segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

‘A FORMOSA PELICANA’ DE JOSÉ MÁRIO LEITE

 


Com 64 anos, o colaborador do Jornal Nordeste, José Mário Leite, lançou o seu quinto livro, ‘A Formosa Pelicana’. É gestor de ciência há mais de 20 anos, mas admite que a escrita é outro dos seus amores. Natural de Torre de Moncorvo, quis saber mais sobre Violante Gomes, a Pelicana, mãe de António de Portugal, Prior do Crato, que passou por Torre de Moncorvo

Como surgiu este livro?

Este livro surgiu em Torre de Moncorvo, de conversas com pessoas amigas, mas foi um livro que se me impôs. Ao contrário dos outros, que eu procurava o tema e pesquisava. Em Moncorvo, quando eu fui presidente da Assembleia Municipal, uma historiadora e professora abordou-me por outras razões e, em determinada altura, mostrou- -me preocupação com a casa da Violante Gomes, a Pelicana, mas eu desconhecia esta personagem de Torre de Moncorvo. Mais tarde, uma escritora de Moncorvo, Júlia Guarda Ribeiro, interrogava- -se ‘porque é que não há um romance sobre a Pelicana e dos seus amores com D. Luís de Portugal?’. E isto começou realmente a mexer comigo. Aconteceu que um dia estava no Chiado e fui até à FNAC e caiu-me na mão um livrinho de Manuel Alegre, que se chama ‘Auto de António’, e eu devorei aquele livro, sentei-me e li-o todo, mas foi de tal forma a empatia que tive de o trazer comigo. Era um livro sobre D. António, o grande herói que foi. Mas se o meu livro é sobre D. António, porque é que se chama ‘A Formosa Pelicana’? Por duas razões, uma delas porque a capa é lindíssima, é um quadro feito pela minha mulher e não lhe podia colocar outro título que não fosse este. Depois porque Violante Gomes era conhecida como a formosa Pelicana, era a mulher mais bonita do reino, no séc. XVI, e também porque, quando eu andei a fazer pesquisas é muito fácil encontrar dados, comentários, opiniões sobre homens, mas das mulheres não é tanto assim. Fiquei a pensar que para uma mulher ser falada no séc. XVI é porque tinha que ter muito valor, tinha que ter algo que a fazia sobressair. Portanto é de certa forma uma homenagem às mulheres bonitas, belas, formosas do Nordeste Transmontano.

É então um romance histórico?

É de certa forma um romance histórico. Eu não sou historiador, mas pesquisei muito, os pilares deste romance são factos históricos, depois construí em cima deles um romance. Este romance teve duas linhas, uma delas quando havia várias opiniões, de vários historiadores, obviamente que eu captava para mim aquela que mais me convinha para o romance, sem qualquer fundamento histórico ou científico, apenas me interessava aquilo que dava seguimento ao meu romance. Por outro lado, na ausência de dados e qualquer referência, fazia eu a própria história.

O que foi mais desafiante?

A construção do romance em toda esta história ou foi realmente esse trabalho de pesquisa? O trabalho de pesquisa foi fascinante, mas o trabalho de escrever é para mim uma catarse, dá-me muito prazer escrever. Uso os meus tempos livres quase todos para escrever. Há tanta coisa para dizer sobre o Nordeste Transmontano, sobre a minha terra, sobre a Vilariça, sobre Moncorvo e sobretudo sobre os concelhos raianos. Eu acho que os concelhos raianos, Bragança, Miranda do Douro, Vimioso, Freixo de Espada à Cinta e Torre de Moncorvo deviam erguer uma estátua a um judeu Isaac Ben Judah Abravanel. D. João II obrigou-o a ir para Espanha, onde foi muito próximo dos reis católicos. Era um homem cultíssimo, poderoso, um estadista, mas era também um teólogo, estudioso da Torá e decreto de Alhambra, que expulsou os judeus de Espanha, sendo que um dos destinos era Portugal. O desenvolvimento do Nordeste deve-se muito aos judeus que aqui ficaram e que ficaram por causa do Abravanel, não de uma forma directa, mas indirecta.

E com toda esta pesquisa ficou a saber mais sobre a sua terra…

É verdade, passei a saber muito mais sobre a minha terra, mas o meu livro também me permitiu enunciar algumas teses. Não sendo historiador, são teses minhas e que podem interessar de alguma forma aos leitores.

Que teses são essas? Uma delas é que o D. António era judeu e que foi isso que o condenou. Não foi o facto de ser bastardo. O que o condenou foi ele ser judeu, foi o seu sangue judeu, numa altura em que a inquisição se tinha instalado em Portugal. De qualquer forma há aqui uma curiosidade muito interessante. Este livro segue de perto a Bíblia e alguns fenómenos bíblicos transportados para o séc. XVI. Tem a ver também com a minha formação, porque eu andei no seminário durante alguns anos em Vinhais e em Bragança. E há na religião cristã um momento singular, que é o momento em que Jesus Cristo expira no gólgota. Nessa altura ele tem uma placa por cima da cruz que diz ‘Jesus Nazareno Rei dos Judeus’. Eu diria que o rei dos judeus foi o primeiro cristão. Portugal, em 1580, teve como rei um judeu. E é neste balanço que se passa o meu romance. Eu sinto muito as dores da mãe de D. António, que era judia e que de certa forma se assemelha às dores da Nossa Senhora ajoelhada na cruz. Ela sempre foi judia, imagino que terá morrido judia. O filho não sei se morreu cristão, ou se morreu ainda judeu, mas o momento exacto é esse e que eu também traduzo aqui no meu livro, sobretudo num gesto de D. António quando abandona Portugal nas margens da Vilariça. Outra tese tem a ver como casamento da Pelicana com D. Luís de Portugal. Há quem diga que aconteceu, há quem diga que não. É curioso que nos livros que li lá fora referem-se sempre a D. António como filho legítimo por acto secreto, ou seja, o casamento de D. António e da Violante Gomes aconteceu efectivamente e foi secreto. Há quem o coloque em Évora, há quem o coloque em Lisboa, mas não havendo registo nenhum eu coloco onde eu quero e para mim aconteceu na Vilariça. Há ainda outra tese que eu gostaria de deixar em aberto. A igreja de Torre de Moncorvo, que foi há época o maior santuário religioso que foi construído no Nordeste, foge ao que eram as características arquitectónicas da altura, em que as igrejas tinham a porta principal virada para poente e a lateral virada para sul. A de Moncorvo não tem. Nunca ninguém me deu uma explicação, mas eu tenho uma explicação no meu livro e acho que as pessoas vão gostar. Quando surgiu o gosto pela escrita? Eu fui colega do grande Ernesto Rodrigues no seminário em Vinhais e logo no primeiro ano que nós fomos para lá eu e ele ganhámos um prémio, eu em poesia e ele em prosa, e isso criou em mim uma apetência para escrever. Convivi sempre com escritores, com jornalistas, fui amigo do saudoso Teófilo, quando estava aqui em Bragança, do Fernando Calado, que também andou comigo no seminário, e tinha um anseio de escrever, mas também muito receio. Curiosamente, na altura em que o Teófilo, o Ernesto e outros formavam o chamado grupo ‘Chave D’ouro’, ao qual eu me atrelava, aventurei-me a escrever o ‘Cravo na Boca’, que foi o meu primeiro livro.

E é uma paixão?

