terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Feliz Ano Novo!


Tão simples!
Tão complexo!
Este ano não sei o que será.
Talvez um pequeno conto
Talvez um romance ao Deus dará

Que seja o que cada um para si desejar
Com amor, saúde e paz e um dinheirinho pra gastar...
Ou um ano de férias num país tropical

Os desejos a cada um pertencem
Cada um sabe os seus
Que se cumpram é a minha vontade

Sempre com aqueles que se amam se deve estar
Aprender a perdoar, perdoando-nos
Esquecer o que não se consegue
Reviver o melhor de 2022 sem viver no passado
O futuro é amanhã, é sempre em frente.

Feliz Ano de 2023! 

Maria Cepeda

sábado, 24 de dezembro de 2022

FELIZ NATAL! (Com saúde, paz e família.)

É Natal!
Recebemo-lo com o carinho devido ao nascimento de um bebé que há 2000 e tal anos nos acompanha, quer acreditemos ou não. 
Vivemos tempos difíceis e inseguros. Não sabemos o que acontecerá amanhã.
Apenas nos compete viver o melhor possível sem descurar os nossos deveres com quem precisa.
É Natal. 
Que todos possam estar com quem amam.

Bom Natal!



      Maria Cepeda
 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Para matar saudades de tempos que já não voltam...

Jorge Morais, Professor recém reformado, da Escola Superior de Educação, do Instituto Politécnico de Bragança, amigo de há muitos anos, enviou-nos esta belíssima fotografia do antigo Mercado da Praça Camões. 
Convém dizer que é um fotógrafo de extrema sensibilidade. Consegue sempre as melhores perspectivas, onde depressa nos localizamos e perdemos em silenciosa reflexão.
Obrigado Jorge, Continua a tirar fotografias de todos nós, de todos os lugares a que pertencemos. Pedimos-te, por favor, que faças uma exposição de algumas das tuas fotografias. 

Aqui deixamos, esperançosamente, a PRIMEIRA. 
Parabéns Jorge.

Maria e Marcolino Cepeda



   Maria Cepeda

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

ENTREVISTA – GUARDA: TERESA MARTINS MARQUES (Esta entrevista foi-me enviada por Teresa Martins Marques, grande e querida amiga, excelente escritora, mulher com uma enorme capacidade de trabalho, pouco tempo antes do lançamento do seu último livro)



Autora de dois estudos relevantes sobre José Rodrigues Miguéis (fruto da dissertação de mestrado) e David Mourão-Ferreira (resultado de uma tese de doutoramento), um romance que perspetiva a síndrome de donjuanismo (A Mulher que Venceu Don Juan), uma biografia de Amadeu Ferreira, vários contos e múltiplos ensaios sobre grandes nomes da Literatura Portuguesa, a investigadora, conferencista e escritora Teresa Martins Marques é também uma inconformada ativista cultural. Concluiu há uns meses o mandato de Presidente do PEN Clube Português (2019-2022): eis o pretexto para conhecer um pouco mais esta personalidade com raízes na freguesia de S. Pedro do Jarmelo.

PV. - O seu percurso biográfico deixa entrever uma mulher de cultura, de ideais e de causas. Quem teve o privilégio de interagir consigo retém a imagem de uma personalidade forte, determinada, solidária, com espírito de missão, regida por um conjunto de princípios que definem as suas ações culturais e intervenções públicas.

Revê-se neste retrato sumário?

Agradeço-lhe a generosidade do retrato, mas ele favorece-me muito! Diria que tento arduamente desbravar alguns desses caminhos, mas quantas vezes me deparo com a minha incapacidade para atingir tais objectivos.

PV. – Entre 2019 e 2022, exerceu o cargo de Presidente do PEN Clube Português. Que balanço faz do mandato que concluiu recentemente?

Penso poder dizer que o balanço é bastante positivo, porque entre 2019 e 2022 a direcção a que presidi aprovou a entrada de 131 novos associados, após análise dos respectivos currículos literários. Também no plano internacional o PEN Clube Português se distinguiu celebrando o Centenário com a publicação de um volume de 630 páginas que organizei com o título OS DIAS DA PESTE (Gradiva, 2021), o qual reúne 272 autores de 58 países, que escreveram em português, inglês, espanhol e francês.

Neste conjunto de autores tive o gosto de incluir vários guardenses.

PV. – A Teresa tem presença ativa em páginas do Facebook. Partilha reflexões e artigos, lança desafios que visam a produção do conhecimento, questiona temas da sociedade atual, divulga eventos culturais, interage com quem pergunta ou comenta.

Aliás, o romance que publicou em 2014 teve a particularidade de ter sido dado a ler, nos anos 2012 e 2013, na referida rede social como uma narrativa seriada aos seus «seguidores» que, de algum modo, colaboraram, através das suas reações, na escrita do romance. Afinal, sempre há uma via possível para o bom uso das redes sociais?

As redes sociais são excelentes, se forem bem aproveitadas. Para responder com algum rigor, perguntei aos meus leitores do Facebook quais as características da minha página que mais apreciam. Aceitaram de imediato o repto e apontaram as seguintes: diversificação de conteúdos; tratamento inclusivo dos intervenientes; incentivo à pesquisa; colocação de questões que suscitam debate saudável. É este o caminho que desejo prosseguir.

PV. – Enquanto mulher apaixonada pela literatura e pelas ideias, de que lhe serve esse conhecimento no seu dia-a-dia? Ler, escrever, pensar, investigar, divulgar não serão práticas que a afastam da realidade da vida quotidiana, como se estivesse reclusa num mosteiro ou numa torre de marfim? Lida facilmente com os assuntos práticos, tais como gerir património, reclamar de um mau serviço prestado, preencher o IRS, ir ao supermercado, supervisionar a manutenção automóvel, agendar consultas médicas, executar as tarefas domésticas ou acionar um seguro?

Consegue conciliar esses dois mundos?

Considero-me uma pessoa polivalente. Sem esta característica dificilmente teria conseguido dirigir a organização do espólio de David Mourão-Ferreira, na Fundação Calouste Gulbenkian, tendo como resultado final do trabalho 33 metros de caixas, contendo milhares de documentos acondicionados, inventariados e classificados.

Durante sete anos foi necessário comer muito pó, carregar muitos quilos de papel, subindo e descendo de escadotes durante sete anos… Mais do que conciliar os dois mundos tento fundi-los, complementá-los. Deste trabalho resultou a tese de doutoramento de 800 páginas - biografia literária da obra davidiana. E tudo isto passa quase inconscientemente para a minha ficção em osmose. É à vida prática que vou buscar fonte de inspiração para o que escrevo.

PV. – Depois de uma parte significativa da sua vida dedicada ao estudo e à investigação, o que a impeliu a lançar-se na literatura de ficção? Que registos e pressupostos definem a sua voz literária?

Sempre escrevi ficção, embora a sua publicação não seja anterior a 2008. A minha “voz literária”, se é que tal existe, tenta recuperar o registo realista, criando personagens com as quais o leitor se identifica. E talvez por isso a minha escrita tem funcionado em tradução, encontrando eco nos leitores de diferentes níveis etários e sociais.

PV. – Pode explicar como encara a sua escrita de ensaísta e a sua escrita de ficcionista?

A minha escrita ensaísta decorre das necessidades académicas, mas nunca cedi ao jargão. As minhas teses - O Imaginário de Lisboa na Ficção Narrativa de José Rodrigues Miguéis e Clave de Sol – Chave de Sombra. Memória e Inquietude em David Mourão-Ferreira - foram ambas publicadas, com várias edições no caso de Miguéis, sem ter sido necessário adaptar a escrita a um público mais alargado. Entendo que a universidade tem obrigações culturais extra-muros e por isso recuso-me a escrever apenas para ser percebida pelos meus pares.

