviços públicos na região com esse mesmo argumento. A fúria centralizadora até as ligações ferroviárias eliminou. Trás-os-Montes e Alto Douro representa 3,74%, da população do país, quando no ano de 1960 representava 7,82%, situação dramática, que nos interroga, como foi possível chegar a esta situação e como sair dela. Em meio século, a região de Trás-os-Montes e Alto Douro foi atingida por uma sangria demográfica, ficando em situação de forte despovoamento e envelhecimento populacional, tendo como consequência o abandono dos campos, a perda de biodiversidade, a maior fragilidade económica e vulnerabilidade às alterações climáticas. No conjunto dos 34 concelhos de Trás-os-Montes e Alto Douro, a população no ano de 1960 atingia os 692 029 habitantes, reduziu no ano de 2019 para 384 410 ou seja, em pouco mais de meio século teve uma perda de 307 619 habitantes o que representa 44,45% da população, população que não irá recuperar nas próximas décadas. Na segunda metade do século XIX foi crescente o movimento migratório e a década de 1901 a 1911 foi o período de maior emigração antes de 1960. Esta vaga continuou no período subsequente, entre 1910 e 1919, do distrito de Bragança emigraram 18% dos seus habitantes, de Vila Real 13% e de Viseu e Guarda 12% da população de cada um dos distritos. Após a II guerra mundial dá-se o segundo grande período de emigração, de 1946 a 1973 terão emigrado cerca de 2 milhões dos cerca de 8,5 milhões de portugueses. Acentuou-se o êxodo do mundo rural sobrepovoado e pobre, a caminho das cidades industrializadas do litoral e de locais mais promissores no estrangeiro. Na segunda década deste século, a crise financeira desencadeou outra vaga emigratória. No conjunto dos concelhos de Trás-os-Montes e Alto Douro, a perda de população no período de 1960 a 2021 foi de 307 619 habitantes, cerca de metade da população. A informação de 2021 diz-nos que em TMAD, o índice de envelhecimento (número de idosos com mais de 65 anos em cada 100 jovens com menos de 15 anos) era de 275, mais de 2/3 acima da média nacional e o índice sintético de fecundidade (número médio de filhos por mulher em idade fértil), era de 1.01, em Portugal era de 1,42, um dos mais baixos do mundo. Para inverter este ciclo de quebra seria necessário que o crescimento natural, diferença entre a natalidade e a mortalidade, fosse positiva, que a taxa de fecundidade, número de filhos por mulher fosse superior a 2,1. Sozinhos não temos qualquer hipótese de inverter esta grave tendência, mas muito do que há a fazer terá que ser feito por nós. Vale a pena investir na clarificação do caminho a percorrer e como fazê-lo. O que devemos fazer? Que caminho seguir? Os progressos em TMAD conseguidos nos últimos anos tem sido muitos, alguns muito tardios face ao resto do país, mesmo assim, não se tem conseguido travar o despovoamento e o abandono do território. A situação é de resposta muito complexa, exige soluções múltiplas e a maior boa vontade do governo central em muitos âmbitos, dos incentivos financeiros e fiscais, da desconcentração e descentralização, do investimento público etc. Acima de tudo, da nossa determinação e coragem para reorientar o rumo. Nos próximos anos teremos menos população. Temos que vencer esta catástrofe sobre Trás-os-Montes e Alto Douro, sabendo que nos próximos anos teremos menos população no mercado laboral, o que pressiona em sentido negativo o crescimento da economia. Será necessária uma política inteligente de apoio aos casais jovens nos postos de trabalho e à 1.