terça-feira, 25 de abril de 2017

Entrevista a Georges Dussaud, no dia em que se comemoram 4 anos da criação do Centro de Fotografia Georges Dussaud, em Bragança

Completam-se, hoje, neste 25 de Abril, os primeiros 4 anos do Centro de Fotografia Georges Dussaud, em Bragança. Inaugurado no dia 25 de Abril de 2013, é um espaço que nos dignifica e enaltece e que merece as nossas visitas.
Aqui deixamos esta merecida homenagem a este Senhor, que desde os anos 80, juntamente com a sua esposa Christine, faz questão de se assumir como transmontano de coração. 
 

Olá! Fim de tarde de um fevereiro quase março, ameno e simpático, que convida a convívios serenos e conversas descontraídas.
Estamos no Hotel Tulipa, numa sala acolhedora e agradável, local onde se encontra hospedado o nosso entrevistado, o fotógrafo Georges Dussaud.
Esta será a 87ª entrevista, a 5ª da segunda série.
Connosco estão, ainda, a sua encantadora esposa Christine, José Rodrigues Monteiro e Gabriela, sua esposa, amigos comuns, Manuela Pereira, amiga e colega e o meu irmão David Claudino.
Era nossa intenção realizar esta entrevista no Centro de Fotografia Georges Dussaud. No entanto, por se encontrar em obras, fomos obrigados a abortar a ideia.
Convém referir a importância desta instituição no conjunto museológico de Bragança pela sua singularidade e qualidade incontestáveis. Ali encontramos um total de 148 fotografias a preto e branco. Este acervo fotográfico conta com retratos, de onde sobressaem histórias de vida, povoadas de homens, mulheres e crianças, mas também de lugares, de olhares, de gestos, de instantes irrepetíveis registados a cada rigoroso disparo da máquina fotográfica. Georges Dussaud apresenta um percurso demarcado por temáticas precisas que caracterizam o trabalho fotográfico desenvolvido em Trás-os-Montes, território de sua eleição.

Bem-vindos. Estamos muito agradecidos por terem aceitado participar nesta conversa connosco.

  
Mara Cepeda (MC) - “Georges Dussaud é da família dos grandes “imaginógrafos” viajantes. Alguém disse que fotógrafo é nome pouco para dar a estes caçadores e criadores de fascínio. Que não chega para designar estes talentosos criadores-ficcionistas que, à semelhança de muitos outros artistas, interpretam assim a realidade através da imaginação e da sensibilidade. Melhor fora chamar-lhes, por isso, imaginógrafos”… Assim inicia José Rodrigues Monteiro o texto que escreveu para o catálogo da exposição “Trás-os-Montes”, organizada pela Câmara Municipal de Bragança. Diga-nos, por favor, o que faz Georges Dussaud, fotógrafo francês de renome internacional, em Bragança, Trás-os-Montes, Portugal?

Georges Dussaud (GD) – (Risos) É uma longa história de acaso e de encontro, sobretudo de encontro. Foi em 1980, com a minha esposa, Christine e os meus três filhos que fizemos a nossa primeira viagem, de férias, a Portugal. Fizemos campismo na Costa Alentejana e na hora do regresso para França, decidimos ir pelo interior, pelos pequenos caminhos rurais tranquilamente e passámos pela região de Trás-os-Montes, no Barroso, era no mês de agosto, e ficámos surpreendidos com a degradação e ruralidade, com a vivência das pessoas, dos lavradores com as charruas e seus animais, das colheitas, da atmosfera e do mundo arcaico, com um ambiente comparado com a época da idade média de um quotidiano excecional, com uma animação extraordinária. Foi um espaço de tempo muito curto, mas desde aí decidimos voltar, e desta vez, no inverno. Então, voltámos a nossa primeira estadia foi na região de Montalegre – Barroso – passeámos nos pequenos barcos, perto do lago na barragem dos Pisões, e chegámos a uma pequena aldeia - Negrões. Nessa altura, não havia hotéis e precisávamos de arranjar algum sítio para ficar. Sentimos um caráter céltico, muito forte, parecia um mundo esquecido, sem nos apercebermos havia algo semelhante com a Bretanha, queríamos conhecer mais e decidimos ficar. Foi, então, que encontrámos um adolescente, e perguntámos se conhecia algum sítio para podermos ficar, pois estava muito frio. O rapaz disse que ia falar com a avó Deolinda. Nesse momento, existiu um movimento imediato de simpatia, e a partir de então, já nos sentimos em família. Deolinda ligou-nos definitivamente a Portugal. Sim, sim, é esta a história. Durante dez anos, sempre que vínhamos, ficávamos hospedados na sua modesta casa e acompanhámos a Deolinda até aos últimos dias da sua vida. Ainda fomos visitá-la ao hospital de Montalegre. Agora, precisamos que se diga, que esta é a centésima viagem que fazemos a Portugal, é por isso que falamos muito bem o português!... mas temos amigos que sabem falar muito bem!

