Nada de novo enquanto a
tempestade nos turva o horizonte. A fragilidade da condição humana, que
tendemos a esquecer, faz-se sentir em vagas alterosas de vez em quando, embora
todos os dias vá mostrando que não há soberba que lhe resista, principalmente
quando é filha da ignorância, capaz de ousadias despropositadas ou do simples
deixar correr, até ver onde as coisas irão parar.
A agravar a desorientação que
nos invade os dias, o caudal de informação não tem atingido os níveis de
precisão com que gostaríamos de contar, sabendo-se que a melhor forma de controlar
o medo é dispor de informação séria, racionalmente integrável, de modo a que
se possa desenvolver um processo de explicação dos fenómenos, sem se cair uma e
outra vez no universo das emoções, das intuições, das expectativas irracionais,
afinal no jogo da sorte e do azar.
A informação deveria ser mais clara
por parte das entidades governamentais, com dados objectivos sobre as condições
de quem adoece, mas, principalmente, sem deixar pairar dúvidas sobre o que
realmente pode ser feito ou não no que respeita a gestos do quotidiano, sem
contribuir para mais alarmismo, nem para suportar voluntarismos
desnecessários ou até contraproducentes, como parece estar a acontecer no caso
das máscaras, que são apresentadas como fundamentais e a sua fabricação
artesanal aparece como um acto de solidariedade, ao mesmo tempo que a Directora
Geral da Saúde vem dizer que, pelo contrário, até poderão tornar-se um factor
de agravamento da situação infecciosa.
São males de um tempo em que,
havendo aparentemente informação à tonelada, muitas vezes não é fidedigna,
porque não resulta da observação serena da realidade, mas circula e condiciona
os comportamentos com resultados imprevisíveis.
Apesar de tudo é evidente que a
imensa maioria dos cidadãos está a tentar manter comportamentos tidos por
adequados. Naturalmente, continuará a haver, como sempre, meia-dúzia de alimárias
a provocar riscos desnecessários. Esperemos que as autoridades disponham de
condições para garantir a tranquilidade possível.
No meio disto tudo há um fenómeno
interessante, que se foi constatando à medida que as intervenções nos canais
de televisão se foram fazendo a partir das casas de cada um, comentadores,
cientistas, economistas, políticos, jornalistas e tantos outros.
O cenário mais utilizado para as
sessões de Skype foram estantes com livros. Recheadas, coloridas, a dar à
madeira ou brancas como é vulgar nos produtos fornecidos por grandes superfícies
para serem montadas pelo consumidor, parece que muitos dos reconhecidos com
capacidade de análise, de prospectiva, de reflexão querem demonstrar que a
principal fonte de informação estrutural, que pode enquadrar os fenómenos com
alguma solidez é o conhecimento construído ao longo de milénios, disponível
sem se fazer rogado e sempre com revelações insuspeitadas a cada releitura.
Talvez o exemplo sirva para que,
no futuro, clicando ou folheando, reconheçamos a importância dessa memória
fundamental da humanidade.
Escrito por Teófilo Vaz, Diretor do Jornal Nordeste
Retirado de www.jornalnordeste.com
Sem comentários:
Enviar um comentário