ª infância (infantários gratuitos e universais para todas as crianças); uma forte qualificação da força laboral, considerando a inovação e transformação tecnológica da economia, uma grande evolução nas condições sociais no mercado de trabalho e melhoria significativa das remunerações salariais, em particular no setor privado, para poder fixar os jovens qualificados, competir com mercados laborais muito mais competitivos a nível nacional e internacional. Temos que resolver problemas estruturais, é certo que não o conseguiremos sozinhos, precisamos da solidariedade ativa do Governo Central, por isso somos Portugal. Precisamos resolver problemas como a baixa produtividade, os baixos salários, as baixas qualificações, a falta de capital para investimento, melhorar e consolidar a visão do caminho a percorrer, garantir a excelência nas instituições de ensino e formação, assegurar forte evolução no bom governo das instituições públicas e privadas. É necessário reconquistar o poder da palavra. O Interior tem perdido voz em todos os campos, incluindo na Assembleia da República. Devemos lutar pela discriminação positiva, por incentivos fiscais e financeiros e muito mais, sem deixar de dar prioridade às questões do poder. Falamos de aumentar o número de deputados do Interior na Assembleia da República. O Interior tem vindo a perder deputados na Assembleia da República, a favor da Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto, à medida que perde população. É urgente corrigir esta situação, garantir aos círculos eleitorais do Interior um aumento do número de deputados, tendo a dimensão territorial e o número de eleitores, repondo a voz do Interior na Casa da Democracia. Assegurar a eleição através de círculos uninominais. Da Criação da NUT II Trás-os-Montes e Alto Douro, para aceder de forma justa às ajudas da União Europeia, o Interior Norte deve poder gerir um envelope financeiro próprio, negociado na fase de programação do Portugal 2030, para isso, a NUT II Norte deve ser dividida, criando duas NUT II, Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes e Alto Douro. É só uma questão técnica, mas que pode fazer a diferença na mudança. Em 2002, o III Congresso Transmontano aprovou esta orientação; Da criação da Região Administrativa de Trás-os- -Montes e Alto Douro. A Regionalização é o caminho adiado, desde o início da república, para dar impulso de desenvolvimento ao país e às regiões. A Constituição Portuguesa de 1976, inclui a criação de regiões administrativas, no referendo de 1998 foi apresentado o mapa de oito regiões, correspondendo à divisão administrativa intermédia com mais longevidade na história de Portugal, onde se inclui Trás-os-Montes e Alto Douro. O futuro reserva-nos muitos desafios e muita esperança. O país não pode hesitar perante os desafios da Interioridade, tem que ser capaz de saldar uma divida histórica de que os transmontanos e durienses são credores. É verdade que tem feito algum esforço nesse sentido, mas não chega, não podemos continuar a caminhar para o abismo. Cabe às Comunidades Intermunicipais de Alto Tâmega, Douro e Terras de Trás-os-Montes, liderar a realização em 2022, uma assembleia magna da região, em colaboração com os deputados, líderes das Associações Empresariais e Instituições de Ensino Superior, Sociais, Cooperativas, num esforço de cooperação e de coordenação política capaz de mobilizar a Região, de a unir naquilo que é essencial. Não se pode continuar a assistir ao investimento discriminatório como acontece com o PRR, o PDR e em parte nos Quadros Financeiros Plurianuais. Se a situação continuar, os transmontanos devem estar preparados para discutir alternativas fazendo uma rotura no sistema.