(M.C.) - Nasceu a 4 de março de 1934 em Brou, na Bretanha. Fará, muito brevemente, 83 anos. Acha que o lugar onde nascemos nos predestina?

(GD) - Dia 4 de março vou fazer 83 anos. Sim, daqui a uns dias, e estou orgulhoso e contente é um prazer, por ainda estar ativo e ligado à fotografia, com esta idade. Não é “Brou”, o departamento chama-se “Eure et Loir”, perto de “Chartres”… Sim, sim, não estou orgulhoso sabe. (Irónico) Sou orgulhoso, sim da tática. Não, não estou totalmente certo, já há muito tempo que moramos na Bretanha e a maior parte da nossa vida foi vivida na Bretanha; é uma região céltica, com muito caráter, muito forte e pegámo-nos muito mais a esta região, do que propriamente à localidade onde nascemos, com um caráter menos pronunciado. Mesmo assim, passei lá a minha infância. Estamos completamente ligados à Bretanha… Agora temos raízes na Bretanha. Temos três rapazes… Nasceram e vivem na Bretanha. Tenho sete netos, todos nasceram lá, são todos bretões. Os meus filhos conhecem bem o Barroso, Portugal e gostam muito. Já estiveram cá várias vezes.
 
(MC) - Como era ser criança e jovem naquele tempo?

(GD) - (Risos) - Como era? Era outro planeta, vivia-se quase sem consumismo, nessa altura, antes da última Guerra Mundial. No entanto, tentamos sempre tornar a infância mais bela, mas na verdade foi um período muito difícil com os bombardeamentos… era comum isso tudo. Agora, é o contrário, há um hiperconsumismo, destroem-se as casas e voltam-se a construir, mas com outro conforto. Destruímos o planeta todo, é uma consciência grave para as gerações futuras, mas é assim. Temos de destruir para continuar a produzir. É a lógica do sistema. É inexplorável. Não sei se gosta da palavra, mas é essa a lógica. Foi por isso que no primeiro ano que viemos a Montalegre, Barroso, ficámos fascinados, pois não existia nada, a vida era simples, autêntica… com espirito de muita partilha e solidariedade. As refeições festivas existiam. Tudo era motivo de alegria. No entanto, não existia quase nenhum dinheiro e comiam praticamente o que produziam. Foi o que gostámos. A vida era rude mas as pessoas eram felizes até nos trabalhos mais pesados. Ainda havia a matança do porco, o forno para cozer o pão, que agora praticamente não funciona, as aldeias tinham muita gente, muitos jovens… agora é um pouco diferente só há pessoas idosas e muitos hábitos foram extintos… assistimos ao fecho das escolas. Há, talvez, um regresso de alguns jovens, mas é raro. Em Pitões, por exemplo, há dois ou três jovens casais que se instalaram com os filhos, mas são poucos. É um pequeno movimento, sim, um pequenino movimento, esperamos que se restabeleça.

(M.C.) - Quando despertou para a fotografia?

