Em tempos de pandemia… ficamos em casa.
Somos os que temos sorte. Estamos longe dos hospitais, das morgues, do abandono dos cemitérios.
Mesmo assim, este aprisionamento obrigatório e consentido pressupõe protegermo-nos para proteger. Lutamos contra um inimigo invisível e matreiro que não poupa ninguém.
Não estamos preparados para ele. Não temos armas para esta guerra implacável.
Choramos todos os dias durante os Telejornais que nos mostram aquilo que não queremos ver.
A nossa flagrante impotência inunda-se de caixões em palácios de gelo, em igrejas vazias, em valas comuns… e milhares de avós e bisavós repousam sós.
Lavar as mãos vezes e vezes sem conta, ficar em casa, usar luvas e máscaras se for preciso, poupar máscaras e luvas para quem mais precisa… e médicos, enfermeiros, técnicos, funcionários… ficam infetados, morrem… Outros desesperam impotentes
Que tempos estes!
Maria Cepeda
quarta-feira, 29 de abril de 2020
terça-feira, 28 de abril de 2020
Bucólico
Tantos verdes, tantas flores!
Só a primavera tem esses dons,
essa paleta de cores,
essa riqueza de tons.
Sorriem os olhos desta beleza
que os lábios sorriram já.
A alma está, com certeza,
serena como Iemanjá.
Iemanjá gosta de flores,
perfumes e água do mar.
As suas vestes incolores
são azuis e prata ao luar.
São também os cordeirinhos
no verde pasto a balir.
Uns pretos outros branquinhos,
brevemente hão de partir.
O verão não tardará.
que venha quente, muito quente
que o Covid 19 já cá está.
Trouxe sofrimento a toda a gente.
Queremos tempos mais serenos.
Menos tensos e confinados.
A liberdade já não temos.
Não podemos seguir calados.
Conscientes e responsáveis seguiremos.
Não podemos vacilar.
Dependemos, grandes e pequenos,
Do amor que podemos dar.
Maria Cepeda
sábado, 25 de abril de 2020
Olá amigos
Perguntar-se-ão o porquê de cinco editoriais do Jornal Nordeste num mesmo dia, neste dia 25 de Abril de 2020.
PANDEMIA.
Todos eles falam desta desgraça que se abateu sobre nós, seres humanos imperfeitos e frágeis.
Não sabemos como será a nossa vida a partir de agora. Não sabemos como viveremos após a vacina, nem quando seremos vacinados.
A nossa afabilidade e afetuosidade ficaram comprometidas? Certamente.
Até quando? De que forma?
Quantos ainda terão de morrer para que o mundo se convença que é tempo de abrir os portões, de escancarar a solidariedade?
Teófilo Vaz escreve muito bem. É licenciado em História. É professor. É meu amigo de infância. Brincávamos na Caleja, (os de Bragança sabem que é uma ruazinha por trás da Torralta) Somos da mesma idade e soubemos continuar a cultivar a cumplicidade que sempre tivemos.
Serve, também, esta pequena anormalidade da publicação dos cinco editoriais, para homenagear os homens e mulheres que por este mundo fora e, principalmente, em Portugal, estão ligados à comunicação social.
Serve ainda, como homenagem a todos os trabalhadores da saúde que entregam sem reservas, as suas vidas para salvarem outras.
Serve indubitavelmente, como um grande e virtual abraço para todos nós que nos protegemos para proteger os nossos, os outros...
25 de Abril de 2020. Somos livres de fazer o melhor para todos. Somos livres para nos mantermos prisioneiros em nossas casas, nas mais diversas situações pessoais ou laborais. Somos livres para insistir em dar aulas aos nossos alunos a distância.
Somos livres para distribuir sorrisos, mesmo que apenas se vislumbrem no olhar...
Mara e Marcolino Cepeda
PANDEMIA.
Todos eles falam desta desgraça que se abateu sobre nós, seres humanos imperfeitos e frágeis.
Não sabemos como será a nossa vida a partir de agora. Não sabemos como viveremos após a vacina, nem quando seremos vacinados.
A nossa afabilidade e afetuosidade ficaram comprometidas? Certamente.
Até quando? De que forma?