 

Jorge Nunes

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Ernesto Rodrigues: “Eu próprio asfixiava, se não mostrasse este rosto desconhecido”


 

1-Depois da ficção, como surgiu o teatro no percurso da sua escrita?

R- Escrevi a primeira peça em Setembro de 1973, meses depois de me estrear com um livro de versos, e, já, com os primeiros contos à espera de edição. Nestes, as dificuldades da vida rural e dos pequenos ofícios, no Nordeste, conduziam à emigração, que saldava um passado de dívidas. Mas resolver a economia familiar era insuficiente, e solução passageira, se o país não se perguntava sobre outras saídas: por isso, exigia-se liberdade de expressão, que a polícia persegue na figura de filho universitário. Tal como “A pedra” do título sufoca um pai emigrante, doente e sem futuro, assim cresce a revolta colectiva, após o funeral, resumida num letreiro: «Queremos respirar!» Eis como, da ficção assente em quadros ou cenas, com treino em diálogos (o que fez com que a quarta peça  [1977] fosse por mim lida, primeiro, como conto, editado em A Flor e a Morte, 1983), vim a um teatro político, mais interventivo após o 25 de Abril.

 

2- Quais são as principais linhas temáticas das suas peças?

R- Da denúncia e reivindicação de um direito passei à hipótese de uma comunidade democrática, mau grado vícios que diríamos segunda pele (Faca no Sol, 1974-1975). Era um teatro hierático, pausado, contra a maré, em dias agitados. Daí, O Golpe (1975), neste ano de todos os possíveis, também na cena internacional, entre golpes e contragolpes, quadros soltos, sarcasmo, liberdade total ao encenador (como, aliás, em quase todas as peças). Esse teatro de guerrilha, confrontando poderes, criava um impasse, resolvido na violência de Guerra Civil (2019), que todavia, situei em cenário fratricida árabe. Já o modo como o Poder se mantém – entre mentira, manipulação, crime e ridículo, responsabilizando os meios de comunicação e comícios de sono – inspirou Sábado (2012-2013) e Doença (2016-2017). Assim, seis das onze peças entrevistam facetas do Poder. As outras debatem relações interpessoais e as síndromes que escondemos (Jardim, 1977; Acidente, 1998-2000; Delírio, 2015). Salientaria O Divino (2002), em que perpassam vidas nos últimos momentos de Almeida Garrett. Síntese destas interlocuções e de novos poderes que nos afectam é a derradeira, Pandemia (2020): sonhando-se romance com seis personagens (em que estas aparecem segundo a lógica da sextilha) e 36 cenas resolvidas, no Epílogo, por três vozes laterais, regresso ao pensamento originário de uma respiração democrática, sem deixar de celebrar a medicina.

 

3-Qual a ideia que esteve na origem desta antologia agora publicada?

R- Havia um trabalho secreto de 47 anos. Editara poemas, novelas, contos, romances; centenas de crónicas na Imprensa; crítica, ensaio, dicionarística e edição literária ocuparam-me 45 anos, inaugurados com trabalho sobre A Morte do Papa, peça de Jorge de Sena; traduções do húngaro, quatro décadas. Tinha uma dívida com a edição crítica da Exortação da Guerra vicentina, a publicar; com a leitura anual da Castro ferreirina e regular do Frei Luís de Sousa. Após o Théâtre de la Cruauté (1932) e Le Théâtre et Son Double (1938) de Artaud e Un Théâtre des Situations (1973) de Sartre, fiz récitas amadoras no Verão Quente de 1975. É o género mais livre e participável, onde melhor cabem as falas de todos. Eu próprio asfixiava, se não mostrasse este rosto desconhecido.

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Ernesto Rodrigues

Teatro

Edição do Autor  25€

Ernesto Rodrigues na “Novos Livros” | Entrevistas

Retirado de www.novoslivros.pt 

Teresa Martins Marques: Grande mulher, excelente escritora

 


Partilho convosco a capa do meu romance A MULHER QUE VENCEU DON JUAN, traduzido para romeno por Georgiana Barbulescu. Acabou de sair pela editora ELECTRA, de Bucareste. (Teresa Martins Marques)


Parabéns Teresa!
Maria Cepeda



terça-feira, 14 de setembro de 2021

Festival de música clássica vai encher espaços culturais e religiosos em Bragança

ClassicFest” acontece entre 1 e 10 de Outubro e há concertos gratuitos

Jornalista Ângela Pais

Bragança vai realizar pela primeira vez um festival internacional de música clássica. Nos dois primeiros fins-de-semana de Outubro, o Teatro Municipal, a Sé Velha, a Igreja de Santa Maria e a Cidadela vão abrir portas aos brigantinos e visitantes que queiram ouvir música erudita.

“Bragança ClassicFest” conta com artistas como Diana Tishchenko, violinista, Héctor Del Curto, bandoneonista, e até com a Orquestra de São Petersburgo, da Rússia. O Teatro Municipal de Bragança, entidade responsável, quer assim colocar Bragança na rota mundial dos festivais de música clássica.

“Há aqui uma vontade muito grande que o festival não fique só para aqueles que costumam vir assistir a música clássica. Queremos cativar e conquistar todos os públicos”, afirmou o director artístico do festival. Filipe Pinto-Ribeiro, também pianista, explicou que um dos objectivos da iniciativa é alterar o estigma de que a música clássica é dirigida a um grupo de pessoas específicas e salientou que, contrariamente ao que muitos pensam, está bastante presente no dia-a-dia. “A música clássica inspira muitas músicas populares, está presente em filmes que vemos, nas séries, nas telenovelas, em tantos anúncios. Ouvir por exemplo,

‘As Quatro Estações’, de Vivaldi, sem saber, muitas pessoas vão reconhecer”, referiu.

O concerto de abertura é no dia 1 de Outubro e é a Orquestra de São Petersburgo que dá o arranque. O bilhete é grátis, como muitos outros do festival. Noutros, o custo é sete euros, “um preço simbólico”, que pode ainda ser reduzido, com descontos para crianças e idosos. “Os preços são para as pessoas poderem vir e repetir.

Chegar a um maior número de pessoas possível e que venham, experimentam, gostem e possam vir outra vez”, frisou Filipe Pinto-Ribeiro.