(G.D.) - Comecei muito jovem, porque o meu pai era relojoeiro. Nessa altura, os relojoeiros também eram fotógrafos e tiravam fotografias profissionais, como retratos de família e outras coisas assim. Em casa dos meus pais havia muita fotografia de família, e é verdade que muito jovem ficava fascinado pela fotografia. Achava que eram objetos poéticos, objetos de memórias. Em casa dos meus pais havia um grande armário com uma gaveta cheia de fotos, havia fotografias um pouco por todo o lado, era uma desordem total, só se viam fotografias e eu já gostava de as ver, com os meus irmãos ou sozinho. Penso que o gosto pela fotografia surgiu assim. Eu dava já, uma especial atenção, à marca do tempo que existe na fotografia.

(M.C.) - Realiza a sua primeira exposição individual em Nantes, em 1978. Desde então, nunca mais parou. Fale-nos, por favor, desse período da sua vida.

(G.D.) – Sim. Fiz muitas exposições talvez demais, não sei. Portugal mimou-me muito. Se calhar, não sei se estou a responder a esta questão… Acho que o período decisivo foi quando se deu o encontro com Portugal e o grande projeto de fotografias que fizemos, sem nenhuma intenção aparente, no início, mas fomos levados por uma espécie de aventura, e resultou. Conseguimos fazer muitas fotografias. Assim, sem querer, nasceram arquivos que são únicos, mesmo únicos, devido a um certo número de imagens, que são das memórias de um Portugal antigo que desaparece. Houve publicações, a primeira foi com, o livro de Miguel Torga, “Trás-os-Montes”, em 1984 por Assírio Alvim, em Lisboa. A partir daí realizaram-se outras exposições que foram apresentadas em Lisboa. O Centro português de fotografia… não, não, isso foi mais tarde, em 2007. E foi tudo muito rápido. A partir de então continuaram, mas tudo começou em Bragança, em 1987. Sim em 1987, na Escola Superior de Educação. Depois, fiz muitas exposições em Bragança. É verdade que Portugal reconheceu rapidamente o nosso trabalho. Quando o livro foi publicado, por Assírio Alvim, com os textos de Miguel Torga que eram retirados do seu jornal “France Interieur” (O Diário) enfim, uma edição francesa. O livro apesar de ter uma qualidade média em relação à impressão, funcionou muito bem com os textos de Torga, pois Miguel Torga era célebre em Portugal, e eu, como não era tão conhecido fiquei mais falado e reconhecido. Graças a Torga houve um rápido sucesso e, desde então, continuei a aventura. Este foi mais um feliz incidente, entre muitos outros, em Portugal. O José teve a ideia de trazer o livro e de fazer uma exposição, aquando da vinda de Mário Soares, a Bragança. Até transportaram o livro de táxi para lhe ser entregue em mão e oferecido. Foi muito bom. O grande sucesso do livro começou realmente, em Bragança.
(M.C.) - Que papel desempenha a sua esposa Christine na sua vida?

Breve curriculum do fotógrafo Georges Dussaud, nosso entrevistado

Georges Dussaud nasceu a 4 de março de 1934, em Brou (Eure et Loir), junto de Chartres, em França.
Vive e trabalha em Châteaugiron, (Bretanha). É casado com Christine Dussaud.
Fotografa a preto e branco.
Desde 1975, faz reportagens fotográficas na Grécia, Portugal, Irlanda, Índia, Cuba, Grã-Bretanha.
Realizou exposições em diversas cidades de Portugal, Brasil, Irlanda, México e Itália. 
Em 1986, ingressou para a agência RAPHO, Paris.
Em 1989 é finalista do prémio W. Eugéne Smith (Nova Iorque).
Em 2013, no dia 25 de Abril, é inaugurado, em Bragança, o Centro de Fotografia Georges Dussaud.
A sua obra está representada em grandes coleções portuguesas e francesas.
É autor de 16 monografias.


Maria Cepeda

domingo, 23 de abril de 2017

Mais notícias do meu jardim

São rosas Senhor, brancas também, pois então?
Todas lindas e perfumadas.









Maria Cepeda

NOTÍCIAS DO MEU JARDIM

A primavera, pesem embora as alterações climatéricas, continua a chegar à hora certa, no dia marcado.
Primeiro com cautelas como se temesse o frio. Depois, explode em cores, flores, perfumes, borboletas, abelhas... e amores!
Eis o meu pequeno jardim quase selvagem, despretensioso e simples.







 Maria Cepeda