Esta
é uma Feira que surge de uma festa de caçadores, há 24 anos, que acabou por dar
lugar a um dos eventos de referência a nível nacional, reunindo milhares de
caçadores e curiosos no Parque Municipal de Exposições, onde estão instaladas
as naves que já são insuficientes para albergar todos os expositores que
procuram o certame.
Benjamim
Rodrigues, Presidente da Câmara Municipal de Macedo de
Cavaleiros:
Este
é um momento icónico no âmbito do turismo de Inverno, tendo em conta que é um
dos maiores eventos cinegéticos do país. Traz muitos visitantes, representando
um móbil importante em termos económicos para o concelho e para a região, uma
vez que mexe com os concelhos vizinhos, até porque só nós, no concelho, não
temos capacidade hoteleira para dar resposta a tanta gente durante os dias da
feira.
A
Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros tem preparado um investimento de cerca
de 80.000 euros que se deverá multiplicar várias vezes ao nível do investimento
que fica no concelho, tendo em conta o que os visitantes deixam ao nível da
hotelaria e comércio local, não só durante os dias da feira, mas também ao
longo de todo o ano.
O
que começou como uma festa ou uma feira, vai para 24 anos, sendo que como feira
da Caça e Turismo, vai fazer 22 anos, é uma iniciativa que toca já vários
pontos importantes como o desporto, a competição, o turismo, a economia, faz
mexer economia da região.
Esta
é uma feira que pode crescer ainda mais. Tem potencial para isso, há ainda
muita coisa por fazer. Por exemplo ao nível do turismo de Inverno. Eu dou um
exemplo: neste momento estamos a investir na criação de cursos só virados para
a cinegética e para o turismo de época, portanto, em breve penso que podemos
arrancar com esses cursos, porque vemos grande potencialidade e é óbvio que
temos que ter gente criativa, gente que inova e gente com capacidade técnica
para este tipo de organizações. A Feira da Caça e Turismo funciona como um âncora
para desenvolver e potenciar o turismo de Inverno e de natureza.
Temos
já muita gente que vem especificamente para esta feira, com uma grande vontade
de participar no espectáculo que é a natureza e a sua dinâmica com animais
selvagens como é o caso das montarias, que atraem sempre muita gente de fora.
Tendo
em conta que esta feira continua a crescer, não colocamos fora de hipótese
aumentar para mais um pavilhão, uma outra nave, porque já se justifica, tendo
em conta as solicitações que têm chegado, atendendo ao número crescente,
fundamentalmente de expositores espanhóis.
O
regresso da corrida de galgos é este ano uma das novidades promete animar ainda
mais a feira. Para além disso estão previstos passeios no âmbito da
biodiversidade, o contacto com a natureza, o cercado com os corços, temos ainda
um centro interpretativo que é único a nível nacional, onde criam exemplares e
onde pode ser vista uma exposição em parceria com o Safari Club Internacional,
tudo isto reunido são motivos que certamente serão do agrado de todos.
Com
a Feira da Caça à porta, falámos com o Presidente da Federação de Caçadores da
1.ª Região Cinegética, Artur Cordeiro, que se mostra optimista relativamente ao
sector, apesar dos números apontarem para uma perda de caçadores de ano para
ano, estimam-se que neste momento sejam cerca de 370 mil em Portugal. Aponta o
dedo ao Instituto da Conservação da Natureza que atrapalha mais do que ajuda os
caçadores, bem como o próprio Estado que está mais preocupado com taxas e
licenças do que tratar dos reais problemas do sector. Assume ainda que as
próprias associações e federações deviam juntar-se mais para trabalhar em
conjunto e reconhece que há ainda muito trabalho por fazer pelos próprios
agentes que têm a obrigação de promover a caça. O responsável pela federação
das associações de caçadores da 1.ª Região Cinegética reconhece que, a dimensão
por vezes demasiado reduzida das estruturas associativas não permite organizar
e estimular a caça como esta mereceria.
Como
analisa o actual momento que atravessamos no sector?
Artur
Cordeiro - Nós estamos num meio em que o tipo de caça
que tem vindo a conhecer um crescimento significativo é a caça maior. Há dez
anos julgava eu que teríamos atingido o pico do interesse neste tipo de caça e,
como já se percebeu, tem continuado a ganhar adeptos e espero que daqui a dez
anos possa continuar a dizer o mesmo. A razão para que isso aconteça tem a ver
com a possibilidade de ver aqui animais ainda em estado selvagem. Às vezes
diz-se em tom de brincadeira que, aqui ao lado, em Espanha, os javalis são de
“granja”. Nós não queremos isso, queremos javalis nascidos e criados no campo.
É verdade que começamos a esticar um pouco a corda quanto ao número de batidas
que se estão a fazer, mas também é verdade que o javali tem proliferado
bastante, uma vez que não tem predadores. O único predador poderia ser o lobo
mas não há lobos em número suficiente para poder ser considerado como tal. O
javali tem vindo a revelar-se muitas vezes uma praga, no entanto o Instituto da
Conservação da Natureza proíbe a caça em muitas destas áreas, depois claro,
temos javalis a ir beber à praia.
O
panorama ao nível da realidade da caça mudou. Hoje temos uma geração de
caçadores mais formada e sensibilizada para como se devem comportar com a caça.
Eu ainda sou do tempo em que havia caçadores a quem tudo o que saísse era para
matar. Hoje não é assim, não podemos fazer isso. Sabemos que se o fizermos
estamos a impedir o normal desenvolvimento da espécie.
Caçar
é um desporto caro?
A.
C. - Pode ser encarado como um desporto caro, embora nas
aldeias continue a ser possível ser caçador sem precisar de despender muito
dinheiro. O problema tem mais a ver com as obrigações legais como taxas,
licenças, livretes, mais obrigações para guardar e registar as armas. Se
começarmos por aí, é verdade que pode começar a ser visto como um desporto caro
e cheio de burocracias. Compreendo o esforço da polícia em ter acesso a um
registo mais fiel das armas que existem.
Mas
é verdade que há ainda alguma falta de união dos caçadores e dos diferentes
organismos que os representam?
A.
C. - O que devíamos fazer, e que não estamos a fazer, era
criar um melhor entendimento entre as diferentes organizações da caça, acho que
ganharíamos todos. Poderia ser um bom motivo de discussão desde logo para uma
das próximas edições desta feira, por exemplo.
A
existência de associativas é também um factor de desenvolvimento e união
locais, por norma são exemplos de boa convivência.
E
a caça furtiva, continua a ser um problema?
A.
C. - Nem me fale nisso. Continua a ser um grande problema. Na
maior parte dos casos são pessoas locais que saem à noite e chegam de
madrugada. Os meios de fiscalização são insuficientes para controlar esse
problema. Estão mais preocupados em ver se as placas estão bem colocadas.
Acredito
que esta feira serve também para sensibilizar as pessoas para esta questão,
assim como também potencia o aparecimento de novos caçadores que se vão
motivando com aquilo que aqui se vai mostrando. Eu sou um optimista, por isso
acho que as coisas vão melhorar.
Retirado de www.jornalnordeste.com
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