No que concerne à escrita ficcional, gosto de criar personagens populares, que interagem com outros meios, não raro criando registos humorísticos, mostrando a variedade do mundo dos nossos dias. O importante é não ceder a hermetismos pedantes, que fazem fugir os leitores a sete pés! A escrita pode ser límpida, mesmo quando os temas são duros. Gosto de mostrar as motivações, sobretudo quando desenho psicopatas e as respectivas vítimas. É para isso que serve o monólogo interior, o diário, que implicam reflexividade do sujeito. No fundo, tenho uma imensa curiosidade em eu mesma perceber e dar a perceber ao leitor os enigmas do ser humano.

PV. – Quem a segue no Facebook, sabe que a Teresa Martins Marques está a escrever – e já lá vão alguns anos de pesquisa e de preparação para atingir esse fim – um romance cujo enredo se baseia no sequestro e assassinato de Aldo Moro, em 1978, um episódio tremendo da recente história italiana: porque é que esse intelectual e político a marcou assim tanto? Que nova luz ou visão pretende trazer a este caso já sobejamente tratado por historiadores, jornalistas, escritores e realizadores de cinema?

A verdade do Caso Moro só agora começa a ser contada, 44 anos depois do crime. Os membros das Brigate Rosse contaram a “verità dicibile”, ou seja, carradas de mentiras com as quais reduziram as penas poupando os nomes dos mandantes. A Segunda Comissão Moro, cujos trabalhos decorreram entre 2014 e 2017, contribuiu para que a VERDADE começasse a surgir. Aldo Moro foi um estadista e um ser humano notabilíssimo que os corruptos do governo e da loja maçónica P2 quiseram abater, antes que fosse eleito Presidente da República, o que aconteceria com forte probabilidade, se não o tivessem assassinado. As Brigate Rosse não foram mais do que os idiotas úteis…

PV. – Passou parte da sua infância na aldeia dos Gagos, pertencente à freguesia de São Pedro do Jarmelo, e cursou o 3º ciclo de ensino na Guarda: que memórias gratas lhe ficaram desse tempo? De que é que, nesse período da sua vida, não tem saudades?

domingo, 27 de novembro de 2022

Entrevista realizada ao Doutor José Ribeiro

 


Entrevista realizada ao Dr. José ribeiro, natural de Celorico de Basto, nascido a 23 de novembro de 1963 a viver no Porto.

Médico cardiologista a desempenhar as funções de Diretor da Unidade de Tórax e Circulação desde 2018 e Chefe do Laboratório de ecocardiografia desde 2001 no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho e Consultor de cardiologia na Unidade de Saúde Local do Nordeste - Hospital de Bragança desde 1998 (há 24 anos, mais de duas décadas).

 

Esta entrevista foi realizada na unidade hospitalar de Bragança, no dia 22 de outubro de 2022, sábado, perto das dezanove horas, depois das consultas do Doutor José Ribeiro.

Enquanto eu colocava o material necessário à entrevista a postos, fomos conversando. O Dr. José Ribeiro é um grande conversador, dono de uma personalidade única, alegre e atento a todos os detalhes e nuances.


Maria Cepeda (M.C.): Boa tarde senhor Doutor José Ribeiro. É uma honra poder entrevistá-lo. Consideramo-lo quase um transmontano já que nos cuida dos corações há mais de duas décadas. O seu curriculum é impressionante.

Dr. José Ribeiro (DR.J.R.): Esta entrevista também significa que há a motivação de conhecer um pouco mais e procurar perceber um pouco melhor algumas coisas que já conhecemos e foi o resultado da nossa interação ao longo destes anos em que vou seguindo, como médico, o senhor Marcolino; já não sei quantos anos, mas já são alguns.

(M.C.): Já são alguns, sim senhor, talvez dez. Uma vez marcámos, até nem sei se foi o doutor que marcou, uma consulta em Gaia/Espinho e uma colega sua, de que não recordo o nome, consultou o Marcolino e depois da consulta, chamou por si que estava, casualmente, no corredor, e disse: “Ó Zé, este é para ti. Vais vê-lo lá em Bragança.” E assim tem sido. (Risos)

(DR.J.R.): Esta foi, para mim, uma semana dura, mesmo para esquecer. Além de toda a actividade clínica e na gestão… hoje vinha por aí acima a conduzir e pensei “Bragança custa um bocadinho porque é muito trabalho e tudo isso, mas senti um certo alívio de deixar para trás aquela pressão toda em Gaia e vir tratar os doentes aqui a Bragança. É caricato não é? Foi o alívio de vir trabalhar. 

(M.C.): (Risos) Sim. O alívio de vir trabalhar. Por acaso. Eu acredito…

(DR. J.R.): É engraçado não é?

(M:C:): É muito interessante…

(DR.J.R.): Portanto, há coisas que têm esse lado relativo. Esse percurso em Bragança não foi premeditado. Foi, um bocadinho, o somatório de várias coisas e foi também, talvez, o corolário de uma determinada forma de estar na vida. Depois a gente acaba por ter algum apego às pessoas, aos doentes e tudo culminou com isto.

(M.C.): Depois deste preâmbulo, vamos dar início à entrevista propriamente dita. É natural de Celorico de Basto, nascido a 23 de novembro de 1963, a viver no Porto. Médico cardiologista, a desempenhar as funções de Diretor da Unidade de Tórax e circulação, entre muitas outras, como está plasmado no seu curriculum.

Como é natural, começaremos pelo princípio. Fale-nos brevemente da sua infância e juventude.

(DR. J.R.): Falar da minha infância é um pouco remeter-me à minha origem na família onde nasci e cresci. Eu tenho cinco irmãos. Uma família de classe média. Filho de um gestor comercial e de uma comerciante. E desde muito cedo passei a ser, não só como irmão mais velho, mas também porque a situação assim o impunha, numa altura em que não havia grandes preconceitos em relação ao trabalho infantil e coisas do género, a ser um ajudante importante para a família e tive contacto com a loja que a minha mãe tinha, um contacto comercial no qual eu passava muitas horas. Era um estabelecimento que estava aberto sete dias por semana, em horário alargado.

            Claro que, a minha infância não se resume apenas a isso, mas uma boa parte do meu tempo foi passado na ajuda desse tipo de atividade a ponto de, como adolescente, a ter assumido, um pouco, como minha tarefa.

Portanto, tive esta experiência que me somou competências importantes em termos da relação com os outros; em termos da capacidade da comunicação. Teve algum enviesamento no meu crescimento porque não fui muito criança. Como eu costumo dizer, sempre fui desajeitado a jogar à bola porque não tive grande oportunidade de jogar à bola como compreendem.

A minha infância foi uma infância feliz, própria de quem tem muitos irmãos. Uma infância de responsabilidade precoce de quem é irmão mais velho e é obrigado, também, a trabalhar e depois há aqui um efeito da própria personalidade.

Personalidade porquê? Porque a pessoa que mais me marcou em termos educacionais foi a minha avó. A avó Camila que é o meu ídolo desde criança. Era uma senhora com uma visão muito católica e até um tanto aristocrática, em que as regras eram muito bem definidas. Em que ninguém podia dizer aquilo que lhe apetecia, sem perguntar aos outros se não estava a importunar. Em que, quando nos sentávamos à mesa, ninguém falava até que ela desse a ordem de que se podia falar. Foi uma educação desse género, que achei que me tinha moldado mais do que aquilo que eu, hoje, sou capaz de admitir. Portanto, nós somos aquilo que realmente somos e isso dita muito do nosso percurso.

(M.C.): Sem dúvida nenhuma, sim. Já agora, pergunto-lhe se sempre quis fazer medicina e porquê a cardiologia?