Envolver o Conservatório de Música e Dança e os agrupamentos de escolas é também uma preocupação do director do teatro. Cristiano Cunha quer aproximar os mais novos também deste tipo de música e, para isso, vai reunir com os professores para que se estabeleça uma ponte entre o teatro e as crianças. “Tentaremos ainda no futuro próximo, não sei se será ainda nesta edição, levar um dos músicos de renome internacional ao conservatório. Para os alunos seria uma coisa marcante para o resto da vida”, referiu, concluindo que é uma “missão educativa” do teatro criar “novos públicos”.


Retirado de www.jornalnordeste.com 

Portugal assina Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias

A língua mirandesa esteve na base da assinatura do documento

Jornalista Carina Alves

Portugal assinou a Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias. A Língua Mirandesa esteve na base da assinatura, concretizada na quarta-feira da semana passada, dia em que o Ministério dos Negócios Estrangeiros anunciou que a Câmara Municipal de Miranda do Douro e a Associaçon de la Lhéngua i Cultura Mirandesa (ACLM) haviam desenvolvido a lista de compromissos a cumprir para que a adesão fosse possível.

A assinatura do documento, que visa, desde 1992, proteger e promover as línguas regionais e minoritárias da Europa, já estava a ser trabalhada há vários anos, sendo que, em Janeiro de 2019, o município de Miranda do Douro já avançara com a assinatura de um protocolo com a ACLM, para cumprir os princípios com que o país teria que se comprometer, tendo disponibilizado, 25 mil euros.

Estes princípios que ditaram que Portugal estivesse pronto para a assinatura foram transcritos por José Pedro Ferreira, vice-presidente da ACLM. O também linguista, um dos mentores da assinatura, esclareceu que estes compromissos, sendo que no mínimo é preciso assumir

35, são “adequados à realidade de cada país”. Neste caso, segundo esclareceu, os compromissos, em diferentes sectores, nomeadamente justiça, educação, comunicação social, cultura, administração central e local, “protegem a língua ameaçada”. “Até aqui, não era possível que uma pessoa fosse ouvida em mirandês num tribunal, mas agora é”, deu como exemplo. Também na Câmara Municipal as pessoas podem agora ser escutadas nesta língua. Além de as ouvir em mirandês, a entidade também é obrigada a responder-lhes na mesma língua. “Era uma medida simples de implementar, mas nunca tinha sido”, salientou.

Também ao nível do ensino, por exemplo, todos os anos, o mirandês, que é ensinado como disciplina opcional, dependia de uma autorização anual, dada pelo titular da pasta da Educação. Agora não haverá mais essa necessidade.

José Pedro Ferreira, que recebeu a notícia “com grande felicidade”, nomeando o dia como “glorioso”, afirma que as medidas “vão facilitar a vi[1]da aos falantes e às entidades locais”, caso se pretenda que a língua tenha uma maior presença na vida pública dos habitantes da Terra de Miranda, que, além de Miranda do Douro, é integrada por Mogadouro e Vimioso. “Para nós é uma grande vitória. Desde 2002, altura em que a ALCM foi criada, que reclamávamos a assinatura da carta. É um sinal de que o Estado central, de facto, está atento às nossas preocupações”, rematou ainda.

A continuidade da língua, que, por agora, ainda se assume que está ameaçada, não será assegurada, de todo, pela assinatura desta carta. O documento permite que o mirandês esteja mais protegido e que haja outra facilidade em algumas questões, sobretudo para os seus falantes, mas quem determina que esta não morra é o próprio povo. “Esperemos que as pessoas perpetuem a língua através da transmissão entre gerações. Se olharmos para outros casos, línguas que estiveram à beira da extinção, e olharmos para o que lhes aconteceu, percebemos que, muitas vezes, tudo depende de medidas institucionais, tanto centrais como locais. Veja-se o finlandês, que era secundarizado, pelo sueco, quando a Finlândia não era independente. Há cem anos o país tornou-se independente e hoje em dia não passa pela cabeça de ninguém pôr em causa a viabilidade futura da língua”, esclareceu o linguista.

Artur Nunes, presidente do município, que admite que “a carta vem dar força, sobre[1]tudo à educação, que é um dos pilares para que a língua continue”, reportou-se à assinatura do documento como “uma oportunidade para o mirandês”, uma verdadeira forma para que a língua “surja e ressurja.”

