terça-feira, 2 de janeiro de 2018

PEQUENA REFLEXÃO (OU NÃO...)

31 de dezembro de 2017. Bragança, em minha casa, na sala da lareira que ardia pressurosa e quente.
A lenha, vinda da terra do Pereiro, na aldeia de Brito de Baixo, concelho de Vinhais, nascida em terreno soalheiro, não se fez rogada e dava gosto vê-la arder com a sua calorosa chama.
A mesa posta para o jantar de passagem de ano. Bonita, creio. Comensais, quatro. Poucos com certeza, mas bons: mãe (sogra), pai (sogro) e nós os dois.
Ementa? O habitual marisco acompanhado pelo verde vinho.
Toca o telefone. Um amigo de infância do meu pai a desejar um ano novo feliz.
Felicidade da minha mãe que atendeu a chamada, indiferença do meu pai doente de Parkinson e demência.
Breve conversa com desejos mútuos de bom ano e muita saúde.
Lágrimas, tristeza, desalento por ver meu pai assim, tão pouco ELE.
- Mãe. Não vale a pena chorar. Mais vale viver um dia de cada vez, aproveitando os bons e breves momentos de alguma consciência.
- Sim, eu sei. Mas custa tanto ver o teu pai assim...
A vida é assim. Continuámos a comer, olhos baixos, coração apertado.
- Come Zé, come.
E o Zé não comia.
Levanto-me e dou-lhe de comer.
- Não quero mais. Comei vós.
Sempre os outros. Nunca ele.
Passagem de ano, passagem de vida, passagem de amor, de tristeza, de impotência, desânimo e, no entanto, hoje é o primeiro dia do mês de janeiro de um novo ano que se quer feliz.

Maria Cepeda 

Sem comentários:

Enviar um comentário