Quantos ainda terão de morrer para que o mundo se convença que é tempo de abrir os portões, de escancarar a solidariedade?
Teófilo Vaz escreve muito bem. É licenciado em História. É professor. É meu amigo de infância. Brincávamos na Caleja, (os de Bragança sabem que é uma ruazinha por trás da Torralta) Somos da mesma idade e soubemos continuar a cultivar a cumplicidade que sempre tivemos.
Serve, também, esta pequena anormalidade da publicação dos cinco editoriais, para homenagear os homens e mulheres que por este mundo fora e, principalmente, em Portugal, estão ligados à comunicação social.
Serve ainda, como homenagem a todos os trabalhadores da saúde que entregam sem reservas, as suas vidas para salvarem outras.
Serve indubitavelmente, como um grande e virtual abraço para todos nós que nos protegemos para proteger os nossos, os outros...
25 de Abril de 2020. Somos livres de fazer o melhor para todos. Somos livres para nos mantermos prisioneiros em nossas casas, nas mais diversas situações pessoais ou laborais. Somos livres para insistir em dar aulas aos nossos alunos a distância.
Somos livres para distribuir sorrisos, mesmo que apenas se vislumbrem no olhar...
Mara e Marcolino Cepeda
O IMPÉRIO DA INCERTEZA (Editorial do Jornal Nordeste, 21 de Abril de 2020)
Ao longo do tempo, pensadores da profundidade, muitas vezes
boas almas, outras talvez nem tanto, foram deixando sinais de que as certezas
sobre a condição humana, as capacidades de intervenção na realidade e de
compreensão do que nos rodeia eram relativamente limitadas, o que nos
conduziria, mais dia menos dia, a esmagadoras desilusões.
Apesar do arsenal tecnológico, científico, filosófico, político
e económico de que dispomos, continuamos a descer aos vales de lágrimas que nem
os criadores da Salvé Rainha terão alguma vez imaginado.
Ainda há pouco tempo o que estava a dar no mainstream das
sociedades ditas desenvolvidas era a festa do prolongamento da vida, até da
aproximação da imortalidade.
Nunca se tinham conhecido tantos progressos, o corpo
biológico estava a caminho de ser entendido como uma máquina, capaz de ver
substituídas peças fundamentais, como acontece com os automóveis, que
garantiriam o tal paraíso na terra, porque, afinal, parece ser nesse que agora
acreditamos.
O optimismo retumbante postergava dados inconvenientes, que
abalavam etéreas fantasias. Constatava-se que chegar ao cento de anos era cada
vez mais comum e havia quem arriscasse, para daqui a poucas décadas, a meta do
século e meio e um pouco mais além, os trezentos anos, sem tirar nem pôr.
Só que o universo que se observava era restrito, localizado,
em condições ideais, asséptico, o que não passa de fantasia deleitosa, porque o
mundo real é muito mais duro do que parece.
Soava estranho que tais profissões de fé no admirável mundo
novo não quisessem ver que mais de três quartos dos viventes não seriam nunca
contemplados, nem sequer com a sucata que sobrasse desse Olimpo, tão mítico como
o que a cultura clássica nos legou.
Agora voltámos ao choro e ranger de dentes que os anunciadores
do apocalipse nos destinaram, sentimo-nos desamparados e, sem novidade, vamos
cedendo à tentação do salve-se quem puder, sempre convencidos que os que
ficarem terão tempo, até à próxima tragédia, para viver com alguma tranquilidade,
o que nos remete para a essência mágica da nossa relação com a vida que, em
termos simples, se resume a uma questão de sorte e azar, com destino e fatalidade
a tomar conta dos dias, das horas, de cada momento, roendo-nos os esteios da
racionalidade.
Muito mais do que a presunção de aspirantes a semideuses
precisamos de tomar consciência de que a complexidade do mundo não se compadece
do simplismo com que o tratamos, nem do hedonismo que nos torna cegos aos
problemas dos outros e às ameaças que se perfilam nas nossas vidas.
O tempo que nos espera pode revelar o que de bom e de mau
continua indissociavelmente ligado ao primata que somos. Celebrar-se-ão no
futuro as virtudes reveladas, mas também corremos o risco de voltar a depender do
instinto, com tudo o que pode trazer de regresso à selva humana.