É já uma paixão, sem dúvida. Uma paixão idêntica à que tenho pela minha terra. É curioso que este livro também tem um pouco do Teófilo. Quando eu publiquei o meu primeiro romance, ‘A morte de Germano Trancoso’, eu recordo-me que o Teófilo esteve na apresentação aqui em Bragança e queixou- -se que os escritores transmontanos criam muito sobre a sua terra e ficavam por aqui, não iam mais além, os temas não eram nacionais. Embora na altura contestasse, porque é normal quando se ouve uma crítica ser essa a primeira reacção, mas isso ficou- -me a moer cá dentro. Pensei que tinha que arranjar um tema nacional que também tenha a ver com o Nordeste, porque eu só sei escrever sobre o Nordeste, só sei escrever sobre aquilo que conheço, portanto, de certa forma, isto também é uma homenagem ao Teófilo.

Jornalista: Ângela Pais

Retirado de www.jornalnordeste.com 

BRAGANÇA RECEBE PRIMEIRA ETAPA DO CAMPEONATO DE PORTUGAL DE TRIAL URBANO 4X4



A primeira de seis etapas está agendada para os dias 30 de Abril e 1 de Maio. A nova competição foi apresentada este sábado, em Oliveira de Azeméis, e faz parte do calendário da Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting (FPAK).

Depois de ter sido apresentado e adiado em 2019, devido à pandemia da covid-19, a primeira edição do Campeonato de Portugal de Trial Urbano 4x4 vai, finalmente, realizar-se.

A cidade de Bragança será o ponto de partida da competição, nos próximos dias 30 de Abril e 1 de Maio. À cidade brigantina juntam-se Tabuaço, Oliveira de Azeméis, Torres Vedras, Amares e Gondomar no calendário da competição. São seis etapas no total na edição de estreia do campeonato

O campeonato é organizado pelo Clube Off Road Experience (CORE) e é certificada pela FPAK. A primeira etapa realiza-se no fim de semana de 30 de Abril e 1 de Maio, em Bragança, com a organização da Associação TT Sem Limites, e termina a 6 de Novembro, em Gondomar.

Também será em Bragança que se realiza uma prova do Troféu APTE (Associação Portuguesa de Trial Extremo), nos dias 6 e 7 de Agosto.

Calendário do Campeonato de Portugal de Trial Urbano 4x4

Bragança - 30 de Abril e 1 de Maio
Tabuaço - 4 e 5 de Junho
Oliveira de Azeméis - 2 e 3 de Julho
Torres Vedras - 17 e 18 de Setembro
Amares - 22 e 23 de Outubro
Gondomar - 5 e 6 de Novembro

 

Jornalista: Susana Madureira 

Retirado de www.jornalnordeste.com

sábado, 19 de fevereiro de 2022

Portugal não está em "situação crítica" nos fundos europeus (Lusa em, 19/02/2022 )

ELISA FERREIRA EM BRAGANÇA NA VISITA QUE FEZ A BRAGANÇA



A comissária europeia responsável pela Coesão e Reformas, Elisa Ferreira, considerou ontem que Portugal “não está numa situação crítica” em relação aos fundos estruturais devido ao atraso na posse do novo Governo.

A Comissária Europeia afirmou que “Portugal não está sem fundos” e que ainda está a tempo do quadro comunitário para o período entre 2021 e 2027, o chamado 2030, já que, até ao momento, apenas um país da União Europeia “fechou completamente as negociações”.

“Eu acho que, neste momento, não há nenhuma situação crítica, fizemos para esses contratos os acordos de parceria plurianuais de 21/27, o único país que fechou já completamente as negociações foi a Grécia, já no verão passado”, concretizou, em Bragança, à margem de uma visita ao parque tecnológico Brigantia Ecopark.

A repetição das eleições legislativas na maioria das mesas do círculo eleitoral da Europa vai atirar para março a posse do novo Governo, que chegou a estar prevista para a próxima quarta-feira.

Elisa Ferreira salientou que “Portugal não está sem fundos, teve fundos de emergência, fundos estruturais que foram reprogramados” para dar resposta à pandemia de covid-19.

Além disso, “ainda estão fundos excecionais a decorrer de reforço ao quadro anterior” para concluir o quadro comunitário 2014/2020, que ainda tem dinheiro.

Para a comissária europeia, “aquilo que é importante é que não se passe o ano de 2022 sem dar saltos importantes na negociação do quadro para 2021/2027”.

“Há negociações, há discussões entre a Comissão Europeia e as entidades portuguesas, isso convém que seja acelerado, de modo que no ano de 2022 se fechem essas negociações”, concretizou.

Segundo garantiu, quando essa negociação estiver fechada e o novo quadro comunitário em execução, “projetos que já foram iniciados em 2021 e que se encaixem nos novos programas ou projetos que tenham de ter sido interrompidos e que sejam divididos em duas fases que agora tenham continuidade podem receber retroativamente o financiamento”.

Para a comissária, o que é importante, neste momento, é que “haja uma discussão pública sobre o que é que se quer fazer com estas verbas reforçadas”.

“O que se vai fazer é bastante mais importante do que esta ânsia de dinheiro”, considerou.

Elisa Ferreira disse ainda que a União Europeia já está habituada “a que haja mudanças de governos em todos os países da Europa”.

Para a responsável pela pasta da Coesão e Reformas, “o mais importante é recentrar as discussões públicas, quer a nível europeu, quer em Portugal, sobre o que é que se quer fazer e apostar nos vetores certos”

“Já discutimos demasiado 'dinheiros', neste momento o dinheiro existe, mas a política de coesão não são os fundos, os fundos são um instrumento para se fazer uma política de coesão”, sublinhou.

Lembrou ainda que a fase inicial das infraestruturas já passou e que agora “as infraestruturas que são importantes são as da tecnologia, de acrescentar valor àquilo que já se costumava fazer, novas maneiras para a gestão dos produtos”.

Ao contrário do destino das verbas da 'bazuca', Elisa Ferreira alerta que “os fundos de coesão que vigoram desde 2021 até 2027 abrem uma perspetiva já não só de relançamento depois da crise, mas mais de estruturação do país e o país é a sua população e o seu território”.

A aposta terá que ser, como defendeu, numa “perspetiva de reestruturação do país e requalificação e dar oportunidades às pessoas para ganharem salários melhores e viverem uma vida melhor num país que ainda tem bastantes desigualdades”.

“É para isso que a política de coesão existe, para ajudar aqueles que não estão nos sítios mais dinâmicos a fazerem uma aceleração do seu progresso”, destacou.


Retirado de www.diariodetrasosmontes.com

Bragança retoma formato presencial do Festival do Butelo e das Casulas (Lusa, 14/02/2022)

O FESTIVAL REGRESSA ENTRE 25 E 27 DE FEVEREIRO À PRAÇA CAMÕES, NO CENTRO HISTÓRICO DE BRAGANÇA

 


Bragança retoma no último fim de semana de fevereiro o Festival do Butelo e das Casulas, que transformou os pouco valorizados enchido de ossos e vagens de feijão secas em dois produtos nobres da gastronomia regional.

Em 2021, a pandemia permitiu apenas vendas ‘online’, mas este ano a autarquia e a Confraria do Butelo e das Casulas decidiram voltar ao formato presencial com uma tenda para acolher 40 produtores, na Praça Camões, e uma semana gastronómica, com 26 restaurantes a servirem este prato.

Ao longo dos tempos, da tradicional matança do porco saía um butelo enchido na bexiga do animal com as carnes menos nobres e que as famílias guardavam para comer no Carnaval, com as casulas ou cascas, as vagens de feijão secas, que, depois de demolhadas, são cozinhadas com o butelo e outras carnes.