(DR.J.R.): Essa é uma boa pergunta porque eu nunca pensei ser médico até escolher a medicina. Curiosamente queria ser engenheiro químico. (Risos)

(M.C.): Pois. É igualzinho. (Risos)

(DR.J.R.): Eu queria ser engenheiro químico. Preparei-me para isso. Estudei e muito. Sei, ainda, muito de química. Até ao dia em que fiz a candidatura em que era preciso escolher a faculdade e o curso e aí pus medicina em primeiro. Entrei em medicina porque tinha boa nota. Não me pergunte o porquê desta decisão porque eu não sei responder. Sei que não fiquei triste e sei que os meus pais ficaram contentíssimos por eu ter entrado em medicina. Mas até aí foi tudo a pensar em química.

Estudei os últimos três anos na escola secundária em Amarante. Fiz quimicotecnia. Aprendi imenso de química, até processos químicos sabia. Havia algo para além do meu gosto quase inato pela astronomia. Havia também, algum gosto pela física atómica, química… algo desse género. Sempre achei o átomo e o sistema solar como algo muito parecido em termos dinâmicos.

(M.C.): Sim… A astronomia, todos os dias temos uma notícia nova e a química também. Não sei se tem acompanhado…

(DR. J.R.): Tenho acompanhado. Hoje, se estiver a dar algo na televisão sobre esses assuntos, fico atento imediatamente. Sempre fui muito proativo, ia à procura de coisas novas, sempre gostei imenso de ler. Tinha a sorte de, na minha adolescência, somar histórias fantásticas. Tinha uma vizinha que me emprestava livros de cowboys. Cheguei a ler nas férias, novecentos e cinquenta livros.

Lembro-me da amizade que fiz com algumas pessoas que eram testemunhas de Jeová… não queria saber muito de religião, mas tinham livros e davam-me os livros de graça que eu lia. Desde a amizade que eu tinha com dois senhores que eram irmãos e tinham uma tipografia que editava o jornal da terra e que moravam na minha rua; eu não saía de lá porque me proporcionavam leituras. Cheguei mesmo a estar inscrito na embaixada da União Soviética em Lisboa porque esses meus vizinhos eram comunistas e me influenciaram, só porque, assim, me proporcionavam livros que eu sempre lia de uma forma crítica. Portanto, sempre gostei de ler, tinha sede do conhecimento.

O meu gosto pela química, por exemplo, levou-me a ter montado na cooperativa de vinhos onde o meu pai trabalhava, um laboratório de análise de vinhos. Aprendi, com isso. Pus o laboratório a funcionar, através do qual os sócios da cooperativa classificavam as uvas e recebiam de acordo com a qualidade do seu vinho analisado através do mosto.

(M.C.): Com que idade?

(DR.J.R.): Tinha os meus dezasseis anos, dezassete.

(M.C.): Puxa! E entrou para medicina com os dezoito da praxe. Incrível!

(DR.J.R.): Sim. Nessa altura eu não sabia muito disso, mas já tinha alguns conceitos. Aquilo também não era muito difícil. Montei o laboratório que assentava em duas técnicas. Arranjei um espectrofotómetro que media no vinho mosto o teor de glicose e conforme a glicose que tinha… quanto mais tivesse, mais álcool ia ter depois de fermentado e, portanto, era mais ou menos simples. Arranjei umas tabelas e aquilo funcionou e creio que ainda hoje, o laboratório funciona e bem, se calhar com alguns métodos mais sofisticados.

Na altura, eu ganhava algum dinheiro e pagavam-me algumas horas no tempo das vindimas e com isso financiei alguns dos livros mais caros que eu tinha. Ainda no secundário tinha alguns livros em espanhol porque em Portugal não havia grande coisa e depois os livros de medicina que eram muito caros.

(M.C.): Então, foi uma inspiração, digamos assim, que o fez colocar o X na medicina. Estou a brincar obviamente mas, alguém que queria ser químico, de repente virou e fez medicina… E agora pergunto: Porque Cardiologia? Porque essa especialidade?

(DR.J.R.): Fiz o curso de medicina de uma forma muito fundamental, aprendendo de uma forma muito sequiosa todo o conhecimento desde a anatomia à fisiologia, mas a fisiologia… ainda hoje os meus colegas me dizem que em fisiologia eu me distingo de uma forma especial, tal como na imagem médica. Mas isso tem a ver com a minha curiosidade de saber porque é que as coisas acontecem. Tudo tem uma lógica. A cardiologia tem um pouco isto tudo. A cardiologia não é propriamente a ciência de apenas um órgão, o coração, que tem uma função dinâmica e que compreende muita coisa. Desde a dinâmica dos fluidos, porque funciona como uma bomba e faz circular o sangue obedecendo às leis da física, porque exerce uma força. Se nós pensarmos que o coração trabalha de uma forma espontânea devido a um impulso elétrico que se gera espontaneamente e que há como que uma pilha natural que faz o coração trabalhar… Isto tudo é genial.

(M.C.): É genial realmente.

(DR.J.R.): Portanto, tudo isso me fascinou e, a dada altura, tornou-se uma escolha lógica. Já que estou na medicina, isto consegue congregar alguns desses meus interesses de vária ordem, numa mesma disciplina: Cardiologia.

(M.C.): Veja senhor Doutor, nós conhecemo-lo há alguns anos, mas não o conhecemos de todo porque, quem vê um médico competentíssimo a fazer o que tem de fazer e mais ainda, vimos a descobrir uma pessoa que poderia ter sido tudo o que quisesse, porque em qualquer área por onde enveredasse, seria notável.

(DR.J.R.): Possivelmente isto tem a ver, com o nosso empenhamento. A grande força motriz é a nossa curiosidade e o nosso gosto por uma ou outra área, o que nos leva, também, a procurar mais e mais. Depois, há aqui, um fundo comum que é o trabalho. Eu costumo dizer que ninguém pode ser um bom cirurgião se operar apenas uma vez por mês. Não estou a dizer que seja mau. Digo que não consegue. Há aqui esta lógica: a gente que faz muito e faz muitas vezes tem uma maior probabilidade de vir a ser muito bom nisso.

            (M.C.): Tenho na mão o seu curriculum. São doze páginas resumidas e acaba por ser muito técnico para mim. Sou professora. Não sou da medicina. O que eu comprovo, sem dúvida, é o enorme trabalho em que se meteu e em que todos os dias se mete. É impressionante o que faz e como tem tempo para fazer. E eu, por mais viciada em trabalho que seja, ainda me custa compreender como tem tempo para tudo. E fico extremamente admirada ao ponto de dizer “Caramba! Será que sou capaz de entrevistar este senhor?”

(DR.J.R.): Talvez, o segredo esteja, por um lado, na minha capacidade de trabalho e esta curiosidade permanente e ainda, a capacidade de congregar à minha volta, determinadas pessoas.

Eu tive a oportunidade de conhecer um pouco do mundo, pela minha curiosidade. Sair do país foi também à procura disso. Estive algum tempo na Bélgica, onde contactei com situações muito diferentes. Estamos a falar de há quase três décadas, num hospital muito mais evoluído, já com uma experiência enorme em transplante cardíaco. Foi na altura em que, em Portugal, pouco se falava desse assunto. Depois disso estive algum tempo em Londres, aonde contactei, na Universidade de Londres, com algumas coisas sobre investigação.

Todas estas experiências deixaram em mim mais do que um fascínio. Deixaram em mim uma responsabilidade de trazer para cá qualquer coisa. Mais uma vez, vem ao de cima, a minha característica de irmão mais velho que, habituado a lidar com os mais novos, nos traz, ao longo da vida, algumas vantagens na relação entre pares, na capacidade de dinamizar equipas. Tudo isto é o corolário dessa capacidade.