 

Retirado de www.jornalnordeste.com

Lançada marca ‘Terras de Trás-os-Montes’ que já identifica 39 produtos

 Jornalista Olga Telo Cordeiro

Já foi oficialmente lançada a marca ‘Terras de Trás-os-Montes’, que promove produtos da Comunidade Intermunicipal (CIM-TTM) com o mesmo nome.

O objectivo é valorizar e divulgar os produtos deste território, que engloba nove concelhos (Alfândega da Fé, Bragança, Macedo de Cava[1]leiros, Mirandela, Miranda do Douro, Mogadouro, Vila Flor, Vimioso e Vinhais), ao mesmo tempo que “contribui para consolidar a identidade territorial”.

Até agora aderiram 15 produtores e 39 produtos já têm este selo identificativo. Os empresários aderentes esperam que esta designação que juntam ao produto possa ajudar na valorização dos produtos e aumentar as vendas.

“Espero que ajude a divulgar a região de Trás-os-Mon[1]tes e todos os produtos que estão associados. Quando me foi proposto foi fácil aderir, porque o projecto é interessante”, disse Francisco Figueiredo, produtor de fumeiro no concelho de Bragança.

“Isso vai também dar a garantia que é um produto regional e que efectivamente é feito em Trás-os-Montes”, refere Elisabete Ferreira, da empresa Pão de Gimonde.

Há também 75 interessados em aderir a esta marca. Os produtores, de áreas como o azeite, o vinho, mel, pão, fumeiro, queijo e carnes, acreditam que a designação Terras de Trás-os-Montes será uma mais-valia por ser associada à qualidade.

O pasteleiro Miguel Ribeiro, que criou o pastel “Os meus amores”, acredita que a marca regional “é uma mais-valia, quando as pessoas virem o produto à venda saberem que pertence às Terras de Trás-os-Montes” e entende que os artigos “vão acabar por se destacar mais, chamar mais a atenção e o comprador acaba por dar mais valor ao produto que tem o selo, a referência”.

“O facto de verem a marca de Trás-os-Montes faz logo com que as pessoas parem, fiquem a olhar, porque são desta zona ou já ouviram falar que os produtos daqui são de grande qualidade”, referiu Francisco Figueiredo, reportando-se à experiência que teve em feiras.

Vera Santos, produtora de azeite em Vimioso, diz que aderiu porque os clientes “valorizam muito se os produtos são mesmo genuínos e procuram qualidade acima de tudo” e espera que a marca ajude a alargar a projecção da marca Distintus.

Na apresentação oficial da marca e produtos aderentes, o presidente da Comunidade Intermunicipal Terras de Trás-os-Montes, Artur Nunes, explicou que qualquer empresa dos nove municípios pode candidatar-se, sendo as características avaliadas, para dar garantia aos produtos.

“Há um conjunto de normas que têm que cumprir ao nível do regulamento, a Comunidade Intermunicipal faz esse acompanhamento cumprimento de normas, e o próprio consumidor quando compra um produto com este selo tem a garantia de originalidade e qualidade”, sublinha, destacando que esta é uma forma de “agregar os produtos que querem aderir” e “promover os produtos bons da região, a nível nacional e internacional”, que pode “valorizar muito Trás-os-Montes, como terra de sabores únicos, originais e tradicionais”.

Para já a marca Terras de Trás-os-Montes abarca produtos da área do agro-alimentar, mas será estendida a serviços, da área da restauração e turismo, bem como ao artesanato. A adesão é gratuita e todos os custos são suportados pela CIM-TTM.

 

Retirado de www.jornalnordeste.com

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Freixo, Festival Internacional de Literatura 2021 (FFIL)

Decorreu, no passado fim-de-semana, o Freixo, Festival Internacional de Literatura (FFIL), em Freixo de Espada à Cinta, terra natal do poeta Guerra Junqueiro, patrono do prémio  literário  com o mesmo nome.

Tive a honra e o gosto de estar presente na 5ª edição deste Festival.

Fui convidada pela minha amiga Lídia Machado Dos Santos para apresentar o seu livro "As Paisagens Junqueirianas em a Velhice do Padre Eterno", de Guerra Junqueiro. Foi um orgulho fazê-lo.

Cabe-me agradecer à Senhora Presidente da Câmara de Freixo de Espada à Cinta, à Doutora Avelina Ferraz e à sua equipa, a todos os participantes e à Professora Doutora Lídia Machado dos Santos, pelo excelente trabalho realizado sobre a obra de Guerra Junqueiro a que, com certeza, dará continuidade.

