Começamos por lhe perguntar, tendo nascido em Bemposta, Mogadouro cedo abandonou a sua terra natal. Fale-nos da sua meninice e juventude.
Olhe, a minha meninice e a minha juventude foram passadas um pouco em bolandas, aí dos três aos dezanove, vinte anos. Sou descendente de um trabalhador de barragens, ex mineiro que fez, ou pelo menos trabalhou em quase todas as barragens do Douro Internacional, Miranda, Bemposta, Picote, Batelo e, portanto, foi uma meninice um bocado atribulada. Por isso, apesar de ser um bocado atribulada, permitiu-me conhecer muita gente, fazer toneladas de amigos por esse país fora porque, depois, a essas atribulações de barragista juntou-se um espírito um bocado aventureiro. Fui voluntário para a Força Aérea. Da Região Norte fui para outras bolandas mais a Sul e Açores. Não me considero propriamente um saltimbanco porque, a partir dos dezassete anos comecei a andar sozinho. Não tinha a família toda atrás. Por onde andei fui crescendo, acho que me deu uma maturidade grande todo esse percurso de andar de um lado para o outro e no fundo, devo isso a esse espírito aventureiro que me veio do facto de descender de uma família de barragistas que também contribuiu para a profissão que desempenho hoje. Eu fui agarrando esta oportunidade aqui, aquela ali e fui crescendo dessa forma. O contacto com pessoas de diferentes culturas, diferentes localidades do país permitiu-me adquirir bons conhecimentos, uma situação muito equilibrada em termos mentais, em termos comportamentais, devido sobretudo a termos educacionais. Um grande respeito que tenho pelas outras pessoas, acho que advém desse percurso todo de lidar com muita gente, com filhos de muitas mães e hoje dou-me por satisfeito pelo percurso que tenho realizado ao longo da minha vida que chegou agora aos quarenta e dois anos.
Como já referiu, aos dezassete anos ofereceu-se como voluntário da Força Aérea. Como foi essa experiência?
Eu tinha quinze quando o meu pai faleceu e na minha família somos oito irmãos. Nasceram primeiro quatro raparigas e depois quatro rapazes, se tivesse sido ao contrário possivelmente teria sido mais confortável para a minha mãe. Ficou com quatro rapazes, depois morreu o meu pai e eu aos dezassete anos achei que estava na altura de tentar alguma independência. Estava prestes a concluir o décimo ano e não sei muito bem porquê, fiz-me à vida e fui para a força aérea como voluntário. Não que fosse um encargo, em termos financeiros, para a minha mãe mas, uma vez que ela ficou sozinha, eu achei que estava na hora. Dava oportunidade, eventualmente, ao meu irmão mais novo, de prosseguir os estudos em melhores condições e fui para a força aérea, pura e simplesmente porque também a especialidade que eu queria desempenhar na força aérea atraía-me. Tinha amigos que estavam na força aérea a desempenhar as funções de operadores de radar, que implicava a vigilância do espaço aéreo nacional e eu achava aquilo engraçado enquanto miúdo de dezassete anos. Não tinha barba, fui para a força aérea e era praxado por não ter barba. Era, na altura, o cabo especialista mais novo da força aérea. Queriam que eu fosse para o curso de sargentos e passados alguns anos, mais precisamente três anos de força aérea, comecei a chegar à conclusão que afinal, aquelas funções que desempenhava e de que gostava muito, gostava imenso, (o meu turno estava em Paços de Ferreira e foi louvado pelo comando pelo desempenho que tinha) e foi pena porque eu cheguei à conclusão que não estávamos ali a fazer grande coisa.
Os aviões que nós tínhamos de identificar, algumas vezes, não eram identificados. Deviam ser tomados determinados procedimentos face a essa não identificação e não eram tomados e eu… apareceu mais uma vez, um dia, uma ordem de serviço a pedir voluntários para ir para os Açores e eu lá pus o meu nome nessa ordem de serviço. Fui para a Rádio Renascença, não tenho a certeza se dois meses e meio, se três meses e meio, fazer o estágio e o pedido dessa ordem de serviço, fez com que eu fosse parar à rádio Lajes, a voz da Força Aérea Portuguesa que fica na Base Aérea Nº 4, nos Açores e fiquei bastante contente. Há dias estive com um amigo das relações públicas da Força Aérea e ele disse-me que a rádio ia ser posta na Internet que ia ter esse tipo de emissão e que estava já toda reformulada. Eu, quando estive lá era um emissor de onda média que nós tínhamos de ligar quinze minutos antes de abrir a emissão. Era das sete da manhã à meia-noite e meia e aquilo começou por ser muito engraçado.
Os primeiros três, quatro meses foi tudo muito engraçado e depois tive sorte porque encontrei lá algumas pessoas com grandes capacidades em termos de rádio e fui ganhando uma paixão ainda maior em relação à rádio, à informação em termos concretos e essa situação da rádio, essa paixão que eu já tinha pela rádio, que eu já tinha há muitos anos…era um miúdo com catorze, quinze anos já ouvia muita rádio, os programas do Luís Filipe Barros, enfim uma série de programas e de informação também. Foi ao longo do tempo crescendo e depois isso enraizou-se na rádio Lages. Estive lá três anos, comecei a fazer reportagem pelas ilhas e pronto, fui andando por ai. Depois fui convidado, fiz rádio pirata três anos e depois fomos obrigados a fazer aquela interrupção que a lei obrigou. Nessa altura pediram-me para assumir uma rádio ali em Paredes que era onde eu tinha a família e fui até lá.
Fica sempre uma lágrima no canto do olho quando se matam as saudades do bichinho da rádio… o Alves Mateus começou na rádio Lages e o regresso ao continente trouxe-o para a rádio de Paredes onde desenvolveu muito trabalho na rádio e jornais regionais. Vamos agora falar e desenvolver um pouco mais essa experiência.
É extremamente agradável e não é que provoque mesmo uma lágrima mas, pelo menos deixa bastante saudade.