Dos
mais de 30 milhões de euros que a EDP assegura ter investido nos cinco
concelhos do vale do Tua, como compensação pela construção de uma barragem,
cerca de metade foi direcionada para o plano de mobilidade turística e
quotidiana.
O
problema é que este plano, que pretende voltar a pôr o comboio a apitar nesta
zona trasmontana, já leva quase um ano de atraso e não há data para arrancar.
O
impasse tem por base um diferendo entre a Agência de Desenvolvimento Regional
do Vale do Tua (em que estão representados os Municípios de Alijó, Carrazeda de
Ansiães, Murça, Vila For e Mirandela, bem como a EDP) e a Infraestruturas de
Portugal (IP). A primeira quer que a segunda se responsabilize pela manutenção
da superestrutura da via-férrea durante os 25 anos da concessão ao grupo Douro
Azul, mas até agora, apesar das várias reuniões entre as partes, ainda não
houve fumo branco.
Enquanto
o comboio não puder circular estará parado todo um investimento de 15 milhões
de euros. E todas as expectativas colocadas no desenvolvimento turístico da
região também continuarão frustradas.
O
presidente da Agência, Fernando Barros, está convencido que vai ser “uma
questão de dias” até ser alcançado um acordo. Mas da IP não tem havido
notícias. Na passada quarta-feira, à margem da inauguração do Centro
Interpretativo do Vale do Tua, o vice-presidente daquele organismo público não
se mostrou disponível para falar aos jornalistas sobre o assunto.
O
administrador da EDP, Rui Teixeira, salientou que “é responsabilidade da
Agência concluir as negociações com o Governo para poder implementar esse plano
de mobilidade”, uma vez que da parte da elétrica nacional “já foram cumpridas
todas as obrigações”.
Assumindo
que “a EDP tem vontade de ver o plano em funcionamento”, o administrador
explica que tinham a responsabilidade de garantir que “existiam cais na
albufeira, que a linha férrea era reparada e que a Agência era financiada em
mais de 10 milhões de euros para que, em conjunto com o operador, pudesse
montar todo o sistema de gestão do plano”.
Adicionalmente,
a elétrica nacional ainda vai financiar em mais 3,7 milhões de euros o reforço
da segurança no troço da linha do Tua, entre Mirandela e Brunheda. “Assumimos
que podíamos dar um passo mais, para permitir que fosse concluída a discussão
entre a Agência e a IP, de modo a que o comboio possa começar a circular
rapidamente”, sublinha Rui Teixeira.
O
montante de 30 milhões referentes a medidas compensatórias e de minimização de
impactos faz parte do bolo total de mais de 400 milhões de euros investidos na
construção da barragem do Tua.
Para
além da implementação do plano de mobilidade turística e quotidiana no vale do
Tua, destacam-se outras medidas de compensação para o território pela
construção da barragem: O Centro Interpretativo do Vale do Tua, que foi
inaugurado na passada quarta-feira, na estação de Foz-Tua, em Carrazeda de
Ansiães. Custou dois milhões de euros. Está aberto de quarta a domingo, entre
as 12 e as 18 horas.
O
Parque Natural Regional Vale do Tua, o primeiro parque regional do país, que é
gerido pela Agência, é financiado com 2,25% da produção média líquida anual do
aproveitamento hidroelétrico. Além disso, um adicional de 0,75% é entregue pela
EDP ao Fundo Ambiental. Tudo isto durante a licença de exploração de 75 anos. O
Parque Natural Regional tem como objetivo a defesa da biodiversidade existente
no território abrangido pela albufeira nos cinco concelhos de
intervenção.
Foram
também recuperadas algumas igrejas e capelas degradadas, entre outro património
histórico, no vale do Tua.
A
capacidade de produção da barragem do Tua é de 460 GigaWatt/hora anual, que dá
para garantir o dobro do consumo dos cinco municípios abrangidos pela albufeira
(Alijó, Carrazeda, Murça, Vila Flor e Mirandela), em que vivem pouco mais de 50
mil pessoas.
Cerca
de 300 trabalhadores estão ainda envolvidos nos acabamentos da barragem e na
central hidroelétrica. O número máximo de postos de trabalho criados desde o
início das obras, em 2011, foi de 1.400 diretos. Em termos indiretos gerou
4.200 empregos.
Central
hidroelétrica será comandada a partir do Porto
A
central hidroelétrica da barragem do Tua está em fase de acabamentos, mas já
funciona com licença de ensaios desde o verão desde 2017. O que se vê é pouco,
comparado com o projeto inicial que deixava um enorme edifício a agravar o
impacto visual de todo o aproveitamento hidroelétrico.
O
que estaria à mostra seria muito mais, não fosse a materialização do projeto do
arquiteto Eduardo Souto de Moura que correspondeu à obrigação de “enterrar” a
central. Foi eliminado o caráter de edifício da construção, reduzindo a sua
imagem ao caráter de máquina inserida na paisagem. Quando estiver concluído o
arranjo exterior deverá ter formas características da região, sobressaindo os
socalcos, o granito e as oliveiras.
Numa
visita às suas entranhas, Vallejo Paes, responsável da obra no local, tem todas
as explicações na ponta da língua. Na sala da turbina há uma série de armários
cheios de botões que “fazem a regulação do comportamento da turbina, das fases
diretrizes do distribuidor…”, entre outras funções que só mesmo os técnicos
percebem. Há uma nave ampla onde imperam dois poços com os andares definidos
por uma espécie de varandas. Sobressai a cor cinzenta dos materiais, opção de
Souto de Moura.
Pouca
gente se vê por ali. Há quatro homens destacados para alguns trabalhos de
manutenção e poucos mais serão quando a central estiver a funcionar a todo o
gás. De resto, vai ser comandada ao partir do centro de telecomando da EDP que
está instalado no Porto há cerca de um ano, tal como acontece com todas as
restantes no país. Até então, o controlo era efetuado no Peso da Régua.
De
acordo com o administrador da EDP, Rui Teixeira, “está prevista uma vistoria
das entidades ambientais para confirmar que todos os compromissos assumidos no
“âmbito da Declaração de Impacte Ambiental foram cumpridos. Acreditamos que a
partir desse momento será emitida uma licença de exploração definitiva”.
Já
no que diz respeito ao paredão da barragem propriamente dita, “as obras estão
concluídas” estando ainda a decorrer trabalhos de integração paisagística e de
arquitetura. “A nossa espectativa é que 2018 seja o ano de conclusão”.
Escrito
por Jornalista: Eduardo
Pinto
Retirado de www.jornalnordeste.com
Sem comentários:
Enviar um comentário