(M.C.): Depois da especialidade não se deu tempo para descansar. Quer falar-nos do seu percurso académico e profissional?

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

“A MINHA APOSTA É FAZER DO MUSEU DO ABADE DE BAÇAL UM MUSEU DE ELITE PARA TODOS” (Entrevista publicada em www.jornalnordeste.com)


Jorge da Costa é o novo director do Museu do Abade de Baçal e da Domus Municipalis

Tornar o Museu do Abade de Baçal acessível a toda a gente, mas proporcionar uma

“experiência fantástica” a quem o visite, onde a qualidade seja o cartão de visita, é a grande

missão de Jorge da Costa, que neste primeiro dia de Novembro se estreia no papel de director

do emblemático espaço brigantino. Com 53 anos, esteve, nos últimos 15, à frente do Centro de

Arte Contemporânea Graça Morais, também ele em Bragança. O papel de director também o

assumiu no Centro de Fotografia Georges Dussaud, que fica, igualmente, nesta cidade. Jorge

da Costa vai ser também agora o director da Domus Municipalis e, em entrevista ao Jornal

Nordeste, revela que quer dinamizar este espaço, dando a conhecer a história que carrega a

todos quantos o visitem. Jorge da Costa ganhou, com mais de 19 valores, o concurso público

que o coloca à frente de dois espaços que, segundo promete, muito nos vai apetecer visitar.

Porque é que decidiu que queria partir para esta aventura? Que homem é este que agora

chega à direcção do Museu do Abade de Baçal?

O que me fez aventurar neste concurso? Há várias razões! Estava à frente do centro de arte

desde o início, 2007, ainda estava ele em obras. Eu tinha um projecto e senti que, 15 anos

passados, o tinha cumprido. Estou muito feliz e muito satisfeito com as exposições que realizei,

quer da pintora Graças Morais, quer dos artistas que convidei, quer das grandes colecções,

quer, sobretudo, de colecções de instituições como a Gulbenkian, Serralves, Culturgest, que ali

passaram. Também no Centro de Fotografia Georges Dussaud foram realizadas inúmeras

exposições. Para além das exposições, ficam também duas fantásticas colecções, uma de arte

contemporânea, no centro de arte, e outra grande colecção, no centro de fotografia,

sobretudo das obras de Georges Dussaud. Foram publicados inúmeros livros e catálogos.

Portanto, produziu-se muito conhecimento e isso é uma grande satisfação. Por outro lado,

senti que era interessante agarrar num novo desafio: dar também o meu contributo ao Museu

do Abade de Baçal, aproveitando a minha experiência. Gostava de levar agora um novo

projecto ao museu da minha cidade e da minha região.

Antes de falarmos desse contributo... o centro de arte deu-lhe muita visibilidade, pelo

menos, a nível nacional. É triste deixá-lo?

Não. Não é nada triste. Saio plenamente satisfeito. Foi um percurso difícil, de muita luta e

trabalho e, felizmente, o centro de arte é hoje uma referência, pelo menos, a nível nacional.

Não é por acaso que instituições de referência querem trabalhar com ele. Assim como muitos

artistas nacionais e estrangeiros querem também ali expôr. As pessoas acham que o meio

artístico não está atento a Bragança, mas está e isso tem sido muito satisfatório. Há também

algo que para mim é interessante. Para além de dizer que sinto que o meu projecto está

concluído, a verdade é que defendo que os lugares não devem ser eternos. É necessário que

venha gente nova, sangue novo. A pergunta que agora toda a gente me faz é quem vai dirigir o

Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, mas não estou preocupado com isso porque sou

muito positivo e acredito que vem aí alguém com outras ideias, que pode levar o centro ainda

mais além. O mais difícil já foi construído. Agora é só melhorar.

As pessoas começam a ter mais interesse em conhecer o que têm no território ou passa-nos

muito ao lado? Que sentiu nestes 15 anos?

Creio que ainda há muito a fazer. O centro de arte investiu muito nessa questão e tentou dar

resposta a essa diversidade de pessoas que podem visitar um centro de arte ou um museu. Os

brigantinos têm respondido positivamente. A grande questão que se colocava, quando o

centro abriu, era: como é que os brigantinos iriam reagir à arte contemporânea? E a verdade é

que foi muito fácil. O centro teve esse sucesso imediato junto do público e fidelizou-o

rapidamente. Há hoje em Bragança um público consumidor de arte. Acredito que, com as

propostas que os museus podem apresentar, possam ser cada vez mais atractivos. Dou o

exemplo do Museu do Abade de Baçal. Se calhar há muitos brigantinos que nunca o visitaram,

mas também há muitos que nunca foram ao teatro ou ao centro de arte... mas há muita gente

que conhece bem as colecções fantásticas que o Museu do Abade de Baçal tem. É, sobretudo,

um museu com uma colecção permanente, mas é preciso tentar dar a volta a essa colecção,

enriquece-la, trazer coisas novas.

É muito acarinhado na cidade, sobretudo, por causa deste mundo das artes. Portanto, o que

é que pode dar de novo ao museu? Falava de sangue novo, que acredita que quem chegue

agora ao centro de arte trará novas ideias... então também as tem para o museu. Quais são

essas ideias?

Esta decisão foi muito pensada. Por isso, apresentei um projecto muito detalhado daquilo que

pretendo fazer. O museu precisa, sobretudo, que a colecção seja enriquecida. Precisa também,

por exemplo, que seja dada mais atenção à figura do Abade de Baçal porque, para além de

alguns retratos e bustos, não temos muito o que nos mostre quem era exactamente. A sala do

Abade de Baçal vai ser o meu primeiro contributo. Pretendo que quem entre no museu fique

logo a perceber quem foi esta figura extraordinária. Pretendo também criar relações com

museus, sobretudo nacionais, como o Museu Soares dos Reis, que tem uma colecção

fantástica do naturalismo, que o Museu do Abade de Baçal também tem. Muitas vezes, estes

museus nacionais têm obras nas reservas que, por falta de espaço, não são mostradas. Porque

é que não podem ser mostradas em Bragança, se há uma relacção com essa mesma colecção?

Isto é uma forma de trazer novas obras mantendo os núcleos muito importantes que aqui

existem. O mesmo acontece com as obra do Almada Negreiros. Porque é que não podem

existir obras novas, que sejam emprestadas por outros museus? A minha aposta também vai

ser muito forte no que toca à divulgação do museu. Muitas vezes, as coisas ficam fechadas

dentro dos espaços museológicos. É preciso trazê-las para fora. Sabemos que a comunicação

social está muito atenta ao que se passa em Lisboa e no Porto e, se calhar, menospreza um

bocadinho o que se passa no resto do país. Isto é um trabalho de fundo mas que pode ser feito

e que pode, realmente, acontecer.

É possível atrair os jovens? Parece que se interessam mais por espaços como o centro de

arte...

O Museu do Abade de Baçal tem um número de visitantes penso que, quando comparado com

o Centro de Arte Contemporânea, não seja muito diferente. Aliás, o museu tem uma estratégia

de serviço educativo e esta relação com as escolas é muito activa. É preciso torná-la ainda

mais. Temos que nos socorrer de um conjunto de estratégias para continuar a levar os

brigantinos ao museu. Também a Domus Municipalis será uma grande aposta, pois precisa de

alguma dinâmica. É preciso mostrá-la. Na Primavera/Verão, haverá uma exposição sobre ela,

dentro da própria Domus. Muitas vezes, quem chega e quem visita o monumento desconhece

que existe uma cisterna e até a própria história da reconstrução daquele monumento. Há

muitas coisas, nomeadamente fotografias do Abade de Baçal no monumento, antes de este

ser reabilitado. Há muito a mostrar. Isto pode resultar também numa estratégia canalizadora

de visitantes da Domus para o museu. A minha aposta é fazer do museu, parafraseando uma

expressão do director do Teatro de São João, mas alterando-a um bocadinho, “um museu de

elite para todos”. Quero que seja acessível a toda a gente. Falarmos de elitismo é falar de

qualidade. O público procura a qualidade e não podemos dar-lhe qualquer coisa. Isso é muito

importante. Quero que quem lá vá saiba que vai gostar da visita. Quero que as pessoas saiam

do museu e sintam que a visita valeu a pena. Quero que quem entre no museu tenha uma

experiência extraordinária.

