O
ministro da Agricultura, veterano nas andanças da política, muitas vezes visto,
com um peso pesado na máquina socialista, veio outra vez ao distrito, ao
encerramento da Feira do Fumeiro, em Vinhais, depois de há duas semanas ter
sido convidado especial na feira da Caça e do Turismo, em Macedo de
Cavaleiros.
Mui
gratos a sua Exa. ficamos, os nordestinos, pela atenção que nos dedica, na
esperança de que, finalmente, as decisões dos políticos sejam orientadas pela
vontade de combater as causas da lenta agonia que têm marcado as últimas
décadas da nossa triste história.
Mas,
para além do cerimonial e dos discursos encomiásticos de cada circunstância,
que ainda fazem gente crédula romper em aplausos, vale a pena encarar com fria
serenidade, sem despeitos nem preconceitos, o que vai sendo dito, em comparação
com o que não foi feito quando ainda era tempo e que, provavelmente, não
encontrará, no futuro, condições para se realizar.
Uma
primeira reflexão leva-nos a estranhar que, quando veio recentemente a Macedo
de Cavaleiros, Capoulas Santos não tenha referido os investimentos no regadio,
que agora anunciou em Vinhais, tendo em conta que os concelhos que poderão
beneficiar são da terra quente. Por outro lado, Macedo de Cavaleiros foi o
espaço de intervenção de Camilo de Mendonça na década de 60 do século passado e
a Barragem do Azibo, pensada para alimentar ali o regadio, ainda não viu
consumado o seu destino, apesar da alternativa turística que foi encontrada com
reconhecido sucesso.
Entretanto,
em plena terra fria, em Bragança, há muitos anos que se tenta a construção de
uma barragem em Parada, para regadio do sul do concelho. Lembre-se que o
complexo do Montesinho previa que a Barragem de Veiguinhas tivesse capacidade
superior à que veio a verificar-se e ligação a um sistema de regadio para
servir aquela zona do concelho brigantino. Os meandros da politiquice reduziram
a capacidade da barragem e o benefício para a agricultura local.
Surge,
assim, despropositado escolher a Feira do Fumeiro para lançar o anúncio de
investimentos no regadio. Acresce que parece tratar-se de recuperar sistemas já
existentes e construir novas barragens, sem se saber onde e quando.
Compreende-se que o país fez um esforço hercúleo no sistema do Alqueva, mas
isso não pode significar adiamentos na exploração das potencialidades das
terras nordestinas, verdadeiro mosaico de produções que podem atingir alta
qualidade no azeite, no vinho, na amêndoa, na castanha, na noz, sem esquecer os
produtos pecuários.
Não
vamos ceder à tentação das desconfianças, embora diabinhos irrequietos não
parem de insinuar que o ministro é do Alentejo e isto é tudo uma questão de
aproveitar as oportunidades. Mas, fique claro que, os sistemas de regadio são
fundamentais para esta região. Se continuarmos a deixar andar, o abandono dos
terrenos agrícolas vai agravar-se e o nordeste transmontano será uma
continuidade de poulas e a água da natureza chegará para manter os matagais,
onde se poderão promover autênticos safaris, com direito a lobos, javalis,
veados e sabe-se lá, ursos pardos, que retomarão os espaços desertos de gente.
Boa
viagem, senhor ministro.
Escrito por Teófilo Vaz,
Diretor do Jornal Nordeste
Retirado de www.jornalnordeste.com
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