segunda-feira, 13 de abril de 2020

PÔR-DO-SOL

A beleza de um pôr-do-sol, nestes tempos tão estranhos
e tristes
e incertos
e angustiantes
(podia continuar a juntar epítetos sem fim, nesta língua que me pertence não pertencendo),
consegue emocionar e acalmar,
por fugazes momentos,
o meu coração.
Posso viver em confinamento voluntário,
absolutamente necessário,
mas não posso secar as lágrimas que insistem em cair.
Tantas mortes, Senhor!
Ninguém para quem olhar na hora da despedida!
Pais sem filhos.
Filhos sem pais.
Ninguém onde perder o olhar.
Ninguém onde o prender,
com uma réstia de esperança.
São milhares… milhares de desamparados.
Milhares de abandonados por quem não os abandonou.
Choro senhor, a dor de todos os que o vírus levou… e há de levar.
Quando poderemos,
simplesmente,
correr sem amarras,
sem máscaras,
sem medos?
Tenho prisioneiros, abraços e beijos,
para distribuir
e não sei quando poderei abrir as celas onde jazem deitados e ausentes,
sem trabalho e esperança.
É primavera e vê-se.
Tudo resplandece de cor e muitos verdes.
O sol brilha…
Risos de crianças não se ouvem.
Avós com sorrisos no olhar ao olhar para os netos…
Onde estão?
 




Fotos e texto de Maria Cepeda

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