Esta vontade de dar o seu contributo ao Museu do Abade de Baçal já estava planeada há

algum tempo ou foi algo que surgiu recentemente?

Já ia sendo pensada há algum tempo. Não foi uma coisa momentânea.

Já falou do que pretende dar àquele espaço, mas o que acha que o museu lhe pode dar a si? 

Estou muito feliz, mas sobretudo muito motivado. Aquilo que tenho em projecto só será

possível com a colaboração da equipa do museu. Quero partilhar estas ideias todas e motivar a

equipa. Valorizo muito as relações pessoais e quando há uma boa relação e há empatia tudo

corre melhor. A tal ideia que, vulgarmente, chamamos de ‘vestir a camisola’... eu quero que a

equipa vista a camisola porque eu já a vesti. Acredito que a equipa a vai vestir comigo. Isso é a

grande expectativa que tenho para o começo do meu trabalho no Museu do Abade de Baçal.


(Escrito utilizando o antigo acordo ortográfico)

Realizada pela jornalista Carina Alves

3ª Edição do Prémio Literário da Lusofonia Professor Adriano Moreira

 


O Prémio Literário da Lusofonia Professor Adriano Moreira tem como finalidades promover a

produção e a criatividade literárias, no âmbito da temática da Lusofonia, valorizar as relações

culturais entre Instituições Culturais de Países de Língua Oficial Portuguesa e contribuir para a

divulgação e prestígio da obra de autores que cultivam a diversidade dos valores culturais e

identitários dos Povos da Lusofonia.

A identificação do Prémio com um nome associado, com reconhecimento no meio científico e

académico da Lusofonia, no sentido de prestigiar a iniciativa, garantir a aceitação e

envolvimento da comunidade cultural e científica dos países de língua portuguesa, levou ao

nome de um dos mais ilustres transmontanos, o Professor Adriano Moreira, académico,

estadista e estudioso de assuntos de política internacional.

O fundamento desta decisão teve presente, de entre o seu extenso e valioso currículo, o

relevante contributo na temática do Prémio, que agora se institui, que se resume:

“O Prof. Adriano Moreira foi, como Presidente da Sociedade de Geografia, quem organizou o I

Congresso das Comunidades Portuguesas no Estrangeiro, em 1964, o II Congresso na Rota de

Vasco da Gama, em 1966 e a criação da Academia Internacional da Cultura Portuguesa. Foi o

introdutor da Antropologia Cultural no Instituto de Ciências Sociais e Políticas da Universidade

de Lisboa. Como Ministro do Ultramar, durante o Estado Novo, estabeleceu o Ensino

Universitário em Angola e Moçambique, fez abolir o Estatuto do Indigenato. Foi o proponente,

no Recife, no Instituto de Gilberto Freyre, do Instituto Internacional da Língua Portuguesa. Os

Títulos Universitários que lhe foram conferidos no Brasil, em Cabo Verde, e a Condecoração de

Timor, com a indicação dos motivos que a inspiram e constam da Fotografia do Diploma que

está na Biblioteca de Bragança são importantes: «pelos serviços prestados a Timor, aos

Direitos do Homem, e à Humanidade». A bibliografia em que defende o lusotropicalismo

sustenta que a Pátria não se ama a benefício de inventário, mas sobretudo pela contribuição

dada para o património imaterial da humanidade”.

Assim, é elaborado o presente Regulamento para vigorar no Conselho de Curadores da

Biblioteca Adriano Moreira, em Bragança.

Regulamento

Artigo 1.º

Definição de objetivos

A Comissão Executiva Permanente de Curadores da Biblioteca Adriano Moreira (CEPC), a 23 de

junho de 2018, decidiu criar o Prémio Literário da Lusofonia Prof. Doutor Adriano Moreira, que

se pretende como distintivo e de prestígio, no âmbito da temática da Lusofonia, assim como

valorizar a Língua Portuguesa e a sua interculturalidade, incentivando a Criação Literária como

veículo de comunicação e liberdade de expressão ao serviço dos povos da Lusofonia.

Artigo 2.º

Calendarização

O Prémio Literário da Lusofonia Professor Adriano Moreira é atribuído de dois em dois anos,

em cerimónia pública. O prémio da 3.ª edição será atribuído no mês de outubro, no âmbito do

encontro LUSOCONF 2023 – V Encontro Internacional da Língua Portuguesa e Relações

Lusófonas.

Artigo 3.º

Prémio

O Prémio Literário da Lusofonia Professor Adriano Moreira será atribuído sob a forma de um

diploma e de um troféu, executados pelo escultor transmontano António Nobre, e de um valor

pecuniário de cinco mil euros. 

Artigo 4.º

Âmbito

O Prémio destina-se a distinguir trabalhos inéditos, originais, não publicados em formato papel

e/ou em plataformas digitais, nem concorrentes a outro concurso, na modalidade de poesia,

cuja temática incida sobre a Lusofonia, territorialmente de dimensão abrangente ou mais

restrita. A obra, integrando vários poemas, deve ter entre 50 e 100 páginas.

Artigo 5.º

Entidade dinamizadora do Prémio

A entidade dinamizadora do Prémio é a Academia de Letras de Trás-os-Montes, em

colaboração com a Comissão Executiva Permanente de Curadores da Biblioteca Adriano

Moreira, a Câmara Municipal de Bragança, a Diocese de Bragança-Miranda e o Instituto

Politécnico de Bragança.

Artigo 6.º

Prazos

O prazo do concurso decorre entre 10 de setembro de 2022 e termina a 30 de abril de 2023,

data limite para entrega dos trabalhos.

Artigo 7.º

Participantes e formas de participação

O Prémio é aberto a cidadãos de nacionalidades portuguesa, lusófonas ou outra nacionalidade,

maiores de idade, podendo cada concorrente participar com o máximo de dois trabalhos,

subordinados às seguintes normas:

 O conjunto de poemas é obrigatoriamente redigido em língua portuguesa, utilizando o

tipo de letra Times New Roman e tamanho 12.

 Os trabalhos originais devem ser dirigidos à Academia de Letras de Trás-os-Montes,

remetidos dentro de um sobrescrito, onde conste o pseudónimo do autor e a

indicação de que se trata de trabalho concorrente a este Prémio Literário, por correio

registado, para a sede da Academia de Letras de Trás-os-Montes, no seguinte

endereço: Academia de Letras de Trás-os-Montes, Centro Cultural Adriano Moreira,

Praça Camões, 5300-104 Bragança.

 Juntamente com os originais, que deverão ser apresentados em cinco cópias em papel,

no formato A4 e acompanhados de uma gravação (pen) em formato digital, deverá ser

enviado ou entregue um sobrescrito fechado, de forma a garantir a respetiva

inviolabilidade, contendo no seu interior os dados de identificação, residência do

concorrente, endereço eletrónico e contacto telefónico e ostentando, no seu exterior,

o pseudónimo escolhido e o título do trabalho apresentado.

 Neste envelope fechado interior, deve, ainda, constar uma declaração assinada pelo

participante com a menção de que a obra apresentada a concurso é original e inédita,

não ter sido apresentada a nenhum outro concurso com decisão pendente, nem

publicada em papel e/ou em plataformas digitais.