Lembremo-nos de há um século: alguns anos depois de uma
pandemia demolidora, em 1918/19, viveram-se décadas de irracionalidade que não
deixaram boas memórias.
Escrito por Teófilo
Vaz, Diretor do Jornal Nordeste
Retirado de
www.jornalnordeste.com
LIÇÕES DA PANDEMIA (Editorial do Jornal Nordeste, 14 de Abril de 2020)
A cada novo dia os sinais de alívio diluem-se rapidamente numa
torrente de novas angústias, incertezas, perigos afinal desconhecidos, ameaças
de segundas, terceiras ou quartas vagas, ao mesmo tempo que se anunciam decisões
de progressiva retoma da economia, que sem pão estará tudo a ralhar, mas ninguém
com razão.
Nota-se cada vez mais que a pandemia não foi encarada, a
nível mundial, com a necessária atenção, havendo mesmo tendência para
desvalorizar o fenómeno. A própria China terá tido responsabilidades, eventualmente
manipulando a informação como, aliás, é habitual em regimes políticos
autocráticos, ainda por cima com o peso económico e geoestratégico que ali se
atingiu.
Mais inquietante é que, nas últimas décadas, da globalização
triunfante, o comodismo europeu e ocidental em geral foi permitindo que
actividades básicas, agora reconhecidas de necessidade imediata, foram
deslocalizadas por empreendedores de sucesso para aquelas paragens, chegando-se
à situação de simples máscaras, zaragatoas, viseiras de plástico, protecções
para médicos, enfermeiros e auxiliares terem que ser importadas precisamente da
China, onde o mercado afinal funciona segundo as velhas leis da natureza, sem
lugar para honra e dignidade.
Como se não bastasse, o potencial fornecedor está, ele próprio,
com dificuldades de responder às solicitações, já que viveu um tempo de
inactividade prolongada em muitos dos seus centros de produção.
Instalou-se então um rosário de anúncios de aquisição de
equipamentos para amanhã, seguido de lamentações por causa de atrasos, de desvios, de roubos descarados, o que só
ajuda a regar as ervas daninhas do descrédito e da dúvida insidiosa, abrindo as
portas a todas irracionalidades.
A saga das máscaras também vai contribuindo para a
desorientação. Finalmente serão, pelos vistos, obrigatórias em locais fechados.
Mas não as há. Voluntarismos que merecem aplauso estão a ajudar.
Alguns vêm dizer às gentes que as podem fazer em casa, sem
perceber que nas sociedades actuais, urbanizadas, habituadas a dispor de uma
multiplicidade de serviços, na maior parte dos casos as famílias não estão
equipadas com instrumentos básicos que eram característicos há meio século,
como seria o caso de máquinas de costura e, principalmente, ter aprendido a trabalhar
com elas, o que torna ridícula tal sugestão.
Ver-se-á, nos próximos dias, se os cidadãos poderão adquiri-las
ou se, mais uma vez, o caos lançará enigmático sorriso sobre o horizonte da
nossa melancolia.
Tendo em conta a informação possível parece que o país está
a conseguir, apesar de tudo, resultados melhores do que outros parceiros de
caminhada nesta Europa que não mostrou ser capaz do que dela se esperaria:
organização, solidariedade, estratégia concertada e investimento suficiente.
Assim, a pretensão de que neste extremo da Eurásia se atingiram
níveis civilizacionais exemplares e de que o mundo só ganharia em pôr os olhos
em nós, aparece como expressão de soberba enfatuada, que nos devia reconduzir ao
remorso e à reflexão séria sobre as responsabilidades que nos cabem antes,
durante e depois desta tragédia.
Escrito por Teófilo
Vaz, Diretor do Jornal Nordeste
Retirado de www.jornalnordeste.com
DA SERENIDADE POSSÍVEL (Editorial do Jornal Nordeste, 7 de Abril de 2020)
O que mais dói é ver a Primavera
a fugir de nós, quando sempre a celebrámos como garantia de renovação da
vida, pelo menos para mais um ano, ou cem, tudo dependia do sol, das flores e
das folhas tenras que, a cada manhã, nos amparavam o ânimo.