Foi um excelente fim-de-semana.





















Estas fotos dão-nos uma ideia das atividades do FFIL. A Lusofonia esteve muito bem representada.

Maria Cepeda  




Ernesto Rodrigues: A terceira margem (Retirado de www.novoslivros.pt)

 


1– O que representa, no contexto da sua obra, o livro A Terceira Margem?

R – Oitavo romance desde A Serpente de Bronze (1989), que anunciava a actual casa comum europeia (desde 2004) e rastreava momentos altos da nossa História, também expandida ao desastre de Alcácer Quibir, A Terceira Margem vai além desse espírito viageiro cosmopolita e remitificação sebástica: debate o fim da pena de morte em Portugal e, sobretudo, a abolição da escravatura no Brasil, sem o que nações, comunidades e indivíduos não darão o salto para a terceira margem, a da dignidade. Por outro lado, irmana-se, aqui, a vertente regional, patente desde a estreia novelística (1980) até ao segundo romance, Torre de Dona Chama (1994), nome da vila transmontana donde sai (além do autor, além do narrador) a linha dos Cabrais que apelida a história entre 1756 e 2022. Adequando o registo discursivo a tempos, lugares e personagens – algumas bem conhecidas no imaginário luso-brasileiro, em que relevo Machado de Assis –, A Terceira Margem é o título-síntese das minhas diligências literárias.

2 – Qual a ideia que esteve na origem deste livro?

R – O narrador, Pedro Álvares Cabral (1956), já comparecia naquele segundo romance, onde também pesava a lembrança de um avô, agora, em A Terceira Margem, figura central (1870-1966) e fonte de informação. Precisava de biografar um alter ego e sua linhagem num período – século XIX, em particular – que, com a independência política do Brasil, conduziu Portugal ao regime demo-parlamentar de hoje, sem termos ainda chegado à plena independência dos indivíduos. Choca-me que, sob formas várias, milhões de pessoas continuem a ser «mercancia», no dizer do padre António Vieira. Sem debelar esta chaga – sendo solução Uma Bondade Perfeita (2016), sexto romance –, a humanidade não é digna deste nome. Lateralmente, na sequência de ficção histórica como O Romance do Gramático (2011) e A Casa de Bragança (2013), faltava-me homenagear cerca de dois séculos e meio, que melhor conheço, enquanto investigador universitário. Era, também, outra forma de revisitar uma cidade de eleição, o Rio de Janeiro.

3 – Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?

R – Donald Trump e outros títeres inspiraram três novelas que se debruçam sobre o Poder – a principal preocupação de 11 peças em 47 anos de Teatro, que acabo de editar. Estão em retoques finais, à atenção de um futuro que se deseja mais responsável.

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Ernesto Rodrigues

A Terceira Margem

Retirado de www.novoslivros.pt

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Adriano Moreira faz, hoje, 99 anos

No dia 6 de setembro, o Professor Adriano Moreira, completa 99 anos de uma vida que, não sendo fácil, foi muito preenchida e cheia de desafios. 

Nascido numa pequena aldeia do Concelho de Macedo de Cavaleiros, Grijó de Vale Benfeito, no Distrito de Bragança,  trouxe consigo a força de ser transmontano. Com os pais, migrou para Lisboa, mas nunca esqueceu as suas origens e todas as férias eram passadas em Trás-os-Montes. 

Dedicou-se com afinco ao estudo para aliviar os pais e a pensar na irmã que é médica. 

Licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa e doutorou-se pela Universidad Complutense de Madrid e pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP).

À frente do Ministério do Ultramar, para o qual foi chamado por Salazar em 1961, fez uma série de reformas, sendo a mais simbólica a revogação do estatuto do indigenato.

Saiu do Governo em 1963, quando Salazar lhe pediu para mudar de política. Segundo conta o próprio Adriano Moreira, respondeu-lhe: “Acaba de mudar de ministro”.

Passou depois pela presidência da Sociedade de Geografia, onde ficou até 1974, e à frente da qual promoveu o Movimento da União das Comunidades de Língua Portuguesa. E manteve-se à frente do Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina, atual ISCSP, escola que ajudou a reformar introduzindo o estudo de diversas ciências sociais, até ser demitido pelo Governo de Marcello Caetano em 1969.

Regressou ao ISCSP em 1983, quando foi eleito presidente do Conselho Científico.

