Quando Pedro nasceu, já
André, apesar de franzino, corria rua abaixo e rua acima com os outros meninos
da pequena aldeia. Falava pelos cotovelos e sorria. Nunca se ouvia chorar,
mesmo quando se magoava nas suas tropelias.
O bebé nasceu em pleno verão
e com bons pulmões. Ninguém ficou indiferente ao belo menino que Conceição
trouxera ao mundo. Gorduchinho e saudável era um lindo recém-nascido. A
parteira dizia que nunca vira outro tão lindo e perfeitinho.
Depois de todos os preparos
necessários à mãe e ao filho, permitiram que André o visse. A mãe, mal viu a
sua cabecinha assomar à porta do quarto estendeu os braços e chamou-o para si.
Ele, desconfiado, foi entrando, ao mesmo tempo que olhava para todos os lados
até que o descobriu, aconchegadinho num berço de carvalho que o pai havia
feito. Não mais tirou os olhos do irmão. Aproximou-se e pendurou-se para ver
melhor. O pai, vendo o seu esforço, pegou nele ao colo e mostrou-lho.
- Bebé! É “queno” pai, é “minito”.
“Pedo” é o “Pedo”.
- É Pedro, filho? É assim
que se vai chamar. O que te parece mulher?
- É lindo! Claro que se vai
chamar Pedro, não é meu pequerrucho?
Pegou no filho e encheu-o de
beijos. Deu-lhe uma súplica das que a tia Ana lhe tinha mandado e pediu que lhe
dessem o recém-nascido. Com os dois filhos nos braços, o brilho do seu olhar
encheu o quarto.
A vida corria, finalmente,
bem. O dinheiro que tinham “herdado” dos pais de Conceição ia dando os seus
frutos. Os animais rendiam e nunca mais lhes tinha morrido nenhum. Trabalhavam muito
e tinham contratado um criado para a ajudar na lida do campo.
Cada um no seu ofício, viviam
com a alegria de ver as coisas acontecerem e prosperarem. Joaquim tinha bons
contactos e muitos amigos. Conceição tinha aquela aura que a fazia única.
Mandava como quem pede e pedia como quem afaga. Ninguém tinha coragem de lhe
dizer que não.
Eram tempos difíceis em qualquer
parte do mundo e ali não era diferente. O dinheiro era escasso. A vida dura. O ritmo
era o das estações. O tempo media-se pelo sol e pela lua…
Os meninos foram crescendo e
Pedro era a sombra de André, seu protetor. A mãe estava prestes a dar à luz
pela terceira vez.
Manuel chegou com o outono e
desta vez o nome foi escolhido pelos pais que decidiram dar-lhe o nome do avô
paterno.
André crescera e já ajudava
a mãe. Tinha seis anos e parecia um homenzinho. Responsável e obediente, era um
bom exemplo para Pedro. Mas este, mais traquina e brincalhão, trazia toda a
aldeia presa às suas travessuras. Ninguém ficava indiferente ao seu encanto. Nunca
perdia a compostura e, apesar de contar apenas três anos de idade, não dava
sossego a ninguém, a não ser quando se juntava ao pai no cabanal. Ali passava
tempos infindos a olhar para o pai.
- O pequeno vai trabalhar
com o Joaquim. Vejam com que atenção está o garoto!
Não havia quem não
reparasse. A mãe, quando estava um bocado sem saber dele, já sabia onde encontrá-lo.
Mandava André buscá-lo e sorria ao vê-los, de mãos dadas, a subir a pequena
rua, vindos do cabanal, cada um com um carro de bois na mão.
O pai era, realmente, um artista.
Trabalhava a madeira como ninguém. A sua fama corria pelo concelho de Vinhais e
até de Bragança vinham encomendas das mais diversas alfaias necessárias à vida
daquele tempo.
Ninguém fazia carros de bois como ele. Fazia-os como quem faz uma obra de arte, com o seu vagar, com o seu cuidado… não se rendia a exigências de tempo. Levava o que precisava para entregar uma obra que duraria uma vida inteira. Só o fazia depois de estar absolutamente convencido de que não tinha defeitos. Era lendária a sua teimosia e persistência.
Ninguém fazia carros de bois como ele. Fazia-os como quem faz uma obra de arte, com o seu vagar, com o seu cuidado… não se rendia a exigências de tempo. Levava o que precisava para entregar uma obra que duraria uma vida inteira. Só o fazia depois de estar absolutamente convencido de que não tinha defeitos. Era lendária a sua teimosia e persistência.
Alberto, chegou três anos
depois já André tinha nove anos e trabalhava como um adulto. Era o braço
direito da mãe. Desta vez coube a Pedro escolher o nome do irmão mais novo e
decidiu que teria o nome do padrinho
- Alberto! É Alberto como o
meu padrinho!
- Muito bem filho! Boa
escolha. O meu irmão vai ficar muito contente.
Já eram quatro os filhos que
Deus lhe dera. Não sabia se ainda lhe mandaria mais algum. Se assim fosse,
ficaria feliz se fosse uma menina, finalmente uma menina… se fosse outro rapaz,
seria bem-vindo como os outros. Tinha filhos lindos e saudáveis. Nunca lhe
tinham dado grandes preocupações para além das normais doenças infantis.
Passaram seis anos depois do
nascimento de Alberto. Conceição está prestes a ser mãe do seu quinto filho. Não
demora, é o Natal de 1946.
Os filhos mais velhos são a
sua força de trabalho. A casa prosperou ao ponto de se tornar a melhor casa da
aldeia e uma das melhores do concelho. Joaquim, pouco a pouco, readquiriu todas
as propriedades que pertenciam à sua herança.
Ana decidiu nascer quinze
dias antes do Natal. Foi a melhor prenda que aquela família podia receber. Numa
casa de homens, uma menina. Loira, grandes olhos cor de mel, pele branca como o
luar… muito parecida com a mãe, herdou os olhos do pai. A família estava
completa.
Mara Cepeda
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