terça-feira, 12 de dezembro de 2017

ALEGRIA

Meu riso é transparente como um dia azul.
Dentro de mim é Primavera de montes floridos e cantantes regatos.
Minha alma é fluida e cristalina e corre serenamente para o amor que desejo puro.
Nada me confunde na pureza deste azul semeado de cintilantes estrelas e luar genuíno.

Sou.


Não sei se existo.
Minha essência anda por aí a saltitar pequenas flores espontâneas
Tudo o que sinto é um amor infinito por tudo aquilo que vejo.

Sinto.

É Primavera em mim, quase estio
Quase agrura
Quase ternura
Quase ausência
Quase essência

Não sou aquilo que digo que sou.
Quero ser descoberta
Porto de abrigo
Enseada serena
Tempestade inesperada
Maremoto de emoções.

Quero ser o que sou não sendo ainda
Vender a ideia de um dia que finda
Para depois renascer cheia de sol e mar azul

Longe, bem longe daquilo que estou.

MARIA CEPEDA (Poema e fotografia)

A MINHA VOZ

A voz, resposta rápida e pronta, espontânea e ligeira que se apresenta lampeira na ponta da língua, cavidade bucal para usar termo técnico de conhecimento adquirido em formação recente e passada.
É a música da minha alma única, menina ainda, sem tempos dispersos.
É a maciez da minha pele de mulher que ama o homem que a ama e anseia pelo sonho de uma noite estrelada.
São os meus sonhos de todos os tempos que alguma vez farei realidades.
Que voz é esta que me acompanha ainda e sempre, antes mesmo do útero da minha mãe? Voz de mulher, da primeira mulher que soube que o era.
Poeta de palavras vivas sou, e sofridas são elas que tão dolorosamente me escapam através do suor que da minha doce pele de mulher emana.
E mãe sou dos filhos que não terei, tempos de ternura de carinho férreo, tão limpo e suave como a canção da chuva que mansamente cai dos telhados adormecidos num dia triste/alegre de Outono, envolto em perfumes de Primavera.
Que a voz seja sempre algo que mais do que irritar, embale e serene angústias que porventura vidas desavindas tragam em carrosséis de emoções à flor da pele que também a música impregna.
A voz é tudo.
É silêncio quando o ruído impera.
É aurora quando raia o dia…
A voz mostra-me tal como sou e estou.
É a amiga que num murmúrio me pede guarida naquele momento de séria tristeza.
É a alegria que eu sinto quando uma voz já antiga me conta uma história de bruxas malvadas, maçãs vermelhas e envenenadas que o amor liberta com a expressão: “Tão linda!”
Mas se a voz fosse apenas isso, melodia, feitiço, lua cheia, voz de comando, sorriso… seria pobre, avara, andrajosa, uma concha vazia na areia da praia… a voz é isso e muito mais.
A voz é o menino que balbucia, a soprano que canta a sua peça favorita, o marulhar da água nas pedras limpas do rio, o sussurro do vento nas espigas de trigo, o trautear de uma canção que se ouviu de manhã cedo ao acordar e que nos acompanha durante todo o dia, o soluço que o peito já não pode calar…
A voz é o silêncio de um dia de chuva quando a noite tarda a chegar.
A voz não existe quando a alma está deserta de música.
A voz é a música que embala a criança no ventre da mãe.
A voz é o espelho da personalidade humana. É o instrumento que nos apresenta ao mundo por meio de sons.
É o nosso bilhete de identidade oral.
Cada voz é única com as suas vibrações, cor, tons, sabor, textura e musicalidade próprios.
Por meio da voz dizemos quem somos, o que sentimos e como percepcionamos o mundo que nos rodeia.
Pela voz é possível descodificar as áreas mais escuras da vida do ser humano e também a luminosidade da sua alma.
A voz é a arma mais poderosa da humanidade.
É um dos instrumentos de influência que maior eficácia apresenta nas comunicações humanas juntamente com os gestos.
Um pequeno tremor na voz que fala, denuncia uma característica muito própria do locutor. Nada passa despercebido na voz que se projecta para quem nos ouve.
A tristeza, a insegurança, a alegria, o entusiasmo colam-se à voz como lapas nas rochas das costas marítimas.
A voz é o melhor ou o pior cartão de visita que se pode apresentar.
Conhecer a própria voz é conhecer um tudo/nada da nossa própria alma. A voz põe a descoberto as nossas angústias, os nossos sonhos, as nossas alegrias e intenções.
A voz expõe-me qual espelho da alma.



MARIA CEPEDA