 Em caso de entrega pessoal, só serão aceites os trabalhos recebidos nos serviços da

Academia de Letras de Trás-os-Montes, até à data fixada.

 Em caso de envio pelo correio, só serão aceites os trabalhos expedidos até à data

referida no art.º 6.º, sendo a expedição comprovada pela aposição do carimbo dos

serviços postais.

 Em caso de dúvidas, podem ser pedidos esclarecimentos para o seguinte endereço de

correio eletrónico: academiadeletrasosmontes@gmail.com 

Artigo 8.º

Critérios de avaliação

Constituem critérios de avaliação dos trabalhos a concurso: - Qualidade da temática

desenvolvida, na ótica dos objetivos do Prémio; - Domínio da língua portuguesa e correção

linguística; - Coerência literária da modalidade escolhida; - Contributo previsível em termos de

divulgação pública de valores culturais e identitários dos Povos da Lusofonia.

Artigo 9.º

Constituição do júri

O júri será constituído por cinco elementos: um indicado pela Academia de Letras de Trás-os-

Montes; um indicado pela Câmara Municipal de Bragança; um indicado pelo Instituto

Politécnico de Bragança; um indicado pela Diocese de Bragança-Miranda. Um, indicado pela

Comissão Executiva Permanente de Curadores da Biblioteca Adriano Moreira, elemento que

presidirá ao júri.

Artigo 10.º

Prazo de decisão

A proposta de decisão do júri será tomada no prazo máximo de 120 dias, contados a partir da

data fixada para a entrega dos trabalhos. Das decisões tomadas não haverá recurso. O júri

lavrará uma ata sobre o resultado do concurso, sendo a mesma assinada pelos elementos que

o constituem, que ficará anexa à ata da decisão da CEPC, assim como a documentação relativa

à atribuição do Prémio. 

Artigo 11.º

Atribuição ou não do Prémio

A deliberação do júri será tomada por unanimidade ou por maioria simples, tendo o

Presidente do júri voto de qualidade. O júri poderá considerar a não atribuição do Prémio, caso

ajuíze que os trabalhos apresentados não reúnam condições de qualidade que o justifiquem,

propondo o resultado da atribuição ou não atribuição, para decisão da Comissão Executiva

Permanente de Curadores da Biblioteca Adriano Moreira. 

Artigo 12.º

Edição dos trabalhos

O autor do trabalho premiado pode usar livremente, em edição do trabalho, a referência ao

Prémio obtido. No caso de o autor pretender editar, em colaboração com a Câmara Municipal

de Bragança e ou com a Academia de Letras de Trás-os-Montes, nos termos a acordar entre as

partes, caberão à Câmara Municipal de Bragança os direitos de edição. Esta procederá à edição

do trabalho premiado, se o autor, no prazo de 90 dias, por escrito, expressar essa vontade

junto da CEPC da Biblioteca Adriano Moreira.

Artigo 13.º

Devolução dos trabalhos

Os originais de trabalhos não premiados serão devolvidos aos respetivos autores, desde que

estes o solicitem, no prazo de 60 dias contados a partir da data da decisão final do júri,

cabendo aos autores o custo dos portes de correio.

Artigo 14.º

Casos omissos

Os casos omissos ou as divergências na interpretação do presente regulamento serão

resolvidos pela CEPC, sob parecer do júri.


Retirado de www.cm-braganca.pt


Campanha da apanha da castanha ainda está a decorrer em Valpaços e Bragança, e os produtores já calculam quebras de produção entre os 70% e os 90%. Receiam aumento de preços.


Por Susana Pinheiro

Depois da “excessiva” subida do preço dos adubos e das matérias orgânicas, os produtores de Bragança e de Valpaços veem-se agora a braços com uma quebra entre 70 a 90% da produção da castanha e consequentes prejuízos com a baixa de lucros. Muitos destes agricultores receiam, por isso, que o preço da castanha dispare com o escoamento no mercado e chegue aos consumidores a um preço mais elevado.

Numa época em que a castanha acaba por ser um suplemento ao rendimento de muitas famílias de Valpaços e de Bragança, e o país vive assolado com as consequências económicas da inflação, os produtores receiam viver ainda mais dificuldades financeiras.

Jorge Espírito Santo, técnico responsável da Associação de Agricultores para Valorizar o Futuro (Agrifuturo), avisa que se avizinham tempos complicados. “Prevê-se um ano difícil para os produtores de castanhas com avultados prejuízos, com quebra na ordem dos 70% na produção devido à seca e à falta de água”, alerta o técnico responsável da Agrifuturo, uma associação criada para valorizar o setor da castanha em Valpaços e apoiar os produtores em diversas matérias.

“Ainda não fechamos a campanha deste ano, mas calcula-se uma quebra de 70% na produção, em Valpaços, em relação à colheita habitual de 10 mil a 12 mil toneladas deste fruto nos anos anteriores”, estima Jorge Espírito Santo.

Este é, por isso, um ano atípico com falta de castanhas, ainda que com alguma qualidade, segundo os produtores com os quais o ECO/Local Online falou. E é unânime o receio de que o preço deste fruto possa disparar no mercado, alerta Jorge Espírito Santo.

São muitos os produtores que se queixam à associação Agrifuturo dos prejuízos, porque além da quebra de produção, também acabam por “vender entre os 2,5 e os três euros o quilograma deste fruto aos operadores que depois distribuem o fruto no mercado”. Como acontece com o produtor Gualberto Alves, de Valpaços: “Estou a vender a três euros o quilograma ao operador que depois coloca as castanhas à venda no mercado”, desconhecendo o valor com que depois o fruto é colocado à venda ao consumidor final.

Gualberto Alves ainda não terminou a campanha deste ano da apanha da castanha que é manual, nos terrenos na freguesia de Carrazedo de Montenegro e Curro, em Valpaços. “Temos de esperar que o ouriço abra e a castanha caia”, vai contando enquanto explica que calcula uma quebra na ordem dos 70% a 80% na produção deste fruto refletida num prejuízo de milhares de euros. “Este ano devemos apanhar cerca de mil quilogramas, quando em 2021 colhemos três toneladas de castanhas”, lamenta o produtor que fez “um investimento bem superior às receitas” que vai obter este ano.

Os agricultores também se queixam dos preços das matérias-primas que dispararam e nalguns casos para o triplo, como o adubo. “Com a guerra na Ucrânia subiram o triplo os preços do adubo e das matérias orgânicas. Gastei mais no investimento na produção do que o valor que vou receber com a venda das castanhas”, afirma Gualberto Alves, explicando que, para isso, em muito contribuíram as alterações climáticas e o violento incêndio que consumiu quase metade dos 696 castanheiros que tem plantados. Entre as causas para a quebra da produção o agricultor aponta ainda “o verão muito quente, a pouca água, assim como as pragas e algumas de difícil controlo”. Estas queixas são unânimes entre os diversos agricultores.

“Os produtores fazem tratamento durante todo o ano e os preços das matérias subiram bastante”, alerta o representante da associação Agrifuturo que também presta assistência técnica aos produtores no terreno, por exemplo ao nível de análises do solo, certificados e candidaturas a subsídios.

Ainda assim, Gualberto Alves diz que, “apesar de não haver quantidade de castanha no mercado, há qualidade”. E conta que tem mais variedade Judia – a que tem maior procura da parte dos consumidores – do que Longal. “Esta última caracteriza-se por ser mais pequena, cor mais escura, e é mais barata. Costuma ser mais para consumo próprio”, descreve. Já a judia tem mais brilho e é de maior calibre.

A apanha da castanha é ainda feita, na maior parte dos casos, à mão e requer muitos trabalhadores. E a falta de mão-de-obra é outro dos problemas apontados pelos agricultores.

