A essência da política é
a liberdade de pensar, que
orienta a acção na res publica, a comunidade, polis ou
civitas, como diriam os nosso maiores, gregos e romanos.
Da liberdade de pensar
ouvimos dizer que se realiza sempre, sem condicionamentos nem censuras, o que
não é definitivamente verdade porque também somos
resultado do nosso contexto,
apesar de não haver “machado que corte a raiz ao pensamento”.
Na política não basta a
aventura de pensar, porque
a liberdade objectiva só se
concretiza na relação com os
outros, reclamando o contributo da igualdade e da fraternidade para que não nos
tornemos simples adoradores do nosso ego, porventura luminoso, mas incapaz, só
por si, de criar novos mundos ao ritmo do pulsar caprichoso de um qualquer génio
do bem, ou do mal, porque
também os há.
Apesar destas evidências
as sociedades continuam a
lidar com auto proclamados profetas, que olham com
desprezo para os outros viventes, apontando-lhes, de
dedo em riste, a rota da salvação de si próprios, desse
inferno que é a condição humana, com todas as angústias, tragédias, esperanças,
entusiasmos e desilusões que
lhe conhecemos.
Quando vai alta a maré
do desespero deixamo-nos
arrastar pela emoção e perdemos a capacidade de observação racional da realidade. Foi assim que se abriram portas a ditaduras ferozes. Entretanto, continuamos a dar atenção a visionários que distorcem a realidade em nome das suas convicções, por mais absurdas que
sejam quando olhadas com
inteligência.
Temos aprendido pouco com a história, apesar das
dores que a humanidade foi
provando. Geralmente tais
personagens messiânicos revelaram-se perigosamente
inimigos das liberdades e do
respeito pelos outros e pelas
suas circunstâncias.
Oriundos dos extremos
do espectro político-ideológico, tanto faz, quando lhes
foi proporcionada oportunidade tomaram o freio nos
dentes sem escrúpulos, convencidos que haviam sido
eleitos para a revelação final, numa paranóia incomodativa. A centração em
si próprios deixou memórias ridículas, miseráveis e
agoniantes de Hitler, Staline, Salazar, Mao Tse Tung
e, nos nossos dias, de Fidel
Castro, Hugo Chavez e o seu
herdeiro Maduro. Espera-se
que os sistemas democráticos dos EUA e do Brasil encontrem condições de resistir ao espectáculo reles em
que deram palco a duas figuras inenarráveis da ignorância atrevida.
Se a racionalidade continuar a perder terreno neste
século XXI, corremos o risco de conhecer os primórdios de uma nova idade das
trevas, que chegará para ficar por muito tempo. Há razões para temer a proliferação de fanatismos irrecuperáveis para o reconhecimento de valores comuns, condição para que a convivência
seja possível.
O fenómeno, aparentemente marginal, que ocupa os noticiários no país é
um bom exemplo: os egos
no partido “Livre” estão sobreexcitados e uma proposta aparentemente interessante de participação cívica leva à constatação de que fazer
política à esquerda pode não
passar de mais uma situação
risível da miséria a que estaremos condenados.
Escrito por Teófilo Vaz, Diretor do Jornal Nordeste.
Retirado de www.jornalnordeste.com
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