As folhas e as flores aí estão,
serenas, sem vaidades, como sempre. Nós é que não estamos com os mesmos olhos
da alma, que se fica triste como a noite ou se deixa tomar pela raiva que
transparece sempre da resignação, mesmo se sabemos que o que acontece tem ou
há-de ter uma explicação racional e se não nos tivéssemos deixado enredar no
comodismo, na displicência, na lassidão, poderíamos estar a encarar a
situação com outra tranquilidade.
De facto, pelo menos os mais
informados, sabíamos que havia grande probabilidade de que surgissem pandemias,
porque a natureza é como é. Alguns foram alertando para ciclos observáveis ao
longo do tempo e não faltou quem dissesse que cada século traria algumas
perturbações, mais ou menos tremendas.
Até se fizeram filmes sobre o
assunto, que agitaram as gentes, abriram os portões da adrenalina, provocaram
arrepios e respirações ofegantes. Ao mesmo tempo alimentou-se difusa ideia de
que poderia haver gente maléfica, a mandar em parte do mundo, ou nele todo,
que estaria a dar-se a caprichos diabólicos e a deliciar-se com uma situação
do género. Mais uma forma de tentar iludir as probabilidades reais de um
fenómeno que, objectivamente, poderíamos ter sob um controle preventivo mais
apertado e, por isso, mais eficaz.
Poderíamos, naturalmente, todos
os que estamos por este mundo, mesmo se temos que reconhecer que há bastante
tempo não se conheciam tão notórios retrocessos nos modelos de gestão política
das comunidades, dos estados e, por consequência, na dificuldade de encontrar
soluções solidárias, num mundo que esperávamos estivesse a encaminhar-se
para mais dignidade, depois de experiências, do último século, que demonstraram
as misérias de que somos capazes.
Quando chegam notícias da
verdadeira selva que têm sido, a nível internacional, os negócios dos
equipamentos de apoio à recuperação e de prevenção da infecção, não estamos
longe do aguçar das unhas e do arreganhar dos dentes entre grupos rivais de
símios numa qualquer floresta, real ou imaginária.
Os protagonistas são quase
sempre os mesmos, mas o inquietante é que recolhem o apoio de milhões de trogloditas
que os legitimaram, em sistemas confundíveis com esse modelo nobre, construído
penosamente ao longo de séculos, a que chamamos democracia.
Entretanto, continuamos a
confrontar-nos, todos os dias, com notória dificuldade de acesso a informação
sólida, o que prejudica a serenidade, talvez a arma fundamental para não
darmos campo ao pânico e à instalação do caos, que não aproveitam a ninguém.
Esperemos que os procedimentos
dos responsáveis nacionais nos levem a porto seguro, donde nos seja possível
encarar o horizonte com a profundidade que impeça o florescimento da desconfiança,
o avolumar dos temores e, principalmente, que não nos deixe tomar pelo desespero
.
Escrito por Teófilo Vaz, Diretor do Jornal Nordeste
Retirado de www.jornalnordeste.com
QUANDO SE SENTEM OS EFEITOS TRÁGICOS DOS ERROS (Editorial do Jornal Nordeste – 31/03/2020

Verdade, verdadinha é que
anda tudo meio atarantado, a disfarçar cagaços para garantir a satisfação de
necessidades básicas, inadiáveis, que permitem subsistir, mas também se podem
transformarem ratoeiras infames, pelo menos são as novidades de todos os dias,
conduzindo à quase paranóia, com efeitos de que só conheceremos os resultados
se e quando a coisa parar ou se encontrar uma solução definitivamente
tranquilizadora para estes humanos que vão tomando consciência da sua
insignificância no cosmos, apesar das vaidadezinhas com que queremos encobrir
as misérias.
Pelos vistos resta-nos
esperar que a precaução, a disciplina e a comiseração nos ajudem e que tenhamos
tido sorte nessa roleta que é a genética, para virmos a atingir novos verões de
todos os contentamentos.
Depois alguém há-de
perceber que é estranho termos atingido os níveis conhecidos de desenvolvimento
técnico e científico e não desenvolvermos métodos de prevenção de situações que
sabemos possíveis, mesmo prováveis, tendo em conta o registo histórico.