As queixas são transversais a outros produtores com os quais o Eco/Local Online falou, como é o caso do professor Nuno Veiga, de Bragança, que acrescenta o problema da praga das vespas que prejudicou o crescimento da castanha nos 70 hectares de terreno que tem, na região, lamentando ainda “o calor excessivo prolongado” que se registou e que se refletiu na quebra de 90% na variedade da castanha Longal. “Já na variedade Boaventura a quebra foi de 60%”, acrescenta o produtor que, no ano anterior, colheu 20 mil quilogramas deste fruto.

Este produtor também se queixa do valor das matérias-primas. “Comprei adubo cujo preço duplicou com cada saco a 18 euros. Imagine o quanto gastei. Ainda não sei quanto vou receber pela venda das castanhas, porque ainda não terminei a campanha, mas já sei que não vou ter lucro. Peço, pelo menos, que dê para cobrir o prejuízo”, adianta Nuno Veiga.

“Se não tivesse outra profissão, não sei como iria recuperar dos investimentos que fiz nos adubos e noutras matérias-primas e nos consequentes prejuízos”, afirma o professor de Bragança. O mesmo não podem dizer os produtores que dependem da agricultura para subsistir.

Também o produtor Telmo Afonso, de Bragança, receia que esta situação económica possa afetar muitas famílias cuja subsistência tem por base a venda da castanha nesta época do ano. Não é o seu caso, que é enfermeiro e vê a produção deste fruto como um complemento financeiro. Mas acredita que este problema da quebra vai afetar todo o comércio da região.

Telmo Afonso não anda muito longe das queixas dos outros agricultores transmontanos. Também calcula uma quebra de 70% na produção da castanha nos seus sete hectares de terreno, em Espinhosela, Bragança, e queixa-se do “bicho na castanha”, e das pragas das vespas das galhas do castanheiro, além da falta de água e das más condições climatéricas. Este ano calcula colher bem menos dos que os 15 mil quilogramas do ano passado nas diferentes variedades. “A maior quebra que tenho é na variedade Longal”, conclui o também enfermeiro de Bragança.

Retirado de Localonline

Câmara de Bragança pede apoios “urgentes” ao Governo para produtores de castanha



Por Susana Pinheiro

Câmara de Bragança quer que o Governo apoie financeiramente os produtores de castanha pelas quebras na produção que calcula serem “superiores a 80%” devido à seca.

“Pela expressiva importância que a fileira da castanha tem para a Terra Fria do Nordeste Transmontano e para Portugal, contribuindo para a sustentabilidade destes territórios, propõe-se que o Governo adote medidas urgentes e muito concretas de apoio aos produtores de castanha”, solicita o número dois da autarquia de Bragança, Paulo Xavier. Numa exposição, na reunião do executivo, a que o ECO/Eco Local teve acesso, o autarca calcula mesmo uma quebra superior a 80%.

Paulo Xavier solicita, por isso, ao Governo “um apoio financeiro direto, a título compensatório, tendo por base o diferencial entre a faturação desta campanha e a média aritmética dos três últimos anos”, ou seja, de 2019 a 2021. Esta posição foi deliberada por unanimidade, na reunião do executivo, que decorreu na segunda-feira, e vai ser enviada para o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro António Costa, e mais elementos do Governo.

“Nesta data, é possível afirmar que a quebra da produção de castanha, nesta região, é superior, em média, a 80%, com evidentes perdas de rendimentos para os agricultores e famílias, acentuada pelo aumento exponencial dos custos energéticos, entre outros”, refere o vice-presidente da autarquia. E já são muitas as queixas de quebra que chegam ao município.

Os produtores têm vindo a queixar-se e receiam avultados prejuízos, uma vez que a produção e venda deste fruto é uma forma de sustento de muitas famílias que se veem agora a braços com mais dificuldades. A que acresce a crise económica.

Na exposição a enviar ao Governo, a Câmara de Bragança destaca, por isso, a importância da cultura do castanheiro na Terra Fria do Nordeste Transmontano, ou seja, Bragança e Vinhais, para o desenvolvimento económico, social e ambiental destes territórios.

“A castanha é um dos produtos agrícolas com maior potencial económico e rentabilidade na região de Bragança, representando um volume de negócios na ordem dos 100 milhões de euros, apenas no que concerne às transações diretas”, frisa o vice-presidente do município. Mais, reitera Paulo Xavier: “Cerca de 85% da produção nacional tem origem na denominada Terra Fria do Nordeste Transmontano“.

Na exposição, a autarquia reforça ainda que a produção tem aumentado nos últimos anos. Aliás, sustenta, este fruto “mantém um saldo muito positivo na balança comercial, com cerca de 80% da produção a ser exportada para países como Espanha, França, Itália e Brasil”.

Só que este ano, a campanha da castanha tem sido complicada para os produtores. Entre as causas para a quebra da produção, o edil enumera a “seca extrema” que atingiu a região e a falta de chuva, além de doenças como a tinta ou a vespa das gralhas do castanheiro que têm comprometido a produção.

Retirado de Localonline

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

EU EM MIM

Como podes estar assim, tão tranquila no meio desta barafunda? A vida é muito mais do que estar assim, derreada no sofá junto da lareira apagada. 

Amanhã surgirá um novo dia de desassossego... mas será um novo dia. Nada, a não ser a morte, to poderá negar. Pode ser bom ou mau, mas será teu. Apenas teu que os outros vivem os seus. 

Chorarás talvez, quando ouvires aquela canção, a tua canção de desgostos vários ou alegrias imensas. É a tua canção que acorda nos teus lábios pela manhã quando sais para o trabalho, quando vais caminhar, enquanto comes, quando estás a escrever, quando amas, quando vais dormir...

Como podes viver assim sem seres tu? Como podes esconder no mais fundo da tua alma a alma que és tu? Não. Não consigo ver-te a não dormir. Quando fechas os olhos e os sonhos não vêm e tantas vezes te levantas por não conseguires dormir, apetece-me zangar-me contigo. Dizer "Até logo. Hoje estás insuportável." E deixar, com o bater da porta da rua, cair a lágrima que há tanto tempo espera para cair... mas não. Regresso a casa alguns minutos depois e vou para o quarto onde dormimos os dois. Tu já não estás. Procuro por ti em todos os cantos. Reviro a roupa do quarto de vestir. 

Nada encontro. Nada sei. Olho para o espelho e tu estás ali, no canto superior esquerdo, sempre a olhar para mim. Quando terei coragem de retirar-te dali? 

Sentei-me no sofá junto da lareira apagada. É outono e as manhãs já são frescas. Devia acendê-la e esperar por ti com a casa quente. Um chá fumegante ou um café pintado de leite como tu gostas... talvez uma torrada barrada com manteiga e compota de maçã...

Não sei como consegues viver assim, nesta barafunda... Posso ajudar-te a arrumar os livros espalhados pelo chão. Tens uma bela biblioteca com as paredes cheias de estantes onde nem um pequeno quadro cabe, nas paredes, não nas estantes que são para os livros.

Não sei onde estás. Vou sair para ver se te encontro. Caminharei ao longo do rio onde tu gostas de estar. Não procurarei por ti. Encontrar-te-ei ou tu encontrar-me-ás. Seguiremos os nossos caminhos de mãos dadas ou não e depressa resolverei a barafunda no meu coração. 

MARIA CEPEDA



Jorge da Costa é o novo diretor do Museu do Abade de Baçal, em Bragança

Especializado em Arte Contemporânea, Jorge da Costa, é o novo diretor do Museu do Abade de Baçal e da Domus Municipalis, em Bragança.