De um prato pobre e esquecido, o volumoso enchido e as cascas tornaram-se em produtos nobres da gastronomia regional desde que se realizam o festival e a semana gastronómica, há mais de uma década.

Um quilo de casulas é vendido a 11 euros e do butelo a 14 euros, como apontou o grão-mestre da confraria, Francisco Figueiredo, na apresentação do festival.

“Desde que existe este festival, o butelo e as casulas tiveram uma procura bastante acentuada e o preço tem acompanhado esta procura”, enfatizou.

O festival regressa entre 25 e 27 de fevereiro à Praça Camões, no centro histórico de Bragança, com cerca de “40 produtores que vão comercializar fumeiro, como butelo, salpicões e chouriças, produtos regionais, nomeadamente as casulas, azeite, mel, vinho e licores, e artesanato regional”.

Além desta venda, decorre também, entre 18 de fevereiro e 01 de março, a Semana Gastronómica do Butelo e das Casulas em 26 restaurantes aderentes.

Esta é uma época do ano em que “muita gente”, nomeadamente espanhóis, visita este território, como salientou o presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, que espera com o regresso dos eventos presenciais começar a “dinamizar a economia local”, através dos produtos mais apreciados, depois dos constrangimentos da pandemia de covid-19.

As restrições sanitárias que permanecem ainda têm reflexos nas festividades da época, com a autarquia a manter suspenso o Carnaval dos Caretos, que costumava decorrer em paralelo com o Festival do Butelo e das Casulas.


Retirado de www.diariodetrasosmontes.com 

SABOR BRASIL (3)

Maria Clara, conforme combinado, à hora certa, encontrava-se, acompanhada pelo pai, à porta da escola com uma pequena pasta onde levava pouco mais do que um caderno e um estojo.

O seu coração batia ligeiro, querendo saltar pela boca, tal era a aflição de enfrentar aquele mundo novo e enorme. A escola era muito grande, pelos seus padrões absolutamente gigantesca. Olhou para o pai com o olhar assustado como que a perguntar se podia voltar para casa. O pai sorriu o seu melhor sorriso.

- Não tenha medo filha. Você vai ver que a escola é maravilhosa e depressa você vai se habituar. Vai correr tudo bem. Tudo vai dar certo.

Timidamente, a menina acenou com a cabeça. Estremeceu ao som do toque de entrada. Apertou com força a mãe quente que amparava a sua e o pai, baixando-se, fixou nela o olhar meigo e sereno e disse-lhe:

- Hoje você vai viver um dia muito diferente daquilo que conhece. O colégio é grande, são muitos alunos, muitos professores, muita gente. Os seus colegas vão olhar pra você insistentemente. Não tenha medo. Não fique envergonhada. É normal, também te estão estranhando. Tenha calma e se tiver dúvidas fale com a professora. 

Deu-lhe um beijo, entrou com ela no edifício e levou-a à sala de aulas. Falou brevemente com a professora e saiu.

Maria Clara sentou-se afogueada, o coração aos saltos. Estendeu o olhar pela sala e pelos colegas mais próximos e ouviu a voz da professora a chamá-la. Deu um salto na cadeira e balbuciou um quase inaudível "Sim senhora professora?"

- Vem aqui querida. Vou apresentá-la à turma. 

Perante a insegurança da aluna, insistiu...

- Não tenha medo, venha.

Levantou-se trémula e dirigiu-se hesitante para o estrado onde se encontrava a docente que a apresentou à turma. Por sua vez, cada um dos colegas se apresentou.

Se lhe perguntassem o nome dos colegas, não saberia dizê-los. Apenas fixou o da sua colega da direita, Carolina e a da esquerda, Vilma.

Começou finalmente a aula.  

  

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

O Brigantino foi o pastel escolhido para representar a identidade da cidade de Bragança

                                            

Foi apresentado esta segunda-feira o Brigantino, um pastel doce, original, criado para representar a doçaria da cidade de Bragança.

A receita é da pastelaria D. Dinis, foi selecionada num conjunto de 13, num concurso de provas cegas.

Na base do Brigantino estão produtos locais, como a castanha, o mel e o azeite, a que foram acrescentados outros, como a farinha de amêndoa.

O município de Bragança pretende promover este pastel “como sendo representativo da cidade e da sua identidade”, explicou o presidente da Câmara, Hernâni Dias, durante a apresentação do pastel esta manhã.


Escrito por: Jornalista Glória Lopes 

Retirado de www.mdb.pt 

O amor já não é o que era? (Cátia Barreira, Diretora do Jornal Nordeste)

 


Em dia de fecho desta edição celebra-se o Dia do Amor, também chamado de Dia de São Valentim ou dos Namorados. Não podíamos deixar de sair à rua para perceber o comportamento em relação ao consumo. Falámos com empresários do ramo da hotelaria, ourivesaria e flores. Estes depositam as suas expectativas nestes dias nomeados, mas é certo que os recentes impactos globais da pandemia de COVID-19 têm afetado criticamente as pessoas. Os empresários sentem que os clientes estão preocupados não só com a saúde, mas especialmente com situação financeira. Serão apenas essas as razões para que esta época não ter correspondido à de anos anterior? Estudos apontam que a restrição da prática social tem gerado amplamente limitações no dia-a-dia, especialmente para os familiares que foram obrigados a viver juntos durante o confinamento. Os que não foram “obrigados” a viver juntos, “digitalizaram” as suas relações, o que leva a que o melhor presente do Dia dos Namorados seja um post bem repimpado nas redes sociais. Quem não gostou nada destas novas “modas” foi o nosso comércio tradicional. Se considerarmos os benefícios do confinamento, o tempo em família pôde ser obtido como um factor essencial que ajuda a criar laços fortes, amor, conexões e de relacionamento. No entanto, as evidências emergentes do aumento dramático nos problemas de relacionamento, incluindo violência e abuso, foram reveladas globalmente. Os dados relativos à violência no namoro estabilizaram, significa que as denúncias não aumentaram. Aliás, a PSP revelou que número de queixas de violência no namoro desceram 5% em 2020 face a 2019. À partida seria uma boa notícia, no entanto, não só os números mostram a realidade das coisas. Um estudo da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) mostra que 26% dos jovens acham legítimo o controlo, 23% a perseguição, 19% a violência sexual, 15% a violência psicológica, 14% a violência através das redes sociais e 5% a violência física. Resumindo, quase sete em cada dez jovens que participaram nesse estudo acham legítimo o controlo ou a perseguição na relação e quase 60% admitiram já ter sido vítimas de comportamentos violentos. Este dia é sempre altura de comemorar, mas também de repensar de que forma está a evoluir a sociedade e não me parece que estes dados sejam muito “amorosos” nos dias de hoje. Temos vindo a noticiar a abertura dos Balcões Únicos do Prédio por todo o distrito. Não estava muito clara a função deste serviço e muita gente mostrou dúvidas não entendendo para que serviam. Então nesta edição fomos tentar perceber qual é realmente a sua utilidade. Da forma como foi apresentado parecia que se podia registar um terreno sem custos, mas na verdade o que se pode fazer é georreferenciar um terreno, ou seja, podem ser identificados os limites dos terrenos, por meios digitais, assim como quem é o legitimo proprietário das matrizes e isso sim não tem custos. O resto é como sempre foi.