Chegando-nos agora a uma
observação mais próxima da condição dos ocupantes que restam deste interior, onde
múltiplas tragédias nos têm assolado secularmente, havemos de confirmar o que gostaríamos
de ver reconhecido pelos responsáveis políticos: já não há forma de iludir o
estado a que isto chegou.
A população mais
vulnerável está aqui, os meios de contenção e combate à pandemia são, por cá,
os mais elementares e, pior, a concentração de idosos em verdadeiros
entrepostos de armazenamento, um problema grave há muito conhecido, pode
redundar agora, como se tem visto na Itália e na Espanha, numa situação que nos
inquieta e envergonha.
A solução para o fim do
percurso não devia ser tal amontoado de padecimentos, ansiedades e angústias.
Por outro lado, a
prolongada ausência de investimento na saúde nestes territórios coloca-nos
agora perante a impossibilidade de fazer o quer que seja, esperando pela
misericórdia divina que, provavelmente, não alimentará muitas ilusões.
À semelhança do que acontece
por esse mundo, onde se vão ouvindo vozes, torpes ou cruéis, a desvalorizar o
impacto da pandemia, suportadas na convicção de que o mundo não estará para
velhos, também poderá acontecer que de forma mais clara ou subreptícia, se vá
instalando o mesmo discurso a caminho de justificar o injustificável.
O tempo de Páscoa que
aí vem ainda era, em muitos casos, o momento de retorno às raízes, às
tradições, aos afectos das gerações que estão a chegar ao fim do caminho. Já
era ténue, mas ainda deixava marcas para vidas inteiras.
Neste ano e daqui em diante
podem estar a coser-se as razões para, a par do individualismo radical, se
perderem referências fundamentais para que possamos continuar a falar de
comunidades humanas e mesmo da própria humanidade.
Escrito
por Teófilo Vaz, Diretor do Jornal Nordeste
Retirado
de www.jornalnordeste.com
Angústia e estantes carregadas de livros (Editorial do Jornal Nordeste – 24/03/2020)
Nada de novo enquanto a
tempestade nos turva o horizonte. A fragilidade da condição humana, que
tendemos a esquecer, faz-se sentir em vagas alterosas de vez em quando, embora
todos os dias vá mostrando que não há soberba que lhe resista, principalmente
quando é filha da ignorância, capaz de ousadias despropositadas ou do simples
deixar correr, até ver onde as coisas irão parar.
A agravar a desorientação que
nos invade os dias, o caudal de informação não tem atingido os níveis de
precisão com que gostaríamos de contar, sabendo-se que a melhor forma de controlar
o medo é dispor de informação séria, racionalmente integrável, de modo a que
se possa desenvolver um processo de explicação dos fenómenos, sem se cair uma e
outra vez no universo das emoções, das intuições, das expectativas irracionais,
afinal no jogo da sorte e do azar.
A informação deveria ser mais clara
por parte das entidades governamentais, com dados objectivos sobre as condições
de quem adoece, mas, principalmente, sem deixar pairar dúvidas sobre o que
realmente pode ser feito ou não no que respeita a gestos do quotidiano, sem
contribuir para mais alarmismo, nem para suportar voluntarismos
desnecessários ou até contraproducentes, como parece estar a acontecer no caso
das máscaras, que são apresentadas como fundamentais e a sua fabricação
artesanal aparece como um acto de solidariedade, ao mesmo tempo que a Directora
Geral da Saúde vem dizer que, pelo contrário, até poderão tornar-se um factor
de agravamento da situação infecciosa.
São males de um tempo em que,
havendo aparentemente informação à tonelada, muitas vezes não é fidedigna,
porque não resulta da observação serena da realidade, mas circula e condiciona
os comportamentos com resultados imprevisíveis.
Apesar de tudo é evidente que a
imensa maioria dos cidadãos está a tentar manter comportamentos tidos por
adequados. Naturalmente, continuará a haver, como sempre, meia-dúzia de alimárias
a provocar riscos desnecessários. Esperemos que as autoridades disponham de
condições para garantir a tranquilidade possível.