Jorge da Costa é o novo diretor do Museu do Abade de Baçal, em Bragança. Foto: Rosa Pinto

No seguimento de concurso de seleção internacional, Jorge da Costa, foi escolhido para dirigir o Museu do Abade de Baçal e a Domus Municipalis, em Bragança, indicou a Regional de Cultura do Norte.

Jorge da Costa é licenciado em Humanidades, pela Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa de Braga, possui pós-Graduação em Arte Contemporânea, pela Escola das Artes da Universidade Católica do Porto, mestrado em Arte Contemporânea, pela Escola das Artes da Universidade Católica do Porto e é doutorando em Estudos do Património – Museologia, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

O especialista em Arte Contemporânea é membro da equipa da Rede Portuguesa de Arte Contemporânea (RPAC) da Direção-Geral das Artes (DGARTES) e membro do Laboratório de Artes na Montanha – Graça Morais.

Foi docente do ensino secundário até 2007, e desde essa data exerce funções de Técnico superior do Departamento Cultural da Câmara Municipal de Bragança, funções de direção artística e curadoria no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, e simultaneamente, desde 2013, no Centro de Fotografia Georges Dussaud. Entre 2007 e 2018, também coordenou e programou o Museu Ibérico da Máscara e do Traje e o Centro Cultural Municipal de Bragança.

De entre as várias atividades comissariou mais de 80 exposições de artistas nacionais e estrangeiros, bem como de importantes coleções públicas e privadas, no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, no Centro de Fotografia Georges Dussaud, e em diversos museus e Bienais de Arte do país.

Jorge da Costa é autor de inúmeros títulos publicados em livros, catálogos e publicações periódicas, e tem vindo a participar, como orador, em conferências e colóquios nacionais e internacionais, sobre domínios como a história da arte, a educação, mediação e o património. Tem-se dedicado à inventariação, gestão e estudo de coleções, e tem ainda intervindo como júri convidado em diversos projetos artísticos nacionais e internacionais.

Publicado por: TV Europa

Retirado de: tveuropa@tveuropa.pt

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Estilhaço


 chove como quem chora

molhando a calçada

que calcorreio, perdida

na ânsia de nada

que tudo anseio 

nesta triste vida

de insanos sonhos

onde ando perdida,

jamais encontrada,

e, como de permeio,

passos na autoestrada

deixam vestígios

de larga passada

que minha não é

no meu pé de chinesa 

enfio uma meia

de fina tristeza...

por cima, botas de aço

crânios estilhaço

a cada pequeno passo

choro perdido

laço no vestido

frio no regaço

amamenta o filho

de pé, no terraço


De Maria Cepeda

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Teresa Martins Marques é escritora e ensaísta

 


Presidente do PEN Clube Português (2019-2022). Membro da direcção da Associação Portuguesa de Escritores (2008-2017). Secretária-geral da Associação Portuguesa de Escritores (2018). Desde 2016, vice-presidente do Conselho Fiscal dos Críticos Literários.  Desde 2006, investigadora integrada no Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Doutora em Literatura e Cultura Portuguesa pela Universidade de Lisboa (2011). Mestre em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea (1992) e licenciada em Filologia Românica (1975) pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

A nível profissional, foi professora orientadora de estágios no ensino secundário e autora de programas e manuais escolares para o ensino secundário. Na década de 80, enquanto assessora de um Grupo Parlamentar da Assembleia da República, participou activamente na discussão da Lei de Bases do Sistema Educativo, aprovada a 14 de Outubro de 1986 (Lei n.º 46/86). Integrou, entre 1992 e 1995, a equipa do Instituto de Lexicologia e Lexicografia da Academia das Ciências de Lisboa, colaborando na terminologia literária.

Dirigiu a edição das Obras Completas de José Rodrigues Miguéis, prefaciando os treze volumes desta colecção, editada pelos Círculo de Leitores, entre 1994 e 1996.

Coordenou, entre 1997 e 2004, a equipa de organização do espólio literário de David Mourão-Ferreira na Fundação Calouste Gulbenkian. A sua tese de doutoramento reflecte este trabalho, abordando o percurso do sujeito alusivo à viagem de regresso de Ulisses – o herói de David Mourão-Ferreira.

Integrou júris de ficção, poesia e ensaio de diversos prémios, nos quais foram galardoados Eduardo Lourenço, Maria Helena da Rocha Pereira, Eugénio Lisboa, João Rui de Sousa, Vasco Graça Moura, José Gil, Maria Velho da Costa, Lídia Jorge, Hélia Correia, Nuno Júdice, entre outros.

Excelente oradora e comunicadora, proferiu grande número de palestras e conferências, quer em Portugal, quer no estrangeiro, como, por exemplo, Brasil, França e Itália, entre outros locais, e colaborou nas mais prestigiadas revistas literárias portuguesas e brasileiras e em quatro dezenas de volumes colectivos de ensaio.

Iniciou-se na ensaística, em publicação individual, com Si On Parle du Silence de la Mer (Editora Danúbio, 1985), centrado na novela de Vercors Le Silence de la Mer, publicada em 1942 pela Éditions de Minuit.

O ensaio O Eu em Régio: a Dicotomia de Logos e Eros (1.ª ed., 1993; 2.ª ed., 1994) foi agraciado com o Prémio de Ensaio José Régio / 1989.

Em 1994, editou O Imaginário de Lisboa na Ficção Narrativa de José Rodrigues Miguéis (1ª ed., Editorial Estampa, 1994; 2ª ed., Círculo de Leitores, 1996; 3ª ed., Editorial Estampa, 1997), prefaciado por David Mourão-Ferreira, no qual analisa as representações de Lisboa a partir dos contos de José Rodrigues Miguéis, incidindo principalmente sobre Saudades para a Dona Genciana e os romances A Escola do Paraíso, O Milagre segundo SaloméUma Aventura Inquietante, Nikalai! Nikalai!, Idealista no Mundo Real, O Pão não Cai do Céu.

Em Leituras Poliédricas (1ª ed. s.e.,1996, 2ª ed. refundida e aumentada, Universitária Editora, 2002), prefaciado por Maria Lúcia Lepecki, Teresa Martins Marques reúne ensaios sobre Cesário Verde, Gomes Leal, Raul Brandão, José Régio, José Rodrigues Miguéis, Vitorino Nemésio, Eugénio Lisboa, Fernando Aires, João de Melo e Onésimo Teotónio Almeida.

A sua tese de doutoramento foi refundida e aumentada em Clave de Sol – Chave de Sombra. Memória e Inquietude em David Mourão-Ferreira (Âncora Editora, 2016), em que analisa a obra de David-Mourão Ferreira, fruto do contacto com o espólio e usando materiais literários e não literários éditos e inéditos, apresentando novas linhas de leitura acentuando as polarizações da memória e da inquietude.

Para além do ensaio, Teresa Martins Marques cultivou outros géneros, como a biografia (O Fio das Lembranças – Biografia de Amadeu Ferreira – Âncora Editora, 2015), o teatro (Anjas ao Sol – 2015), o conto (Carioca de Café – 2009; Degraus do Passado – 2014; O Avesso do Amor – 2019; Chronica Adefonsi Imperatoris – (2020) e o romance (A Mulher que Venceu Don Juan – Âncora Editora, 2013, estando em curso traduções deste livro na Roménia e na Hungria). Este último integra o Plano Nacional de Leitura para o Ensino Secundário e é tema de uma tese de mestrado- 2019, na UNESP (Brasil).

Retirado de www.escritoreslusofonos.net 

Teresa Martins Marques está de parabéns com este novo romance. Tive o privilégio de estar em sua casa poucos dias antes da edição do seu "Não Matarás - Romance de um Crime", onde a ouvi ler os dois primeiros capítulos do "Não Matarás".

Parabéns querida amiga.

Maria Cepeda