Retirado de www.jornalnordeste.com 

Fiéis rendidos ao novo arcebispo de Braga (Sandra Freitas) (13 Fevereiro 2022)

 




Sé lotada na primeira cerimónia de D. José Cordeiro. Marcelo Rebelo de Sousa destacou preocupação com os pobres, jovens e paz no Mundo.

O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, elogiou, ontem, as palavras de "atenção aos pobres e aos jovens" proferidas por D. José Cordeiro, na primeira cerimónia que presidiu como arcebispo de Braga, na Sé catedral. Os fiéis, também, ficaram rendidos ao ex-bispo de Bragança-Miranda. Destacaram a mensagem orientada para todas as idades e a preocupação com "o povo que trabalha".

"Gostei imenso da cerimónia. O D. José Cordeiro falou de forma clara e transparente para todos, desde os jovens aos idosos", regozijou-se António Sampaio, à saída da missa que se prolongou por mais de duas horas.

Do que reteve da homilia, o fiel de Vila Nova de Famalicão destacou o "apelo à serenidade", mas também a sensibilização do novo arcebispo para as questões relacionadas com "a caridade, de estarmos juntos e partilhar a fé com a comunidade".

"Ficamos com uma nota fundamental. Aquilo que se pretende é que o cheiro a ovelha não seja um cheiro que as pessoas achem mau, mas muito natural. Durante muito tempo em Portugal, quem cheirava a trabalho era considerada uma pessoa menor, mas quem cheira a trabalho é uma pessoa que faz por isso", frisou Emídio Peixoto, um dos bracarenses que elogiou a cerimónia, sem esquecer o antecessor de D. José Cordeiro.

"D. Jorge Ortiga merece todo o reconhecimento da cidade de Braga", defendeu o fiel, acompanhado pela mulher, Marta Melo.

Para Marcelo Rebelo de Sousa, "o apelo de atenção aos pobres e aos jovens" e "a preocupação com a paz entre as pessoas e no Mundo são mensagens muito atuais e muito importantes para todos, crentes e não crentes".

Mais antiga

O presidente da República sublinhou que "não podia faltar a este momento", por se tratar da Arquidiocese "mais antiga de Portugal". "Foi do Norte para o Sul que se foi fazendo Portugal e a Arquidiocese de Braga teve uma influência decisiva", frisou.

A par do chefe de Estado, também a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, esteve presente na cerimónia em representação do primeiro-ministro.

A Sé de Braga encheu-se, ainda, de fiéis e curiosos. No exterior da catedral, houve quem resistisse à chuva e ao frio e assistisse à celebração através do ecrã gigante, montado no Rossio.


Retirado de www.jn.pt 

domingo, 13 de fevereiro de 2022

Entrevista transcrita do Professor Doutor Fernando Faria Correia, médico oftalmologista

Conforme previsto, temos o prazer de publicar a entrevista realizada ao Professor Doutor Fernando Faria Correia.



Entrevista ao Professor Doutor Fernando Faria Correia

 

Maria Cepeda (M.), entrevistadora

Fernando Correia (FC), entrevistado

 

M. – Obrigado por ter vindo! Hoje temos connosco o Doutor Fernando Faria Correia que é investigador da Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho e foi o único especialista da Península Ibérica a integrar a “lista Top 40, abaixo dos 40 anos”, elaborada pela Biophtalmologist [ou Biophtalmology Jourmnal ou Ophtalmology Journal?] a principal revista científica do setor e isso aconteceu em 2015, se não estou em erro.

É um oftalmologista talentoso que tem publicado artigos importantes na área de ceratocone, catarata e cirurgia refractiva. É especializado em cirurgia refractiva córnea e cirurgia de catarata. É revisor de várias publicações científicas além de pertencer ao grupo de tomografia e biomecânica do Rio de Janeiro. Publicou dezenas de artigos científicos e recebeu inúmeras distinções.

Concluiu a licenciatura em Medicina na Faculdade de medicina da Universidade do Porto em 2007 e realizou o internato de formação específica em oftalmologia no Centro Hospitalar de S. João, Porto, Portugal, de 2009 a 2012. Durante o último ano de internato integrou a Fellowship de Córnea e Cirurgia Refractiva liderado pelo Professor Doutor Renato Ambrósio Júnior, Rio de Janeiro, Brasil. Em 2013, realizou outro Fellowship em Catarata e Cirurgia Refractiva liderado pelo Dr. George Waring, na University of South Caroline Storm Eye Institute, na Carolina do Sul, Charleston, nos EUA. Além de ter uma prática clínica movimentadíssima, atua ativamente na pesquisa clínica e integra as atividades do grupo de estudos em Tomografia Biomecânica da Córnea do Rio de janeiro. Também atua ativamente no ensino, sendo instrutor em vários cursos e orador convidado em distintas conferências internacionais. Em 2017, defendeu a sua tese de doutoramento em medicina, obtendo o título de Professor Doutor e concluiu ainda o curso de Physian CO na Kellogg School of Management, na Western University, nos EUA. FC. - Chicago.

 

M. - Em Illinois. Ora, o Professor Faria Correia é revisor de várias revistas internacionais de oftalmologia. Desde 2020 faz parte do conselho editorial da Cataract and Refractive Surgery Today Europe. E é membro do conselho internacional da International Society of Refractive Surgery. Atualmente, também é editor chefe da Revista Oftalmologia da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO). Ora, isto é um currículo que nos deixa sem fôlego, apenas com 38 anos de idade.

Hoje temos então o privilégio de o entrevistar. Um jovem transmontano, natural de Bragança, com provas dadas na sua profissão a nível nacional e internacional. Professor Doutor Fernando Faria Correia, com apenas 38 anos, e volto a repetir, tem um currículo impressionante. Avancemos com as perguntas…

De que forma, o facto de, apesar de não ter nascido em Bragança, mas tendo sido cá registado, de que forma esse facto o influenciou?

FC. - Antes de mais, obrigado pelo vosso convite para participar na entrevista.

M. - Para nós é um gosto.

FC. - Sabe que eu tenho uma saudade enorme em passar no IP4, no Marão, quando vejo aquela placa “O Reino Maravilhoso” de Miguel Torga… para lá do Marão mandam os que cá estão. Estou desde 2001 na Cidade Invicta e quando falo dizem que “este sr. Não é de cá; tu não és de cá, és transmontano”. O sotaque fica, felizmente. E tenho muito orgulho em dizer que sou transmontano e que sou de Bragança. Sou brigantino.

M. – Ótimo! Isso a nós só nos deixa felizes! E isso influenciou de alguma forma a sua maneira de estar na vida?

FC. – Influenciou porque aqui, Bragança é, vamos dizer, um microclima que nos permite crescer de uma forma mais natural; permitiu-me, a mim, preparar-me para enfrentar um pouco a sociedade, enfrentar o trabalho, enfrentar o estudo, estar em momentos só porque estive em muitos cantos do mundo sozinho, muita viagem de avião sozinho, espera de avião nos aeroportos e a gente, na solidão, às vezes, aprende a filosofar, a meditar e é aí que crescemos como pessoas, como também o que nós podemos contribuir para a sociedade, nomeadamente… acho que o que fez isso… por exemplo, eu estou aqui, num local onde dei os meus primeiros passos. Isto era o 2.º ciclo, a preparatória Augusto Moreno era aqui, fui aluno aqui e é um prazer enorme estar aqui a dar esta entrevista num sítio que me preparou para enfrentar hoje este planeta Terra, que é, cada vez mais difícil.