No meio disto tudo há um fenómeno
interessante, que se foi constatando à medida que as intervenções nos canais
de televisão se foram fazendo a partir das casas de cada um, comentadores,
cientistas, economistas, políticos, jornalistas e tantos outros.
O cenário mais utilizado para as
sessões de Skype foram estantes com livros. Recheadas, coloridas, a dar à
madeira ou brancas como é vulgar nos produtos fornecidos por grandes superfícies
para serem montadas pelo consumidor, parece que muitos dos reconhecidos com
capacidade de análise, de prospectiva, de reflexão querem demonstrar que a
principal fonte de informação estrutural, que pode enquadrar os fenómenos com
alguma solidez é o conhecimento construído ao longo de milénios, disponível
sem se fazer rogado e sempre com revelações insuspeitadas a cada releitura.
Talvez o exemplo sirva para que,
no futuro, clicando ou folheando, reconheçamos a importância dessa memória
fundamental da humanidade.
Escrito por Teófilo Vaz, Diretor do Jornal Nordeste
Retirado de www.jornalnordeste.com
segunda-feira, 13 de abril de 2020
PÔR-DO-SOL
A beleza de um pôr-do-sol, nestes tempos tão estranhos
e tristes
e incertos
e angustiantes
(podia continuar a juntar epítetos sem fim, nesta língua que me pertence não pertencendo),
consegue emocionar e acalmar,
por fugazes momentos,
o meu coração.
Posso viver em confinamento voluntário,
absolutamente necessário,
mas não posso secar as lágrimas que insistem em cair.
Tantas mortes, Senhor!
Ninguém para quem olhar na hora da despedida!
Pais sem filhos.
Filhos sem pais.
Ninguém onde perder o olhar.
Ninguém onde o prender,
com uma réstia de esperança.
São milhares… milhares de desamparados.
Milhares de abandonados por quem não os abandonou.
Choro senhor, a dor de todos os que o vírus levou… e há de levar.
Quando poderemos,
simplesmente,
correr sem amarras,
sem máscaras,
sem medos?
Tenho prisioneiros, abraços e beijos,
para distribuir
e não sei quando poderei abrir as celas onde jazem deitados e ausentes,
sem trabalho e esperança.
É primavera e vê-se.
Tudo resplandece de cor e muitos verdes.
O sol brilha…
Risos de crianças não se ouvem.
Avós com sorrisos no olhar ao olhar para os netos…
Onde estão?
Fotos e texto de Maria Cepeda
e tristes
e incertos
e angustiantes
(podia continuar a juntar epítetos sem fim, nesta língua que me pertence não pertencendo),
consegue emocionar e acalmar,
por fugazes momentos,
o meu coração.
Posso viver em confinamento voluntário,
absolutamente necessário,
mas não posso secar as lágrimas que insistem em cair.
Tantas mortes, Senhor!
Ninguém para quem olhar na hora da despedida!
Pais sem filhos.
Filhos sem pais.
Ninguém onde perder o olhar.
Ninguém onde o prender,
com uma réstia de esperança.
São milhares… milhares de desamparados.
Milhares de abandonados por quem não os abandonou.
Choro senhor, a dor de todos os que o vírus levou… e há de levar.
Quando poderemos,
simplesmente,
correr sem amarras,
sem máscaras,
sem medos?
Tenho prisioneiros, abraços e beijos,
para distribuir
e não sei quando poderei abrir as celas onde jazem deitados e ausentes,
sem trabalho e esperança.
É primavera e vê-se.
Tudo resplandece de cor e muitos verdes.
O sol brilha…
Risos de crianças não se ouvem.
Avós com sorrisos no olhar ao olhar para os netos…
Onde estão?
Fotos e texto de Maria Cepeda
segunda-feira, 6 de abril de 2020
ADVÉRBIO
Corriqueiramente,
deixei-me levar pelo hábito
e automaticamente, existi.
Cheguei a "las cinco em punto de la tarde".
Encontrei-me onde deveria estar.
E quase como se fosse um rio, flui.
Maria Cepeda
deixei-me levar pelo hábito
e automaticamente, existi.
Cheguei a "las cinco em punto de la tarde".
Encontrei-me onde deveria estar.
E quase como se fosse um rio, flui.
Maria Cepeda
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