Ao
contrário de Passos Coelho, que se armou em morigerador da balda, logrando a
conjugação de protestos dos velhos republicanos e do povo piedoso, valeria a
pena fazer as contas para verificar se o país não ganharia com feriados
acrescentados ao calendário, principalmente se tivessem efeitos na área de
influência de Lisboa.
Este
ano o calendário acentuou a tendência para que o país possa sentir algum
alívio, já que de 10 a 16 de Junho a capital poderá estar autenticamente
fechada para férias, tendo em conta festas, bebedeiras e ressacas, para além da
natural condição molengona que o celebrado sol alfacinha justifica.
Poderá
perguntar-se porquê o supradito alívio. Naturalmente, poupa-se muito em ares
condicionados, gasóleo e fuel para autocarros e barcos, electricidade para
comboios suburbanos e metro em franca expansão, tendo em conta que nos feriados
tudo isso costuma funcionar a meio gás.
Outra
vantagem, que se pôde notar logo no Domingo, dia seguinte ao feriado do 10 de Junho
e de preparação para a maratona das sardinhas pela velha capital, foi a edição
de noticiários da estação televisiva SIC, que deu espaço generoso à região
transmontana, com duas peças sobre o distrito de Bragança, no jornal da tarde,
uma delas potenciada nessa mesma noite e, depois, à hora do almoço de
segunda-feira.
Certamente
pesou no alinhamento a qualidade de trabalho jornalístico do correspondente
regional que, ao longo de anos, tem prestigiado a informação que por aqui se
faz. Mas, não restarão dúvidas de que o peso das questões regionais nas edições
também terá resultado do tempo de pontes para a farra de mais de meia Lisboa,
políticos e jornalistas incluídos.
Falou-se
de Quintanilha, no concelho de Bragança. Aparentemente é um quase paraíso. À porta
das pessoas vai o pão, o peixe, a carne, o insecticida, o médico e a farmácia.
Que mais poderiam querer…mas foram dizendo que não há transportes, que vir a
Bragança é caro e que se vão governando com as visitas dos ambulantes e com o
que as hortas produzem.
É
então que o sobressalto se instala. No distrito há centenas de povoações onde
os habitantes, vergados pela idade, nem sonham com a quase edénica Quintanilha,
porque os médicos ficam a dezenas de quilómetros, o merceeiro, o peixeiro, o
talhante e o padeiro já desistiram e só restam autocarros fretados ao Domingo
pelas grandes superfícies, para excursões até ao arroz, à massa, ao leite, ao
azeite e ao frango de aviário.
A
TDT (Televisão Digital Terrestre) tem muito grão, os telemóveis ficam sem rede e
os carros de praça estão quase em extinção. Era mesmo útil que houvesse mais
feriados na capital, para que não se tomassem decisões contra as gentes do
interior e, pelo contrário, houvesse espaço para falar da via dolorosa que por
aqui se vai subindo até ao calvário, sem ressurreição prometida.
Escrito por Teófilo Vaz, Diretor do Jornal Nordeste
Retirado de www.jornalnordeste.com
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