M. – Muito, realmente! Agora vamos para a profissão que escolheu e eu perguntaria: porquê oftalmologia?

FC. – Foi uma opção difícil. Estive até à última hora antes de ir para a cama a escolher entre oftalmologia ou cirurgia plástica. O meu pai não se meteu em nada disso. Escolhi oftalmologia. Porquê? Oftalmologia tem uma vertente que é a cirurgia de micro incisão.  Cada vez mais, a medicina evolui para técnicas minimamente invasivas. Ainda hoje, recebi uma notícia que está relacionada com o meu doutoramento que são uns colírios que se colocam nos olhos que revertem a vista cansada. Foi aprovado pelo FDA. Esse tipo de medicamento está um pouco relacionado com a temática do meu doutoramento. É uma especialidade que, além de ter o componente cirúrgico, tem componente médico, tem exames complementares de diagnóstico e é uma especialidade inovadora. Foi a 1.ª especialidade onde se usou o laser, a palavra mágica, e acho que na medicina é aquela especialidade que é de ponta em termos de desenvolvimento.

M. – Como sabe, o meu marido cegou, está cego neste momento, depois de vários problemas a nível oftalmológico e depois de várias cirurgias… na altura não havia resposta. Imagino que se fosse hoje, talvez houvesse resposta para o que lhe aconteceu. Mas, enfim, avancemos, que a vida não para. Depois da especialidade não se deu tempo para descansar. Quer falar-nos do seu percurso académico e profissional?

FC. – Eu, se calhar, não vou descansar neste mundo. Talvez no próximo.

M. – Pois, vejo que sim! É que não se dá tempo mesmo! Não pára!

FC. – Não vou descansar neste mundo… Na próxima semana vou para Nova Orleães. Vou receber outra vez mais uma distinção da Academia Americana de Oftalmologia.

M. – Parabéns!

FC. – Sabe que, as pessoas que referenciou há bocado – o Renato Júnior e o George Waring IV, são filhos dos colegas que introduziram a cirurgia refractiva nos EUA e no Brasil. E eu vou receber a medalha Waring, por ter sido a pessoa que mais contribuiu para a promulgação e desenvolvimento do conhecimento da cirurgia refractiva no ano 2020/2021em termos mundiais e vou receber essa medalha a Nova Orleães. Daqui a três semanas vou estar no Dubai a dar formação. Mais a clinica, mais os doentes e mais a família que é importante. É a pedra basilar. Portanto, não é neste mundo que vou descansar.

M. – Mas seja feliz não descansando!

FC. – Não, não! A gente quando corre por gosto não se cansa, já dizia o meu avô.

M. – Nem mais! Quando corremos por gosto nunca cansamos. E eu acho que tem muito chão para andar.

FC. – Ah, sim! Eu acho que…é o seguinte: a questão…a minha felicidade foi ter-me cruzado com as pessoas mais incríveis da minha vida. Foi desde o meu avô materno…

M. – Que lhe deixou muitas saudades…deixou imensas saudades. E sabe que a minha avó, aqui para amenizar um bocadinho, a minha avó era prima carnal do seu avô, o pai da sua mãe.

Pois…é difícil…quando gostamos dos nossos, é muito difícil. (Aqui, por breves momentos, a emoção falou mais alto e Fernando Correia chorou pelo avô materno)

FC. - … e o meu pai e um professor brasileiro que é como um irmão. Há pessoas que…não fazem o trabalho, mas indicam a orientação que devemos ter.

M. – Guiam-nos, não é? E nós, às vezes, o que precisamos é de ter alguém que nos guie. Eu também, felizmente. Todos nós, acho que tivemos…quem nos guiasse. Isso é bom. É ótimo! Nunca o perdemos.

FC. – A questão é que…as pessoas às vezes pensam que o trabalho sai. Está tudo feito. Às vezes é uma inspiração divina, às vezes é o toque de Midas, mas às vezes é aquela fortuna de estarmos na sala e cruzarmo-nos com aquela pessoa boa que… Eu amanhã vou estar a operar com o meu pai e já sei que o meu pai sabe onde vai cair o bilhar. Já sabe onde é que vai acontecer alguma coisa, já sabe. E é isso que é como um anjo da guarda.

M. – Sim, sim.

FC. – E é bom a gente ter assim um anjo da guarda.

M. – É fundamental.

FC. – É. Na medicina e em tudo na vida.

M. – Em tudo mesmo. Estou a ficar comovida porque vejo que dá imenso valor à sua família como eu dou à minha… o meu pai faleceu há dois anos, quase três. Realmente isso mexe connosco. São perdas que apesar de o serem, continuam presenças, continuam no nosso coração, no nosso pensamento.

FC. – Exatamente.

M. – Isso é o que importa. Há um anjinho que está sempre connosco. Fale-me do facto de integrar o Top 40 de oftalmologia abaixo dos 40 anos.

FC. – Integro. A mim, o que mais me valoriza, é o próximo prémio que vou ganhar. A gente tende a pensar sempre no futuro.

M. – No que vem a seguir.

FC. – Nós temos de sair da zona de conforto. Foi bom o reconhecimento… é bom a gente ser reconhecida lá fora como cá dentro pelos nossos pares e isso significa que o caminho está a ser bem trilhado. O nosso foco tem de se manter nesse ponto. Foi bom. Foi muito bom, mas a gente quer sempre um bocadinho mais. É claro que, nesse aspeto… foi importante ser reconhecido abaixo dos 40 anos… acho que era o mais novo dessa lista.

M. – Foi em 2015…

FC. – Em 2015.

M. – Foi há seis anos.

FC. - Há seis anos ainda nem era doutorado, estava a começar a dar os primeiros passos, mas eu ainda me lembro de ter feito o meu exame final de especialidade e passados dois dias estava…fiz em Braga… e passados dois dias estava em S. Francisco a dar cursos de formação. E… fui substituir o meu professor brasileiro num desses cursos com professores, que inventaram as máquinas para fazer os exames de córnea e eu pensei “Mas eu estou aqui tão pequenino; sinto-me tão constrangido”. Mas pronto, é com esse tipo de experiências que a gente cresce, portanto, integrar é bom! É bom porque nos reconhecem. Não é uma questão de ego, é uma questão de humildade mantermo-nos sempre com os pés assentes no chão e termos também um pouco de gratitude [gralha do entrevistado - leia-se “gratidão”]. A gratidão é muito importante.

M. – E saber que nós fizemos por isso, porque se nos cair assim de mão beijada não tem valor…

FC. – Sabe que eu já mandei muita gente, muito médico interno para o Brasil para ao pé do meu professor e a admiração que o meu professor tem por mim por causa do trabalho que eu fiz com ele, que… ainda hoje se ele precisar de alguma coisa, meto-me no avião e vou de propósito ao Rio de Janeiro para o ajudar nalgum problema, seja ele qual for… Ele era uma pessoa que fazia o trabalho, mas era uma pessoa que pouco vivia a vida. Ou seja, estava 100% no trabalho, 100% na balada, na noite com os amigos e acho que é esse o segredo da vida dele: é estar 100% com a família, 100% com o trabalho e 100% com os amigos. E isso, para voltar à primeira questão, só aprendi aqui em Bragança.

M. – Eu sei… Posso chamar-lhe Fernando?

FC. – À vontade!

M. – Sei que o Fernando tem duas crianças pequeninas e muitas vezes… eu já tinha ouvido falar do Fernando. Quando ia a alguma consulta com o seu pai ele falava sempre “o meu filho, o meu filho” e então eu, sem o conhecer, já o conhecia um bocadinho e uma coisa que admiro imenso – como é que consegue conciliar a sua vida profissional, que é uma loucura, com criar os filhos? E a gente diz assim: caramba, será que o seu dia tem 48h? E o meu só tem 24h?

