A oliveira, o seu fruto e o
azeite que dele se extrai são referências fundamentais das civilizações
mediterrânicas, associadas a confortos de divindades e às aspirações humanas
na partilha das essências do que consideram as delícias da imortalidade.
Associamos o azeite à luz
que nos guia nas trevas, à purificação do corpo, à celebração da vida, apesar
de também conhecermos ditos jocosos que o relegam para realidades enjoativas,
rançosas e escorregadias, fruto de modas em tempos de idolatria do sintético,
do processado, do adulterado, aparentemente cómodo, eficaz, rápido, com
consequências que se hão-de ver, se calhar.
O Nordeste Transmontano tem
sofrido os efeitos nefastos do isolamento que a história lhe foi impondo,
abafando-lhe o alento e esvaziando-lhe a alma. Mesmo assim, quando olhado com
olhos de ver, pressentia-se não haver razão para lhe assacar a condição de
verdadeiro degredo.
Talvez se tenha chegado
tarde ao reconhecimento de potencialidades únicas, apesar da aventura notável
que foi o empreendimento do Cachão há mais de meio século, que se perdeu nas
noites do desleixo acomodado às miragens de prosperidade que haveria de cá
chegar, mais cedo ou mais tarde, porque sobraria de prometido milagre
nacional, abençoado por todos os santos da Europa.
Mesmo assim, ainda foi
possível identificar produtos que teriam futuro no sector agroalimentar,
nomeadamente as carnes, o azeite, os frutos secos ou o vinho. Não faltaram
proclamações e acções de sensibilização para a aposta na especificidade, na
qualidade, na produção tradicional, porque por aí se chegaria a mercados com
alto poder de compra, refinados, com garantias de continuidade.
O reconhecimento das
produções da região foi aparecendo: vinhos, azeites, carnes certificadas
foram premiados a nível internacional, mas a generalidade dos produtores
viu-se confrontada com a exiguidade do universo de consumidores, reinstalando-se
o instinto de sobrevivência, quando não aconteceu o abandono por falta de
rentabilidade ou exaustão de quem gastara a vida a lutar contra o destino.
Assim se explica a redução vertiginosa de cabeças de gado bovino e dos
efectivos de ovinos e caprinos, estes com as perdas conexas de outro produto
para palatos exigentes, os queijos com carácter muito próprio.
Enquanto a castanha e a
amêndoa parecem ter, no horizonte imediato, garantias de rendimentos interessantes
e o vinho também continua a fazer caminho, o azeite da região está, desde há
três anos, a confrontar-se com um problema que pode comprometer-lhe o futuro.
O preço pago aos produtores
de azeitona está em queda e os transformadores já recusam o próprio fruto,
porque não colocam o azeite no mercado com rentabilidades aceitáveis. Por isso,
um número significativo de pequenos produtores poderão conhecer sérias dificuldades
para manter a actividade ou sujeitar-se a ficar com os azeites. Aqui nos confrontamos,
mais uma vez, com o absurdo: a qualidade afinal serve-nos de pouco.
Ficar com os azeites também
é expressão idiomática que utilizamos para referir irritação, mau humor ou fúria,
sentimentos que tendem a não se arredar das nossas vidas.
Escrito
por Teófilo Vaz, Diretor do Jornal Nordeste
Retirado
de www.jornalnordeste.com
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