Em 1980, voltou à atividade política, integrando as listas do CDS nas legislativas daquele ano a convite de Freitas do Amaral e de Adelino Amaro da Costa. Em 1983 foi eleito presidente do Conselho Nacional do CDS e em 1986 chegou à liderança do partido, à frente do qual se manteve até 1988. No parlamento ficaria 14 anos.

Apesar dos cognomes de “senador” e “histórico do CDS”, Adriano Moreira prefere ser reconhecido como professor.

E, apesar de uma vida muitíssimo preenchida, formou a sua própria família sem nunca descurar as suas obrigações de filho e irmão.

Aqui deixamos os nossos mais sinceros Parabéns, agradecendo mais uma vez, a entrevista que nos deu, na Pousada de São Bartolomeu, em Bragança, em 2019, com 97 anos de idade e uma enorme vitalidade.

Foi uma entrevista, para nós, Marcolino e eu, memorável. Se já o admirávamos como profissional e pelo seu percurso de vida, ficámos encantados por descobrir um ser humano excecional.

Parabéns Senhor Professor! 


Maria e Marcolino Cepeda             

Bragança: novas perspetivas

 Bragança. 

Cidade onde vivo por opção e gosto. Sinto-me bem aqui. 

É uma cidade pequena. O trânsito não é complicado. Levo pouco tempo para chegar ao meu local de trabalho...

Estas fotos apresentam uma nova perspectiva desta bela cidade.  










Fotos de Maria de Jesus Cepeda


quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Prémio literário Guerra Junqueiro homenageia grandes nomes da literatura lusófona (Publicado por Francisco Pinto em Qui, 2021-09-02 11:33)

 


A vila manuelina de Freixo de Espada à Cinta acolhe a 5ª edição entre amanhã e sábado, a quinta edição do FFIL – Freixo Festival Internacional de Literatura, uma iniciativa tida “como uma referência cultural para a literatura em língua portuguesa”.

O poeta Guerra Junqueiro (15 de setembro de 1850 a 07 de julho de 1923), natural de Freixo de Espada à Cinta, é patrono deste evento e dá o seu nome a um prémio que pretende destacar, todos os anos, autores que, de alguma forma, refletem a influência de Guerra Junqueiro, pelo compromisso e pela importância que o escritor e diplomata foi no seu tempo.

"O Freixo Festival Internacional de Literatura - FFIL reflete o ideal que prosseguimos, e a missão que nos cumpre, enquanto administração autárquica, fazedora e mobilizadora de causas. Acresce ainda o cruzamento com todas as nações que têm o português como a sua língua mãe, onde cabe a atribuição do Prémio Literário Guerra Junqueiro para a Lusofonia," revelou a anfitriã em Portugal do FFIL e presidente da câmara de Freixo de Espada à Cinta, Maria do Céu Quintas.

O Prémio Literário Guerra Junqueiro 2021 é atribuído é nesta edição do FFIL à escritora Hélia Correia, também ela uma influência de Guerra Junqueiro tanto na parte literária, na sua poesia e no discurso poético da sua obra, como nas convicções políticas que sempre entusiasmaram estes grandes nomes da literatura nacional.

A vida e obra do poeta freixenista Guerra Junqueiro será o mote para todas as intervenções culturais, com destaque para o uso da língua portuguesa, onde os escritores se reúnem para debater e explorar toda a vivência do seu tempo, sempre atual.

A autora Lídia Machado dos Santos marcará presença no festival literário do Douro Superior com ‘As Paisagens Junqueirianas em A Velhice do Padre Eterno de Guerra Junqueiro’ uma obra que foi a base do seu pós-doutoramento em Literatura Portuguesa e Lídia Praça, outra autora transmontana, levará até Freixo de Espada à Cinta ‘O Eco das Minhas Pátrias’, “uma viagem da autora onde não faltará a exaltação a Guerra Junqueiro”.

“A defesa da comunidade lusófona, quando informada e participativa, apresenta contributos vitais e decisivos para um desenvolvimento tanto a nível individual como coletivo, de uma comunidade em diáspora, se manifesta e desenvolve”, realçam os promotores do festival literário.

Este prémio literário, alargado à Lusofonia, “realça aquilo que deve ser a valorização e defesa da língua portuguesa como veículo e património cultural de uma identidade lusófona”, acreditam os promotores.

 

Retirado de www.mdb.pt (Jornal Mensageiro de Bragança)