FC. – O que importa é que os filhos estejam sempre bem!

M. – Pois, é isso! Eu acho incrível!

FC. – Porque o meu pai também é uma pessoa que se esfarrapou muito… foi uma pessoa que trabalhou muito e ainda continua a trabalhar com a idade que tem.

M. – E muito.

FC. – E muito! E isso é que é preciso sublinhar porque eu, olhando para a minha infância, olhando para a minha adolescência, o meu pai estava ausente, porque estava no internato do S. António, porque ao fim de semana tinha de ir para Moncorvo. Os consultórios estavam abertos até às 10, 11 da noite e eu já estava na cama, mas havia problemas para resolver, havia…

Quando se abraça esta profissão, a gente não tem horários e é aquilo que eu muitas vezes digo… Ainda ontem operei um rapaz à miopia e a mãe, “como é que faz com a marcação?” – “Não se preocupe que eu vou-lhe ligar!”, -“A sério, vai-me ligar?”, -“Vou-lhe ligar.” Porque é a minha obrigação, é o meu dever saber como é que estão as coisas e se há problemas…

Lembro-me, no meu 2.º ano de especialidade. O meu pai liga-me. Eu estava no Porto. – “Estou, Fernando? Passa-se isto: um doente veio de Angola e está com um pedaço de aço metido no olho há duas semanas. Está com uma endoftalmite, está com um escoamento da retina e isto é para operar. Vais tu e o Dr. Eduardo Conde.”

M. – Foi quem operou o Marcolino.

FC. – O Eduardo Conde… Fomos lá… Entrámos no bloco da Ordem de S. Francisco às 11:30 da noite e saímos da Ordem às quatro da manhã e às seis da manhã fomos para os EUA os dois.

M. – Realmente! E ficou bem?

FC. – Ficou bem. Claro que o olho já estava totalmente destruído com a infecção, mas com silicone conseguimos manter o olho para que não entrasse em atrofia… É preciso fazer sacrifícios. É preciso ter uma mente aberta e eu, isso, bebo do meu pai.

M. - Sim. Sempre foi um lutador, pelo que eu conheço. Ora, a sua prática clínica é muito movimentada. Desenvolve-a em diversas instituições. Quais são as principais dificuldades com que lida no dia a dia, se é que elas existem?

FC. – Existem muitas. Por exemplo, eu estava a trabalhar no Hospital de Braga. Ainda fui para lá com a parceria público-privada e abandonei porque aquilo está muito burocrático e o SNS está a enfrentar problemas diferentes e eu, por exemplo, tive um curso nos EUA sobre gestão na saúde e também vejo que os privados estão com muitos problemas sérios e acho que o problema é não ouvir a comunidade médica, a comunidade de saúde, nomeadamente enfermeiros… As pessoas têm de saber como é que isto funciona, tem que se ouvir o doente porque isto tem de funcionar de uma forma fluída, não pode haver gargalos.

M. – Pois não, mas há muitos.

FC. – Há muitos gargalos… os americanos chamam-lhes os “bottlenecks” e isso contribui para que a experiência, tanto no público, como no privado, tanto para o doente, como para o profissional de saúde seja agradável. Eu quero trabalhar e não estou para me chatear com papelada… Eu quero trabalhar, quero que a pessoa venha, se sente… e aquela barulheira toda que vemos nos hospitais é transversal no nosso país. Isso é o que me perturba mais. Eu não sou político e nem tenho pretensões de ser… de enveredar por esse caminho, mas acho que a Ordem dos Médicos, e mesmo outras instituições ligadas à saúde, têm de se preocupar mais… se não isto nunca mais… a gente nunca mais vai conseguir tratar os doentes de uma forma adequada.

M. – É exatamente isso que eu penso. Eu vou ao meu médico e digo o que preciso e ele no computador. Nem sequer vê as tensões, nem sequer me ausculta o coração… Ele escreve o que eu peço, “Olhe, doutor, eu preciso disto” e ele passa. As minhas consultas são assim. Eu não sei como são as dos outros, mas que é muito…

FC. – Impessoal! A empatia é muito importante na profissão médica e acho que estamos a perder certos valores… mas isto não é só em Portugal, também acontece em qualquer lugar do mundo. Daqui a vinte dias tenho colegas peruanos cá. Trabalham em Cuscos e convidaram-me para ir lá fazer cirurgia para o ano que vem. Eles estão só no privado. O SNS em Portugal é uma das melhores riquezas que nós temos!

M. – Então não é? Sem dúvida!

FC. – E acho que as pessoas, os portugueses, os políticos… e a questão da comunidade médica, científica, da saúde em geral… as pessoas têm que perceber que têm um legado muito grande e tem de ser preservado. Eu vejo, por exemplo, na Dinamarca. A gente paga os impostos e tem um SNS impecável, um sistema educacional impecável. Nós aqui estamos com vários problemas…

M. – E não vemos a luz ao fundo do túnel…

FC. – Não, porque, por exemplo, há situações como são as questões das listas de espera, material, por exemplo, doentes chumbados por falta de material e depois quando estamos a falar de áreas oncológicas ou áreas de doenças metabólicas ou doenças raras, mas mais as doenças oncológicas em que há listas de espera de meses… não pode haver falhas no SNS.

M. - Pois não, mas, infelizmente, há.

FC. – Infelizmente há!

M. – Precisamos de muitos professores doutores “Fernando Faria Correia” para ver se isto melhora… mas é difícil encontrar muitos assim.

FC. – Obrigado!

M. – Tem mais de cem trabalhos científicos. Mais de cem, incluindo artigos, capítulos de livros e resumos em reuniões de sociedades científicas e, para além disso, ensina, porque é instrutor de vários cursos e é orador convidado em conferências pelo mundo inteiro. Eu pergunto: como é que consegue conciliar isso tudo, mais a clinica, mais a família, mais tudo o que faz?

FC. – Vou-lhe contar. Quando fui ao Egito em janeiro de 2016, acho eu, até fui com o Rafael Barraquer, eu e ele convidados.

M. – Barraquer? O Marcolino foi várias vezes visto por ele.

FC. – Em Barcelona?

M. – Em Barcelona.

FC. – Fui com ele. Eu ia no avião…fui no voo da Lufthansa, saí do Sá Carneiro e encontrei um ortopedista meu amigo, o Francisco Serdoura, “Para onde é que vais?” – “Vou para o Cairo.”, - “E eu para Atenas. Então ainda vamos tomar um cafezinho.” E ainda fomos ver umas maluqueiras de carros que ele… o táxi à nossa espera, depois comemos e bebemos e eu chego ao avião, abro e vejo que as cinco palestras que eu tinha estavam todas em ordem. Adormeço. No meio do avião sou acordado pelo vizinho do lado. Estava uma pessoa em paragem cardiorrespiratória. Só estou eu e um enfermeiro. A pessoa em causa era uma pessoa acidentada, tetraplégica, canadense, e foi a pior experiência de impotência na minha vida. Nessas viagens, vamos descansados para dar umas palestras e acontecem estes imprevistos. Tivemos de aterrar de emergência em Atenas. Chegar ao Cairo. Apresentações. Vir. Depois o Cairo (não sei se sabe como é: são cinco horas desde o aeroporto até ao hotel), fazer cinco apresentações em menos de 30h e depois vir outra vez. Cheguei ao aeroporto e fui para Santa Leocádia para uma festa de anos de um amigo meu, ali ao pé do Pinhão, portanto, a gente tem de estar presente em tudo. Está a entender?

M. – Tem uma grande capacidade de presença, sem dúvida!

FC. – Aquilo que dizia o meu professor brasileiro: dar 100% a tudo. A questão é que, às vezes, pode meter confusão a muita gente. Eu gosto muito de estar sozinho, gosto de… pensar na minha vida porque depois quando estou nestas alturas, sinto-me focado, mas se me perguntar, “100 trabalhos?” – se calhar já tenho mais. Já nem os conto.

M. – Pois!

FC. – Em alguns já estou em 4.º lugar… tudo porquê? Porque são internos. Depois a gente também tem que saber… Quando vêm atrás de nós, temos que ajudar.

M. – Claro.

FC. – Já tenho amigos que estão a começar a fazer o doutoramento que vão ajudar… mas o que importa é que a gente esteja sempre ligado a alguém.

M. – Sim, sim.

FC. – E dá tempo para tudo. A gente tem é que ter uma grande capacidade organizativa. Aí quem tem culpa é a minha mãe. A minha mãe, que é economista… ela…

M – Ela organiza.

FC. – Não. A minha mãe tem uma capacidade de organização brutal e isso herdei dela. E acho que isso também é da vertente do meu avô Tozé que era uma pessoa muito organizada nas coisas e acho que eu sou assim… quer dizer, quando era pequeno, adolescente, saía à noite, havia testes, estudava, mas depois também ia para a boa vida, mas havia uma coisa que era disciplina… e havia uma coisa que era organização.

M. – Disciplina e responsabilidade.

FC. – Responsabilização nas coisas.

M. – Claro, sem dúvida nenhuma. Isso também tive a minha dose de responsabilização e acho que os pais que são pais responsabilizam.

FC. – Pois.

M. – A evolução científico-tecnológica na oftalmologia tem sido muitíssimo significativa. Até onde poderá chegar essa evolução? Podemos falar, e aqui peço desculpa pela minha ignorância, podemos falar em transplantes de olhos? Será o fim da cegueira?

FC. – É uma pergunta ratoeira porque nós por causa da cegueira temos várias doenças. Nós temos doenças nas diferentes lentes do olho, o nosso olho tem duas lentes: uma que é a córnea, que é esta lente à frente da menina da vista, temos uma atrás da menina da vista que é o cristalino, que é onde vamos ter a catarata e temos depois a retina e na retina, escoamentos de retina… a retina é o rolo da câmara, é a parte mais sensível. E a retina é a parte em que talvez as células estaminais poderão funcionar melhor… a terapia génica. Nós até agora na revista de Oftalmologia, o João Pedro Marques, de Coimbra, fez lá um editorial só a terapia génica para um doente… que é uma doença hereditária. E agora falo de outra coisa: e a impressão 3D? Por exemplo a estrutura, que nós temos à frente do olho, a córnea, é uma estrutura transparente, avascular como uma lente e… pode ser transplantada, portanto, já há estudos que estão a avançar nesse aspeto. É uma causa de cegueira. Portanto, acho que temos a questão da cegueira na córnea que pode ser tratada mais facilmente por causa da impressão 3D. A parte da retina depende muito da patologia – se é genética temos terapias genéticas. No futuro há que descobrir qual é que é o gene que está em causa e fazer o… silenciamento ou ativar esse gene através das terapias genéticas. Se são células que estão em falta, por exemplo, as que morreram por causa de uma trombose, por causa de um escoamento de retina, podemos usar talvez um tratamento diferencial, instalar o tronco… Podemos estar aí nessa fase em que a gente…

M. – Tenho em casa quem já sofreu muito com isso e neste momento não vê nada. E sempre à espera de que alguma coisa possa acontecer. Sei que no caso do Marcolino, muito provavelmente, já não vem a tempo, mas o futuro a Deus pertence e a nós resta-nos esperar…

FC. – Veja a questão do olho biónico… ainda agora é retratado no último filme do 007. O olho biónico é uma tecnologia que assusta. O último filme do 007, mesmo em termos de armamento químico direcionado para os genes que cada um manifesta, que cada um tem no sangue, e mesmo a questão do olho biónico, isso assusta porque, por exemplo, quando fui a Charleston, na Carolina do Sul, essa universidade tinha feito o 1.º transplante do olho biónico.

M. – Ah, é? E correu bem? Funcionou?

FC. – É o seguinte … é a perspetiva de cada um de nós.

M. – Claro. Bem, o futuro…

FC. – A Deus pertence!

M. – Ora, e para além disto tudo de que já falámos e que foi uma ínfima parte do que faz,  ainda tem tempo para ser editor chefe da revista Oftalmologia da sociedade Portuguesa de Oftalmologia…

FC. – Isso foi o convite endereçado pelo presidente da SPO, o Professor Rufino Silva de Coimbra, que abracei com muito gosto, e ainda esta semana tive reunião com ele que me disse, “Tu ainda não te mandaste de uma ponte abaixo?” Porque aquilo é um trabalho muito ingrato. É um trabalho muito ingrato porque apanhámos a revista num estado comatoso, praticamente, e era aquilo que eu lhe dizia – hoje os médicos internos do serviço de oftalmologia estão apinhados, estão cheios de trabalho e é preciso ter uma capacidade organizativa… para tratar bases de dados, ficheiros Excel… chegar a casa, analisar os ficheiros Excel e escrever e isso os internos, são gente nova que querem ir jantar fora, querem ter vida social, como toda a gente, como eu também tive e é preciso ter espírito de sacrifício. E as pessoas não têm hoje. Hoje o paradigma do SNS, relativamente aos médicos internos, que não têm uma vaga onde vão ficar a trabalhar no futuro, já não estão tão preocupados com a produção científica e de indexação…estamos a trabalhar nisso, mas dá muito trabalho. Dá muito trabalho. Temos de cativar as pessoas certas para escrever. Eu também escrevo. Mas podia escrever para uma revista indexada.

M. – Eu li um editorial seu.

FC. – Sim, mas podia estar a escrever… mas também escrevo para lá. Basicamente é isso.

M. – Pois. Continuo a achar que o seu dia tem 48h! Como médico, quais foram as maiores dificuldades que teve de enfrentar com a pandemia?

FC. – Tenho uma cicatriz aqui na face…

M. – E como é que a fez?

FC. – A ver doentes COVID com aquelas máscaras horríveis no Hospital de Braga. É uma…

M. – Sim, já vi! E ficou mesmo.

FC. – Essa é uma cicatriz que eu guardo da pandemia.

M. – Realmente, vocês passaram por muito, muitíssimo, mesmo. Nós, os leigos nem sequer desconfiamos. Mas valeu a pena ao menos?

FC. – Valeu a pena.

M. – Já é alguma coisa, não é? Ora, enquanto transmontano, o que, em sua opinião deveria ser feito para impedir a desertificação do interior?

FC. – Já devia ter sido feito há muito mais tempo, se calhar. Isto é o seguinte: Portugal tem um problema enorme e agora com o preço dos combustíveis a subir… Onde estão as ferrovias? Onde estão os caminhos de ferro? Não temos! Nós temos aqui o melhor instituto politécnico do país e temos que dar graças às pessoas que se envolveram sempre neste projeto porque dinamizaram a região e a cidade. Temos também de dar os parabéns aos presidentes da câmara que tivemos porque desde o programa Polis até hoje ao presidente eleito, o Dr. Hernâni, isto…a cidade está muito agradável; é uma cidade muito agradável de se viver, tomara eu ter esta qualidade de vida no Porto. O que é que é preciso? É arranjar forma de cativar as pessoas cá. Pessoas jovens. O que é que querem as pessoas jovens? Querem é ter formas de lazer… produtos, dar a conhecer e acho que há aqui…

M. – E um salário condizente com as necessidades.

FC. – Isso… se for falar com as pessoas, hoje os salários são o grande problema do nosso país, o salário e não só – é o poder de compra. E o poder de compra já. Isto, com a pandemia fez reacender aqui algumas coisas por causa do teletrabalho e o teletrabalho até poderá ser uma questão importante agora para o futuro. Porquê? Porque uma pessoa que ganhe 800/900 euros no Porto, que é que faz da vida? Nada!

M. – Não vive.

FC. – Aqui ainda consegue viver. Está a compreender? É aquilo que eu digo muitas vezes: é certamente da maneira como isto está hoje, os produtos, as matérias-primas estão a subir de preço. É desde o bacalhau até o leite, a carne, os ovos…

M. – Pão.

FC. – Tudo. A comida vai subir. Os combustíveis estão a subir… As pessoas começam a pensar… se calhar, famílias jovens começam a pensar, “Eu tenho trabalho em Bragança”… Eu tenho uma amiga, que é minha doente, que é de Santa Marta de Penaguião, que veio cá à clinica de Bragança com uma úlcera da córnea. É advogada. Trabalhou em Lisboa. Foi para Santa Marta de Penaguião, Lamego trabalhar e tem muito trabalho! “Agora, vou, não gasto praticamente dinheiro em combustível”…

M. – Justamente.

FC. – “Tenho hipermercado, tenho tudo. Estou a 1h do Porto”… e a gente, aqui em Portugal, aqui no interior, não é só em Bragança. Acho que há cidades no interior que se estão a desenvolver graças muito à questão das CM, institutos politécnicos. Então, aqui no de Bragança há que sublinhar que fizeram um trabalho excelente. Devemos dar os parabéns e acho que é isso que vai permitir que muita gente se fixe aqui no interior. Agora, temos questões políticas também para analisar, desde a ferrovia. Por exemplo, uma pessoa… Vou-lhe dar o exemplo do túnel do Marão. Quantas pessoas eu conheço da minha classe médica que vivem no Porto e que vão trabalhar a Vila Real? Muitas!

M. – Muitas?

FC. – Muitas!

M. – Agora se nós tivermos… Temos aqui uma estão de TGV.

FC. – Eu sei, na Ponferrada.

M. – Se nós tivéssemos um comboio, em quanto tempo nos púnhamos daqui ao Porto?

FC. – Em 75 minutos se tivéssemos um comboio desses.

M. – E realmente também não consigo, não consigo entender por mais esforços que faça, portanto, este desapego… Bragança é tão longe… deixá-los lá, os pobrezinhos, não é? O Marcolino diz que faltam eleitores. Como há poucos eleitores, então, não vale a pena. É a cruzinha! Vamos lá ver se nós, eu já não, mas os jovens, se conseguem mudar alguma coisa.

FC. – Não me vou candidatar à câmara, deixe estar!

M. – Não, não está muito bem!

FC. – Nunca se sabe.

M. – Sim, o futuro…

FC. – Só a Deus pertence!

M. – Só já tenho mais uma pergunta! Gostava de saber se quer dizer mais alguma coisa sobre a sua profissão ou sobre o que entende da vida.

FC. – O que entendo da vida é muito complicado. Eu já lhe disse que eu há… poucos aspetos que a gente tem para se reger na vida. Para já, temos de ter objetivos, temos de ter um foco, temos de ter concentração e é assim que a gente consegue atingir as metas. Se nós, depois atingirmos as metas, quisermos mais, é bom porque somos ambiciosos. É claro que essa ambição tem de ter sempre algum limite, mas é bom que seja sempre apimentada de vez em quando. Eu, por exemplo, poderei estar um bocadinho parado agora por causa de ser editor chefe da revista da SPO, mas as pessoas sabem quem é que eu sou lá fora, está a entender?

M. – Sim, sim.

FC. – Como lhe disse, para a semana, vou, vamos, eu e o meu pai vamos a Nova Orleães receber esse reconhecimento da Academia Americana de Oftalmologia que é a comunidade científica mais prestigiada do mundo da oftalmologia.

M. – Que maravilha!

FC. – E depois vou ao Dubai dar mais uma formaçãozinha de córnea, de lentes fáquicas para correção de miopia. Isto só para lhe dizer que a ambição não tem limites, mas tem que ser apimentada de vez em quando para não ficarmos também obsessivos e às vezes é preciso refugiar na solidão para meditar e perceber aquilo que foi mau.

M. – Só assim é que nos reencontramos.

FC. – Só assim é que nos encontramos. Eu, como transmontano, sabe onde é que eu consigo meditar bem? Aqui em Trás-os-Montes, no “Reino Maravilhoso”!

M. – Sim, do Miguel Torga! Agora, a última pergunta. Que personalidade ou personalidades mais o marcaram na sua ainda jovem vida?

FC. – Aqui na minha vida?

M. – Sim, de uma forma geral.

FC. – O meu avô, Tozé… os meus avós. Eu chamo-me Fernando António por causa de… claro que tive uma ligação maior ao meu avô Tozé… ao meu pai e depois havia sempre aqui uma ou outra personalidade que de pequeno sempre me ligou bastante. Uma delas foi a minha mãe. A minha mãe sempre esteve disponível e… foi uma pessoa que, já lhe disse, deu-me aquele espírito metódico e de organização que acho que hoje só consigo ter esses valores, porque leu, de artigos científicos a tudo, graças à forma como ela me treinou a minha cabeça para ser organizado. Relativamente a professores… eu devo muito aos meus professores porque eu também não era pera fácil e a minha turma… Éramos sempre uns traquinas. Havia sempre gente muito interessante e eu tenho ainda contacto com os meus amigos da adolescência. Ainda na semana passada fui jantar fora com um colega do secundário, aqui do ciclo e do secundário que é médico dentista. Portanto, fomos à casa Guedes, no Porto, comer umas sandes de pernil. Portanto, os nossos professores aqui tiveram muita paciência para nos formar e acho que também lhes devemos agradecer os ensinamentos, a paciência e o caminho que nos orientaram. Portanto, como pode ver, é a família, a escola, as Freirinhas (que eu também andei nas Freirinhas)…

M. - Ai, sim?

FC. – Sim. Eu tinha a Irmã Balsemão, a Irmã Estela, a Irmã Elisabete que… mas os professores que nos ensinam, são muito importantes, e a sociedade…

M. – Muito bem! Muito obrigado! Eu acho…

FC. – Muito obrigado, eu!

M. – Foi mais do que eu estava à espera. Não na sua competência, porque isso não está em causa, nunca, e na sua sabedoria também não e no seu saber fazer… e na sua grandeza que tem, mas por esse aspeto mais familiar, mais íntimo… do seu íntimo. E, por acaso, fiquei muito agradada…

FC. – Obrigado!

M. – Nós é que temos de agradecer e dizer – vá em frente, continue assim e dê o Fernando ao mundo sem descurar Portugal!

FC. – Ah, não! Isto calma! Vou ficar sempre por aqui.

M. – Obrigado!